terça-feira, 26 de janeiro de 2016

uma outra escola possível

                  UM ALUNO AUTÔNOMO: A TRAGETÓRIA DO PROF. JOSÉ PACHECO

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José Pacheco ensinando
Por: Alacir Arruda

Como é de conhecimento de todos que acompanham esse Blog, sou um tenaz crítico dessa educação "prussiana" ainda hoje praticada no Brasil, que na minha analise, não serve para, absolutamente, nada. Faço essas criticas baseadas em dados e observando experiencias inovadoras como o da Escola da Ponte em Portugal comandada à epoca pelo Prof. Jose Pacheco. Esse exímio educador cometeu a façanha de abastecer com relatórios falsos o Ministério da Educação de Portugal, seu país, por longos 10 anos. E de aceitar crianças que as demais escolas portuguesas rejeitavam. E manteve essas crianças disciplinadas, mesmo sem a presença de um dirigente central. Mas o conceito de disciplina da Escola da Ponte é outro, mais libertário que o comumente aceito em outras escolas.

Chamado de Pontífice, que o dicionário nos assegura ser o elo entre os homens e Deus, ou papa, ele rejeita a alcunha. E também não gosta de ser aplaudido quando fala, porque “perde-se muito tempo com aplausos”.

O Prof. José Francisco Pacheco, nasceu em 10 de maio de 1951, educador português que hoje aposentado tem sua residencia atual no Brasil, sendo considerado um Peregrino da Educação, levando suas falas de esperança e solidariedade a todos os recantos do nosso país.
Especialista em Música e em Leitura e Escrita, é mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação daUniversidade do Porto. Coordenou, desde 1976, a Escola da Ponte, da qual é idelizador, instituição que se notabilizou pelo projeto educativo inovador, baseado na autonomia dos estudantes.

 
Este homem é o principal articulador da Escola da Ponte, uma escola sem diretor, sem salas de aula, sem divisão por séries ou turmas e a única que conseguiu autonomia junto ao governo. Mas não foi de graça. Com sua indisciplina, a Escola da Ponte conseguiu provar por A mais B que consegue gerir-se sozinha há 15 anos é a primeira colocada em todos os exames português e europeus. Comparado ao Brasil, seria o mesmo  que ser a 1º colocada no ENEM por 10 anos.

É autor de livros e de diversos artigos sobre educação, definindo-se como "um louco com noções de prática".

Em 8 de maio de 2004, condecorado, pelo Presidente da República de Portugal, Jorge Sampaio com a Ordem da Instrução Pública.
Ex-sindicalista, Pacheco comenta sobre a situação atual dos educadores brasileiros, para espanto geral, que o salário não é tudo e contesta os que dizem que ganham mal, por isso têm má atuação: “Isso volta-se contra nós”, alerta.

Pacheco afirma que, o salário não paga o que o professor faz. A missão do professor é de tão grande excelência, que nenhum salário paga. Tem que ter um salário digno, eu não defende que se pague tão mal a essa gente, como viu no interior de Pernambuco e noutros lugares, a ganhar misérias. Não defende isso. Mas quer que os professores mostrem que são capazes de fazer melhor e exigir do Estado o reconhecimento do seu estatuto monetário também. E não que andem a dizer que por ganharem pouco, fazem pouco.

Observador privilegiado, Pacheco fala que há escolas no Brasil que fazem inveja às europeias. As chama de escolas invisíveis, são os projetos que ele coordena em São Paulo. Mas ele alerta:  “Enquanto não estiver consolidado o projeto, é melhor que não sejam conhecidas”.

Pacheco afirma que, aula é inútil e avaliação não avalia ninguém, para ele: o Brasil possui um modelo de ensino que impede o aluno de aprender e si doutrina bons soldados, ele diz ainda: “se queremos ser autônomos, teremos que ser todos diretores.” O poder tem que ser horizontalizado. Não pode haver mecanismos de controle, porque assim não há professores atuantes. Se houver diretor é sinal de que os professores não são autônomos, que é preciso haver alguém que mande neles, a dizer o que devem fazer, para onde devem ir, que horário devem ter. O que realizamos na Escola da Ponte foi horizontalizar todas as posições de poder. Há um coordenador, eleito anualmente, e agora tri anualmente, mas que pode ser destituído a qualquer momento; é um professor como os outros.

