domingo, 10 de junho de 2018

Apenas um desabafo

"A MORAL IGNORANTE É VIZINHA DA MALDADE"

Por Alacir Arruda

Hoje, domingo dia 10 de junho de 2018,  resolvi refletir sobre a moralidade que reina nas sociedades e suas constantes alterações com o tempo, e após muito pensar só consigo chegar a uma única conclusão: a sociedade esconde suas hipocrisias atrás da máscara da moralidade.

Quando voltamos em qualquer parte do tempo passado e construímos uma ponte comparativa com os dias atuais, notamos como os conceitos morais foram alterados; como as pessoas passaram a aceitar moralmente o que antes era tido como imoral. Alguns justificariam tais mudanças dizendo ser isto conseqüência da "tal" evolução humana, outros poderiam dizer que faz parte do amadurecimento da sociedade quebrar determinadas regras, enfim, sempre haveria uma “desculpa” para justificar tais alterações. Mas será que eu encontraria alguém que dissesse: “Isto é apenas uma nova maquiagem na velha máscara que cada um de nós carrega.”?

Após rodar esse país de norte a sul e algumas aventuras fora dele, eu poderia aqui selecionar centenas, milhares de fatos que aconteceram no mundo e que, com o tempo, sofreram alterações no padrão do conceito moral de alguma forma. Mas não precisaria fazer tal coisa, uma vez que basta identificar um, percebendo-se, assim, a mesmice da essência em todos os outros.

Você já ouviu falar de uma época em que a palavra de um homem valia mais do que qualquer documento assinado? Desonestidade era imoral. Mas como os tempos mudaram! Perceba o maldito “jeitinho brasileiro” e contemple as várias ações da nossa política nacional. Hoje não há tanta aversão a desonestidade; o conformismo naturalista se instaurou e a grande maioria das pessoas passaram a assistir a isto como algo normal e não como algo ofensivo, abusivo, ilegal, prejudicial... por fim... imoral.

O catolicismo que, antes, associou-se, corretamente moral, com o nazismo, de Hitler, hoje faz discursos para que haja paz entre judeus e palestinos. As regras de conduta moral são estabelecidas através de Concílios, dogmas ou até mesmo um jornalzinho em que, moralmente, alteram a lista dos chamados pecados capitais. Mas e as questões como castidade e pobreza dos padres que contrasta com a riqueza bilionária da Igreja Romana; o homossexualismo e a pedofilia que acontecem atrás das sacristias, nas casas paroquiais ou em pequenas cidades na quais estes líderes religiosos são tidos como deuses?

E por falar em pedofilia, lembra da época em que era moralmente correto colocar crianças nos filmes medíocres das pornochanchadas brasileiros? Pouquíssimo tempo depois uma das atrizes pornô da época e que contracenou em cenas de sexo com um garotinho foi elevada, moralmente, pela sociedade da época como a “Rainha dos Baixinhos” e se transformou na apresentadora infantil de maior sucesso no país até hoje.

E o que dizer da sociedade atual que, moralmente, não admite que um adulto (ser humano maior que 18 anos) pratique sexo ou atos de atentado ao pudor com menores de idade (ser humano menor que 18 anos)? No entanto, as crianças de 11, 12, 13, 14 anos de idade agarram uma as outras com toda a veemência do início da puberdade e ainda são embaladas pelas músicas de funk, moralmente aprovada por seus pais e que só tratam de temas de conteúdo sexual no mais baixo nível.

O protestantismo aceitou a moralidade de transformar seus líderes religiosos em deuses, em milionários, em bilionários, em assumirem a posição de “cabeça e não de cauda”, utilizando-se de interpretações deturpadas do Evangelho para se posicionarem como seres moralmente melhores que os demais mortais da Terra. E bispos vão parar em prisões estrangeiras, deputados-pastores são denunciados por pistolagem, casas de milhões de dólares se erguem em tempo recorde a fim de abrigarem os desejos egocêntricos e tudo isso, e muito mais, é moralmente aceito por pessoas chamadas de “ovelhas”.

