quinta-feira, 28 de fevereiro de 2019

O medo Real

TOTALITARISMO: UM MEDO REAL.

Alacir Arruda

As vezes me sinto uma ilha de ignorância  cercada por um oceano de inteligência: Será que só eu vejo as coisas assim? Vou me explicar. Desde a época da campanha eu nunca consegui entender bem as ideias do atual Presidente Jair Bolsonaro. As vezes o considero “safo”, por vezes um estúpido e outras um ingênuo. Bolsonaro tem um problema sério, ele não tem definido em sua mente aquilo que deseja para o Brasil. Até no posicionamento politico ele se perde, por exemplo: até agora não decidiu se é extrema direita, centro direita ou direita. Seu discurso é carente de argumentos plausíveis com seu projeto de governo,  acresça-se a isso um vocabulário pobre. Ano passado afirmou, sem pestanejar, que nada entende de economia (não ele seja obrigado a isso, mas ajuda), disse ainda que pretende combater em seu governo o viés ideológico que permeia a nossa politica (e o que ele esta fazendo não é ideológico ?). Enfim, Bolsonaro se perde na sua pobreza cultural e o amadorismo de seus assessores é  cômico, se não fosse trágico. 

O que tudo isso nos lembra? É obvio que essa postura um tanto perdida, de pouco diálogo e isolacionista  do Presidente nos remete a ideias autoritárias. Hitler, Mussolini Mao Tse Tung e até Fidel Castro, quando assumiram o poder,  não faziam a menor ideia da complexidade que é governar uma nação, sendo assim, optaram, pelo mais fácil: a Ditadura e o resultado todos nós conhecemos. Longe de dizer aqui que Bolsonaro tem esse viés,  uma vez que  foi eleito democraticamente  e lhe falta uma condição fundamental para tal: o intelecto.. Entretanto,  quando vemos pessoas  escolhidas por ele dizendo insanidades - como o que disse recentemente o seu Ministro da Educação “mandando” filmar alunos cantando o hino nacional, ou as idiotices, sem qualquer nexo, ditas pela perturbada Ministra Damares Silva, o nosso botão de alerta acende. 

E como surgem os ditadores? Brotam da terra? Umas das maiores intelectuais do século XX, a filósofa teuto-americana Hannah Arendt , nos deu uma luz ao escrever: As  Origens do totalitarismo logo depois da Segunda Guerra.  Essa obra  foi publicado em 1951 e tornou a autora conhecida internacionalmente. O livro está organizado em três partes. Nas duas primeiras ela analisa o “Antissemitismo” e o “Imperialismo”, Arendt retraça os fatos de onde se originou a configuração histórica do totalitarismo – o nazismo e o stalinismo – e revela ao leitor os nexos comuns aos dois regimes. Mas é na terceira e última parte – “Totalitarismo” – que o livro se torna desconcertantemente próximo de nossos assuntos contemporâneos. E, na medida em que a nossa leitura avança, descobrimos meio espantados que podemos nos valer dele para encarar uma pergunta aparentemente impensável: qual a possibilidade de voltarmos a viver uma experiência totalitária nos dias de hoje?

A pergunta não é nada retórica. A experiência totalitária nunca foi um ponto fora da curva, o resultado singular de uma conjuntura específica que colocou a violência no centro da vida europeia, durante a primeira metade do século XX. Tampouco é o efeito monstruoso da loucura que envolveu um pequeno punhado de pessoas que chegaram ao poder e se dedicaram a destruir o sistema político de dentro para fora. Ao contrário: o totalitarismo é uma forma de dominação característica da modernidade. Por isso, diz Arendt, essa é uma possibilidade concreta que está inscrita na lógica política das sociedades democráticas contemporâneas: o material indispensável para construção de uma experiência totalitária atravessa essas sociedades por meio de “correntes subterrâneas” e pode, de súbito, aflorar. Isso acontece por uma razão simples: nenhuma sociedade democrática impede a manifestação de divergentes. E então, quando os mecanismos institucionais dessas sociedades passam a ser usados ou manipulados pelo ativismo de pessoas, grupos e setores sociais que estão dispostos a abrir mão de conquistas caras à democracia para emprestar seu apoio a teses próprias de um regime político extremo, os ingredientes que preparam a emergência do fenômeno totalitário inflam e sobem à superfície.

No argumento de Arendt, são esses ingredientes que emprestam um rosto contemporâneo ao totalitarismo e lhe conferem sentido. O principal deles, diz ela, é o surgimento das massas: um número cada vez maior de pessoas que, devido à quantidade ou à sua indiferença, ou a uma mistura de ambos, não têm relações comunitárias, não se integram nem compartilham propósitos comuns. Uma multidão de pessoas isoladas umas das outras, preocupadas apenas em cuidar da própria segurança e escapar da violência urbana, salvaguardar seus negócios e desfrutar de uma vida meticulosamente privada. Essas pessoas se falam, se combinam e se acertam: julgam-se injustiçadas pelo Estado, acreditam que estão sendo destituídas de seu lugar de direito, descreem da política e de suas ferramentas, como partidos ou eleições, defendem a preeminência da economia sobre a vida pública.

O outro ingrediente, diz Arendt, é a propaganda. Ou, melhor dizendo, um tipo característico de propaganda orientada para preencher o vazio da solidão do indivíduo e fornecer a ele uma visão coerente do mundo – mesmo que essa visão esteja em flagrante contradição com os dados da realidade. Pessoas isoladas umas das outras não possuem – e nem desejam possuir – meios para contrapor informações e refletir sobre posições divergentes. Isso serve bem à propaganda totalitária: permite fazer uso da mentira como categoria política. A mentira consiste em negar, reescrever e alterar fatos, até mesmo diante dos próprios olhos daqueles que testemunharam os fatos. Também permite à propaganda desatar no sujeito o ressentimento que o faz se enxergar como vítima de alguém mais poderoso que cometeu com ele uma injustiça irreparável, como por exemplo, a de suprimir seus privilégios históricos. O ressentimento, além de ser a base afetiva para a criação de um forte sentimento de identidade entre essas pessoas, faz aflorar, no meio delas, a intolerância que nega qualquer divergência e elimina o horizonte da igualdade. E, vale anotar, a intolerância está situada na raiz do ódio; o ódio, por sua vez, é combustível indispensável na emergência do fenômeno totalitário.

É impossível saber de antemão se a movimentação dessas correntes subterrâneas irá ou não desembocar num regime político extremo. Mas o risco existe. Está presente em nossa contemporaneidade, tanto em sociedades de democracia duradoura como a americana, quanto em países onde a democracia é uma construção recente e ainda por cima anda mergulhada em instabilidade, como a brasileira. Divergências à parte, de uma coisa eu tenho certeza: está passando da hora de reler, no Brasil, Origens do totalitarismo, de Hannah Arendt. Abramos os olhos...

Sugestão de leitura: "As origens do Totalitarismo" -Hannan Arendt


Se gostou compartilhe..



terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Cabral: a caricatura da nossa politica

O VÍCIO QUE MATA!!

Por Alacir Arruda

Quem teve a oportunidade de assistir aos noticiários de hoje (26/02/19), deve ter ficado estarrecido com as declarações que ex-governador do Rio e Janeiro Sergio Cabral fez ao Juiz Federal Marcelo Bretas. Cabral, que atualmente cumpre mais de 100 anos prisão, deu uma verdadeira aula de como as coisas acontecem nos bastidores da nossa politica, jogou tudo no ventilador. Não que seja novidade para os brasileiros as declarações proferidas por ele, mas quando ouvimos um gestor público dizer que “ o apego ao poder e ao dinheiro, se tornou um vício”, nos deixa menos otimista quanto a possibilidade e um dia varrermos esse câncer que corrói as nossas entranhas..

Em seu depoimento Cabral acusou muita gente: seu Vice Pezão, o Ex Prefeito Eduardo Paes entre outros. Entretanto, ao afirmar que até a Igreja Católica, através da sua “OS” pró-saúde, recebia propina nos obriga à uma reflexão mais profunda. Justo a Igreja Católica? Que tenta se livrar de acusações sérias de abusos sexuais, que, há menos de uma semana, encerrou uma cúpula no Vaticano sobre esse tema e acaba de ter uma das suas maiores lideranças, o Cardeal australiano George Peel, condenado por abusar de dois meninos em Melbourne na década de 90? Não, ela não!! Mesmo sendo agnóstico afirmo: ela não tinha esse direito diante de tudo que ela vem passando. É obvio que são acusações que ainda acrescem de provas, mas onde há fumaça há fogo. 

Voltemos ao Cabral: Questionado pelo Juiz Bretas do porque ele não fez essas declarações antes? Cabral, cínico como sempre, responde: “excelência por vergonha excelência”. VERGONHA!? Alguma vez esse cidadão teve isso? Cabral acabou com o Estado do Rio de Janeiro em 8 anos no poder. Estabeleceu “no Palácio Guanabara um Organização Criminosa digna de fazer inveja a” Marcola e Beira Mar”, transformou a cidade na quinta mais violenta do mundo, onde é mais fácil você ser assassinado que em Damasco, capital da Síria. Pessoas inocentes morrem diariamente e o  poder público perdeu o controle. A  cidade ? Bom, essa é gerida pelo imponderável. Vergonha é isso Cabral!!

