Escola: Um Dos
Aparelhos Ideológicos do Estado, representando a verdadeira Pobreza Política
Por: Alacir Arruda - Sociólogo
A escola não fala a língua do povo. Ela
consegue tagarelar aquilo que a minoria quer ver repetido e reforçado pela
maioria esmagadora que compõe a população brasileira. Os currículos são
constituídos de falas e falácias extremamente incompreensíveis para aquele (a)s
que vêem nesta instituição a mola propulsora para vencer na vida (sic!). Tanto
é, que não existe o interesse que deveria haver nas questões relativas à
formação humana. No entendimento de um número expressivo de professores, “isto
é balela e discurso daquele(a)s que não têm nada o que fazer na escola e ficam
inventando modismos. O importante mesmo são os conteúdos escolares, os
conhecimentos científicos que os alunos têm que dominar, para se dar bem na
vida. O domínio cognitivo é o que continua valendo. Sem essa de avaliação
sócio-afetiva ! ”. Esta concepção de aluno vem dominando o cenário educacional
desde o período jesuítico, passando, no século XVII, mais explicitamente, a
focar a educação da nobreza. Foi neste período histórico que surgiu o criador
de uma concepção, que perdura até os dias de hoje: o filósofo francês René
Descartes (1596-1650). “Cogito, ergo sum” -Penso, Logo Existo- passou a ser o foco das atenções e o
carro-chefe de Descartes. Segundo este mote, o sujeito
individual, formado numa competência para ponderar e refletir, passa a ser o
ponto de convergência do domínio cognitivo, do conhecimento (Hall, 2006).
Século após século, até o atual, este é o paradigma do bom aluno. Este autor
(Op. Cit.), em seus estudos sobre ´A identidade cultural na pós-modernidade`
denuncia que “esta concepção do sujeito racional, pensante e consciente,
situado no centro do conhecimento, tem sido conhecida como o ´sujeito
cartesiano`(p. 27). Nessa reflexão, a escola continua inserida num contexto
caracterizado por Althusser (1998) como Aparelho Ideológico do Estado. É ela
uma das maiores, senão a maior, construtora de marionetes, que vêem o estado
como o grande pai ou que se integram aos elementos que aceitam as ações dos
governos como verdadeiras paternalizações. As ´beneficências`, as ´doações`,
todos os tipos de vales (gás,leite etc.). Para o alimento do espírito, o Pai
Todo Poderoso, que nos nutre com as suas bênçãos. Para a matéria, o pai, também
poderoso, que nos abastece com esses programinhas sem-vergonhas, que se
transformam em verdadeiras rédeas eleitoreiras. Essas minúcias politiqueiras no remete a Maquiavel que ensinava em "O Príncipe" que uma das funções do governante, é a entreter o povo com
muita festa e jogos. Esse comportamento foi denominado por Foucault ( 1982) como Microfísica do
Poder. Hoje, diante de tantas falcatruas que levam ao enriquecimento ilícito de
uma minoria através das inúmeras imoralidades que transformaram a saúde pública a educação e segurança em uma grande piada, não se pode aceitar a implantação de um currículo escolar que reforce os
anseios das classes dominantes desse país, prescindindo desses fatos que
maculam o espírito do bom cidadão, do exemplar ser humano enquanto elementos de
análise e discussão, como conteúdo escolar. Pedro Demo (2006), nesta linha de
raciocínio, norteia que a pobreza política é bem mais profunda e arrasadora que
a pobreza sócio-econômica, até porque esta é conseqüência daquela. Ao pobre não
lhe é dado o direito (já que ele não tem forças para conquistar) de saber
porque é pobre. Entendemos a partir dessa reflexão de Demo, que, antes do aluno,
é necessário que o professor se enriqueça politicamente, para, então,
incentivar aquele para a sua conquista nesse campo. Diante de tantas mazelas,
de tão ignóbil ato de falsificações que vai do leite a seus derivados, das bebidas
alcoólicas (do whisky à cachaça), ficaria difícil para um homem do povo, se
consciência política tivesse de que essas ações o prejudicam profundamente,
querer afogar as suas mágoas com um porre homérico. não cabem falas e falácias
da escola, que buscam dar continuidade à formação de sujeitos cartesianos num
currículo não constituído de matrizes, mas, ainda e por muito tempo, de grades
curriculares, aprisionando a criatividade do povo brasileiro e desrespeitando o
seu cotidiano, a sua história.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTHUSSER, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
DEMO, Pedro. Pobreza Política - A pobreza mais intensa da pobreza brasileira. Autores Associados, Campinas, 2006. FOUCAULT. Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1982.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomás Tadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. – 11. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006
Autor: ALACIR ARRUDA
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALTHUSSER, L. P. Aparelhos Ideológicos de Estado. 7ª ed. Rio de Janeiro: Graal, 1998.
DEMO, Pedro. Pobreza Política - A pobreza mais intensa da pobreza brasileira. Autores Associados, Campinas, 2006. FOUCAULT. Michel. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1982.
HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Trad. Tomás Tadeu da Silva e Guaracira Lopes Louro. – 11. ed. – Rio de Janeiro: DP&A, 2006
Autor: ALACIR ARRUDA