E a imoralidade do homossexualismo de épocas atrás deu lugar a uma moral em forma de passeata, de festa com arco-íris e de toda sorte de desejos que, moralmente falando, vão adentrando TV´s, jornais, revistas, propagandas, seriados, filmes e todo tipo de meios de comunicação de massa. Hoje virou  "moda" se assumir gay, lésbica trans etc.. - nada contra as pessoas que assim agem-  mas aquilo que era  imoral libertino no passado  é hoje o moralmente compreendido por uma sociedade que, de tempos em tempos, altera valores mas se considera pura. Carolas e seus esposos continuam indo as missas e  cultos aos domingos mas sequer dão bom dia aos seus vizinhos, a comunhão os absolve.

E poderia ainda  aqui dizer dos conceitos morais de certos pais dados a seus filhos quanto a drogas, cigarros, bebidas e tantas outras coisas, mas que são realizados moralmente por eles mesmos numa educação ditatorial do tipo faça o que falo, mas não o que faço.

É como diria Renato Russo, “todos vão fingindo viver decentemente.”

Enquanto as pessoas carregarem a moral como regra de conduta de vida, as sociedades permanecerão sendo hipócritas e as pessoas continuarão enganando a si próprias.

A conscientização sempre foi o melhor caminho. Valores que se estabelecem na vida e para a vida como lucidez de mente, onde sou sempre quem sou independente do lugar onde estou; onde não preciso esconder o que fui porque simplesmente “já fui”. Onde não é a moda ou algum programa idiota da TV que me passa informações sobre como devo vestir ou como me comportar.

“A ignorância é vizinha da maldade”, já dizia um provérbio árabe, e assim a coletivização de mente é mais fácil de ser controlada. A inércia mental produz zumbis culturais e seres hipócritas que se escondem atrás da máscara da moralidade, que de tempos em tempos, arrumam a maquiagem com o simples propósito de mostrarem a face asquerosa de perversidades, de egoísmos, de vaidades, de presunções... com uma aparência mais bela e com um poder de persuasão maior.

Sempre temos mais de uma opção para escolher, mas infelizmente a grande maioria escolhe a mais cômoda e não a mais conscientemente correta. Enquanto muitos adotarem a regra de não ser quem realmente é, a moral permanecerá sendo o caminho a ser seguido, o deus a ser adorado... e, de quando em quando, um demônio imoral será canonizado em santo moral e muito vão viver achando ser normal a normalidade moral da hipocrisia mental de cada um de nós..


"Encontro nas letras a única forma de fotografar alguns dos instantes perdidos no meio do infinito que sou." 

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sábado, 9 de junho de 2018

ENEM 2018 - Nada mudou

Em 2008 tive a honra de ser convidado pelo Inep (Instituto Nacional e Ensino e Pesquisa) órgão que elabora o ENEM para compor um  grupo de  20 professores que foram a Brasilia ajudar a estruturar o chamado "Novo Enem". O governo PT -  sob a batuta do então  Ministro da Educação Fernando Haddad tinha - ideia de usar esse exame, antes com apenas 63 questão e usado única e exclusivamente para avaliar o ensino médio brasileiro, em uma  ferramenta politica inclusiva como hoje podemos constatar. Passados 10 anos desse fato,  tenho observado a evolução do ENEM e sua importância na vida de milhões de jovens, sobretudo os menos favorecidos,  que a cada ano se inscrevem com intuito de  mudar suas realidades. Nesse período tive a oportunidade  de montar vários Pre Enem gratuitos e  usar minha experiência como elaborador de Itens do Enem  para ajudar esses jovens:  alem disso fiz muitas palestras em escolas públicas e privadas de vários Estados alertando-os  sobre necessidade de mudarem seus Planos Políticos Pedagógicos  para atender as exigências do ENEM. É evidente que sofri muitas retaliações, e ainda sofro,  de professores, coordenadores e diretores que ainda imaginam que  essa aula conteudista serve para algo.

Escrevi o texto abaixo no dia 15 de agosto de 2013, na época eu já questionava esse modelo que ainda hoje persiste, onde o aluno e visto como um depósito  o professor detentor do conhecimento. Confiram..



POR QUE O ENEM ASSUSTA TANTO?