Pacheco conclui que não pode e nem deve dizer, porque o projeto que tem visibilidade social acaba. Explica que vai precisar de uns cinco ou dez anos e talvez o Brasil talvez venha a ter uma surpresa.

“Está a acontecer uma reforma silenciosa no Brasil, que tem um potencial humano tremendo e por isso é que venho viver no Brasil, para me afastar da Escola da Ponte e para participar desta transformação das escolas que, discretamente, clandestinamente, vem ocorrendo.”
E eu faço parte desse grupo.

Alguns de seus Livros:

PACHECO, José. (2000) Quando eu for grande, quero ir a Primavera. Ed. Didática Suplegraf.
PACHECO, José. (2003) Sózinhos na Escola. Ed. Didática Suplegraf.
PACHECO, José. (2006) Caminhos para a Inclusão, Artmed Editora. 




OBS: SE ALGUEM SE INTERESSOU  POR ALGUM DESSES LIVROS, TENHO TODOS EM PDF E MAIS ALGUNS QUE O PRÓPRIO PACHECO ME ENVIOU, BASTA ME MANDAR UM E-EMAIL E REPASSO:  zokena@hotmail.com


sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

sucateando a nação



 BRASIL: UMA INVERSÃO TOTAL DE VALORES

 Por Alacir Arruda
  
Como filósofo, sociólogo e cientista político  sou a favor da secessão individual, ou seja, “porcamente explicando”, que cada um seja sua própria nação se assim quiser. Contudo, o que temos atualmente é um país,  no qual todos somos obrigados a fazer parte. Bem, a partir do momento que há essa obrigação e que não há possibilidade de secessão, ou sequer uma perspectiva de longo prazo, precisamos pelo menos viver em uma nação minimamente digna.

Infelizmente o Brasil é o contrário do que podemos chamar de “nação digna”, pois os valores essenciais para a convivência civilizada foram esquecidos e substituídos por arremedos de valores.

No Brasil atual a ética e a moral estão de tal maneira distorcidas que indivíduos viram heróis por fazerem nada além de suas estritas obrigações, como Joaquim Barbosa ao comandar o Supremo exigindo punição aos corruptos, ou Sergio Moro por colocar políticos criminosos na cadeia. Ora, essa é uma das obrigações deles como juízes que  nada fizeram além de cumprir a Lei. Porém, no país da malandragem e onde os conchavos substituíram o trabalho honesto e a integridade moral, um ato de responsabilidade pode até parecer de extrema coragem.
Vemos o sucateamento da moral e da ética, por exemplo, em discursos contraditórios do dia a dia, como: “você viu que X achou um celular e devolveu para o dono?”, “Nossa, quanta honestidade, está certo, tem que devolver…”, “Você devolveria?”, “Eu não, pois achado não é roubado”. É o império da hipocrisia.

A honestidade causa espanto, enquanto os crimes não chocam mais. A desonestidade e a malandragem viraram parte comum do cotidiano do brasileiro. Já admitimos abertamente votar em candidatos “menos piores”, ou até “que roubam menos”, pois junto com esse sucateamento da nação, vem a desesperança e até certo comodismo, ou preguiça de mudar algo. “Deixa como está. Não está bom, mas não está tão ruim”.

Quem busca ter uma vida honesta é considerado “trouxa” no Brasil. Fez o trabalho da escola, ou universidade, corretamente e sem “encheção de lingüiça”, nem o copia e cola da internet? Trouxa! Devolveu o dinheiro que viu cair do bolso de outra pessoa? Trouxa! Claro, que esse “trouxa” é sempre acompanhado de uma expressão de espanto pela “boa ação”, que não passa de cumprir com sua obrigação moral e/ou ética.

Não tentar levar vantagem sobre tudo e todos causa espanto e gera desconfiança, afinal, “o que você está querendo sendo tão honesto assim?”. Houve uma flagrante inversão, onde a desconfiança recai sobre o indivíduo honesto, enquanto o desonesto é até encorajado.
Estamos produzindo falsos heróis, baseados no espanto e aversão à responsabilidade, honestidade e integridade, causados pela carência de valores concretos e não relativizados de açodo com o que for conveniente, mas também por um projeto de sucateamento desses valores, que iniciou há mais de 60 anos, no Brasil, e atualmente está em seu auge.