Tive a oportunidade de trabalhar em duas faculdades particulares do Rio e Janeiro no início e sua Gestão 2006-2007,  e assisti  ”in loco” a fragmentação do Ensino Público daquele Estado.  Muitos professores da Rede Pública eram meus alunos na pós graduação e me participavam o acinte que presenciavam em suas escolas. Faltava tudo, de merenda a giz! Foi Nessa época que um professor me confessou, de forma bem particular, que seu irmão trabalhava para o Governador Cabral em uma Ilha que ele havia acabado de comprar em Angra dos Reis. Isso mesmo, o homem comprou uma Ilha.

Sergio Cabral é a síntese do que a politica brasileira se transformou nos últimos anos: cínica, larápia, fisiologista e ineficiente. Há outros cabrais Brasil afora (eu diria até que a maioria), dilapidando o erário, usando do cargo para benefício próprio e fazendo na vida pública aquilo que eles costumam fazer na “privada”. 

Mas de não honrar seu sobrenome não podem acusa-lo. Fazendo uma analogia com o outro Cabral, aquele que os nossos repugnantes livros de historia insistem em dizem que ”descobriu” Brasil, podemos afirmar que ambos são iguais. Pedro Alvares Cabral aportou por aqui na manhã de 22 de Abril de 1500, dizem que odiou, passou até mal quando viu os nativos. Cabral, o de Portugal, ficou em terras tupiniquins apenas 10 dias, mandou celebrar uma missa no dia 3 de maio. Porém, antes de partir deixou um presente para nós; uma centena de degredados, Estupradores, Ladrões, Assassinos, Psicopatas etc, que haviam sido expulsos de Portugal (foram eles que comeram nossas índias, os negros nada tem a ver com isso). Ele “vazou”, nunca mais voltou por aqui. 

Cabral, o do Rio, não fez diferente, deixou o Governo em 2014 nas mãos de pessoas não menos execráveis e que continuaram a dilapidação. O resultado esta aí, todos os dias assistimos ao espetáculo de fogos – não de artifícios -, balas traçantes e perdidas e ao menos 15 pessoas morrem por dia em confronto direto com a policia. No ano passado, 10 mil morreram nessas condições, um caos. 

O que podemos esperar dessas declarações? Nada! Cabral as fez por orientação de seus advogados, como estratégia, na esperança de conseguir diminuir sua pena através de uma Delação Premiada. Caso consiga esse acordo,   transforme esses 100 anos, que já foi acusado, em 7, no máximo 8 anos atrás das grades. Mas, suponhamos que a justiça não faça um acordo, então Cabral deve ficar no máximo 10 anos atrás das grades, após esse período ele terá direito a progressão de pena, indo para semiaberto, mais dois anos entra na prisão domiciliar e com mais três estará no sistema aberto. Detalhe: segundo o Jornal Extra a sua fortuna, mesmo após as penhoras e multas, esta avaliada hoje em 98 milhões de reais. Como ninguém é de ferro, após 15 anos Cabral terá direito a uma bela aposentadoria. Será que compensa ser corrupto no Brasil?? 


Se gostou compartilhe..


domingo, 24 de fevereiro de 2019

ENEM 2019- VIOLÊNCIA: OS MENINOS E OS LOBOS:

SOBRE MENINOS E LOBO: O RETRATO DE  UMA SOCIEDADE LETAL.


Por: Alacir arruda

No Filme “Sobre Meninos e Lobo” (2003) , do Diretor Clint Eastwood, reside um importante comentário sobre a presença da violência juvenil na sociedade estadunidense que ele considera um vírus irreparável. É evidente que não vou contar aqui o filme (assistam), mas o drama é circunscrito a um grupo de pessoas cuja violência, de uma forma ou outra,  está presente em seus cotidianos. Como por exemplo, Jimmy (Sean Penn), um ex-criminoso que após cumprir alguns anos de prisão, tenta levar uma vida pacata alicerçada na dedicação à filha Katie (Emmy Rossum), mas que é impelido pelo assassinato brutal da garota, a retornar as ações do passado. Jimmy parece, assim, condenado a ser violento. 

Voltemos ao Brasil. Fiz essa introdução, usando um filme americano como exemplo, porque considero a nossa realidade muito semelhante a deles. Somos um dos lideres mundiais no numero de assassinado de jovens,  e  apenas 15% deles estão na universidade. Para se ter uma ideia, na Coreia do Sul 98% dos jovens estão matriculados em cursos superiores.  Toda a minha carreira como educador foi lidando com jovens ( ensino médio e universitário),  e uma cosia me chamava a atenção: como eles possuíam baixa auto estima, alguns  não sabiam o que fazer de sua vida, estavam, absolutamente, perdidos. Se imaginarmos eles como os futuros gestores dessa nação,  tamo fud...

Mas o que leva a tanto desalento? Por que eles são agressivos? Não e novidade para ninguém a velha máxima: "violência gera violência". Um, pais que lhe agride desde a maternidade, passando por uma escola pública alienante  e governantes corruptos,  não poderia apresentar dados diferentes destes. Nunca houve por parte dos nossos  governantes, politicas públicas voltadas aos  jovens. Somos o país dos "puxadinhos",  por exemplo:   Fies - que o aluno depois se fod.. para pagar. ProUni, que não consegue atender 5%  dos jovens aptos  à vida acadêmica entre outros fingimentos. A grande  verdade é que um numero  significativo  dos nossos jovens  - uma vez esquecidos pelo poder público - são cooptados pelo tráfico de drogas, facções criminosas ou se encantam na internet por grupos neonazistas. Nessas milícias,   alguns deles encontram uma razão de aqui estarem, um meio de vida. Infelizmente  poucos sobrevivem para  contar aos filhos suas memórias. Estamos perdendo mais uma geração e o governo se omite, em discussões vazias e teorias medievais.

Usando a  sociologia como referencial teórico,  vamos entender o conceito "violência"  à luz da ciência. 

Violência e sociedade tem sido objeto de estudos de diversas ciências, as quais cada uma a seu modo, tentam apresentar argumentos convincentes que justifiquem suas origens, causas das problemáticas diversas apresentadas e respostas às indagações surgidas no cotidiano. Por que a sociedade está cada dia mais violenta? Por que e como a violência está destruindo a sociedade? Quem produz a violência? O que de fato é violência? Ou ainda, o que é uma sociedade do ponto de vista daquilo que aprendemos que era ou que deveria vir a ser?

Por mais que a vida em sociedade seja gerida pelo estabelecimento de regras jurídicas, valores morais, limitação da vontade pessoal em detrimento da convivência harmônica coletiva e ainda pela égide da ordem social para alcançar-se o progresso, o ser humano, sempre e através de suas ações eventuais ou reiteradas, irá produzir atos que possam ser tipificados como violência. Tanto o estudo da origem da formação das sociedades, quanto a natureza dos processos de violências nelas existentes, ambos possuem relação direta com a forma como o ser humano exerce, desempenha e age, ações estas que trazem reflexos diretos na vida e na forma da coletividade.

A primeira reflexão a ser exercida é como o ser humano se encontra em relação ao seu papel na criação e manutenção da vida em sociedade. Considerando de forma bem simplista, de que a sociedade é basicamente o ajuntamento de pessoas cujos objetivos em tese são os mesmos: sobreviver e prosperar (no sentido de viver bem e em paz), ela parte então do sentido primário e minúsculo de comunidade, onde há (ou devia haver minimamente) um entendimento compartilhado ao qual o homem adere tacitamente, como bem leciona (BAUMAN, 2003).

Partindo do pressuposto que o ser humano, nasce, cresce e se reproduz na sociedade e nela deve buscar seu progresso como pessoa humana e produzir durante toda a sua vida de forma incessante ações positivas para que a mesma se mantenha e evolua; por que então a prática dos atos de violência? Como pode alguém se revestir e operar um papel de destruidor do habitat e da comunidade da qual ele mesmo faz parte? Há um papel primordial que está deixando de ser representado (exercício da razão), e estes atores (omissos ou ameaçadores da ordem) estão abalando os alicerces da vida coletiva, comprometendo as perspectivas de melhoria e fomentando a cultura da vida individual como a mais ideal e segura (pois conviver em coletividade já não é mais seguro e atrativo), um verdadeiro retrocesso que poderíamos popularmente definir como o retorno às cavernas.

Analisar os processos de violência na sociedade passa por um olhar multidisciplinar sobre o que está acontecendo como o ser humano (principalmente as crianças e adolescentes) onde os conceitos de regras, valores, ordem, progresso, segurança e paz social não possuem mais tanta necessidade de existirem.