Por Alacir Arruda

Falta pouco para o Exame Nacional do Ensino Médio-2013 (Enem). Esse ano as provas serão nos dias 26 e 27 de outubro. Considero natural e justificável a ansiedade de alguns jovens quanto a essa avaliação por três razões básicas;

- 1º) o nosso jovem não é preparado para esse tipo de prova. Possuímos um currículo ultrapassado, engessado e conteudista onde o aluno é visto como um depósito de conhecimentos. Os professores vão “entupindo” matérias fragmentadas em suas cabeças depois cobram em provas sem qualquer contexto, ou seja, tudo aquilo que o ENEM condena.
-2º) os professores, viciados nesse modelo bancário conteudista, não conseguem estabelecer relações, construir pontes ou contextualizar suas disciplinas aos moldes do que exige a matriz ENEM, alguns por comodismo e outros porque desconhecem mesmo o ENEM.

-3º) somos um país que, culturalmente, não possui o hábito da leitura e o ENEM exige do aluno o domínio dessa competência. Todos os Itens do ENEM possuem; texto base, enunciado, distratores e alternativas. Sendo que o texto base é 50% a 80% da resposta correta. O problema está justamente ai, nosso aluno lê, mas não compreende. Muito menos consegue contextualizar aquilo que leu. Isso ocorre pelo fato de sermos o país que menos lê na américa latina e um dos mais atrasados nesse quesito no mundo. Querer que um aluno, hoje com 17- 18 anos, que teve como literatura mais importante nos últimos 5 anos “Crepúsculo, Lua Nova e Amanhecer” saia bem no ENEM é um tremendo engodo.

O que eu defendo, e há mais de 6 anos venho sofrendo severas criticas por isso, é que as escolas, sobretudo as privadas, comecem ( pra ontem) o processo de transição do vestibular tradicional -QUE NÃO EXISTE MAIS- salvo uma meia dúzia de faculdades no Brasil, para o PRÉ-ENEM, ou seja que os cursinhos preparem seus alunos para o ENEM que hoje é aceito como requisito único em 93% das federais brasileiras e as a outras 7% ate 2016 estarão nesse grupo, inclusive USP e UNICAMP. O que não pode é o que ocorre hoje, o aluno que vai prestar só ENEM fica como um bobo alegre nas aulas, uma vez que ele não consegue estabelecer conexão entre aquilo que é ensinado e as questões do ENEM. 

Mas para que isso ocorra, faz se necessário que escolas se reinventem, aprendam a aprender, uma vez que precisam preparar seus professores, capacita-los a partir da plataforma ENEM e suas matrizes. Quando coordenei algumas escolas em SP tive a oportunidade de colocar em pratica esse modelo. Escolhia algumas aulas de forma aleatória, colocava em sala de aula 4 professores, sorteava um tema qualquer, como por ex: II Guerra Mundial que pode, a principio, ser uma tema de história, mas se aplicarmos as matrizes do ENEM ele se transforma em um tema interdisciplinar, ou seja, o prof. de história abre a aula, contextualizando todo processo histórico do período, o de geopolítica contextualiza todos os interesses e etnias envolvidas, o de física trata da balística (ótica), movimentos, fissão e fusão nuclear e o de química analisa a composição dos gases que foram utilizados pelo regime nazista no processo de limpeza étnica praticado contra judeus e outras etnias. A aula fica interessante, não é maçante para o aluno visto que, em 1 hora, 4 professores falam no máximo 15 minutos. Isso faz com que aluno, perca o medo e comece a entender o que é o ENEM, que tem como função principal inter-relacionar o conhecimento. Eu fiz isso em 2013, é possível sim.

A pergunta que não quer calar:  estarão as escolas dispostas a isso?? Ou preferem a zona de conforto estabelecido por um modelo Anglo-Saxão de perguntas e respostas desconexas que tem dominado a educação privada no Brasil há mais de 60 anos? Não tenho dúvida que a primeira que realizar essas mudanças será destaque e vanguarda no Brasil. Aquelas que recusam tal sistema e que assentam-se sob a égide do tradicionalismo estão fadadas ao fim....

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quinta-feira, 7 de junho de 2018

ENEM 2018 - Um pouco de Schopenhauer

SCHOPENHAUER E OS NOSSOS DESEJOS.