Setores fundamentais da sociedade como educação, cultura, acesso a informação, jornalismo e mídia, saúde, política, etc, passaram (e ainda passam) por um processo de domínio e aparelhamento ideológico, advindo de um projeto de doutrinação em ampla escala, consideravelmente atuante desde os anos 50 do século XX, que tem por objetivo coletivizar e alienar as consciências individuais, destruir o próprio indivíduo e sucatear os valores éticos, morais e cívicos, transformando os cidadãos em uma grande massa burra, distorcida e que acha Valeska Popozuda uma grande pensadora moderna, enquanto chamam:  Mises, Hayek, Hoppe, J. O. de Meira Penna e tantos outros, de “velhos”, “coxinhas reacionários” e “elitistas”; que chamam MC Gui de gênio e Beethoven de “chato”, “ultrapassado” e “coisa de burguês, pois povão gosta é de funk”.

Nada contra os gostos individuais, pois cada um tem o direito à individualidade. Contudo, não posso deixar de observar o sucateamento promovido pelo projeto citado e que está diretamente relacionado com a disseminação desses gostos individuais como parâmetros do “bom gosto”, da “modernidade” e da construção/definição de uma cultura nacional e de valores distorcidos, seletivos e contraditórios.


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

ENEM: a parcela de culpa dos pais

ENEM: O FRACASSO COMEÇA EM CASA

Por Alacir Arruda

E possivel listar no  mínimo, 30 motivos óbvios  para que se explique o fiasco na última prova do ENEM, em que mais de 500 mil alunos tiraram zero em Redação (isso mesmo, zero!).

Falta de investimentos em escolas públicas é um deles. No entanto, para mim, esse argumento não cola. Trabalhei,  anos, em escolas particulares em Sao Paulo e Rio de Janeiro. E digo, com certeza, que a falta de leitura, a falta de hábito da escrita e a falta de compromisso com as notas altas não são exclusividades da escola pública.

Corrupção (é claro!), descaso com a educação, aprovação automática, materiais didáticos mal elaborados, professores desmotivados e mal remunerados, governo preocupado com estatísticas e o tema da redação, o qual teria sido muito complexo, este – confesso – a desculpa mais esfarrapada… Todos esses, e muitos outros, são motivos sociais que – claramente – existem no Brasil e que contribuem para o fracasso no processo educacional. Contudo, tenho uma novidade: educação é um complexo processo que envolve diversos atores, a escola é um deles. Há um ator fundamental que ainda não foi mencionado no texto: OS PAIS.

“Meu Deus… meu filho é um fracasso e eu tenho parcela de culpa?” Sim, claro que sim. Os pais, primeiramente, escondem-se naqueles motivos supracitados – os motivos sintomáticos que são de responsabilidade dos governos. Entretanto, não percebem que não incentivam os filhos a ler (talvez por não terem o hábito de ler), deixam seus filhos à mercê dos ensinamentos turvos fornecidos por programas de TV e novelas, presenteiam seus filhos com celulares de última geração – sem que algum sucesso seja exigido em troca -, smartphones nos quais os jovens passam simplesmente o dia todo (como vou estudar? Se o whatsapp está bombando). Você, que está me lendo, passa o dia no celular, imaginem os adolescentes…

Os pais não punem mais os filhos por constantes notas baixas, os pais sequer os culpam (a culpa é da escola, do professor, que é um chato rigoroso). O grande problema é que os pais de hoje são os filhos dos filhos da ditadura de ontem. Eles têm medo de punir, de gritar, de reprimir, de castigar, de cobrar. Criam filhos em uma redoma de impunidade, a qual certamente gera péssimos alunos e cidadãos introspectivos (e o bom-dia do elevador vai morrendo).