A segunda reflexão, consequência da primeira, nos conduz aos atos e fatos que estão desintegrando a vida em coletividade, onde a insegurança social é uma delas. Ações simples como estacionar o carro e namorar (mesmo em frente de casa), andar de bicicleta, usar um tênis ou relógio de marca, esperar um ônibus no ponto à noite, andar pelas ruas, deixar as portas e janelas abertas para se refrescar a casa em dia de calor, utilizar um caixa eletrônico, atender ao celular na via pública, realizar uma compra pela internet com cartão de crédito ou outras, passam a ser revestidas de metodologias e truques especialmente desenvolvidos para que a pessoa não seja roubada, furtada, sequestrada ou até morta. E falando em morte, a vida tornou-se tão banal que para tira-la, o agressor além de subtrair bens pessoais, vale-se de requintes de crueldades indescritíveis antes de matar. O homem tornou-se fera, lobo de seu semelhante, como bem afirmava Hobbes (homo homini lúpus) “o homem e o lobo do próprio homem”

Novamente vemos o homem afastando-se de seu papel de construtor coletivo e portador do ato racional, agindo exclusivamente no interesse próprio e ameaçando a vida e o patrimônio de seu semelhante, alimentando a desintegração do modelo consagrado de sociedade e fortalecendo posturas pautadas no enclausuramento (grades, alarmes, blindados, armas, câmeras e controles diversos). A sociedade passa a ser ameaçada em sua única forma de existir: o ajuntamento coletivo, o formato plural, o relacionamento humano, o respeito entre os seres, o edificar para o bem comum ou ainda, o espaço seguro para todos.

Finalmente, a terceira reflexão nos posta diante do quadro inegável, de que a cada dia a sociedade se desintegra, pois as suas moléculas, as quais devidamente fundidas (homem + homem + regras respeitadas por todos), as quais poderiam construir o elemento chave (vida em coletividade) estão se modificando. A triste constatação é que não há outra forma ou elementos que possam ser substituídos, para que a fórmula final (a sociedade) se complete e passe a existir. Assim como não se faz uma molécula de água sem a junção do hidrogênio com o oxigênio, não se constrói sociedade alguma sem que haja um comportamento humano pautado na tolerância, compreensão, mediação de conflitos e pacificação. Não haverá sociedade sem regras as quais sejam respeitadas, cumpridas e zeladas por todos.

Não deixará de existir a violência (em qualquer uma de suas múltiplas formas) se a pessoa humana não for suficientemente tolerante, compreensiva, seguidora de valores e princípios construídos para o bem comum. A violência na sociedade, podemos divagar, possui seu DNA na degradação moral do ser humano, na perda da racionalidade, no desprezar do valor personalíssimo do semelhante e principalmente no se apropriar da errada visão de que o outro, sua cultura, valores, patrimônio e até a sua vida podem ser destruídos ou arrebatados mesmo que isso importe na quebra da sobrevivência harmônica coletiva.

É certo que não há sociedade sem violência, seria uma utopia. O desenvolvimento e o progresso geram sim desigualdades, exclusões, fome, miséria e degradação de partes do coletivo social. O equilíbrio ou o desequilíbrio, não importa qual, não podem permitir que fatores transversais (e a violência é um deles) intranquilizem e ponham fim à fórmula da sociedade (homem + homem = vida coletiva, diferenças, respeito, harmonia e evolução). O oposto seria  (homem - homem = Brasil) . Neste Brasil, tal qual o filme:  "estamos condenados à violência"


Se gostou compartilhe...



sábado, 23 de fevereiro de 2019

A Farra nos Trbunais

A FARRA NOS TRIBUNAIS DE CONTAS: NÃO É O CÉU, MAS E BEM PERTINHO!!

Por Alacir Arruda


Não tenho a pretensão de ser dono da razão, mas tenho certeza, quase absoluta, que 95% dos Brasileiros não fazem a menor ideia das atribuições e funções dos TCEs (Tribunais de Conta do Estado). Eu sei! Os TCEs são a ultima morada de políticos corruptos, larápios e dissimulados, com raras exceções. A verdade precisa ser dita, chega de hipocrisia: os Tribunais de Conta do Brasil não servem para “absolutamente nada”! No papel ele seria um órgão auxiliar das assembleias legislativas no que refere à fiscalização do executivo. Uma pergunta não quer calar: “os nossos “HÁBEIS” deputados precisam de ajuda para fazerem a única coisa inerente sua função que é fiscalizar o executivo”? Será que estão ocupados a ponto de precisarem desse auxílio? Os TCEs são inertes, ineficientes, Cabideiros de emprego, sem função e caros. 

Quando se abre uma vaga, em um dos 27 TCEs do Brasil, os parlamentares “ disputam à foice” a indicação pois sabem que, além das benesses vitalícias, neste órgão vigora a seguinte máxima: “ aqui não é o céu, mas é bem pertinho”. O salário médio de um Conselheiro do Tribunal de Contas no Brasil gira em torno de 30.000,00 mensais, alguns chegam a aposentar com até 100.000,00 mensais. Achou Ruim? Recentemente o governador –recém-empossado- de Mato Grosso, Mauro Mendes, divulgou na mídia que; após a realização de um ”pente fino” nos salários dos servidores do TCE-MT, foi encontrado uma copeira recebendo, pasmem, 14.000,00 mensais, além de outros escárnios. Nada contra as copeiras, pelo contraio, acredito que elas, como todos, devem ser bem remuneradas, mas convenhamos, num pais onde 80% dos brasileiros recebem até 2 salários mínimo, isso é um acinte ao bom senso. 

E quais são os requisitos para a escolha de um Conselheiro? Bom, aqui que você vai entender porque, no plano mundial, somos uma piada. Segundo a legislação, uma pessoa para concorrer ao cargo de Conselheiro de um Tribunal de Contas deve possuir, dentre outros requisitos: “Notório saber jurídico, vida pregressa condizente com o cargo que aspira e REPUTAÇÃO ILIBADA! Isso mesmo, Reputação ilibada. Agora experimente pesquisar (dar um google) na vida pregressa dos atuais conselheiros que foram escolhidos por assembleias legislativas de todo Brasil. Prepare-se para ler verdadeiras “Bíblias” de acusações e processos. Então por que estão lá? Rsss. (...) Estamos no Brasil, aqui todo mundo manda, ninguém, obedece e cada um faz o quer. Cinismo à parte, são essas idiossincrasias que nos fazem ser uma piada pronta.. 

Recentemente a Justiça do Rio de Janeiro (o estado mais corrupto do Brasil), afastou 6 dos 7 Conselheiros do Tribunal de Conta daquele Estado e, adivinhem sob quais acusações? CORRUPÇÃO! A maior prova que esses tribunais não têm qualquer razão de existirem é que o Rio de Janeiro está, há quase 2 anos, sem sentir nenhuma falta deles. 

- Mas insisto: Para que serve um Tribunal de Contas? 

O do Rio de Janeiro, como já citado acima, servia para tenebrosas e milionárias transações entre o presidente da Assembleia Legislativa do Estado, Jorge Picciani, o ex-governador Sérgio Cabral – preso desde dezembro na penitenciária de Bangu – e seis dos sete juízes do TCE fluminense, que estão presos temporariamente. 

Com as raras exceções que confirmam a regra, os Tribunais de Contas – o da União (TCU) no meio – esses colegiados são, na verdade, centros geriátricos que se dedicam a abrigar, remuneradamente, políticos em fim de carreira ou sem perspectivas de reeleição. 

A Polícia Federal descobriu, no TCE do Rio de Janeiro, a ação de uma quadrilha, que agia assim: os seis conselheiros recebiam propina de Cabral e Picciani para fazer vista grossa nos processos relativos a contratos do Governo do Estado com grandes fornecedores. Estes pagavam “comissões” aos dois líderes do grupo criminoso, que abasteciam o bolso do sexteto “fiscalizador”. 

Tudo ia bem, até que um juiz do próprio TCE, preso pela PF, fez uma delação premiada. E a verdade emergiu. 

Em 2007 no Estado de Sergipe, o conselheiro do Tribunal de Contas Flávio Conceição de Oliveira Neto, foi preso pela Policia Federal acusado de receber dinheiro e empreiteiras. No mesmo ano, a Operação Jaleco Branco levou para a prisão o então presidente do Tribunal de Contas da Bahia, Antônio Honorato. Honorato foi acusado de pertencer a um esquema de fraudes de licitação e contratos de prestação de serviços de limpeza e segurança que teria desviado R$ 625 milhões do governo baiano. Em abril do ano passado, a Operação Pasárgada resultou em mais suspeitas contra conselheiros dos Tribunais de Contas dos Estados do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. 

Qual é a razão para essa sucessão de escândalos e histórias suspeitas? Segundo especialistas, está na própria forma como os membros dos Tribunais de Contas são selecionados – entre os integrantes da base de apoio político dos governadores. s “Os tribunais de contas no Brasil são órgãos totalmente políticos quando deveriam ser técnicos”, diz o cientista político Bruno Speck, da Universidade de Campinas (Unicamp). “O ideal seria que houvesse uma norma que determinasse a escolha dos membros dos tribunais entre os auditores de carreira.” A nomeação dos tribunais segue a seguinte regra: dois terços das indicações são de responsabilidade dos Legislativos estaduais, e um terço dos Executivos. A Constituição Federal recomenda que de cada três indicados, um deve vir do Ministério Público de Contas e o outro ser auditor de carreira. O problema é que a maioria dos governadores simplesmente ignora a Constituição e interpreta que não existe obrigatoriedade de segui-la, já que a lei diz que o Estado deve usar o critério “no que couber”. Em São Paulo nem sequer existe o Ministério Público de Contas. A norma é que os nomeados para os Tribunais de Contas Estaduais sejam um deputado da base aliada do governador ou um ex-secretário de governo. 

