sexta-feira, 31 de março de 2017

Texto para o ENEM : Weber e o Poder

UMA ANÁLISE DO PODER SEGUNDO MAX WEBER.

Por Alacir Arruda

Em épocas de desvios de conduta por parte dos nossos homens públicos onde a sociedade questiona a integridade daqueles que nos deveriam representar, nada mais atual que discutir o poder. Uma figura se notabilizou nesse  estudo  suas ramificações, o sociólogo alemão Max Weber que morreu em 1920.  Weber nasceu quase no final do século XIX e faleceu pouco tempo depois do término da I Guerra Mundial. Esse período de vida de Max Weber, representou uma mudança significativa tanto em solo europeu quanto mundial, no que diz respeito ao conceito de Estado.

Os movimentos sociais de final do século XIX e o desencadeamento da I Grande Guerra Mundial, foram molas propulsoras para que Max Weber apresentasse a sua concepção de Estado.

Nesse contexto, Max Weber foi capaz de revolucionar e influenciar o desenvolvimento do Estado nos quatro cantos do mundo através da proposta de gerenciamento do Estado por meio racional – por racional, entende-se sistema burocrático de gerenciamento.

A sua ideia de Estado pode ser encontrada no texto: “ A política como vocação”, onde o autor ressalta a necessidade da criação do Estado Moderno – mas, o que seria o Estado Moderno para Max Weber?

O Estado para Weber é “uma relação de homens que dominam seus iguais, mantida pela violência legítima”.

Por conseguinte, Max Weber legitima o uso do poder da força pelo Estado. O Estado é o único que deve possuir o poder de utilização da força para poder colocar em prática as suas idéias – a legitimidade da ação do Estado aparece através da concessão da sociedade.

Para entendermos o conceito de Estado de Weber é necessário conhecermos a noção de domínio para o autor. O domínio está relacionado com a possibilidade de uma determinada vontade de se sobrepor à outra.

A concessão da utilização da força para o Estado pela sociedade pode ser estabelecida através de 3 tipos puros de dominação:

• Dominação tradicional

• Dominação carismática

• Dominação legal

A dominação tradicional está relacionada com a passagem do poder através dos costumes e da cultura;

A dominação carismática através da influência de líderes políticos. (No Brasil e na América Latina aconteceu de forma contumaz, principalmente no período da abertura política democrática que vai de 1945 a 1964). Como exemplo podemos citar: Getulio Vargas, Janio Quadros e mais recentemente Luis Inacio Lula da Silva. Essas figuras são consideradas e rotuladas em território brasileiro como populistas. Na visão de Weffort, no livro O Populismo na política brasileira, o populismo é um fenômeno político, pois os líderes se põem acima das massas, atraindo para si o papel de salvador da pátria.

Na visão do autor, Estado Moderno significa desenvolvimento do sistema burocrático – a burocracia seria a grande arma para a administração do Estado – mas, em linhas gerais, o que significa burocratização? Seria a definição de cargos, atividades e salários dentro do próprio Estado com um fim específico, ou seja, atender as necessidades do próprio Estado e mais do que isso, serve para limitar a atuação do Estado.

A burocracia é para Max Weber um processo de gerenciamento das relações de poder e trata-se de um produto histórico do desenvolvimento do Estado Moderno.


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quinta-feira, 30 de março de 2017

Texto para ENEM 2017- Marx e o mundo atual

KARL MARX CONTINUA ATUAL.


Por Alacir Arruda

Uma obra pode ser considerada prima quando se refere ao entendimento do capitalismo: O CAPITAL de Karl Marx.  Ao entender que vivemos hoje em uma sociedade comandada pelo capital - que hoje tomou o formato de grande capital oligopolista e financeiro – Marx [e seu camarada Engels] nos brindam com a mais preciosa chave para a compreensão do mundo moderno: uma sociedade capitalista, regida pela acumulação do capital e dividida em classes sociais irreconciliáveis, a patronal burguesa e o proletariado. Sua obra mais conhecida – justamente O capital - explica como é que o capital nasce do chão de fábrica, como é que toda riqueza é criada apenas pelo operário, e como os burgueses distribuem entre si, entre o empresário de fábrica, o banqueiro, o comerciante, o fazendeiro as mercadorias produzidas pelos trabalhadores.


Seu livro é um verdadeiro RX sobre tudo isso e sobre como o capital se acumula e vai, ao mesmo tempo, contraditoriamente, minando as próprias bases do sistema, achatando salários, desempregando e concentrando riqueza.

Por mais que hoje se fale que o sistema se modernizou, se superou, e que se fale em sociedade “informacional”, em sociedade “pós-industrial”, em “sociedade pós-moderna”, em “sociedade civilizada”, em “inteligência artificial” e no que mais se quiser falar, o grande fato histórico é que vivemos em uma sociedade capitalista. É o capital que manda na economia. E vem transformando tudo em mercadoria, ao ponto de a própria política dominante ter se transformado em um balcão de negócios. Desde suas origens é assim que é. Só que com seu envelhecimento e senilidade, o capitalismo fica pior a cada dia.

E entender os movimentos e a crise do grande capital é entender o mundo no real, como ele é e como ele se conforma. Portanto, com todas as mudanças – e foram muitas e profundas – Marx de O capital continua sendo, digamos assim, nosso contemporâneo. Obviamente tais mudanças nos obrigam a quebrar a cabeça para alcançarmos um entendimento adequado, já que o mundo de hoje não é mais o do Manifesto Comunista, nem o de Marx e de O capital.

Mas o fato de continuar sendo um mundo capitalista, fundado na exploração dos trabalhadores pela classe que é dona das fábricas e demais meios de produção, e de continuar sendo uma sociedade que historicamente é contraditória e transitória, eis aqui a primeira chave explicativa do mundo como ele é.

E mais: uma vez que Marx escreveu O capital como parte da preocupação em compreender a sociedade para transformá-la através da revolução proletária, é possível deduzir, com mais razão, que Marx é totalmente atual. Por que? Porque estamos em uma época na qual o capitalismo não dá sinais de equilíbrio estável, para dizer o mínimo, vive uma longa crise econômica, ao mesmo tempo em que o século que passou e o que entra, são palco de grandes lutas históricas do movimento operário procurando romper com o jugo do capital.

E, mais concretamente, Marx definiu várias tendências e contradições fundamentais da sociedade capitalista em movimento e formulou ideias e concebeu perspectivas e cenários históricos sobre elas que seguem de pé, vigentes. Vigentes no sentido de que ou entendemos a lógica de tais ideias ou vamos olhar para o mundo sem entende-lo e não romperemos com a jaula de ferro da exploração capitalista. A jaula fica meio invisível, naturalizada.

Vejamos algumas daquelas tendências analisadas por Marx (que é o mesmo que ver o quanto O capital - pelo seu método materialista e dialético de pensar a realidade, se antecipou ao seu tempo).

A concentração de renda. Marx deduzia das suas investigações teóricas sobre o sistema, que o capitalismo tenderia, historicamente à concentração de renda e à miséria crescente. É um sistema que necessita concentrar pobreza numa ponta e riqueza na outra e não pode ser diferente. É da sua natureza. Pode distribuir renda, pode expandir classe média, e certamente o mundo de hoje é muito mais rico que o do tempo de Marx. Mas ao mesmo tempo, é também e principalmente um mundo muito mais excludente, muito mais polarizado entre ricos do tipo bilionários, trilionários e, do outro lado, uma enorme massa de pobres.

Um estudioso do capitalismo que inclusive não é contra o sistema, Thomas Piketty, recentemente chegou a escrever um best-seller sobre o tema, O capital no século XXI, onde fica claro esse ponto. De que os ricos são mais ricos que nunca e a massa de miséria crescente é sem paralelo. E que isso só vai piorar.

Ou seja, não é um sistema que evolua no sentido da inclusão social, de se humanizar, de ir ficando “mais razoável” com o tempo. Vai azedando, excluindo, descartando pessoas e massas inteiras, como faz com os imigrantes na Europa, no México.

O Esquerda Diário já publicou artigo recente a respeito daquela polarização ricos e pobres. E as grandes massas das periferias urbanas são a evidência a céu aberto a esse respeito. Por isso mais pessoas dependem de um sistema de transporte ruim, mais caro, mais cheio e mais demorado.