Por Alacir Arruda

Vejamos se consegue resistir: você compraria algo (que não precisa) apenas pela simples vontade ou desejo de possuir este objeto? Até que ponto seus desejos manipulam suas ações? Como a sociedade tem se transformado, cada vez mais, em uma sociedade de consumo?

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Mesmo sem frequentar um há 10 anos - por opção -  não consigo imaginar lugar mais propício para o afloramento dos desejos de consumismo que um Shopping Center. As lojas com suas marcas de luxo,  suas vitrines iluminadas, anúncios de promoções e descontos e suas fachadas chamativas são uma verdadeira tentação para pessoas que gostam de comprar pela simples vontade de matar um desejo consumista. É o comprar pela vontade de comprar, sem nenhuma necessidade objetiva do objeto desejado.

Mas talvez belas lojas e vitrines enfeitadas não chamem sua atenção. Mas o ponto aqui não são as lojas, nem o consumo em si, mas a questão do desejo. Quem sabe, diferente de muitas pessoas, seu ponto fraco não seja o consumismo. Quem sabe você é daqueles que não abre mão de sair todas as noites para se divertir, ou não resiste a um belo e apetitoso jantar.

Será que nossos desejos nos manipulam, nos fazendo tomar determinadas decisões que não tomaríamos caso esse desejo não existisse? Será que o (aparente) inofensivo desejo de possuir algo condiciona nosso estilo de vida, os lugares que frequentamos e nosso circulo de relacionamentos?  Segundo o filósofo alemão Artur Schopenhauer sim. Para ele, você não tem nenhum qualquer controle sobre suas vontades. Quem sabe isso amenize o sentimento de culpa daqueles que estão com a conta bancária e o  cartão  de crédito no vermelho por excessos futilidades.... 

Schopenhauer acabou desistindo de dar aulas - o inveja-  em 1818 e passou a viver da herança de sua família.  Escreveu sua principal obra aos 30 anos, intitulada “O Mundo como Vontade e Representação”, mas sem lograr êxito no início (livro que, após sua morte, passou a ser considerado uma das obras chave da filosofia ocidental). Durante anos, Schopenhauer não parou de atualizar sua obra, que ganhou uma nova versão com um segundo volume de notas e aditamentos em 1844.

No livro, Schopenhauer declara que a realidade tem dois aspectos, vontade e representação, sendo a primeira a força cega encontrada em todas as coisas e a representação, a construção da realidade em nossa mente, ou seja, a maneira que encontramos para dar um sentido a todas as coisas que nos cercam. O conceito de representação se encontra na filosofia de Kant com outro nome, o “mundo fenomênico”.

A vontade é cega pois não a controlamos. É uma força única por trás de tudo. Em nada tem a ver com a ideia de Deus ou de um ser superior. Para Schopenhauer, não há alguém que a direcione. Já a representação é o mundo em que vivemos, como vivenciamos e sentimos nossas experiências.

Para o filósofo, o mundo é uma representação de cada indivíduo. Ele tratava da relação entre sonho e realidade, em que seria impossível para o homem diferenciar essas duas condições. Nesse sentido, a vida seria um longo sonho que é interrompido durante a noite por sonhos menores.  Nas palavras de Schopenhauer, “não é talvez toda a vida um sonho? Mais precisamente: existe um critério seguro para distinguir sonho e realidade, fantasmas e objetos reais?” Assim, para Schopenhauer, não teríamos condições de saber se estamos em um longo sonho ou se o que estamos vivenciando é, de fato, a realidade.

Para o filósofo, haveria um elemento essencial que levaria o homem a ter vontade de continuar vivendo, mesmo sabendo que o seu fim é a morte certa. Como nosso próprio corpo é o único objeto que conseguimos conhecer no Universo, na medida em que não o reconhecemos de fora, mas de dentro, o Eu é a vontade de viver. Mesmo sabendo de nossa morte (que inevitavelmente nos alcançará um dia) continuamos por buscar a sobrevivência.

Aliado à ideia da vontade como elemento preponderante do viver humano, para Schopenhauer o amor não existe, sendo uma artimanha da natureza para a preservação da espécie. Seu pensamento sobre o amor contraria todos os demais pensamentos da época, motivo pelo qual suas ideias foram relacionadas ao pessimismo em relação à vida.