Um dos sintomas da contaminação dos Tribunais de Contas por causa dos critérios de nomeação política aparece nos casos de corrupção sob investigação: os investigados eram na origem homens ligados aos governos que deveriam fiscalizar. Antes de ser nomeado para o Tribunal de Contas de São Paulo, Robson Marinho foi chefe da Casa Civil do governador Mário Covas (PSDB) e coordenador de sua campanha para o governo em 1995. Eduardo Bittencourt de Carvalho foi indicado pela Assembleia Legislativa, mas era deputado estadual da base do governo de Orestes Quércia. 


O governador do Paraná, Roberto Requião, indicou seu irmão Maurício Requião para o tribunal que ia fiscalizá-lo. A nomeação só não vigora até hoje porque o Supremo Tribunal Federal, em decisão liminar, considerou ilegal a nomeação de Maurício, com base na Súmula Vinculante no 13, que proibiu o nepotismo. 

Há pelo menos um Estado no país que parece ter avançado na direção de um modelo correto de Tribunal de Contas. Pernambuco instaurou mecanismos que melhoram a fiscalização e aumentam a transparência. Lá, as contas do órgão são publicadas para consulta na internet. Um sistema de ouvidoria permite que qualquer cidadão faça denúncias para os auditores. Quem denuncia – por telefone, internet ou pessoalmente – tem o anonimato garantido e recebe uma senha que permite o acompanhamento da verificação dos fatos. Auditores também percorrem os municípios para recolher denúncias. 

É muito pouco para um órgão que custa caro e não oferece nenhuma contrapartida. Urge a necessidade de o Congresso abrir uma discussão, envolvendo a sociedade civil organizada, sobre a possibilidade de extinguir esses órgãos... 



Se gostou compartilhe..


quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

A Cegueira que fere...

CEGOS DA RAZÃO, CEGOS DA SENSIBILIDADE....

Por Alacir Arruda

Em épocas de "cegueira coletiva" onde a intolerância impera, a sociedade caminha para o caos, nada mais é solido e a fluidez encontra um campo fértil para atuação, nada   melhor que fazer uma reflexão de uma das mais importantes obras do seculo XX: " O Ensaio Sobre a Cegueira - do Escritor português  Jose Saramago. Essa Obra foi  Lançada em 1995, coincidentemente,  três anos antes dele receber o Nobel de Literatura e se tornar o único  escritor da Língua  Portuguesa a possuir essa honraria. 

Neste livro, Saramago faz uma  crítica aos valores sociais, expondo o caos a que se chega quando a maioria da população cega. Ele revela traços da sociedade contemporânea, vislumbrando a maneira como as pessoas vivem através de suas descrições das casas, dos utensílios, das roupas. As personagens não têm nomes, sendo descritas por características próprias – o primeiro cego, o médico, a mulher do primeiro cego, a mocinha de óculos, entre tantos outros que aparecem no desenrolar da narrativa, onde uma epidemia se alastra a partir de um homem que cega esperando o semáforo abrir.

A obra de Saramago, retrata a sua crítica ao homem moderno, ao governo, a sociedade, valendo se dele como  uma ferramenta de explanação a indignação a condição do homem moderno em convívio com a sociedade. Colocaremos em análise sua literatura comprometida com o leitor, com seu público que possui papel de modificadores das ações humanas. Sua literatura é para refletir, criticar, argumentar e conduzir a uma modificação. Saramago nos obriga a parar, fechar os olhos, e ver. Enxerga as necessidades do próximo, que várias vezes são esquecidas pela velocidade da vida moderna.

“Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.”

Vivemos em uma sociedade completamente dependente da visão, onde o capitalismo impera com suas artimanhas de manter seu poder e, de ser a único sistema para ser seguido. Os detentores dos sistemas têm ações ideológicas, que estão nos mais diversos espaços da esfera social, usando suas estratégias de alienação, através do consumismo, do anseio pelo de poder e dinheiro. Agindo com se fosse uma “anestesia ao espírito humano”. Tornando os homens cegos pela alienação, cegos pelo orgulho, pela vaidade, pela competição.

Todos esses processos de desumanização causados pelo capitalismo bruto e selvagem creem que é principal agente do caos humano e da sua lenta destruição, acaba por fazer desaparecer junto a ideias capitalistas todo os sentimentos, a moral, a ética, a civilidade, a solidariedade. Construindo assim, a era do individualismo, a era da cegueira de seres “não mais humanos”.

Na nossa sociedade contemporânea, a sociedade do consumo, tudo gira em torno da imagem. Tudo é imagem. Somos cercados e bombardeados por imagens de todos os tipos. Somos incapazes de imaginar determinadas coisas sem enxergá-las, e mesmo representações de elementos não-visuais são feitas de forma visual, como o som. Te tanto ver e se tornar dependentes delas que acabamos por deixar de ver, ficamos cegos.

Em vista isso, analisaremos algumas reflexões sobre a alegoria/metáfora da cegueira utilizada por José Saramago em O Ensaio sobre a cegueira. O não saber olhar da sociedade contemporânea, o que é o principal motivo da sua desestruturação, numa possibilidade de ler a cegueira como uma metáfora da alienação, reconhecendo no texto literário as expressões que conduzem à discussão dos conceitos atinentes a olhar, ver e reparar na sociedade contemporânea, a partir da noção de que ter olhos é muito mais que ver, é perceber, é cuidar, é olhar os outros com olhos mais humanos. Tal tarefa apresenta-se muitas vezes difícil, como ocorre nas passagens do texto de José Saramago, em que o autor propicia aos leitores contemporâneos imagens que representam situações de calamidade, fatos aos quais já chegaram os homens por não verem mais.

Em uma entrevista concedida Saramago foi questionado o que o tinha levado a escrever de tal maneira o enredo sobre essa cegueira, onde ele diz :

"Me encontrava em um restaurante em Lisboa. Sozinho até, e de repente pensei: E se fossemos todos nós cegos? E depois praticamente num segundo seguinte: respondi a mim mesmo a pergunta que acabava de fazer: Mas nós estamos todos cegos: cegos da razão, cegos da sensibilidade, cegos enfim daquilo que fazem de nós, um ser razoavelmente funcional no sentido da relação humana, mas do contrário, um ser agressivo, um ser egoísta, um ser violento, isso é o que somos. E o espetáculo que o mundo nos oferece é precisamente esse, um mundo de desigualdade, um mundo de sofrimento sem justificação, explicamos o que se passa, mas não tem justificação". (Saramago, s/d)

Estabelece, assim, o autor a dicotomia ver/olhar, atribuindo o ato de olhar àqueles que, embora tendo olhos, experimentam outro tipo de cegueira. O ato de ver não é para todos, mas para uns poucos, que são dotados de faculdades especiais, que os distinguem de outros seres humanos.

Em Ensaio sobre a cegueira, a sua ausência, isto é, a cegueira, constitui a alegoria criada para convidar o leitor a repensar o mundo em que vive. A proposta do o autodescobrimento com a descoberta do outro, assim como também chamando-nos a atenção para a realidade da ação democrática dos nossos dias, bem como para os sentimentos ambíguos que a acompanham. A descrença da capacidade de intervenção das massas tem levado o homem a incorrer no erro da alienação. A ignorância dos assuntos públicos, aliada à deformação que alguns dos representantes que elegemos fazem do poder que lhes conferimos constitui uma ameaça ao exercício da democracia. A preservação dos direitos do homem, o exercício da liberdade, exige, em contrapartida, a responsabilidade social. A nossa cegueira, como diz o autor, é fruto da anestesia do espírito. “(...) não é só quando não temos olhos que não sabemos aonde vamos.” (SARAMAGO, 2004 p.275)

Visto isso, vem-nos a pergunta: porque a cegueira é branca ao contrário da cegueira normal que é preta, escura?

O narrador questiona, nesse romance, com a alegoria da cegueira branca, o que é elucidado sobre os olhos do espírito cegos do coração e da alma. Essa cegueira não é ―como uma luz que se apaga, mais como uma luz que se acende (SARAMAGO, 1999: 22). Como realça o primeiro cego: ―É como se tivesse caído um mar de leite, Mas a cegueira não é assim, disse o outro, a cegueira dizem que é negra, Pois eu vejo tudo branco (SARAMAGO, 1999: 13).

Essa é uma metáfora alegórica muito bem utilizada pelo autor, em que “o ver demais” com um simbolismo bem legal, o fato de o branco ser a presença de todas as cores, o fato de vermos tanto faz com que no fundo não vemos nada. Por consequência da era da imagem que a modernização a globalização e o capitalismo nos impes. Assim como o fato de atribuirmos valores excessivos no nada e, onde o que realmente deveríamos observar ignoramos.

Com base nisso, Norval Baitello Jr, um pesquisador ligado à PUC-SP, bastante atento à nossa sociedade, criou o  termo Iconofagia referente essa disseminação da imagens no meio social. Iconofagia, pela própria morfologia da palavra, se refere à devoração de imagens (ou pelas imagens).

