quarta-feira, 8 de março de 2017

As universidades brasileiras e o fundo poço


POR QUE AS NOSSAS UNIVERSIDADES SÃO TÃO RUINS?

Por Alacir Arruda


Se não bastasse uma economia na bancarrota, um governo suspeito e sem rumo, uma horda de políticos corruptos presos, os Estados quebrados e um desemprego astronômico, o Ministério da Educação divulgou hoje a avaliação dos cursos de graduação públicos e privados. O resultado não é bom: somente uma minoria dos cursos alcançou a nota máxima possível. Participaram da prova 447 mil universitários, que estavam se formando. Mais de oito mil cursos foram avaliados em mais de duas mil faculdades. Esse resultado deixa claro que está tudo errado no ensino superior. Não é aceitável  que apenas 1,2% das instituições de ensino superior no Brasil recebam nota 5 (nota máxima do Enade), isso não é razoável para um país que faz parte dos Brincs e figura entre as 10 economias mundiais. Só uma coisa pode justificar tal fato: elas são muito ruins mesmo. 

Essa tragédia da educação superior brasileira começa com a chamada “privatização” no final da década dos 60 e implementada vigorosamente a partir dos anos 70, pela Revolução Redentora. Antigos motoristas de lotação, caso do Sr. Veiga de Almeida, viraram, de maneira prodigiosa donos de faculdades, depois dono da Universidade Veiga de Almeida. Acho que o Brasil é o único país do mundo onde se pode ser dono e senhor de universidade, assim como se é dono de um botequim ou de um bordel ou de um motel. 

No Rio, além do antigo chofer de lotação, tivemos o caso da Universidade Gama Filho, que emergiu de pequeno colégio secundário, de péssima reputação e acabou falindo em 2014. Nos últimos anos estamos alimentado alguns monstros, capitaneados pelo grupo Kroton, que tem hoje, mais de um milhão de alunos em todo o Brasil, com ações na bolsa, que coroará de maneira grandiosa o grande sonho de transformar o ensino brasileiro no mais degradado e prostituído do mundo, e o mais lucrativo. Vamos comprar ações do empreendimento e lucrar com a imbecilização da juventude brasileira.

No plano internacional

Ai a vergonha é maior ainda, a USP é a única universidade Brasileira que figura entre as 250 melhores do mundo, chegou a ser 158º, e em 2012 caiu para 226º. Quem era bom continua bom. Os EUA continuam dominando o ranking. A melhor universidade do mundo, Caltech, é norte-americana. Além disso, 77 das 200 melhores do mundo estão em solo dos EUA.

Reino Unido também vai bem. A Universidade de Oxford ganhou casas e empatou com Harvard, considerada a melhor do mundo por muito tempo, em 2º lugar na lista. Os britânicos têm mais duas universidades no ‘top ten’ (Cambridge e Imperial College).

Nos últimos relatórios internacionais o Brasil foi o único país que saiu do grupo de países com universidades entre as 200 melhores do mundo. Noruega, Espanha e Turquia entraram para o grupo de elite.

Por que estamos indo tão mal?

Não dá para colocar a culpa na metodologia, que não mudou do ano passado para a atual edição. A base de periódicos científicos analisados continua sendo a Web of Science. O problema, ao que parece, é a falta de inglês nos corredores acadêmicos. Como publicamos trabalhos científicos essencialmente em português, quem não fala a nossa língua não consegue nos ler e nem nos citar – algo essencial na atividade científica. E assim, despencamos.

Para piorar o cenário, recentemente foram incluídos na base Web of Science livros e capítulos de livros — que, no caso da produção brasileira, são em português na sua quase totalidade. Essa inclusão foi destacada pelo cienciometrista Rogério Meneghini, responsável pela coleta de dados do RUF (Ranking Universitário Folha). “Citações” é justamente um dos indicadores que fez a USP cair (caiu de 30,2% para 29,4%), ao lado de “ensino” e “pesquisa”.

Outro entrave, poucos estrangeiros:

Não falar inglês prejudicou também outros indicadores, como “internacionalização”. Temos poucas aulas em inglês e, consequentemente, temos poucos alunos e poucos professores estrangeiros, como aponta um dos indicadores em avaliações  o THE. Na Unicamp, a queda do indicador “internacionalização” de 20,9% para 19% foi um dos motivos que levaram a universidade para o fim da fila.

Há quem diga que o problema está no fornecimento de dados pelas universidades brasileiras. Como não temos uma cultura de avaliação, não passamos dados corretamente aos elaboradores de rankings. Outras universidades fazem isso com profissionalismo. É outra hipótese. A USP alegou que vai bem em outros rankings, como no também britânico QS, em que ficou em 127º no mundo. E que está investindo em internacionalização.

Uma verdade é inquestionável, faz-se necessário uma intervenção - "urgente"- do MEC nessas instituições que pensam somente em lucro, onde o aluno é visto como cifrão e são verdadeiras fábricas de diplomas. Já imaginaram  os nossos advogados, médicos engenheiros,  entre outros profissionais do futuro? Em nenhuma parte do mundo se concebe uma universidade que não faça pesquisa, no Brasil pode. Apenas o Brasil dispensa as chamadas "instituições privadas" dessa obrigação, ou seja: enquanto o mundo pesquisa, nós damos aula e aulas muito ruins.  

A minha unica dúvida é: o MEC terá "coragem" de fazer essa intervenção?

Contato: agaextensao@gmail.com



2 comentários:

  1. Adorei esse artigo, cruel mas extremamente necessário. Estudei numa Federal e tive a oportunidade de ganhar um estagio de 1 ano na Universidade de Essex na Inglaterra, e só la percebi o quanto o nosso ensino e inferior,ao ponto de certa vez um professor dizer: "esqueça o que você aprendeu no Brasil". Acho que precisamos gritar aos quatro cantos essa inferioridade. Abraços Alacir saudades de você,tive o prazer de ser sua aluna numa pós-graduação que você ministrou na FGV de Taubaté, lembra? Você ministrava Relações Internacionais, eram otimas suas aulas. Cinthia Almeida -SP

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  2. Como seria possível uma melhoria do ensino superior se além dos empresários das faculdades pruvadas temos um administrador como Ministro da Educação? ! É inacreditável a capacidade de o Brasil não tirar o pé da marcha ré! Muito bom o artigo, parabéns!

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