Assim, segundo o filósofo, depois de realizado o ato sexual e atingido o prazer, o homem experimenta um sentimento de desilusão ao constatar que tudo que desejou tão ardentemente nada mais é que qualquer outra satisfação de um mero desejo sexual.

Schopenhauer foi duramente criticado por aliar elementos orientais à sua filosofia. A visão pessimista do filósofo comunga com a visão do budismo, que declara que tudo na vida é sofrimento, sendo o homem o único ser vivo que busca coisas que nunca poderá possuir.

Essa frustração resulta em uma felicidade passageira, pois o ser humano é um ser que sempre está à procura de coisas novas, nunca estando satisfeito com o que tem. Podemos constatar isso tendo nós mesmos como exemplo. Reflita em quantas vezes você desejou algo e quando atingiu teve o prazer de se sentir feliz, mas, logo em seguida, essa felicidade foi se esvaindo, dando lugar a um novo desejo, e assim por diante. Me recordo aqui uma frase do escritor e dramaturgo irlandês  Oscar Wilde:  "O ser humano se frusta duas vezes na vida, a primeira quando tenta atingir algum objetivo e não consegue e a segunda quando consegue". Quer algo mais schopenhaueriano que isso? 

Para Schopenhauer, uma das principais causas do sofrimento humano é esse incessante desejo de buscar coisas que possam nos proporcionar uma felicidade duradora sem nos darmos conta de que essa busca, por si só, é inútil, pois nunca estaremos totalmente satisfeitos com o que adquirimos.

Ao satisfazer seu desejo, o homem tem, por um breve momento, o gosto da felicidade, mas logo em seguida volta a se sentir incompleto e insatisfeito, recomeçando uma nova busca para satisfazer um novo anseio que surgiu logo após a conquista do primeiro. Isso gera um clico interminável de buscas e desejos.

Anos mais tarde, o famoso filósofo Nietzsche, baseando seu pensamento na filosofia de Schopenhauer, escreveu: “A felicidade é frágil e volátil, pois, só é possível senti-la em certos momentos. Na verdade, se pudéssemos vivenciá-la de forma ininterrupta, ela perderia o valor, uma vez que só percebemos que somos felizes por comparação”.

A vontade, considera Schopenhauer, é a força fundamental da natureza, pois cada indivíduo a manifesta para dar sentido a sua própria sobrevivência. Para ele, a vontade é um impulso escuro e vigoroso, sem justiça ou sentido. Assim, um indivíduo sem vontades não possui motivação suficiente para viver, não consegue enxergar sentido e propósito na sua existência.

Para Schopenhauer, a contemplação da arte é uma forma de suprimir, mesmo que temporariamente, o estado de sofrimento humano causado pela busca incessante pela satisfação de suas vontades. O filósofo eleva a música à categoria de arte suprema


É interessante notarmos a importância que Schopenhauer concede à música. Para ele, “a música exprime a mais alta filosofia numa linguagem que a razão não compreende”. Schopenhauer foi o primeiro filósofo a elevar a música para um patamar superior, influenciando o pensamento de Nietzsche sobre ela, que escreveu que “sem música a vida seria um erro”.

Presente na terceira parte do livro “O Mundo como Vontade e Representação”, a música assume papel importante na filosofia de Schopenhauer. Para o filósofo, a contemplação da arte é uma forma de suprimir, ainda que temporariamente, o estado de sofrimento humano causado pela busca incessante pela satisfação de suas vontades.

Assim, ainda que Schopenhauer entenda o viver humano como um constante sofrimento em virtude do homem sempre buscar satisfazer algo que é insaciável (o desejo humano), o filósofo concede uma solução: tornar-se livre da vontade para atingir a contemplação.

Ao libertar-se de seus desejos, o homem é livre para atingir o sublime e o filósofo elege a arte como meio para isso e consagra a música como a arte suprema. Nesse sentido, a música é capaz de expressar a vontade fazendo uso de uma linguagem grandiosa. Por meio dos tons, ritmos, harmonias e melodias, a música é capaz de revelar a essência interior do mundo, o desejo, que move a natureza humana, enquanto a filosofia é capaz de apenas reproduzir a essência do mundo através de conceitos gerais.