Iconofagia é um conceito curioso. No fundo, originalmente, ela é uma relação de morte. Isso porque a palavra ‘imagem’ vem da palavra latina 'imago', que significa retrato da pessoa morta. Daí me veio a idéia da iconofagia, do conceito de que nós devoramos imagens, nós consumimos imagens, nós engolimos imagens. Até fisicamente mesmo. Muitas vezes a própria comida que a gente come é mais imagem do que substância nutritiva. A alimentação rápida do chamado fast-food é muito mais imagem do que comida.Nós devoramos imagens o tempo todo. Temos fome delas. Quando não temos essas imagens, tentamos recriá-las. O problema é que, ao devorar estas imagens, também somos devorados por elas. Um devora outro e ambos nunca se satisfazem.

Assim temos uma desrealização da cegueira representada pela ideia de brancura, o branco que é, por muitas vezes, representante de uma “luz”, a “luz” que é frequentemente colocada como ideia de salvação. E é essa brancura que vai levar toda humanidade a viver no íntimo de sua animalidade, em um mundo do qual já não fazem parte às regras de civilização, onde os homens "são o que são".

Diante das necessidades animais os humanos deixam em segundo plano os seus vínculos afetivos e princípios morais.

O tema da visão, principalmente em Ensaio sobre a cegueira, evolve para a conscientização fato de que nós, seres humanos, não enxergamos o que existe, apenas o que desejamos ver. Padecemos de uma cegueira voluntária, mas conveniente. Portanto, no contexto do romance, "ter olhos" passa a ser sinônimo de "ousar ver". “Estamos cheios de cegos vivos.” (SARAMAGO, 1999, p.282)

A cegueira branca que se espalha, afetando a população de um local não nomeado no romance, reduz os homens ao grau zero da civilização, ao ponto onde tudo tem de ser refeito, recomeçado, reaprendido. O mundo de imagens passa a ser substituído por um mundo de ruídos e todos, com exceção da mulher do médico, a única que consegue ver.

No momento em que todos estão cegos, há uma forte figura feminina aquela, que vê, que consegue enxergar toda decadência da humanidade, e percebe a vida em um caos, e ao mesmo tempo entende que um cachorro pode ser mais humano que qualquer outro que estiver a sua volta.

A mulher do médico consegue ter visão, pois, ao contrário dos demais, ela vê e possui a tarefa de olhar os personagens dentro do manicômio. Ela, ao mesmo tempo, os vê e os vela diante daquela situação, atravessa a superfície das coisas como nos remete o texto abaixo: d coisas, como nos remete o trecho em abaixo:

[...] A mulher do médico voltou para o seu catre, mas já não se deitou. Olhava o marido que murmurava sonhando, os vultos dos outros debaixo dos cobertores cinzentos, as paredes sujas, as camas vazias à espera, e serenamente desejou estar cega também, a atravessar a pele invisível das coisas e passar para o lado de dentro delas, para a sua fulgurante e irremediável cegueira. (ESC, 1999: 64)

―Olhou-os com olhos rasos de lágrimas, ali estavam, dependiam dela como as crianças pequenas dependem da mãe (SARAMAGO, 1999: 218).

Assim como Blimunda de Memorial de um Convento— "a mulher de olhos excessivos, que para descobrir vontades nasceu"—a mulher do médico tem um papel especial: ela é "a que nasceu para presenciar o horror". Embora de modos diferentes, ambas são mulheres dotadas de olhos excessivos, destinadas a ter olhos que ninguém mais tem. Daí o que o autor nos chama atenção da “responsabilidade de ter olhos onde ninguém mais tem”.

Para o autor, ter olhos é muito mais que ver, é perceber, desvendar mistérios e verdades aparentemente ocultas, é cuidar, é olhar os outros com olhos mais humanos . É trabalhar na perspectiva olhar, ver e reparar.

Esta tarefa, a de olhar, não é tão fácil num mundo corroído de fugacidades e violências. Porém, o texto literário em voga poderá conduzir os leitores para a compreensão a que estamos expostos, e quiçá acordá-los, para poder ver e reparar com olhos mais apurados e desejosos de mudanças individuais e coletivas.

Argumentamos que, se os personagens chegaram às situações que chegaram, será necessário acordar, despertar e olhar de maneira diferente do que viam antes. Ou, caso contrário, naufragarão na própria existência. O olhar, então, passa por outro viés, o da compreensão e o da generosidade entre as pessoas, vistas agora mais como seres humanos, num mundo individualizado, em que se acaba perdendo as particularidades. É preciso voltar os olhos para o interior, ou seja, é preciso ver mais com os olhos da alma. Olhos que nós possuímos, mas que na contemporaneidade estão embaçados ou completamente cegos. E como nos lembra Rubem Alves (2009: 02), ao enfatizar que “os olhos são como reflexos para o mundo, cuja miragem está dentro de nós mesmos”. Complementando com versos de Fernando Pessoa (Alberto Caeiro):

"O meu olhar é nítido como o girassol. 
Tenho o costume de andar pelas estradas 
Olhando para direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás... 
E o que vejo a cada momento 
É aquilo que nunca antes eu tinha visto". 
(Alberto Caeiro, s/d)

Assim, podemos perceber o intuito do autor com a obra do quanto se faz importante recuperar o olhar, a percepção das coisas, refazer e reinventar o nosso estar no mundo. E, olhar para os homens e o mundo, certos de que a nossa passagem na Terra pode obter algum sentido nesta existência. Buscando ver o novo, um olhar que além de ver, repare. E a partir disso recuperar relações sociais de solidariedade de igualdade, de sensibilidade com o sofrimento alheio, de proximidade, de irmandade. .E que possamos olhar as pessoas como pessoas, antes de qualquer coisa. Além de não deixar a vida passar diante dos nossos olhos sem que possamos apreciar a sua beleza e todas as coisas boas que nos fazem pessoas melhores. E não deixar que o pior aconteça para reconhecer quem e o que de fato é importante em nossas vidas

Após ler  essa brilhante Obra de Saramago, podemos concluir afirmando que o livro Ensaio sobre a cegueira propõe uma discussão sobre as relações sociais no mundo de hoje, onde imperam os desejos pessoais, o consumo exacerbado e, acima de tudo, um esfriamento no cuidado com o outro. “Trata-se de questões éticas porque o autor nos leva a pensar: O que aconteceria se todos ficassem cegos? A proposta do autor leva-nos a enxergar que somente quando estamos cegos para nossas vaidades e vontades próprias é que podemos visualizar os outros em sua essência”.

Enfim, a obra de José Saramago é um convite a fazer-nos perceber nossa própria cegueira.



Deixo como sugestão de leitura - sobretudo àqueles que irão fazer o ENEM: "O Ensaio Sobre a Cegueira" - Jose Saramago.

Para aqueles que não se identificam bem com livros, tem o Filme. Mas afirmo, o livro é infinitamente melhor...



Se gostou compartilhe...

Não os culpe...

NÃO CULPE OS POLÍTICOS! SE NÃO FOSSE VOCÊ, NEM LÁ ESTARIAM..


Por Alacir Arruda

Em menos de dois meses Bolsonaro experimentou aquilo que em 27 anos como parlamentar ele nunca imaginou passar. Nenhum Presidente, em nossa historia recente, iniciou um governo tendo que administrar tantas crises, algumas muito serias, em tão pouco tempo. A recente demissão do Ministro Gustavo Bebiano - ex - homem forte do planalto -, serviu para demonstrar como Bolsonaro é ingênuo em assuntos inerentes ao executivo. Não tem pulso e, ao contrario de que sua trajetória militar prega, não tem voz de comando. 

Vejam que o responsável pela demissão do Ministro Gustavo Bebiano foi seu filho. Um jovem de 30 anos que não tem cargo em seu governo e, como vereador do RJ, cumpre um mandato medíocre. A impressão que Bolsonaro passa é que em seu governo; todo mundo manda, ninguém obedece e cada um faz o que quer. Senão vejamos.

No episodio envolvendo seu outro filho - Senador Flavio Bolsonaro-, que é alvo de investigações pelo MP do Rio de Janeiro por suspeita de enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e uso de assessores como laranjas, Bolsonaro pai em nenhum momento se manifestou ou prestou contas ao seu grande eleitorado. Se limitou a dizer que esta acompanhando o caso. Ora, era de se esperar mais do comandante máximo da nação quando denúncias , lastreadas de fortes indícios,  adentram pela sua cozinha e se espalham pela sala. Bolsonaro não pode esquecer que foi eleito como a ”ultimas” esperança de um povo calejado por desmandos e políticos corruptos . E os problemas não param por ai. 

O atual Ministro do Turismo Marcelo Alvaro PSL-MG, é outro que esta sendo alvo de denúncias por parte de MP-MG, por patrocinar candidatos laranjas em Minas Gerais. O que ficou claro no episódio Bebiano, que foi acusado do mesmos desvios que Marcelo,  o Presidente usou de dois pesos e duas medidas, demitiu Bebiano e manteve Marcelo. Esse episodio ainda respinga no Presidente da legenda de Bolsonaro PSL, Luciano Bivar PSL-PE, que esta sendo acusado de ser o pivô de toda crise que culminou coma demissão de Bebiano. 