Sou professor universitario e perguntem, por favor, a QUALQUER professor universitário sobre a qualidade dos textos dos seus alunos  e vejam-no cobrindo o rosto com as duas mãos, jogando levemente a cabeça para trás. A faculdade é, então, a última etapa na vida profissional de um aluno. A partir de então, ele será o médico, o professor, o engenheiro… Durante a faculdade, aqueles famosos déficits, por meio dos quais vocês sempre justificaram a rotina de insucessos dos seus filhos, serão os grandes geradores de um péssimo profissional no futuro. Imaginem um médico errando em uma cirurgia, indo à mídia e dizendo: “é que eu tenho problema de atenção desde pequeno…”. A vida não costuma perdoar, como nossos pais.

O que ocorre em casa – e vai dentro da mochila com o aluno para a escola – é um terrível déficit de interesse, na verdade. Falta de interesse em tudo que seja livro, letra, papel, caneta, caderno. Estamos na pior época no quesito alienação, e cabe à família proteger seus filhos do fracasso. O bom resultado na escola será uma linda consequência de um dia a dia de treinamentos. Confesso que NUNCA esperarei dos políticos uma consciência de que educação passe a ser a prioridade, eu espero isso dos pais. Os políticos não amam nossos filhos, nós os amamos. Seus filhos não precisam ler Machado de Assis, eles precisam LER! Ler inclusive livros sobre jogos de videogame. Eles podem ser o pontapé inicial de uma vida literária ativa.


Como professor de humanidades, porém um grande admirador da língua portuguesa,  sinto-me na obrigação de produzir um novo texto falando sobre os aspectos linguísticos envolvidos nessa problemática. Continuarei o assunto com um teor mais técnico, mais textual. Vamos continuar a ousadia de pensar!


Observação: Como a interpretação também é algo problemático no meu país, afirmo a quem estiver me lendo que não desconsidero a existência do Déficit de Atenção clínico. Ele existe. Meu medo é quando ele é diagnosticado a quem claramente não possua tal problem
a.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

CANSEI!!!

AULA NÃO ENSINA E PROVA NÃO AVALIA.

Por Alacir Arruda 

Alguém ja se questionou porque todos os anos milhares de alunos em nosso país prestam o ENEM e levam "pau"? Ou mesmo reprovam em suas séries? ou ainda, não sabem nada? Essa  é a pergunta que eu me fazia ao final de cada ano. Por que dei boas aulas e alguns alunos nada aprenderam? Há muitos anos encontrei a resposta. O grande dilema era justamente esse, "eles nada aprenderam porque eu dei aula" estava ai a resposta. O problema é a aula. A questão é que essa escola que temos não serve para absolutamente nada. Esse modelo Prússio/francês dos século XVIII que difundiu para a o mundo a idéia de uma aluno robô, que age por estimulo resposta, onde o professsor é o detentor do conhecimento e o aluno uma "marioanete" pronto para receber ordens e cumprir com aquilo que o sistema estabelece, há muito tempo ja deu sinal de colapso.

Temos hoje um aluno do século XXI um professor do seculo XVIII e uma escola medieval, essa é a grande verdade. Nesse teatro de horrores que se trasnformou a educação barsileira, o processo de ensino-aprendizagem não ocorre porque são atores usando liguangens diferentes. Desafio qualquer um a dizer se consegue agora de cabeça enunciar o "Principio de Corioles"? Ou mesmo, me dizer sem consultar como ocorre o processo de divisão celular "mitose e meiose"? Ou ainda os titulares das capitanias hereditárias? Raiz quadrada de 234? Esses conteúdos estão lá nas apostilas do ensino medio, nos PCNs da vida, todos tivemos. E por que não sabemos mais nada disso? Por que de nada serviu para mim nem pra você? Porque isso é conhecimento vazio, inútil,  típico de um sistema que busca preencher 6hs de aula "enchendo linguiça". O verdadeiro conhecimento so ocorre quando o aluno é o agente do processo E NÃO  um sujeito passivo.

Depois de 22 anos dedicado à educação, CANSEI! Cansei do sistema,  da hipocrisia das aulas que não ensinam das avaliações que não avaliam, do faz de conta, da luta para fazer a diferença na vida dos estudantes que todos esses anos já passaram pelas minhas mãos! Cansei desse modelo de escola, de sala de aula, de questionários de provas, de um ambiente vigiado, monitorado. As escolas no Brasil foram transformadas em verdadeiras cadeias, cercadas de grades, cadeados, câmeras, parece que estamos lidando com bandidos..... Cansei!