A grande verdade é que Schopenhauer nos ensina a viver  um dia de cada vez,  sem fazer planos, afinal a vida  - por si só - não  tem o menor sentido, somos nós que damos sentido a ela a partir da realização das nossas vontades. Eu li Schopenhauer a primeira fez com 17 anos desde então tenho buscado praticar - mesmo sem as vezes conseguir - o que ele sugere: "Carpie Diem"


-Deixo abaixo uma série de obras escritas por esse filósofo, sugiro que leiam, principalmente aqueles que farão o ENEM.

A arte de escrever | A arte de insultar | A metafísica do belo | Aforismos para a sabedoria da vida | Dores do mundo | Esboços de uma história da doutrina do ideal e do real | Metafísica do amor, metafísica da morte | O Mundo Como Vontade e Representação (Livro III) | O Mundo Como Vontade e Representação (Livro IV) | A morte e a dor | Algumas palavras sobre o panteísmo | Como vencer um debate sem precisar ter razão: 38 estratagemas | Do pensar por si | O sistema cristão | O vazio da existência | Religião, um diálogo | Sobre a filosofia universitária | Sobre educação | Sobre livros e leitura | Thomas Mann


Para fazer download gratuito das obras CLIQUE AQUI!
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quarta-feira, 6 de junho de 2018

Eleições 2018 - O medo de Bolsonaro.

BOLSONARO E O DESESPERO DAS "ELITE" .

Por Alacir Arruda

O livro Revolução do Bichos, escrito pelo Britânico George Orwel em 1945, não poderia traduzir melhor a nossa realidade. Nesse livro o escritor retrata um grupo de animais em uma fazenda que se rebelam contra o "homem". Após esse ato de rebeldia eles nomeiam o Porco como novo líder, na certeza de que qualquer animal que tenha asas e quatro patas é amigo e pode entender o outro. Ledo engano! O mal pode estar mais próximo do que você imagina. Vejam o caso do Brasil.

Com a aproximação das eleições os grupo políticos se movimentam, sobretudo aqueles que estão em vias de perder o poder. A teta esta ficando cada vez mais longe para alguns.  Com a iminência da derrota os partidos de centro-direita do Brasil estão desesperados. O site Antagonista obteve cópia da proposta encaminhada pelo ministro Carlos Marun a lideranças partidárias, com o objetivo de reunir o apoio desses partidos em torno de uma candidatura única.

-Seguem os tópicos.

1) Os partidos que promoveram o impeachment e participaram ou participam do governo  concordam e celebrar um pacto de seguirem juntos nas eleições presidenciais;

2) Todos os partidos que aderirem retiram as suas pré candidaturas;

3) Os partidos indicam cada um 2 nomes para a composição de uma comissão que elaborará no prazo de 15 dias um plano conjunto de governo, necessariamente moderno e realista;

4) Este plano é internamente discutido nos partidos pelo prazo de até 7 dias; e

5) E tem mais, um colegiado formado pelos parlamentares federais filiados aos partidos, em reunião única, devem aprovar o plano de governo e, entre os pré-candidatos apresentados pelos partidos, em votação de dois turnos, escolhem os candidatos a presidente e vice-presidente do grupo.

É risível, para não ser mal educado,  a  postura desses partidos. Será que  esqueceram que o caos ai instalado tem  suas digitais? O que esses partidos fizeram para evitar a catástrofe em que estamos? E ainda querem o poder? Ah..me poupem! Os dois piores conselheiros  são: o medo e o desespero. Elementos presentes na candidatura Bolsonaro. Um candidato sem dinheiro, sem partido e sem máquina propagandista, mas com incontáveis potenciais eleitores e que tem  liderado  todas as pesquisas em que Lula não participa.  


O que mais chama atenção é  que aqueles que deveriam estar  apavorado com a ascensão de Bolsonaro é a esquerda. Ou as esquerdas, para sermos mais precisos. Mas, não. Quem está se pelando de medo são as “zelites”, aquela parte da mídia que acreditava que, der­rubando Dilma Rousseff, esta­riam abertas as vias de acesso ao poder para o PSDB.

O conservadorismo elitista ama o PSDB. Ali está uma gente que sabe segurar um garfo à mesa. O PSDB conta com um time de in­telectuais de primeira ordem. E mesmo seus líderes são cavalhei­ros distinttos que falam bem, ves­tem-se bem, falam línguas estran­geiras. Gente fina é outra coisa.