Bolsonaro ainda terá que enfrentar mais pressões da mídia. O seu homem forte – politicamente falando- Onyx Lorenzoni, Ministro chefe da Casa Civil, recentemente virou réu em duas ações no Supremo Tribunal Federal acusado por desvios de verbas de campanha e caixa 2. Éh..., para quem foi eleito sob a égide da intolerância e corrupção, esse inicio de governo tem demonstrado que Eça de Queiroz estava certo ao afirmar que: “Políticos e Fraldas são semelhantes, possuem o mesmo conteúdo”

O que podemos esperar do governo Bolsonaro? Essa é a grande incógnita, ninguém sabe. No campo prático, Bolsonaro precisará de todos os votos que estiverem ao seu alcance para aprovar no Congresso a reforma da Previdência, o pacote de segurança pública elaborado pelo ministro Sérgio Moro e qualquer outra iniciativa legislativa. Se seu próprio partido está conflagrado, que força ele pode esperar das demais legendas? 

Uma coisa é certa, a situação não esta nada  favorável ao Capitão. Alguns analistas já apostam que ele não termina seu mandato, será “moído” por denúncias oferecidas em doses homeopáticas, até que sua permanência se torne insustentável e ele renuncie. Eu, particularmente, sempre achei Bolsonaro um grande engodo, um equivoco politico - basta ler artigos que publiquei neste blog bem antes das eleições. Mas não sou idiota de torcer contra, sou brasileiro e amo meu país, mas acredito que Bolsonaro é uma mentira, legitimada pela vontade do povo. (só um lembrete, ele mexeu com a Globo.Vish!.)

“Num Estado democrático existem duas classes de políticos: Os suspeitos de Corrupção e os Corruptos.”

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

O Fracasso Escolar no Brasil II

A VIOLÊNCIA SIMBÓLICA E  O  FRACASSO ESCOLAR NO BRASIL.


Por Alacir Arruda/ Dados da Sed-SP

A violência entrou de vez no currículo escolar dos brasileiros. Só que agora, infelizmente, em vez de um saudável e democrático conflito no campo das ideias, alunos, professores, diretores e funcionários precisam cada vez mais conviver com agressões, ameaças e abusos. A “violência nas escolas reproduz a violência na sociedade, não é um fenômeno intramuros isolado”, os ambientes escolares deixaram de ser lugares protegidos e muitos pais perderam a tranquilidade ao levar os filhos à escola. A ausência de regras claras de convivência entre alunos e professores contribui para o aumento da violência.

Não é preciso ir longe para se verificar tudo isso. Basta recorrer ao buscador do Google e pedir "violência nas escolas". Aparecem centenas de artigos, análises, denúncias, resumo de encontros e simpósios de especialistas em ciências da educação e do comportamento, além de livros inteiros, disponibilizados gratuitamente, na tentativa de analisar o problema e apresentar possibilidades de solução. Se você for ao Youtube, vai encontrar coisa ainda pior: é imenso o acervo de postagens, contendo cenas às vezes alucinantes de violência destrutiva pura, com frequência captada e publicadas pelas câmeras celulares dos próprios alunos. Há vídeos de brigas, de bullying, de quebra-quebras, de mutilações e até de assassinatos cometidos dentro das salas de aula e nos pátios das escolas.

Os exemplos se tornaram corriqueiros; como os dois casos de agressão ocorridos há alguns anos em Brasília onde, na maior universidade da capital do país (UNB), um professor acabou no hospital após ser agredido por um estudante que não concordou com sua nota. Em uma escola pública de ensino básico, também do DF, um aluno foi morto a facadas pelo colega. Em São Paulo 70% dos professores se sentem ameaçados em razão do cargo. Também em SP, 2018, uma professora apanhou tanto de aluno do ensino médio, que teve traumatismo crânio encefálico grave o que a levou a solicitar aposentadoria por invalidez.

Estabelecer uma discussão entre violência e o papel da escola não tem sido fácil no Brasil. Interesses outros, que não de uma verdadeira busca pelas causas, impedem o país de avançar nesse tema. Entretanto, nunca se falou tanto em violência como nos últimos anos, até porque esta passou a fazer parte do nosso cotidiano, o que explica o interesse, por parte do poder publico, em discuti-la. Esta motivação é comprovada em pesquisa realizada recentemente pelos meios de comunicação, sobre os problemas que mais inquietam a população. A violência, entre outros, foi destacada por pessoas de diferentes camadas sociais, como um dos principais problemas, principalmente aquela que atinge a vida e a integridade física dos indivíduos.

Para que possamos entender melhor os determinantes da violência e o papel da educação, algumas questões nos parecem pertinentes para ajudar a nossa reflexão. De que forma a violência é engendrada na nossa sociedade? Quais os valores que têm norteado as diferentes práticas sociais e entre estas, a educacional? Qual o papel da educação e da escola diante de uma sociedade com características violentas? Estas são perguntas fundamentais.

Hoje, a violência está estampada nos grandes centros do nosso país e se apresenta de diferentes formas. Por isso, para é mais fácil se falar de violências no plural, ou seja, a violência urbana, a policial, a familiar e a escolar. Embora considerando que todas essas manifestações de violência estão imbricadas, vamos dar um maior destaque, neste texto, à violência escolar, sobretudo a que se manifesta de forma subjetiva nas relações sociais no interior da escola.

Este problema tomou tamanhas proporções que está sendo visto como de âmbito mundial e também como uma questão de utilidade pública, pois sua manifestação se propaga em proporções semelhantes às das doenças infecciosas, uma vez que afeta as grandes metrópoles (Gilberto Dimenstein 1996). Portanto, esta problemática não é uma caraterística apenas da sociedade brasileira. Outras sociedades da América Latina e da América Central também vivem experiências de taxas elevadas de violações dos direitos humanos, inclusive a violação do direito à vida é muito frequente, como é o caso do Peru, Colômbia, Bolívia, El Salvador e Guatemala (Sérgio Adorno, 1994).

Em relação ao Brasil, não podemos desconsiderar a história da formação do nosso povo, com a escravidão gerando comportamentos de servidão, de mando e de submissão, em que o indivíduo é desrespeitado na sua condição fundamental de pessoa humana e tratado como “objeto” de manipulação dos seus “proprietários”. Sérgio Adorno (1994) chama a atenção para o fato de que, durante o período monárquico, a sociedade resolvia os seus conflitos relacionados à propriedade, ao monopólio do poder, e à raça, utilizando, de um modo geral, o emprego da violência. E este era considerado um comportamento normal, legítimo e por ser rotineiro passava a ser institucionalizado. É como se fosse um processo natural, justificando até uma certa aquiescência da sociedade.

Ao longo da história do nosso país, o que se tem observado é que mesmo com a implantação do regime republicano, cujo fundamento básico é o bem comum e o bem público a todos os cidadãos, esse quadro de violência pouco se modificou, até porque no campo político temos convivido com várias alternâncias de regimes autoritários, ditatoriais, que implodiram o direito de liberdade dos indivíduos. Estes foram períodos que trouxeram elevados custos à convivência democrática do nosso povo, com violações do direito à vida e inúmeras mutilações físicas.

Esta realidade do nosso país serve para desmascarar a imagem tradicional de que o brasileiro é um povo sentimental, ordeiro e pacífico, como um dia asseverou Sergio Buarque de Holanda.

O fato de a sociedade brasileira ser organizada e determinada por um modelo econômico capitalista extremamente excludente, caracterizado por uma grande concentração de renda, aliás, uma das maiores do mundo, este se constitui em um dos principais fatores da desigualdade e da violência. 60% da renda do país fica nas mãos de 10% da população, enquanto que os 20% da população mais pobres detém apenas 1,8% dessa renda (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento-PNUD,2013). As relações são profundamente desiguais. Essas grandes diferenças geram privilégios para alguns e, consequentemente, a ausência de direitos para muitos.

A sociedade em que vivemos, capitalista e selvagem, valoriza, essencialmente, o consumo, as coisas materiais, a aparência em detrimento da essência da pessoa humana. É um total desvirtuamento do significado de ser gente, ser sujeito, ser pessoa. Valores como solidariedade, humildade, companheirismo, respeito, tolerância são pouco estimulados nas práticas de convivência social, quer seja na família, na escola, no trabalho ou em locais de lazer. As inexistências dessas práticas dão lugar ao individualismo, à lei do mais forte, à necessidade de se levar vantagem em tudo, e daí a brutalidade e a intolerância.

A violência perpassa as diferentes relações sociais e aparece de forma explícita nos meios de comunicação de massa, principalmente na mídia televisiva. São vários os programas que enfatizam e reproduzem, com veemência, atos de violência e até de barbárie que acontecem frequentemente nas sociedades em geral. Além disso, a televisão comumente apresenta programas com “brincadeiras” desrespeitosas em que os indivíduos são usados como objeto sarcástico. Até os programas infantis não fogem a essa conotação violenta.

Esta questão da influência da mídia eletrônica é destacada por alunos de um conjunto de escolas localizadas no Município de São Paulo, em que se realizou uma pesquisa sobre a percepção que alunos, professores e direção da escola têm em relação à problemática da violência urbana e escolar (Aida Silva-1995). Os alunos, de forma unânime, afirmaram que há uma tendência das pessoas em “copiarem” os programas da televisão, a ponto de determinadas atitudes virarem moda entre as crianças e os jovens. E eles vão mais além, defendem a necessidade de um disciplinamento para o horário e a frequência de programas que têm conotação violenta.

O alerta que esses jovens nos trazem, merece ser apreciado com mais atenção, até porque a televisão é um dos meios de comunicação que está presente em praticamente todos os lares da nossa população e boa parte do tempo das crianças é ocupado com a televisão.