Quando se fala em países de grande população como Bangladesh, Índia e a China, a imagem de grande pobreza que nos vem à cabeça é totalmente real: grande parte do planeta vive na miséria absoluta. Marx tinha razão, portanto: é uma tara irrecuperável do sistema capitalista isso de desenvolver, junto com riqueza e a afluência, muitíssimo mais miséria e exclusão na base da pirâmide. Marx estava correto.

Outra ideia de Marx é a de que o capitalismo não pode se livrar da concorrência e que esta conduz aos oligopólios. A concorrência conduz a um punhado de grupos econômicos fortíssimos que passam a dominar cada setor da economia. Poucas cervejarias dominam o mercado, poucas fábricas de automóveis, de geladeiras dominam o mundo dos automóveis e das geladeiras, e assim por diante. O mercado da “livre” concorrência que um dia existiu, gerou seu oposto: a concorrência pesada e surda entre poucos grandes grupos, os oligopólios. No mundo atual, poucos e grandes grupos capitalistas mandam no mercado.

Essa tendência veio só aumentando, desde Marx.

É claro que não se trata de uma linha reta, o capitalismo desenvolve contradições e contratendências, existe aqui e ali alguma pequena cervejaria, por exemplo; mas no geral a concentração industrial e financeira e do agronegócio vem sendo maior que nunca, e de patamar em patamar, tornou-se dominante: vivemos no mundo dos monopólios e oligopólios imperialistas (que concorrem entre si, dividem o mundo entre si e tratam de fazer guerras de grande porte para redividi-lo a partir do momento em que o jogo político e diplomático já não basta). 

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terça-feira, 28 de março de 2017

Texto para ENEM: Interesses da Russia

OS INTERESSES DA RÚSSIA: O PERIGO DE UMA NOVA GUERRA FRIA.

Por Alacir Arruda

O que esta acontecendo com Vladmir Putin? Por que seu comportamento déspota pode colocar em risco toda a União Europeia e dar inicio a uma nova Guerra Fria? O que busca esse tirano? Na verdade a alma russa está ferida desde a decadência do império czarista 1917, seguido da queda da União Soviética em 1989 e, defrontando-se agora,  com o medo da concorrência e influência europeia (sua prosperidade, direitos civis, decadência moral e o interesse da política dos EUA em desestabilizá-la), bem como da latente instabilidade que fermenta nos seus povos turcos, muçulmanos e outros.

Neste contexto, não é de estranhar um Putin viril, autoritário e decidido. Vladimir Putin fala claro, revela encarnar os interesses e intenções da Rússia negligenciando a realidade histórica da primeira e segunda guerra mundial no século XX ao afirmar que “a queda da União Soviética foi a maior catástrofe do século XX”. Deste modo distancia-se da interpretação histórica de perspectiva europeia e revela-se como verdadeiro czar.
A queda da União Soviética em 1989/90 deixou um vácuo de soberania na sua qualidade de potência mundial. Depois da anexação da Crimeia, a reputação de Putin subiu na Rússia para 86%. Putin quer a criação de uma união euroasiática sob orientação da Rússia, o que poderia tornar-se num poder superior à UE. A anexação da Crimeia obedece à logica do poder que se serve de estratégias a longo plano.
A Rússia não seguirá o caminho democrático do Ocidente, por razões históricas e de interesses estratégicos. Aprendeu bem a lição do que o Ocidente provocou com a defesa de uma certa ideologia democrática propagada na “Primavera Árabe” e na política falhada do Ocidente no Norte de África e em especial no Iraque, Líbia, Afeganistão e Síria.
Factores de Identidade: Antes o Comunismo agora o Conservadorismo
Putin é o gladiador da luta entre culturas; ele quer ostentar a Rússia como baluarte da tradição. A Rússia, Estado multi-étnico, encontra-se dividida entre os pró-ocidente e os pro-eslavos. Estes vêm no ocidente o perigo de destruição da alma russa (Dostojewski e Tolstoi). Dostojewski, nos “Irmãos Karamazov”, profetiza a queda do espírito europeu, resumindo o espírito russo no seu aforismo “Nós somos revolucionários (…) através do conservadorismo”.
A civilização russa mantinha-se antes unida pelo comunismo, agora deve uni-la o conservadorismo intelectual e moral. Enquanto na UE o Estado secular e as ideologias atacam o cristianismo, na Rússia vê-se isso como um estado decadente da UE e contracenando-se a esta o fortalecimento dos laços de união entre Estado e Ortodoxia/religião, contra o pluralismo e o individualismo democrático.
A estratégia de Putin é unir o antigo mundo da União Soviética, através do conservadorismo (anti-modernismo), contando para isso com o trunfo da ortodoxia e do islão. Defende o conservadorismo cultural russo para ganhar perfil, como defensor da tradição conservadora, perante o mundo ocidental. Para ele a tradição conservadora “é o fundamento espiritual e moral da civilização de cada nação“. A defesa da família e de valores tradicionais são fundamentos inalienáveis.
Também o leste e sul da Ucrânia são o símbolo da luta pelos valores conservadores (pro russos) enquanto o resto da Ucrânia defende os valores liberais pro ocidente. Com esta estratégia Putin pretende arranjar apoiantes nos países muçulmanos e na África. A sua campanha conservadora consegue também apoiantes em toda a Ucrânia e deste modo uma maior divisão da Ucrânia no sentido russo.
Num mundo de luta entre conservadores e progressistas, Putin distancia-se do liberalismo ocidental. A Rússia descobre a sua nova missão para a Europa.
O Ocidente (EUA) não respeita outras ordens de Paz
Encontramo-nos numa guerra econômica e pós-colonial de interesses geopolíticos entre o Ocidente e o oriente. Em nome das liberdades individuais destroem-se as sociais, em nome da democracia atacam-se outros sistemas civilizacionais. Obama, quando  presidente,  ao apelidar a Rússia de “potência regional” humilhou Putin e interpretou erroneamente o espírito de um grande povo.
A estratégia nacionalista de Putin não pode ser contraposta com uma política de exclusão. A Europa tem que viver com Putin e trabalhar, a longo prazo, no sentido de uma maior união e de política comum com a Rússia (no aspecto cultural, económico e geoestratégico).
A ordem de paz europeia não pode ser arquitetada sem uma ordem de paz russa, pelo que o princípio defendido por Merkel da “livre autodeterminação dos povos”, por muito humano que seja, contradiz a paz russa, a paz chinesa e a paz árabe. Por outro lado, a segurança não pode ser o único critério para um bloco se manter e pisar a liberdade e os direitos humanos com os pés.
Por trás de cada ordem de paz encontra-se uma estratégia e uma hegemonia. A União Soviética viveu durante várias gerações no caos sob o braço forte do comunismo. Não será agora uma união aduaneira nem o conservadorismo o suficiente para reverter a História. As potências não demonstram boa vontade nem responsabilidade histórica global quando instigam guerra-civis para conseguirem os seus objetivos. A Rússia é importante, também culturalmente, para a União Europeia.
A China, devido ao regime político e ao problema dos diferentes povos que alberga é, também ela, contra a autodeterminação nacional. A China, como não está preparada para exercer a chefia do mundo, junta-se à Rússia. A China e a Rússia são conjuntos de povos com grandes regiões em situação social medieval, e onde não houve um processo de lutas e de colonizações internas, como no caso da Europa e dos Estados unidos. Por isso as suas estratégias de desenvolvimento são necessariamente diferentes (durante um espaço de tempo histórico) para manterem a paz dentro dos seus territórios. A UE e os EUA são extemporâneos e, por isso,  desestabilizadores daqueles povos, exigindo deles que se tornem estados modernos à imagem das democracias ocidentais. De facto fomentam a instabilidade e a hegemonia econômica sobre estes estados. O problema da política da UE e dos EUA está em fazerem as suas conversações com as elites e não ligar à sociedade civil.
O povo fala de política e os políticos falam de negócios
A economia russa não consegue concorrer com o ocidente.
A Alemanha está muito comprometida com a Rússia; 39% do gás natural que consome vem da Rússia e muitas infraestruturas (pipelines, etc.) encontram-se, nas mãos de russos, na Alemanha.
A UE já tomou provisões construindo um terminal (LNG) em Rotterdam para os navios que transportam gás líquido da noruega, Catar e Nigéria. Segundo a revista Spiegel 14/2016 já há 22 instalações que se fazem concorrência umas às outras, podendo cobrir já hoje dois terços das necessidades de gás ( gás de xisto, gás do mar cáspio como visão de futuro para fugir à Rússia). A Alemanha já produz biogás que corresponde a 20% do gás importado da Rússia. Em 2015 a Alemanha teve, com a Rússia, um volume de negócios de 66 mil milhões de euros estando dependentes deste negócio 300.000 mil postos de trabalho na Alemanha. Por isso as sanções são também contra a própria economia.
Segundo a repartição de estatísticas Rosstat, os preços de produtos alimentares encareceram na Rússia 20%, em 2014. O Rubel desvalorizou 70% num ano e a inflação atingiu os 11% em 2014.Oxalá Putin não cometa o mesmo erro que a União Soviética cometeu com o comunismo. A história pode adiar-se, mas não indefinidamente. Uma Rússia fraca torna-se mais perigosa para a União Europeia e para a NATO do que um povo russo forte.
A guerra da Ucrânia já matou desde 2014 mais de 7000. Uns lutam pela liberdade democrática, outros pela estabilidade futura de blocos e por isso a guerra flui na rua… A Ucrânia, símbolo da europa central que procura refúgio numa das uniões ocidentais, encontra-se geograficamente na Europa mas socialmente dividida e entre as intenções russas de construir um bloco de união aduaneira e a NATO/EU com políticas não aferidas. A Polónia e outros países limítrofes da Rússia advogam uma política da confrontação em relação à Rússia enquanto a Alemanha, França e outros países da UE preferem cooperar em parte com a Rússia. Bruxelas quer assinar um Acordo de Associação com a Moldávia também ela dividida entre ocidente e oriente. Tudo isto leva a compreender que na Ucrânia estão em jogo os mais variados interesses que a levam a não ser um país normal.
Numa UE dividida, a Alemanha procura usar de todo o seu peso para mediar e impedir a escalação do conflito Rússia-Ucrânia. A Chanceler é contrária à intenção de os EUA fornecerem armas à Ucrânia, prefere uma solução diplomática. O plano de paz de Merkel e de Hollande antecipa uma zona desmilitarizada de 50 a 70 Km entre os partidos de conflito e maior autonomia para a Zona Leste da Ucrânia. As negociações dão-se, intencionalmente e de forma paralela à Conferência de Segurança de Munique para sinalizar a importância de uma solução não conflitual. Merkel dirigiu-se a Trump para conseguir mediar um plano sólido que uma Europa dividida não conseguiriam dado alguns estados da UE estarem interessados em seguir mais a política americana.