Cansei de olhar para meu estudante achando que ele está ali para me enganar, e eu tenho que ser mais esperto que ele! Cansei do sistema de notas, que nada avaliam só promove a competição e o "jeitinho brasileiro" da "cola". Já que o que importa é a nota, tanto para professor como aluno, resolvemos isso na base do cambalacho!! O que se estimula é a ação antiética, quantas vezes eu não ouvi: "Você pode colar.... desde que eu não pegue!!!" “desde que eu não pegue”!!!! se isso não é um incentivo à hipocrisia, à imoralidade, à falta de Ética, o que é???????

Cansei!!! E acredito que muitos de vocês também cansaram! Entristeci-me nesta semana ao ler postagens em Redes Sociais  sobre a volta às aulas, todas elas ironizando o fim das férias e o reinício do “martírio”, para professores e alunos. Senti-me mal!! Senti-me mal, por que amo o que faço, amo a sala de aula, amo a educação, amo minha profissão! Senti-me mal, muito mal, mesmo porque os posts vieram inclusive de professores....chegamos ao fundo do poço!

A tristeza e o cansaço me fizeram refletir, ou ampliar a reflexão que há muito já faço sobre minha práxis pedagógica. Há muito tempo já não trabalho com aulas convencionais, nem provas e muito menos meço o desempenho de meus estudantes com notas. Mas só isso não me basta, preciso ir além, precisamos ir além....se esperar algo dessa instituição falida e fora de sincronia com a realidade..... morrerei antes, muito antes...Assim, venho em busca de ajuda!

Ajuda, para que? Sonho em criar um espaço onde a Lectio e a Disputatio – isso mesmo, Leitura e Disputa – método das escolas medievais, que fez a renascença, que fez pensadores do calibre de Thomás de Aquino, Erasmo de Rotherdam, Descartes, dentre tantos outros. Uma educação preocupada em educar o espírito humano para o debate, para a discussão das ideias; a boa e velha Maiêutica socrática, o bom e velho método Peripatético de Aristóteles, a boa e velha conversa, o diálogo e a troca de experiências, envolvendo todas as áreas do conhecimento. Sonho com um espaço onde se possa discutir cientifica e filosoficamente tudo!! Um espaço onde todos os saberes possam se encontrar sem o rótulo que lhes foram dados pela modernidade! Enfim, um espaço de estudo onde não exista muros, onde as ideologias possam se engalfinhar em discussões intermináveis, mas sempre pautadas pela ética e mediadas pela razão, sem nos esquecermos dos afetos fazem de nós o que somos!


Enfim! Convido a todos que tenham o mesmo sonho, a sonhar comigo em 2016 esse espaço eu ja tenho.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

ENEM e o desastre que é o sistema

 ENEM:  AINDA UM ILUSTRE DESCONHECIDO DOS NOSSOS ALUNOS 

Por Alacir Arruda


      Dia 08 de janeiro de 2016 será divulgado  o resultado do Exame Nacional do Ensino Médio-2015 (Enem). Prova realizada no final de outubro do ano passado. Sem querer ser pessimista , ja sendo, e com a experiencia de ser um dos criadores desse exame em 2008 junto ao INEP, digo sem medo de errar, que o resultado será um desastre para mais de 90% dos alunos.

    Ao ser criado, em 1998, o ENEM tinha como primeiro objetivo, medir o nível de conhecimento do alunos egressos do ensino médio, baseado numa metodologia revolucionaria e mundialmente aceita alicerçada no binômio: Competências e Habilidades. Essa metodologia foi criada por intelectuais o Quilate de Jacques Delórs, Edgar Morin entre outros no ano de  1996 a pedido da ONU. No Brasil eu considero natural e justificável a inadequação de alguns jovens quanto a essa avaliação por três razões básicas;

      - 1º) o nosso jovem não é preparado para esse tipo de prova. Possuímos um currículo ultrapassado, engessado e conteudista onde o aluno é visto como um depósito de conhecimentos. Os professores vão “entupindo” matérias fragmentadas em suas cabeças depois cobram em provas sem qualquer contexto, ou seja, tudo aquilo que o ENEM condena.