Mas aí, a massa conservado­ra, a classe média batedora de panela, a juventude coxinha, os mebelistas da vida e outros que tais, consagraram Jair Bolsona­ro o seu candidato à presidên­cia. Bolsonaro é o Lula lá deles.

O ex-capitão de artilharia, ex­-terrorista e ex-agitador de quartéis, é um homem sem modos. Ele não argumenta: achincalha seus adversários. Não tem posições doutrinárias, apenas opiniões idiossincráticas. É absolutamente inculto, talvez até mais do que Tiririca. É o homem dos pontos de vista extravagantes. É dos tais que acha que tudo se resolve à base de porrada.

Pois é este o homem que a classe média paneleira adora. A clas­se média que é super patriota, mas visceralmente antinacionalista – adoraria ver o Brasil colonizado pelos EUA – vê em Bolsonaro o ho­mem providencial. Ele, machão e durão, vai resolver todos os problemas do País, que têm causa na de­pravação moral e não no conflito de interesses econômicos.

A pouco tempo atrás a Revista Isto é – também conhecida no submundo da mídia como “Quanto é"– trouxe  uma capa alarmista, es­tampando a cara de Bolsonaro, o bicho-papão da vez. É ataque frontal. Apela ao medo, como Re­gina Duarte dizendo cretinamen­te que tinha medo de Lula. Não percebe que é o medo da classe média que gerou o monstro que agora se tenta abater.

Tempos atrás foi a revista Veja que advertiu para o “perigo” Bolsonaro. Isto é apenas vai na onda, para não ser  levada tal como aquele camarão dorminhoco de que fala o samba.

Por que tanto medo? Bolsona­ro, apesar de ser de direita e an­tiesquerdista visceral, não tem compromissos com as “zelites”, ou seja, não reza pela cartilha neoliberal, não tem rabo preso com banqueiro, não é recebido nos salões da burguesia paulista.

Ele já disse que entende lhufas de economia. Aí mora o perigo. Vai buscar aconselhamento entre os neoliberais, entre os vende-pátria, os entreguistas, os quinta-coluna. Até aí, isto poderia deixar a grande imprensa mais tranquila. Ocorre que a “geni” da política brasileira tem lá os seus caprichos naciona­listoides, um nacionalismo algo in­gênuo e sentimental. O bicho é xu­cro e talvez não possa ser domado.

O medo se agiganta a partir da percepção de que Lula ( preso) não poderá candidato. Lula fora do páreo, para onde iria os votos lu­listas? Há quem acredite que, com Lula fora, Bolsonaro vence com um pé atrás. Ainda que boa parte do voto lulista posa ir para quem Lula recomendar, o fato é que as chances de Bolsonaro aumentam.

E o pior é que as alternativas antilulistas frequentáveis, respeitáveis, se mostraram um fiasco total. Doria é uma  piada. Joaquim Barbo­sa? Este é de tão honesto desistiu de sua candidatura. Luciano Hulk? Esse e digno de gargalhada. Ciro Go­mes? O mais preparado de todos, do ponto de vista intelectual, mas elitista demais, não vai ao povo, não consegue falar a linguagem do povo, de que Lula é mestre e na qual Bolsonaro vai ficando batuta.

Veja e Isto é foram publicações que, no afã de derrubar Dilma e envenenar o povo contra o PT, acirraram o ódio e o clima de confrontação ideológica do qual emergiu Bolsonaro. Foi para isto que deram o golpe? Não, não foi, mas deu nisso. Agora não adianta chorar as mágoas. Quem pa­riu Mateus que o embale.

-Sugestão de leitura: Revolução dos bichos- George Orwel.


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terça-feira, 5 de junho de 2018

Judiciário: entre o imoral e o legal

O JUDICIÁRIO E O PRIVILÉGIO  IMORAL.

Por Alacir Arruda

Em 1998 eu ministrava geopolítica e história para alunos do 3 ano do ensino médio de uma escola privada numa pequena cidade do interior de São Paulo. Nessa sala um dos alunos me chamava atenção pela sua admiração à carreira jurídica, Sempre que podíamos conversar ele me dizia: “professor, eu serei juiz depois desembargador”. Eu achava interessante o seu afinco e dedicação por essa carreira e o admirava.