sábado, 25 de março de 2017

Reflexão sobre Deus e a Filosofia

UMA REFLEXÃO SOBRE DEUS À LUZ DA FILOSOFIA.

Por Alacir Arruda

A filosofia é, sem nenhuma sombra de dúvida, a mais  bela área do conhecimento humano, uma vez que nos permite refletir sobre tudo, inclusive Deus. Grandes pensadores discutiram em diferentes épocas e, ainda hoje discutem, a ideia de Deus como uma força sobrenatural. Essa busca por entender essas questões metafisicas perseguem o homem desde as cavernas, mas será que se víssemos Deus acreditaríamos? Porque acreditamos naquilo que não vemos? Que provas temos da existência de Deus? Jesus Cristo, o mais famoso líder religioso, existiu realmente ou tudo não passa de criações da mente humana? Ele é comprovadamente o filho de Deus? Alguém viu seu exame de DNA, ou ele é como dizem os padres e/ou pastores em seus inflamados sermões "o filho (criação) do Homem? Os textos sagrados das diversas religiões monoteístas, politeístas e orientais ou ocidentais são relatos de fatos verídicos ou são códigos de ética muito bem elaborados por pessoas eruditas de diferentes e remotas épocas?
Estas questões são limitadas diante da amplitude dos assuntos pertinentes à Religião e ao Divino. É notável como disse o filósofo Feuerbach (1804-1872), autor de "A Essência do Cristianismo", que, segundo a qual, para se conhecer o "Deus"de um homem (ou mulher), como método, inicialmente pergunta-se a este ser humano como ele é, e logo se terão as características de seu "Deus". Portanto o que o filósofo alemão quer nos dizer, é que cada indivíduo "cria Deus a sua imagem e semelhança", isto é, cria seu mito . Tanto é assim que no campo da Filosofia, é no pensamento de alguns filósofos Deus se nos apresenta das mais "variadas formas", a saber:
Na Metafísica de Aristóteles (384-322 a.C.), o filósofo de Estagira nos mostra Deus como o Primeiro Motor Imóvel, a causa de todo o movimento do Universo, ou seja, Deus e o homem estão num "plano vertical" de cima para baixo.
Nas Meditações Metafísicas do filósofo francês René Descartes (1596-1650), Deus é uma "deusa": A Razão, ou seja, Deus e o homem horizontalizaram-se, tendo em vista que a razão é inseparável do ser humano. Deus varia de formas tanto entre os filósofos, quanto entre as religiões.
Voltando aos nossos questionamentos iniciais sobre a existência ou a inexistência do Sagrado eis que surge uma nova questão: Porque algumas pessoas que rotulam-se de crentes em Deus, também acreditam no Diabo de uma forma ou de outra?
Quando o filósofo Nietzsche (1844-1900), declara em seu "Choque das Contradições" o conflito do sim e do não, do bem e do mal, do amor e do ódio, e notando estes choques dialéticos, diríamos que há também num mesmo contexto uma colisão entre o Céu e o Inferno e entre o Diabo e Deus.
É evidente para quem possui um aguçado poder de observação, encontrar pessoas de algumas religiões que, num tom vulgar da expressão, podemos dizer que "assinam ponto" nos templos. E a ira quando os pega por um ou outro motivo, já se encontram no direito de mandarem seus semelhantes ou os seres vivos e/ou seres não-vivos para o diabo, assim; "vá para o diabo que te carregue" ou "vá para o inferno". Portanto "fiéis contraditórios". Afinal a quem é canalizada a fé? A Deus ou nesse anjinho endiabrado? Porque os dois caminham juntos e ao mesmo tempo são tese e antítese?
É a fé uma faca de dois gumes? Seria Deus uma espada ou um escudo?
Todas estas questões levantadas, caro leitor, têm respostas e estas respostas estão em seu interior, pois aqui não nos cabe respostas prontas, devido ao fato de que respostas prontas são dogmas e por dogmas basta a hermenêutica dos textos sagrados. Sugiro ao leitor que não aceite idéias pré-estabelecidas, mas construa suas próprias idéias, através da reflexão, não só abre possibilidades da existência ou inexistência de Deus, mas busque respostas acerca do universo de seu cotidiano.
Há também aquelas crenças que dependem do anjo-mau para formarem-se diante de seus fiéis absorvendo o problema do crente num processo de alienação, pregando o fatalismo, como disse Karl Marx (1818-1883) "a religião é o ópio do povo", ou seja, o indivíduo transfere a sua dor moral e, em alguns casos, até suas dores físicas para que seja resolvida definitivamente ou solucionada provisoriamente por um Ser superior a ele (o fiel) nesse transferir, alguns deles, ignoram até a própria realidade, tornando isso uma "dependência optativa" mergulhando num "fideísmo fundamentalista".
Por um ponto de vista subjetivo, se me permitem, as religiões deveriam ser entidades que despertassem o ser humano para o conhecimento, ou seja, para a abertura dos seus horizontes, como disse o filósofo grego e pré-socrático, Hráclito (540-480 a.C) "a fé, como condição para o verdadeiro conhecimento". E Sócrates (470-399 a.C.) disse "só sei que nada sei" essa ironia socrática nos leva a sempre buscarmos o conhecimento quer seja nas fontes primárias, nas fontes secundárias, nas fontes das fontes, ou nas fontes empíricas e/ou teóricas. Todavia o que observamos é literalmente o contrário, as religiões aprisionam e limitam a criatividade inserindo o homem em um "positivismo ético", isto é, em leis morais rígidas que para o atual contexto são obsoletas.
As religiões devem modernizar-se, mas não uma modernização tecnológica, do tipo "show" que entorpece aos olhos e degrada a mente, luxuosa que invade a mídia, revestida de "uma nova aparência" transformando-se em produtos, para o consumo das massas alienadas, que são despejados aos olhos e ouvidos, pelas emissoras de rádio e televisão, além da Internet.
Religião é fé, amor, Deus na representatividade. Por isso não deve estar em pé de igualdade com os modismos lançados pelos mercados para o "sabor" das mentes dos menos avisados. Mas modernizar-se nos conceitos e na eticidade, adequar-se ao século XXI que está cercado por mudanças profundas nas sociedades nacionais, numa palavra: inserir-se no contexto do homem atual de forma eficiente; tornando-se um instrumento de conscientização e não de inculcação, uma vida paralela ou simplesmente "uma metafísica para o povo" como disse Schopenhauer (1788-1860).
O tema acerca das busca sobre a compreensão de Deus é infinito e complexo aqui ou alhures. Por isso despeço-me aqui deixando uma mensagem final ao leitor inspirado em Nietzsche:
Antes de agir, qualquer que seja sua ação, pense e aja com a razão, pois quem age é o seu ser, e em seu ser existe o bem e a justiça, Deus insere-se nestes dois conceitos. Portanto Deus é o ser do Homem, logo Ele não é absoluto e nem objetivo. É a nossa "vontade de Potência", o nosso querer fazer, o ir além, o sobrepor-se a si mesmo, é a nossa auto estima alta.
Enfim Deus é o nosso Mito mais  intenso..