É neste contexto que entendemos a violência, enquanto ausência e desrespeito aos direitos do outro. É como dizem os sujeitos dessa pesquisa: ” violentar é romper a liberdade e os direitos do cidadão. É alguém que passa dos limites e invade a privacidade do outro. É a falta de solidariedade e o desrespeito aos direitos humanos”.

Na verdade a escola também reflete o modelo violento de convivência social. E o mais grave é que muitos educadores não se apercebem como violadores dos direitos dos alunos. É o que podemos chamar de violência simbólica, que segundo Bourdie (1972). A escola que temos apenas reproduz as desigualdades de uma nação que teve a sua gênese forjada na exploração, isso ajuda, não só a obscurecer a violência que está no dia-a-dia, no cotidiano, como também a esconder suas verdadeiras causas. É a violência sutil que, em geral, não aparece de forma tão explícita e serve para escamotear e dissimular os conflitos.

Isso explica porque, muitas vezes “os professores não se dão conta de que o que torna as crianças apáticas, não são propriamente os conteúdos ministrados, mas sim o ponto de partida da ação pedagógica que se apresenta carregado de autoritarismo e, portanto, de violência simbólica.

Na pesquisa a que me referi anteriormente, sobre a percepção dos alunos e educadores em relação à violência urbana e escolar, a visão da escola enquanto espaço de violência é destacada pelos alunos, e estes exemplificam como esta se manifesta: “quando o professor fala: este aluno está ferrado comigo” (isto porque o aluno era indisciplinado), ou então, “este aluno não quer nada com a escola e por mim está reprovado”. E o mais interessante é que os professores não vêm estas formas de relacionamento com os alunos como desrespeitosas ou violentas. Para estes, a violência na escola aparece, basicamente, na relação entre os alunos e destes para com o professor. Era como se o professor pudesse ficar isento de tais práticas, mas, na verdade, todos nós somos produtos do conjunto das relações sociais de uma determinada sociedade da qual fazemos parte. Daí a importância de termos conhecimento de como essas relações são produzidas para podermos pensar alternativas de superação.

E qual é o papel da educação e da escola nesse contexto? Se entendemos que a educação é um processo de construção coletiva, contínua e permanente de formação do indivíduo, que se dá na relação entre os indivíduos e entre estes e a natureza, a escola é, portanto, o local privilegiado dessa formação, porque trabalha com o conhecimento, com valores, atitudes e a formação de hábitos.

Dependendo da concepção e da direção que a escola venha assumir, esta poderá ser local de violação de direitos ou de respeito e de busca pela materialização dos direitos de todos os cidadãos, ou seja, de construção da cidadania.

Entendemos que um projeto de escola que busque a formação da cidadania, precisa ter como objetivos: tratar todos os indivíduos com dignidade, com respeito à divergência, valorizando o que cada um tem de bom; fazer com que a escola se torne mais atualizada para que os alunos gostem dela; trabalhar a problemática da violência e dos direitos humanos, a partir do processo de conscientização permanente, relacionando esses conteúdos ao currículo escolar; incentivar comportamentos de trocas, de solidariedade e de diálogos, como bem coloca Renata Aguirre – aluna da 8ª série de uma Escola Municipal de São Paulo:  “a violência é a força bruta contra alguém”.

Quem prática a violência é burro, covarde, porque somos seres humanos e a única coisa que nos diferencia dos animais é a capacidade de pensar e de falar. Se nós temos a capacidade de usar palavras, para que usar a força bruta? “É isso que as pessoas precisam entender”.

É muito importante que “a escola seja um espaço onde se formam as crianças e os jovens para serem construtores ativos da sociedade na qual vivem e exercem sua cidadania” e esta proposta educativa deve ter como eixo central a vida cotidiana, vivenciando “uma pedagogia da indignação e não da resignação. Não queremos formar seres insensíveis e sim seres capazes de se indignar, de se escandalizar diante de toda forma de violência, de humilhação. A atividade educativa deve ser espaço onde expressamos e partilhamos esta indignação através de sentimentos de rebeldia pelo que está acontecendo”. Assim, acreditamos que esta deva ser a nossa utopia.

Sugestão de Leitura: "Aparelhos Ideológicos do Estado" - Louis Althusser


Se gostou Compartilhe.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A farsa dos cursinhos continua..

 GRANDE FARSA DOS CURSINHOS II.

Por Alacir Arruda

Há muito tempo venho criticando o modelo adotado pelos cursinhos pré vestibulares ( ou pré ENEM) brasileiros. Digo isso não por perseguição mas com conhecimento de causa, pois trabalhei naqueles considerados os "melhores" do Brasil em SP e tive a oportunidade "in loco" de confirmar aquilo que já desconfiava, qual seja, o total descaso com o aluno. Cursinhos estão preocupados com números, lucro, salas de aula lotadas sem qualquer comprometimento com o aprendizado, até porque utilizam de uma prática pedagógica absolutamente ultrapassada que é a aula expositiva, onde o professor e o detentor do conhecimento e o aluno um acéfalo sem qualquer vontade ou opinião. 

Lembrando que esse modelo só e praticado no Brasil, em nenhum país  sério existem esses cursinhos. Eles se proliferaram no Brasil a partir a década de 80 face ao sucateamento da educação pública  causado pelo descaso dos nossos governantes. Uma coisa é certa:  a decadência do ensino público no Brasil é diametralmente oposta ao crescimento dos chamados "sistemas de ensino":   como Anglo, Objetivo, Poliedro, COC, Etapa, Positivo entre outros. Sistemas que não servem para: absolutamente nada, salvo para enriquecer os seus proprietários. VEJA O QUE O PROFESSOR JOSE PACHECO PENSA  SOBRE O NOSSO MODELO DE EDUCAÇÃO.



Professor  Jose Pacheco é português e  considerado uma das maiores autoridades em, educação no mundo.  É criador da Escola da Ponte em  1975  em Portugal,  primeira colocada em todas as avaliações da União Europeia e ONU.
Ora, o aluno ao ser aprovado numa  USP, Unicamp, Unesp etc,  o fez por seus próprios méritos e não com ajuda de sistemas engessados e ultrapassados. O aluno bom passará em qualquer vestibular seja ele aluno do Anglo, Objetivo ou da Escola Estadual Adolf Hitler, onde falta tudo, sobretudo, munição. É um equivoco imaginar que sistemas colaboram. Exemplo disso é uma Escola pública no interior do Ceará que, a despeito de todos os problemas, aprovou em 2015 mais alunos em medicina pelo ENEM que todos os sistemas do Brasil juntos. Isso deixa claro que não é sistema que aprova, mas a prática pedagógica adotada.  Essa escola do Ceará utiliza, a partir do 1 ano do ensino médio, o modelo ENEM de avaliações com conteúdos transdisciplinares e aulas interdisciplinares com ate três professores em sala ao mesmo tempo, Isso sim é inovação. Fiz exatamente isso, quando coordenei uma Escola Particular em 2013 e, por coincidência, foi o ultimo ano que ela aprovou alunos em medicina e direito em federais pelo ENEM.

É simples,  não é necessário  ser gênio para entender a tática que esses cursinhos usam: Observem que  a cada grupo de 200 alunos,  desses grandes cursinhos, 2 ou 3 passam em medicina em federais, menos de 0,50% . Isso não pode ser aceito como normal, é um acinte a estatística. Mas eles fazem pior,  tiram fotos desses dois ou três, que passaram e os  expõem em  dezenas  de  out doors  por toda a cidade, passando a imagem que o índice de aprovação é alto. Na verdade  é um cursinho "canalha", que aprova 2 alunos e  com o objetivo de angariar novos integrantes para compor o seu circo no ano seguinte, usam da publicidade enganosa. Observem que eles  não colocam, nesses  out dorrs,  os outros 198   (do total de 200), que não atingiram seus objetivos. Estes, certamente,  terão que fazer faculdades particulares. Olha o tamanho da  "idiotice": esses cursinhos os fizeram perder um, dois ou mais anos  de sua graduação, em função de não terem atingidos nota para o ingresso  em uma  faculdade pública. É um total escárnio.

O problema é que  para garantir um estudo especializado em boas universidades muitos alunos, desesperados por terem concluído um Ensino Médio medíocre,  recorrem aos conhecidos cursinhos pré- Enem ou vestibulares. Estes cursinhos começaram a ser ofertados na década de 60 e muitos alunos, desde então, garantiram vagas em boas instituições superiores após os frequentarem. Porém, desde então, a educação passou por várias tendências de compreensão e práticas de ensino. Por exemplo, hoje a educação escolar compreende que cada aluno carrega consigo uma bagagem e uma realidade particular que influenciam no seu aprendizado. Dito isso, vamos mostrar aqui três coisas que todo cursinho pré-vestibular faz e que está pra lá de ultrapassado. 

1) Turmas gigantes. Cursinhos que fazem o conhecido “aulão”, na verdade, estão reproduzindo uma prática ultrapassada. O aproveitamento de uma turma de 100 alunos é pior se comparado a turmas menores onde todos os alunos podem trocar experiências e conhecimento com o professor e entre si, dinamizando a aprendizagem. 