    -2º) os professores, viciados nesse modelo bancário conteudista, não conseguem estabelecer relações, construir pontes ou contextualizar suas disciplinas aos moldes do que exige a matriz ENEM, alguns por comodismo e outros porque desconhecem mesmo o ENEM.

        -3º) somos um país que, culturalmente, não possui o hábito da leitura e o ENEM exige do aluno o domínio dessa competência. 
     
      Todos os Itens do ENEM possuem; texto base, enunciado, distratores e alternativas. Sendo que o texto base corresponde de  50% a 80% da resposta correta. O problema está justamente ai, nosso aluno lê, mas não compreende. Muito menos consegue contextualizar aquilo que leu. Isso ocorre pelo fato de sermos o país que menos lê na America Latina e um dos mais atrasados nesse quesito no mundo. Querer que um aluno, hoje com 17- 18 anos, que teve como literatura mais importante nos últimos 5 anos “Crepúsculo, Lua Nova e Amanhecer” e assistiu nos cinemas toda a saga "X Men e Vingadores" saia bem no ENEM é um tremendo engodo.

           O que eu defendo e, há mais de 6 anos venho sofrendo severas criticas por isso, é que as escolas, sobretudo as privadas, comecem ( pra ontem) o processo de transição do vestibular tradicional -QUE NÃO EXISTE MAIS- salvo uma meia dúzia de faculdades no Brasil, para o PRÉ-ENEM, ou seja que os cursinhos preparem seus alunos para o ENEM que hoje é aceito como requisito único em 93% das federais brasileiras e as a outras 7% ate 2016 estarão nesse grupo, inclusive USP e UNICAMP. O que não pode é o que ocorre hoje, o aluno que vai prestar só ENEM fica como um bobo alegre nas aulas, uma vez que ele não consegue estabelecer conexão entre aquilo que é ensinado e as questões do ENEM. 

            Mas para que isso ocorra, faz se necessário que escolas se reinventem, aprendam a aprender, uma vez que precisam preparar seus professores, capacita-los a partir da plataforma ENEM e suas matrizes. Tive a oportunidade de ter sido convidado pelo INEP em 2006 para elaborarmos estruturalmente o Novo Enem que passou a vigorar em 2009 com 180 questões. Confesso que foi uma experiencia unica, onde aprendi efetivamente o que seja educcão moderna, voltada para resultados. 

            Fui professor de cursinhos e ensino médio em  grandes escolas e sistemas de SP: como Anglo, Objetivo, COC e  Poliedro e ate coordenei algumas delas. Foi então que, usando da bagagem adquirida em  Brasilia junto ao Inep na construção do Novo Enem,  resolvi colocar em pratica o modelo pedagógico ENEM. Escolhia algumas aulas de forma aleatória, colocava em sala de aula 4 professores, sorteava um tema qualquer, como por ex: II Guerra Mundial que pode, a principio, ser uma tema de história, mas se aplicarmos as matrizes do ENEM ele se transforma em um tema interdisciplinar, ou seja, o prof. De história abre a aula, contextualizando todo processo histórico do período, o de geopolítica contextualiza todos os interesses e etnias envolvidas, o de física trata da balística (ótica), movimentos, fissão e fusão nuclear e o de química analisa a composição dos gases que foram utilizados pelo regime nazista no processo de limpeza étnica praticado contra judeus e outras etnias. A aula fica interessante, não é maçante para o aluno visto que, em 1 hora, 4 professores falam no máximo 20  minutos. Isso faz com que aluno, perca o medo e comece a entender o que é o ENEM, que tem como função principal inter-relacionar o conhecimento transpor as áreas.

       A pergunta que não quer calar. Estarão as escolas  de Cuiabá dispostas a isso?? Ou preferem a zona de conforto estabelecido por um modelo Anglo-Saxão de perguntas e respostas desconexas que tem dominado a educação privada no Brasil há mais de 60 anos? Não tenho dúvida que a primeira que realizar essas mudanças será destaque e vanguarda no Estado. Aquelas que recusam tal sistema, e que assentam-se sob a égide do tradicionalismo estão fadadas ao fim....




Sugestão de Leitura: " Educação: um tesouro a descobrir". Jacques Delórs Org..
Este livro trata do perfil do aluno do seculo XXI e foi base para construção do ENEM