Contato: agaextensao@gmail.com

sexta-feira, 24 de março de 2017

Viver é a arte de fazer escolhas


"SARTRE E A ANGÚSTIA DO VIVER"

Por Alacir Arruda

Por 17 anos ministrei Filosofia e Sociologia em graduações e pós-graduações de psicologia em alguns Estados brasileiros e, durante as aulas, uma pergunta era recorrente: "professor o que é viver?". É evidente que para cada turma uma explicação era utilizada, e, também é evidente que eu nunca soube a resposta correta, mesmo tendo estudando filosofia, antropologia, ciência politica e sociologia por mais mais de 20 anos. Na verdade, não há uma resposta objetiva para algo, absolutamente, subjetivo que é viver. 

Viver é uma experiência, é algo introspectivo e só pode ser explicada e sentida por cada individuo que tem, ou teve, o privilégio de passar por essa dimensão. Todavia, eu sempre achei a explicação Existencialista, para tal fato, algo que devemos analisar com um certo carinho. Para quem não é do ramo, o existencialismo é uma corrente filosófica -psicológica que surgiu na Europa do século XIX a partir de filósofos como: Schopenhauer, Kiekergaard, Nietszche e Hursel mas, sem duvida aquele que mais colaborou para a disseminação dessa corrente foi o filosofo francês do século XX Jean Paul Sarte.

Jean Paul Sartre é um pensador extremamente atual, e tem sido um dos filósofos mais cobrados nos últimos exames do ENEM. Segundo Sartre: "Viver é isto ficar-se equilibrando o tempo todo entre escolhas e consequências". Sartre era um ateu convicto portanto, ele não tinha a menor dúvida de que o homem não foi criado por Deus , assim para ele a existência precede a essência, ou seja, o homem não é uma criatura de Deus, logo,  tudo começa a partir do nascimento. Desta forma, fica patenteado que o homem é um ser que tem a imensa responsabilidade para de se construir , assim, o ente humano é o construtor de sua própria vida, e tudo acontece através do seu cognitivo , e de sua liberdade , pois, o ser humano é livre para sua auto realização, e mesmo sem querer esta liberdade, uma vez que ela gera responsabilidade, o homem é detentor da liberdade existencial , portanto, vitória e fracasso são consequências de suas escolhas e de sua ação.

Já para criacionistas como Santo Agostinho, o homem é criatura de Deus, que criou o homem feito sua imagem e semelhança , assim, o homem é uma criatura de Deus, nesta ótica a essência precede a existência ,assim, o homem tem de cumprir determinações de Deus, caso consiga realizar os desígnios de Deus o ente humano ,após morrer , viverá para sempre no mundo pós morte, denominado paraíso, e os fracassados, os que não conseguiram sua realização serão condenados eternamente, com muito sofrimento. 

Apresentei duas formas antagônicas de definição do viver: A filosofia existencialista e a filosofia criacionista. Então surge a pergunta : Qual a mais correta ? qual a mais benéfica para a humanidade? A meu ver cada proposta existencial tem pontos importantes e negativos,irei ao longo do texto de acordo com a minha visão defini-los em cada visão existencial. Assim, o existencialismo sartriano apresenta como positividade os seguintes fatores: Liberdade existencial, responsabilidade existencial,valorização da existência. No que concerne aos pontos fracos ao meu ver : Eliminar do homem a segurança pois não crê em Deus, é uma filosofia ateísta; Ausência da metafísica eliminando as possibilidades do pós morte. 

Os pontos mais questionáveis da filosofia agostiniana: Limitar tudo a questão da fé no dogma criacionista, tudo fica resumido a questão da fé ; Desvalorização do mundo do aqui , pois o que importa é o céu, o inferno, mundos do pós morte, super valorização do pecado e da culpa para controlar o homem.Mas, esta visão apresenta como ponto forte a ideia da superação dos defeitos, a preocupação com os atos ,porque poderá trazer enormes consequências no pós morte; oferecer ao homem uma resposta para a questão da morte , eliminando de muitos o enorme medo do morrer. 

Após esta pequena reflexão , deixo a critério do leitor a sua escolha, e nesse aspecto volto a citar Sartre: "Na vida tudo se resume em fazer escolhas sucessivas e arcar por tais escolhas, pois, até para escolher qual das filosofias adotar tem que ser uma escolha de cada pessoa." Como a minha de agora as 5 da manhã escrever este texto. 


Contato: agaextensao@gmail.com 


terça-feira, 21 de março de 2017

TEXTO PARA O ENEM 2017

SIGMUND FREUD E O PENSAMENTO POLÍTICO.

Por Alacir Arruda

O objetivo dessa reflexão não é abordar as relações entre Psicanálise e Política, mas, a contribuição de Freud para o esclarecimento do fenômeno político. Isso significa limita-lo a seu universo discursivo, sem ampliar a análise do político, abrangendo as várias correntes psicanalíticas, de Reich a Adorno, de Guatari a Lacan. A volta de Freud significa a preocupação em compreender a sua contribuição específica ao estudo do fenômeno político, sua pertinência e atualidade.
Durante mais ou menos um século, o estudo do “político” centrou-se nas instituições. Fourier esperava que, através delas, o vício individual se transformasse em virtude social.
A preocupação de Freud com o “social” se acentua após o impacto da Primeira Guerra. Nos seus dois ensaios a respeito, um escrito em 1915 e outro em 1922, procurou ele mostrar a hipocrisia da sociedade moderna, a coerção social funcionando e o caráter primário das tendências agressivas. Impressionado, como Max Weber, com o empobrecimento da vida, ele valoriza, inicialmente, a guerra como alternativa ao conceito convencional de morte, porem, a guerra condicionou seu interesse o estudo da agressão, como o câncer que o vitimaria, levou-o a aprofundar o conceito de “instinto de morte”.
Admitindo que o nosso inconsciente mata, mesmo por motivos insignificantes, vê na eclosão da guerra uma prova disso. Os homens não desceram tão baixo por ocasião da guerra, dizia ele, porque nunca estiveram tão alto como pensavam achar-se. assim, o homem renuncia a seus instintos agressivos substituindo-os pelas agressões estatais, o Estado proíbe ao indivíduo infrações, não porque queira aboli-las, mas sim, para monopolizá-las.
A autenticidade e espontaneidade podem andar vinculadas ao instinto da morte. Pode a pessoa “autenticamente” matar alguém e “espontaneamente” apertar o botão que despeja centenas de bombas, espalhando a morte. Embora admitisse a existência de soluções culturais; sugere a existência de uma autoridade universal para julgar os conflitos de interesse entre as nações.
A sua admissão da existência de uma agressividade “inata” não o impediu de considerar os meios indiretos de satisfação. O ódio básico em Freud, é fundido com as tendências sociais na medida em que o indivíduo amadurece.