2) Aulas exclusivamente expositivas. Quando um cursinho pré-vestibular mantém professores que exercem apenas o papel de transmitir conhecimento através de aulas expositivas, onde eles ficam falando sem parar, despejando ideias, conceitos e soluções na cabeça dos alunos, eis aí uma forma ultrapassada de ensinar. O uso de outros recursos (audiovisuais, trabalho externo, aulas práticas) e o estabelecimento de diálogos com os alunos na condução da aula são metodologias dinâmicas que garantem que o aluno aprenda de verdade e com mais facilidade. Ensinar como o aluno deve buscar as resoluções que precisa também é importante. O aluno deve aprender a aprender

3) Memorização. É muito comum em cursinho pré-vestibular o uso de estratégias de memorização com música, rimas, decorebas – algo que pode até garantir que você acerte uma determinada questão (se não “der um branco” na sua memória, na hora), mas seguramente será esquecido em breve e todo investimento que você fez para aprender terá sido em vão. Aprender vai muito além de decorar. Aprender transforma e para que isso ocorra o aluno deve desenvolver sua capacidade crítica diante das situações, ou seja, ele deve saber como chegar às conclusões, que seriam as respostas que ele busca em uma questão. Não devemos aprender apenas para a prova, mas para a vida.

Dito isto,  preste atenção nos detalhes e busque a melhor  maneira de estudar,  de preferência, com o uso de um processo de 
aprendizagem atualizado.  Em educação não existe milagre. Quer  quer ser aprovado em uma boa instituição pública? Estude!! Assista os noticiários diários, se informe, leia as principais obras da nossa literatura, desenvolva uma visão holística de mundo, não assista aula de professores ruins, Leia os grandes pensadores (Sócrates, Platão, Aristóteles, Agostinho de Hipona, Spinoza, Galileu, Descartes, Hobbes, Locke, Rousseou,Kant, Schopenhauer, Kierkegaard Marx, Nietzsche, Freud, Sartre, Simone Beauvoir, Foucault, Hanna Arendt, Zygmunt Baumam etc.. ) Não há outra saída. 

Confeccione uma planilha (excel,tem varias prontas na rede) ,  preencha-a com todas as disciplinas que são cobradas no Enem e dedique ao menos 6 horas diárias para cada área do conhecimento. Deixe os finais de semana para leitura de algumas obras e  produzir redação, não esqueça dos grandes pensadores.. Uma vez por mês faça um simulado de quatro  horas e meia, ( tem alguns bons na rede). 

Seja disciplinado (a),  cumpra os horários de sua planilha, estabeleça um acordo com os familiares para que, nesse período,  eles repeitem sua dedicação. Se namora, use a mesma estrategia. Peça que o companheiro (a)  lhe ajude nesse desafio afinal, existe um sonho em jogo e essa batalha só sera vencida em equipe. Se gosta de consumir bebida alcoólica, dê um tempo, você terá a eternidade para se embebedar. Não tenha vergonha de pedir ajuda não importa a quem. Busque grupos de estudos que estão na mesma luta que a sua, visite bibliotecas públicas para leituras complementares e tenha foco!

Faça isso e caia fora de cursinhos. Posso lhe garantir - com a chancela de quem  ajudou a aprovar  mais de 200 alunos  em medicina em federais -  que esse é o caminho mais adequado aos que buscam notas expressivas no ENEM.  Muitos irão lhe chamar de louco(a). insisto, não ligue, siga em frente..

Achou difícil? E por que deveria ser fácil?  


Se gostou compartilhe.


sábado, 16 de fevereiro de 2019

O Brasil dos Bolsonaros

BRASIL:  A ÚNICA VÍTIMA DE UM GOVERNO SEM RUMO..

Por Alacir Arruda

No Brasil é assim; quando pensamos que  chegamos no fundo do poço, descobrimos que o poço é mais fundo ainda. E os nossos políticos tem colaborado uma vez que : “nada e tão ruim que eles não consigam piorar”. Peguemos o exemplo dessa ultima crise envolvendo “atual” Ministro da Secretaria Geral da Presidência Gustavo Bebiano e o filho de Bolsonaro Carlos Bolsonaro. Bebiano foi chamado de Mentiroso nas Redes Sociais tanto pelo filho quanto pelo pai (Presidente) e a sua situação no governo se tornou insustentável. Segundo fontes, ele será exonerado na segunda feira, 16/02, por Bolsonaro, caso não peça demissão...

Pra alguns analistas Bolsonaro peca ao permitir a interferência de seus filhos  nas questões de  Estado.  Para eles, o  presidente Jair Bolsonaro é hoje refém dos próprios filhos. Não dá um passo que não seja após ouvi-los. Pretere os seus auxiliares mais diretos em troca do palpite de um dos três. Tem em Flávio, Carlos e Eduardo uma espécie de tríade divina que tudo pode e que pensa ter nas mãos os destinos do Brasil e dos brasileiros. E não é assim. Ou não pode ser assim.

A crise da hora envolvendo o filho do meio Carlos Bolsonaro e o ex-presidente do PSL e atual ministro Gustavo Bebiano é algo impensável que nem o mais crítico observador imaginaria acontecer.

Carlos não tem nenhum mandato federal, é vereador do Rio e deveria estar cuidando de sua castigada cidade – Flávio é senador e Eduardo, deputado federal -, mas é o filho mais ouvido pelo presidente, estando sempre ao lado do pai, desde a solenidade de posse ao acompanhamento na internação de no Hospital Albert Einstein, onde Bolsonaro se submeteu a uma cirurgia abdominal. Controla das redes sociais e a comunicação do presidente. Tudo de maneira informal, já que o governo possui um porta-voz nomeado e no exercício da função.

A situação é surreal. Um filho do presidente da República, sem qualquer importância funcional formal dentro do governo, chega e chama um ministro de Estado de mentiroso. O que faz o pai-presidente? Dá uma enquadrada no filho boquirroto? Tenta demonstrar que o governo não é o que parece? Nada disso. A reação de Bolsonaro-pai é deixar o seu ministro pendurado no pincel ao dizer praticamente a mesma coisa que disse o filho pseudo porta-voz.

Não que Bebiano seja isento de responsabilidade pelo rastilho de pólvora que se arma e precocemente começa a explodir a credibilidade do presidente, do governo e do partido. Ele foi o presidente do PSL antes de Luciano Bivar e tem tanta culpa quanto o sucessor na proliferação do imenso laranjal em que se transformou a legenda. Praticamente todo dia, a imprensa traz uma laranja nova, adubada com centenas de milhões de reais do fundo partidário e que responderam com as menores mais caras votações da História. Mas, daí pegar Bebiano e deixar ele torrar no forno armado por Carlos Bolsonaro, já são outros quinhentos.

A crise toma fôlego a cada lance desse episódio bizarro. A ponto de o presidente da Câmara dos Deputados chegar e jogar azeite na panela fervente. Sem usar de meias-palavras, Rodrigo Maia acusou Bolsonaro de se esconder atrás do filho para demitir um ministro. Mais claro impossível.

Para um presidente da República, ouvir que não tem coragem de afastar um ministro e precisa, para tal, de um biombo familiar, convenhamos, é algo inédito na República. Não há notícia de um governo que, com 45 dias de vida, esteja tão enrolado, em boa parte, por causa da parentada do chefe do Executivo. E de um chefe de Executivo que não consegue conter a parentada intrometida.

O Brasil não é a casa dos Bolsonaro. Alguém, no entanto, precisa dizer isto ao presidente. Mas não é o bastante. E é bom o próprio presidente ter ouvidos e sensibilidade para entender, aceitar e efetivamente mudar a situação. A pena para essa surdez pode ser dura demais. Para o presidente e para o país.

Nessa crise envolvendo Carlos Bolsonaro e Gustavo Bebiano, assistir ao noticiário do governo na televisão tem sido constrangedor. Parece um bando de desnorteados tentando disfarçar a gravidade, tanto do escândalo envolvendo o PSL quanto do agravamento da crise de relacionamento que isto provocou.

O quadro é muito ruim. A ingerência dos "garotos" em tudo e sobre todos deixa o País parado, após dois meses e meio de governo. O resultado é uma horda de aliados magoados e desrespeitados. É uma base parlamentar dividida e atônita. A maioria,  vale lembrar, não simpatiza com Carlos Bolsonaro e fecha com Bebiano. Como é o caso, também, do vice-presidente Hamilton Mourão e até do ministro Chefe da Casa Civil, Onix Lorenzoni. Resta saber se essa "unanimidade" afetará Bolsonaro e o fará se decidir entre ser o presidente ou o pai superprotetor. O segundo caso vence com folga, até agora


Esse quadro de incertezas em nada ajuda o Brasil nessa tentativa  de retomada de sua economia, uma vez que os investidores internacionais acabam  por,  em função dessa celeuma, desistindo de investirem por aqui. O maior exemplo, que sempre cito, é o caso da Microsoft, que em 2014 pensava em trazer a sua filial da América do Sul para o Brasil, porem incertezas politicas, corrupção e insegurança jurídica os fizeram   transferir  seus desejos para o Chile, onde  instalaram a sua planta. Em  suma, perdemos todos nós com um governo sem rumo, onde os interesses pessoais continuam a  transcender o coletivo.

Se gostou compartilhe...