Hobbes e Freud

Como Burke, admite a Freud a positividade das restrições sociais que nos livram da escravidão às paixões.
Enquanto, para Hobbes, o homem natural é egoísta, em Freud também o é, com a diferença de que ele tem necessidade social. Enquanto, para Hobbes, o homem segue a lei da astúcia e da força, Freud reconhece a sua existência, porém, afirma, concomitantemente, a existência do amor e da autoridade, daí a ambivalência. A figura do contrato social, em Hobbes, Locke e Rousseau, era para explicar a legitimidade original da sociedade capitalista. Para Hobbes, o pacto social funda-se na existência do medo, que torna o homem prudente.
Para Freud, a sociedade política corresponde ao desejo irracional do homem em restaurar a autoridade; com a morte do pai primitivo, surge no homem a “nostalgia do pai”. Para ele, o governo não surge de um contrato social, mas, de uma resposta contra-revolucionária, que emerge após a queda do governo patriarcal e representa o desejo majoritário dos cidadãos-irmãos, não é uma manifestação de prudência do grupo. Os mitos do contrato social, no universo psicanalítico, podem ser vistos como reafirmação da vontade do pai acima dos impulsos rebeldes dos filhos.
O contrato social, na medida em que significa o ingresso da sociedade na organização política histórica, representa a aceitação da derrota da maioria, ela que, mediante a restrição exogâmica de novas conquistas sociais, ninguém pode alcançar outra vez o supremo poder do pai, embora todos tivessem lutado para isso. Na forma de horda, família ou governo, para Freud o que existe é o controle da liberdade de ação. A existência da lei mostra a força dos desejos ocultos, a existência de uma necessidade interna, que a consciência desconhece. Daí Freud reconhecer que o desejo funda a necessidade da lei. O caráter complexo dos desejos explica a complexidade das interdições sociais.

As proibições

Freud relaciona as proibições auto-impostas, mediante as quais os neuróticos controlam os impulsos proibidos com as complicações rituais, mediante as quais os povos primitivos se defendem da “desordem”, os sentimentos libertários que possam surgir originam auto-controles compensadores, e esses, por sua vez, a renúncia a uma posse ou liberdade entendida como repressão e objetivada como tabu ou lei. A ambivalência, o tabu significam a existência de uma dialética que oscila entre repressão e rebelião; essa leva a nova repressão. A luta entre a lei e o impulso só pode ser sintetizada pelo “ego”. A liberdade procurada é a liberdade para se tornar um amo. Os impulsos conscientes de rebelião, para Freud, originam-se na inveja. O desejo de poder pe contagiante, todos querem ser reis. O excessivo respeito, a cortesia, e as regras estritas de etiqueta em relação ao “chefe” são derivadas do “medo de tocar” do primitivo, segundo Freud, medo de contatar pessoas pelas quais sente hostilidade inconsciente, sejam chefes, mortos ou recém-nascidos. Para ele, todos os gestos de submissão são ambivalentes, daí o respeito e o afeto esconderem hostilidade inconsciente. Freud venera quem estabelece regras como Moisés e simpatiza com que as contraria, como Ricardo III. Todos nós sofremos alguma ferida narcisista, daí a nossa simpatia para com ele.
Ao produzir Psicologia das Massas e Análise do Eu, Freud estava abandonando o evolucionismo linear de Totem e Tabu e a preocupação pelas origens pré-históricas cedia lugar à análise contemporânea. Essa preocupação transparece no seu texto Novas Contribuições à Psicanálise, onde relata seu conhecimento da obra de Marx. Embora reconhecendo que as pesquisas de Marx sobre a estrutura econômica da sociedade e a influência das distintas formas de economia sobre a vida humana impuseram-se com indiscutível autoridade, mantém seu ponto de vista, segundo o qual as diferenças sociais se originaram por diferenças raciais. Assim, para Freud, fatores psicológicos, como o excesso de tendências agressivas constitucionais, a coerência organizatória da horda e a posse de armas, decidiram a vitória; os vencedores se transformaram em senhores e os vencidos em escravos; isso exclui o domínio exclusivo dos fatores econômicos. Na sua crítica a Marx, partia ele do conceito de ato econômico como “ato puro”, difundido pela Escola Clássica.
Freud não só se preocupava com a herança de Marx, como, também, com o fenômeno da ascensão das massas após a revolução industrial, para tanto, fundado em Gustavo Le Bon, a quem corrigia em algumas particularidades, procurava estudar as vinculações da massa com o líder. Para Freud, a relação política básica consistia numa relação erótica, da massa com a autoridade. Para ele, a autoridade sempre existe personificada. A horda supõe um chefe, o hipnotizado, um hipnotizador, o amor, um objeto, a massa, um líder. Para ele a condição de líder exige que este se aparte de seus subordinados e, ao mesmo tempo, evite que eles o abandonem. O líder atua como um “centro” para organizar vidas que procuram um sentido. Porém, situações de pânico e desorganização social podem levar a massa a reorientar-se em torno de novos líderes. Para Freud, o líder toma a forma de pai perseguidor, como o pai primitivo, ou perseguido como Cristo. O líder aparece como figura segura de si, com poucos vínculos libidinosos; a sua vontade é reforçada pela dos outros. Freud vê toda a atividade política, sem distinção, como influenciada pela autoridade. Segundo Freud, isso dá um sentido permanente às manifestações de autoridade.

A psicologia

Sua psicologia tem implicações conservadoras no caso. Assim, na História não há acontecimentos qualitativamente diferenciados. O líder na figura de pai e seus seguidores, enquanto filhos, tornam a luta política uma luta geracional. Na ambivalência, as mudanças sociais se tornam recorrências e as relações sociais só tem sentido pelas necessidades psicológicas que preenchem. A crítica social é desvalorizada, na medida em que é vista como manifestação da ambivalência geral das emoções. A desconfiança dos governados ante o poder não se dá por uma visão nacional de suas vitórias e fracassos, mas como expressão de sentimentos hostis. Freud vincula o fenômeno político aos delírios paranóicos, no exagero da importância de uma pessoa. Partir da participação libidinal é, para ele, decifrar a genética do poder. Totem e Tabu e Psicologia das Massasmantém uma visão liberal clássica: o indivíduo ante o Estado, sem ninguém como permeio, nenhum grupo intermediário. Para Freud, o governante tem verdadeiro poder mediante atribuição ilusória de seus partidários.
A imagem freudiana do pai, como modelo de autoridade, vincula-se diretamente à idéia, que, na sociedade ocidental, qualquer tipo de autoridade está submetido a pressões e crises. A atitude psicanalítica reforça o distanciamento à crítica do conceito de legitimidade, muito desenvolvida nas ciências sociais.
Para ele, a esfera política opera como extensão da esfera particular, a veneração exagerada do homem público é vista como recorrência da admiração do filho pelo pai. Quanto mais carente de atenção e afeto, nas relações pessoais, tanto mais tende a personalidade a “externalizar-se” à esfera pública; nessa procura de aceitação, amor e cumplicidade. Não é possível o fanatismo na política, quando o partidário reconhece no seu líder o deslocamento da imagem paterna, da mesma forma como o crente fraqueja quando analisa sua conduta religiosa com destino à ilusão. Freud realiza uma crítica da política na media a que vincula neurose e poder, sintetizados em Ricardo III. Freud colocou em xeque o exercício ‘livre’ da cidadania, na medida em que descobriu o quanto de ‘irracional’ esconde a conduta do cidadão médio.

O conselho de Laswell

Isso levou um político psicanalítico, Laswell, a aconselhar o liberalismo medicinal, vinculando o exercício da liderança democrática à saúde e não à doença.
Visualizar o fenômeno político, como expressão da esfera individual, em sua dimensão subjetiva, e tendo como fundamento a ansiedade, pode levar a negar a situação política objetiva. Da mesma forma, o protesto social, na visão psicanalítico política, pode ser visto como sintoma neurótico, abrindo espaço à Psiquiatria considerar a sociedade conforme as malhas do modelo médico mais autoritário: o modelo hospitalar clássico.
Ao rechaçar o maniqueísmo ingênuo, que consiste em rotular como “boa” ou “má” tal ou qual política, a Psicanálise vincula como “soluções dramatizadas”, de uma temática que tem a sua gênese na vida pessoal.
O governante tem o verdadeiro poder, mediante a atribuição ilusória de seus partidários.
A imagem freudiana do pai, como modelo de autoridade, vincula-se diretamente com a idéia de que na sociedade ocidental qualquer tipo de autoridade será submetido a crises.
A atitude psicanalítica reforça o distanciamento ante a autoridade. Freud agrega a contribuição da análise psicanalítica à crítica do conceito de legitimidade, já muito desenvolvida nas ciências sociais. Para Freud, a dimensão política é uma extensão da esfera privada; assim, a veneração exagerada ante o homem público é uma recorrência da adoração do filho pelo pai. Freud considera a personalidade pública como um carente de atenção e afeto, derivado das relações pessoais.
Dessa forma, não é possível o fanatismo político quando o partidário reconhece, no seu líder, o deslocamento da imagem paterna; o crente, a fraqueza, quando analisa sua conduta religiosa, endereçada à ilusão. No fundo, Freud realiza uma crítica da política, na medida em que, fundado em Ricardo III, vê no homem que exerce o poder um neurótico. Por outro lado, funciona o mecanismo de identificação, daí as dinastias de poder dos Roosevelt aos Kennedy. A psicanálise colocou em xeque o exercício “livre” da cidadania na medida em que descobriu o muito de “irracional” na conduta do cidadão médio, daí, um político; logo, como Laswell aconselhar um liberalismo medicinal.
A grande receptividade da Psicanálise nos EUA constitui no fato dela postular a vinculação das idéias de mudança social à conduta neurótica, assim, revolucionário, seria aquele que estivesse em rebelião contra o seu pai. O público e o aspecto social mascaram “conteúdos latentes”, as ideologias revolucionárias seriam “racionalizações” de complexo edípicos.
Como confidente das fantasias e desejos do homem, Freud aprova o caráter repressivo da sociedade. Enquanto sugere uma atitude conciliadora da mesma ante os instintos, admite que seus interesses conflitam com o indivíduo. Assim, a debilidade, credulidade e passividade das massas é acompanhada pela aquisição de poder pelos líderes políticos. Segundo Freud, por natureza, os homens são incapazes de esforço contínuo, de um trabalho regular e planejado, porém só ele é fonte de independência e maturidade.
Isso é privilégio de algumas minorias, daí não esconder Freud a sua admiração pelas minorias que sabem o que querem. Na sua Novas Contribuições à Psicanálise, ele imagina a existência de um pequeno grupo de homens de ação, imbatíveis em suas convicções e impermeáveis à dúvida e ao sofrimento, como condição de regeneração social. No mesmo estilo, em carta a Einstein imagina ele uma espécie de República Platônica, cujos governantes se constituam como comunidade subordinando sua vida instintiva à ditadura da razão.
Para Freud o homem se compõe de uma estrutura instintiva básica, daí tentativas de supressão da opressão política; para ele, resultariam na troca de um autoritarismo por outro. Embora admita que a massa possua qualidades éticas acima da norma, isso não basta para redimi-la do fato, de que, o calor do companheirismo entre seus pares anule a racionalidade do comportamento. Na medida em que a sociedade mantém sua coesão graças ao sentimento de dependência e respeito pelo líder, possuí um fundamento autoritário. A sociedade para Freud é sempre uma sociedade de desiguais, a igualdade é vista como utópica. Freud, parte do pressuposto liberal, que, sem a desigualdade erótica, a escassez e competição erótica, parcialmente sublimada em benefício da sociedade, não faltariam antagonismos e identificações que a mantivessem unidas. Se trocarmos a recompensa econômica pela emocional, veríamos Freud como aquele que traduz a linguagem da economia clássica em código ético moral. O ethos liberal subjacente a Freud transparece na sua admissão da desigualdade como um “destino”, sua resignação ante a fatalidade da existência da autoridade, buscando sua adequação ao social nunca sua abolição. Por sua vez, ao comparar a autoridade pública à paterna, a massa à crianças, destrói qualquer idealização da autoridade pública. A analogia entre a estrutura familiar ao Estado e sua técnica analítica encaminhada à emancipação dos vínculos familiares, constitui-se numa crítica ao “respeito” social e político.
Como o comportamento político tem raízes inconscientes, a política dever ser a catarse das massas, com função idêntica à arte no plano individual. Assim, nas guerras as nações postulam interesses como “racionalizações” de suas paixões; a ação coletiva representa regressão à barbárie; assim, o Estado se permite atos que o indivíduo jamais o faria. A maior parte das decisões “heróicas” se dá sob o signo do instinto da morte. Freud critica o Estado na medida em que o identifica com as massas, vendo-o como um ídolo que esmaga cegamente a consciência individual. Quando condena o caráter repressivo da sociedade política, o faz na medida que a categoria indivíduo constitui o fundamento de seu discurso e assegura a unidade de seus pontos de vista.
Para o fundador da Psicanálise, a política era algo que ocorria na psique dos indivíduos, daí sua psicologia ser tanto individual como social, visto essa como “externalização” de fantasias e desejos pessoais. O interesse pelo social, tem como base o individual. A psicoanálise freudiana se insere na tradição liberal da defesa do indivíduo.
No intuito de domar o indivíduo associal, Freud reconhece a importância civilizadora da sociedade, porém, encara suas exigências sob o ângulo da “renúncia”. Nega o conceito organicista, segundo o qual os indivíduos se realizam através da Igreja, comunidade sagrada ou Estado. A visão freudiana comparte a noção segundo a qual a sociedade significa sempre sacrifício da individualidade, neste sentido, amplia as posturas de Nietzsche e Max Sttirner a respeito do “único”. Daí sua tentativa terapêutica em separar as paixões particulares de sua transferência neurótica sobre a autoridade. Seu tema gira em torno do custo sacrifício da liberdade individual à tirania social. encara o auto-sacrifício como doença. Sua tarefa consiste em controlar o custo entre o princípio de prazer (satisfação) e o princípio de realidade (renúncia), nisso define-se a Psicanálise como terapia e doutrina.
Procura defender o indivíduo da submissão inevitável a preceitos comunitários, mediante a análise do fundamento destes e sua gênese. Nesse sentido, sua doutrina é a realização do liberalismo, onde a medicina atua como mediadora entre o conflito individual e a coerção social, analisando esta nos momento em que coíbe aquele outro. O interesse pelo indivíduo, herdado do romantismo, traz consigo uma visão elitista. Seus sujeitos são os “cultos” que alcançaram sua individualidade reconciliando-se com seus instintos, é a maturidade como meta de chegada da existência. Perfila o tipo do homem racional, prudente, liberto interiormente da autoridade, quites com sua quota de conflito e neurose. A psicanálise postula uma espécie de alienação racional entre os entusiasmos públicos. Freud é cético em relação a todas as ideologias, menos a que tange à vida pessoal.
A psicanálise parece como doutrina do homem “particular” que se defende contra a invasão da esfera “pública”, a preocupação pela esfera “pública” se dá por motivações conscientemente “particulares”. A medida psicológica, para ele, não é perfeição social, é a saúde individual. Há luta individual pelo auto-domínio; a psicanálise é a vitória do ego (consciente) sobre o Id (inconsciente) condição do domínio sobre o ambiente. Dessa maneira, é que a ética darwiniana transporá à psicologia, vai mais além do liberalismo sobrevivendo ao seu declínio.

A liberdade

Para Freud, a liberdade é uma metáfora, só tem existência real do indivíduo, quando entendida como um equilíbrio entre o ego e o superego e o id. A procura de liberdade social, para ele, é uma contradição lógica, entende a liberdade e a tirania como estados psíquicos, na base dela há a “tirania psíquica”, entendida como domínio dos temores e compulsões inconscientes. A psicanálise postula o indivíduo antipolítica que procura a autoperfeição num contexto o mais possível separa da comunidade. Para ele, toda política é sinônimo de corrupção, seja num Estado liberal ou autoritário.
Na medida em que, para ele, a liberdade é um estado psíquico, sua possibilidade de existência se dá em qualquer sociedade. Assim, pode haver escravos livres em Roma Antiga, como cidadãos escravizados na Europa. A Psicanálise com sua ênfase na vida interior e no equilíbrio das três instâncias do psíquico como condição de saúde, questiona os regimes políticos. Dessa maneira, Freud desloca a questão da análise do sistema político, para ele, ela passa pela equação pessoal e pela interrogação de até que ponto o indivíduo deve ser limitado no marco das relações sociais predominantes. Ele é o máximo de consciência possível do ‘ethos liberal’, que tem como base o inconsciente.


Contato: agaextensao@gmail.com
Obra consultada
S. Freud. Obras Completas. Trad. Luiz Lopes Ballesteros y De Torres. Ed. Americana, Buenos Ayres, 1943. 

quarta-feira, 15 de março de 2017

ENEM 2017- Síria, a bola da vez

SÍRIA: O VIETNÃ DO SÉCULO XXI


Por Alacir Arruda

A Síria se transformou no Vietnã moderno.  Para aqueles que não sabem, nas décadas de 60 e 70  esse pequeno país do sudeste asiático se tornou o centro das atenções mundiais. EUA e URSS se digladiaram, cada qual,  defendendo suas ideologias. Foram mais de 100 mil vietnamitas  mortos, grande parte desse montante eram crianças. Enquanto esses dois gigantes disputavam áreas de influência,  o mundo assistia atônito a destruição do pobre Vietnã.

Com os recentes avanços das forças militares sírias, e seus aliados russos,  na batalha contra o Estado Islâmico e outros grupos fundamentalistas e mercenários em Aleppo, surge uma forte tendência de vitória do atual governo de Bashar Al-Assad e de seus aliados nesse prolongado conflito que envolve interesses dos EUA e das potências europeias, de um lado, e mais diretamente interesses da Russia e do Irã, mas também da China, de outro.

Depois do início das revoltas árabes em 2011, se desenhou uma nova   Geopolítica naquela região sob a batuta  dos Estados Unidos. As rebeliões ocorridas  da Eurásia à África do Norte e ao Oriente Médio, foram os  motivos dessa intervenção dos Estados Unidos da América (EUA) e das potências europeias no Oriente Médio e na região do Magreb. Manter o  controle do Mar Mediterrâneo e a contenção e isolamento do Irã, além de evitar a presença da Rússia, e ainda da China, nessa região. 

Diferente do caso da agressão militar à Líbia, quando a Rússia e a China se abstiveram e não utilizaram o seu direito de veto no Conselho de Segurança da ONU, e assim não tensionaram o equilíbrio de poder, desta feita no caso da Síria, os dois países tiveram outra posição.

Moniz Bandeira, o maior analista de relações internacionais brasileiro da atualidade, descreve e analisa o que se passou na preparação da agressão multinacional à Síria, que se deu paralelamente ao incitamento de conflitos internos no país árabe.

Os EUA e potências ocidentais como a França e a Inglaterra, aliados a outros países da região, se empenham, desde os preparativos feitos para o conflito, para derrubar o governo do presidente Bashar  Al -Assad.

O papel específico do Catar e da Arábia Saudita consiste no financiamento e na mobilização de mercenários, além do abastecimento de armas para que esses grupos, como o Estado Islâmico, lutem contra as forças armadas e contra o regime sírio.

Uma intensa campanha de mídia e de guerra psicológica, como a realizada contra o governo de Kadafi na Líbia, foi feita para influenciar a opinião pública, na Síria e no mundo, contra o governo de Bashar al-Assad, e para criar um ambiente para a aprovação, no Conselho de Segurança das Nações Unidas, de uma resolução que permitisse aos Estados Unidos, à Grã-Bretanha e à França usarem a Otan para bombardear a Síria, como fizeram na Líbia.

No entanto, o plano esbarrou na posição da Rússia e da China. Moniz Bandeira relata que as propostas de resolução contra a Síria, apresentadas pelas potências ocidentais em 4 de outubro de 2011, e em 4 de fevereiro de 2012 no Conselho de Segurança da ONU, foram vetadas pela Rússia e pela China, que, com esses vetos deixaram claro que não abririam mão de sua presença na região, nem facilitariam os planos dos EUA e das potências europeias de alterar o equilíbrio regional de forças e de dominar completamente o Mar Mediterrâneo.

Meses depois, durante o ano de 2013, a Rússia foi além, realizou movimentos diplomáticos e militares, e não permitiu que a Otan bombardeasse a Síria com mísseis Tomahawk, a partir de navios localizados no Mediterrâneo, e o chanceler russo Sergey Lavrov liderou uma saída diplomática.

O conflito na Síria, porém, continuou.

A tentativa de contenção da Rússia, que vem recuperando parte da autonomia nacional e regional que tinha no período da União Soviética, fica muito evidente no conflito que envolve a Síria.

A Rússia, desde o período soviético, tem duas bases navais na Síria, em Tartus e Latakia. Moniz Bandeira sustenta que os EUA nunca aceitaram a presença militar da União Soviética, e depois da Rússia, no Mediterrâneo, por isso seu intento de derrubar o governo de Bashar al-Asssad, e depois pressionar o eventual novo governo para que as bases navais russas na Síria desapareçam.

A China tinha investimentos em petróleo na Líbia, e ampliava a cooperação econômica com o país de posição privilegiada no Mediterrâneo. Com as agressões à Líbia e à Síria, também são objetivos dos EUA e seus aliados da Otan a contenção da China e do Irã nas regiões do Oriente Médio e norte da África. O Irã, desde o início se aliou ao governo sírio e se envolveu militarmente no conflito.

Por isso tudo, para Moniz Bandeira, o conflito na Síria é na verdade uma guerra pelo controle do Mar Mediterrâneo, que é uma região de grande relevância geopolítica e geoestratégica, e essa guerra faz parte de um conflito maior, mas não declarado, que ele denomina a Segunda Guerra Fria.

Sergey Lavrov, ministro das Relações Exteriores da Rússia, em discurso na ONU, dia 27 de setembro de 2014, criticou duramente os EUA ressaltando que “Washington declarou abertamente seu direito ao uso unilateral de força militar onde bem entenda, para fazer avançar seus próprios interesses”, citando as agressões militares no Afeganistão, no Iraque, na Líbia e na Síria, entre outras.

No conflito da Síria os interesses da Rússia, da China do Irã convergiram, e ao mesmo tempo conflitaram com os dos EUA. Não parece que China, Rússia e Irã, com esses movimentos conjuntos e alianças entre eles, deliberadamente querem confrontar-se com os EUA ou desafiar a supremacia do chamado Ocidente.

Pelo contrário, evitam isso ao máximo, mas não deixam de defender seus interesses nacionais e estratégicos, dentro dos princípios da Carta da ONU. Isso já é demais e inaceitável para os EUA e as potências ocidentais.

A aliança, que se verifica no caso do conflito na Síria, entre Rússia, China e Irã, para defender os interesses comuns desses países frente aos EUA e as potências europeias, é de fato estratégica e duradoura?

Segundo Joseph Nye, em seu livro Compreender os Conflitos Internacionais: uma introdução à Teoria e à História:  em sistemas internacionais “multipolares ou de poder disperso”, as alianças entre os estados são mais flexíveis, e as chances de guerra são menores que em sistemas internacionais bipolares e mais rígidos.

Em sistemas de bipolaridade, são maiores as chances de um conflito mais alargado ou mesmo em escala global. As futuras relações entre os EUA, China, Rússia e Irã – o seu grau de flexibilidade ou de enrijecimento, e se prevalecerá a cooperação ou o conflito entre esses países –, dirão muito sobre a ordem mundial futura.

Na verdade, são os EUA que retomam, para buscar defender a sua hegemonia mundial e tentar relançar o seu status de única superpotência global, elementos de sua estratégia imperialista utilizada durante a Guerra Fria contra a União Soviética e seus aliados de então.

Resta saber como se comportarão agora os EUA em sua política externa,  com a posse de Trump. O desfecho do conflito na Síria será importante para definir o que virá pela frente neste século XXI.


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segunda-feira, 13 de março de 2017

Declínio da Esquerda AL

O DECLÍNIO DA ESQUERDA LATINO-AMERICANA.

Por Alacir Arruda

O que está acontecendo com a esquerda latino-americana? Quase 20 anos depois de conquistar o poder em grande parte do Continente,  a esquerda regional necessita de uma autocrítica e deverá encarar um futuro imprevisível  após a posse de Donald Trump na Presidência dos Estados Unidos e,  ainda, sobreviver sem um de seus maiores símbolos: Fidel Castro, que inspirou e apoiou ex-guerrilheiros e líderes sindicais que chegaram ao poder nos anos 2000, como Lula e Dilma Rousseff no Brasil, José Mujica no Uruguai ou Evo Morales na Bolívia.

Sob a orientação de Lula e do falecido Hugo Chávez, na Venezuela, uma esquerda heterogênea tomou o poder em toda a América do Sul, com exceção da Colômbia, e com avanços na América Central. Mas, no momento da morte do pai da revolução cubana - em 25 de novembro, aos 90 anos -, muitos presidentes esquerdistas já tinham caído.

Com as recentes eleições presidenciais no Peru e na Argentina, o  referendo na Bolívia, e reformas  legislativas na Venezuela: a esquerda acumula derrotas nas urnas e teve de assistir, em 2016,  impotente ao impeachment de Dilma Rousseff, acusada de maquiar as contas públicas.

E, em 2017, o grupo deve se reduzir ainda mais: Rafael Correa (Equador) não quer um terceiro mandato, enquanto a chilena chilena Michelle Bachelet se prepara para deixar o poder com um balanço de escândalos e promessas não cumpridas. Dois fatores, entre outros,  foram determinantes para o enfraquecimento da esquerda: “a queda dos preços das commodities que sustentaram esses governos e um desejo natural de mudança”.

Influência em declínio

Estes reveses sucessivos provocaram a perda de influência de Cuba, referência histórica da esquerda do continente, que também enfrenta o impacto da grave crise atravessada por seu principal aliado e fornecedor de petróleo com facilidades de pagamento: a Venezuela. Ainda em meio a esta situação e sem fazer grandes concessões, Cuba iniciou uma aproximação histórica com os Estados Unidos que realçou sua imagem perante o resto do mundo.

Mas a ilha já não é essencial para o continente, e os líderes da Revolução terão que se concentrar em dois grandes desafios: a reforma de um modelo econômico obsoleto e a transferência de poder do presidente Raúl Castro à nova geração, esperado para dentro de 15 meses.  “A representação internacional no funeral de Fidel não esteve ao nível esperado. Isso sugere que o status de Cuba está em declínio”, opi­na o ex-diplomata Paul Webster Hare, professor de Relações Internacionais da Universidade de Boston.  Neste contexto, Webster Hare espera “que países como Rússia e China convoquem Raúl Castro a romper com o sentimentalismo da velha revolução e realizar reformas genuínas na economia”.

O desafio Trump

Em um continente atingido por dois anos de recessão, a mística socialista e as políticas de redistribuição foram superadas por uma realidade marcada pelos erros de alguns líderes, sem sucessores à vista.  Em países como Bolívia e Equador, por exemplo, onde o poder está altamente personalizado, as coalizões no poder há quase 10 anos “terão que aprender a se organizar como partidos de oposição”, afirma Christopher Sabatini, da Universidade de Columbia, em Nova York.

Além do acima exposto, os governos de esquerda terão que enfrentar um novo desafio ainda maior: a chegada à Casa Branca de Donald Trump desde janeiro.  Para a maioria dos especialistas, ainda é muito cedo para falar de uma possível “ameaça Trump”, já que o magnata imobiliário parece não ter a América Latina entre suas prioridades, com exceção do tema migratório.

Para alguns especialistas,  a propensão de Trump pela provocação pode fazer o movimento socialista renascer na região.  Se Trump tentar restaurar uma estratégia hegemônica na América Latina, com um tom e estilo agressivos, isto provocaria uma reação em toda a região, não apenas nos países de esquerda,  e  isso pode levar ao surgimento de novos líderes,   " salvadores da pátria", de esquerda no continente.

O presidente Correa  chegou a considerar , em outubro , que a chegada de Trump seria “melhor para a América Latina”, lembrando que a rejeição à administração de George Bush permitiu “a chegada de governos progressistas” durante seu mandato (2001-2009). Quem viver verá.

Contato: agaextensao@gmail.com

domingo, 12 de março de 2017

Brasilia nossa Sodoma

BRASÍLIA A NOSSA SODOMA
Por Alacir Arruda
“Minha terra tem palmeiras onde canta o sabiá, as aves que aqui gorjeiam, não gorjeiam como lá"  (Cassimiro de Abreu)
Esse pequeno  fragmento da poema,  " Meus Oito Anos" , do grande poeta Cassimiro de Abreu escrito com toda a nostalgia no século XIX,  revela um país lindo, maravilhoso, onde deveríamos ter orgulho de morar. Um país com tantas belezas naturais, abençoado e que está livre de desastres naturais  – como tsunamis, erupções vulcânicas, terremotos e ciclones – deveria ser considerado um paraíso na terra, porém esse paraíso está infestado de cobras que seduzem o seu povo pela maçã do mal, a corrupção.
O nosso país sofre por mãos humanas, por mentes que não possuem  qualquer sensibilidade em orientar e conduzir um povo sofrido. Vivemos em um país que foi tomado pela enchente da corrupção há muitos anos e, ao invés dessas águas baixarem, elas só aumentam, matando seu povo afogado em escândalos.
Não e novidade para ninguém que esse nosso  espírito corruptivo veio a bordo das caravelas portuguesas, que enviavam trabalhadores às terras tupiniquins lhe oferecendo liberdade para fazer o que bem entenderem aqui. O primeiro caso de nepotismo aconteceu com Pero Vaz de Caminha, que pediu ao Rei D. João que seu sobrinho viesse para cá assumir um cargo de confiança. Já o primeiro caso de ficha suja, aconteceu quando o rei enviou ao país Pero Borges para exercer o cargo de ouvidor-geral. Pero foi um político corrupto que havia desviado muito dinheiro em obras que supervisionava em Portugal e, como o rei não o queria por lá, lhe enviou para cá.
De lá para cá se passaram mais de 500 anos e diversos escândalos. Seria impossível, nesse artigo, citar todos, mas, só para refrescar nossa memória, vale lembrar do “caso Collor-1992”, “anões do orçamento-1994”, “escândalo dos bingos-1998”, “escândalo dos correios- 2000”, “mensalão-2010”, “escândalo das ambulâncias-2009” e por último,  a tão famosa “operação lava-jato”, conhecida como “petrolão” e, segundo o procurador da república, Hélio Telho, teremos um escândalo muito maior que o da Petrobrás, e para ele será o do BNDES.
“Que País é esse?” Já perguntava Renato Russo em 1983. Que país é esse que perde cerca de 3% do seu PIB anualmente para a corrupção?
Para servir de base, o Brasil investe cerca de 3,8% do seu PIB na saúde, então você pode imaginar o quanto essa quantia faz falta.
Não sou religioso, e  todos os meus alunos sabem disso, aliás, tenho  sérias criticas a esse comportamento. Porém, julgo a bíblia um importante livro histórico (e apenas histórico) interessante. Estava lendo Gênesis outro dia, quando vi a passagem onde Abraão bateu um papo com Deus e o perguntou insistentemente se houvesse 50, 40, 30 justos em Sodoma o que Deus faria, se Ele pouparia a cidade. Deus todas a vezes disse que pouparia sim, por amor a esses justos.
Seguindo esse pensamento mítico, e o Brasil? Quantos justos ainda há nesse país ao ponto de Deus ainda estar tendo misericórdia?
Infelizmente, para tristeza dos religiosos de plantão, não há tantos justos assim no meio politico brasileiro. Me refiro aqui aqui aos lideres de bancada e presidentes  de partidos, sobretudo, aqueles pequenos, verdadeiras siglas de aluguel, que se vendem em períodos eleitorais com interesses em cargos e acesso as benesses da coisa pública. A politica brasileira pode ser definida assim: "cada um por si e o satanás por todos", a sanha pelo poder dos nossos homens públicos não mede as  consequências. Os interesses dos grupos que se instalaram no poder estão acima dos interesses nacionais e a consequência principal disso, todos  nós sentimos diariamente na pele,  ou melhor, no bolso.
O problema, como ja disse anteriormente, é que a corrupção no Brasil parece estar no nosso DNA.
Usando a mítica bíblica: e se o Brasil fosse Sodoma? Onde estaríamos eu e você?
Será que como cidadãos comprometidos com a nação  seríamos poupados como Ló e sua família? Ou será que seríamos queimados vivos pela ira de Deus? Lembrem-se que Ló era sobrinho de Abraão e estava, juntamente com tio, a caminho de Canaã, a terra prometida, até que foi convencido pela sua esposa de que Sodoma era melhor que Canaã. Sodoma era uma especia de Brasilia, onde a orgia rolava solta a corrupção as trocas de interesses e, sobretudo, a ilegalidade eram comuns. Segundo o mito hebraico-cristão, Deus não teve piedade dessa terra, destruindo-a juntamente com seu povo. Sobre essa ótica, coitada de Brasilia..


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