O tempo passou eu mudei de cidade e ele seguiu seu caminho. Após 10 anos o reencontrei em um Congresso de direito na Unitau em Taubaté, ele já estava com 27 anos e, há dois, era o juiz de uma das cidades do Vale do Paraíba. Todo alegre veio me abraçar e dizer de suas conquistas. Saímos para tomar um café e colocar a conversa em dia. Foi então que tive a curiosidade de perguntar se ele era feliz na carreira que havia escolhido? E para minha surpresa qual foi a resposta? Não! Ele disse que não era feliz, pois tinha uma vida regrada e com muito trabalho, sem amigos, mas as regalias compensava o esforço. 

E evidente que não vou dizer o seu nome por razões óbvias, mas posso dizer que ele já foi nomeado desembargador. Por que estou falado isso? Na verdade um fato me chamou atenção recentemente: Os gastos com salários no Poder Judiciário brasileiro cresceram 1348% nos últimos 20 anos. 200 milhões de reais são gastos mensalmente com o auxílio-moradia dos juízes, ainda que este tenha permanecido sem votação a quase três anos. 20,6 bilhões sustentam os outros dois poderes por um ano. O Judiciário custa nada menos do que 61 bilhões.

A palavra privilégio se origina do latim privilegium, que significa “lei aplicada a apenas uma pessoa ou a um pequeno grupo”, da junção de privius (individual, pessoal), mais lex, (lei). O Brasil é o retrato mais caricato de uma burguesia retrógrada que constrói mecanismos sociais para manter os seus privilégios à custa das classes menos favorecidas. O último destes mecanismos empregado pela burguesia brasileira foi a narrativa da “luta contra a corrupção”, com a consequente criação de ícones no judiciário, com representações de heroísmo e messianismo.

Para se ter uma ideia dos privilégios obtidos pelo judiciário brasileiro, 26 ministros de tribunais superiores recebem auxílios-moradia mesmo sendo proprietários de imóveis em Brasília. Recentemente, o juiz da 7ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, Marcelo Bretas, foi à Justiça para receber dois auxílios-moradia (ele é casado com uma juíza e, de acordo com resolução do CNJ, neste caso, não poderia receber o benefício). Milhares de casos como este ocupam as mesas dos tribunais pelo Brasil afora.

O poder é o 70º mais lento entre 133 países, ainda que consuma - somado ao Ministério Público - o equivalente ao gasto federal com Educação e quatro vezes maior do que o gasto alemão. A lentidão do nosso sistema se deve ao fato de cada juiz possui uma carga de 6931 processos por ano, pois existem apenas 8,2 juízes por 100 mil habitantes por aqui, um pico mais de 16 mil magistrados.

Apenas o auxílio-moradia dos 16 mil juízes custou o mesmo que 15% dos gastos com 51 milhões de beneficiários do Bolsa Família. Vale lembrar que tal auxílio é conferido para uma função que subsidia em média com 25 mil reais mensais. 99,5% dos brasileiros ganham menos do que um juiz. Temos 207 milhões de habitantes, apenas 1 milhão ganha o mesmo ou mais do que os magistrados.

O nepotismo e o patrimonialismo, resquícios ainda presentes em nosso país e cruelmente presentes em uma questão tão próxima do cotidiano como a justiça são facilmente demonstrados ao observarmos o background de Gilmar Mendes. Sua família foi capaz de emplacar ao menos dez membros no sistema de justiça.

Habeas corpus conferidos para familiares e banqueiros, parentes próximos em renomados escritórios de advocacia e filhos em casamentos com potências do setor privado são apenas alguns dos exemplos da rede criada para manter o poder sempre no alcance das mãos. 

O grande número de escândalos tanto no Executivo quanto no Legislativo fez com que a população colocasse bastante fé em uma resolução messiânica baseada no único poder independente do voto. A Judicialização da política é um fenômeno persistente e não envolve os canais de participação política convencionais.

Não sou contra um membro do poder judiciário ter uma remuneração justa pelo seu trabalho, assim também acho que deveriam ser bem remunerados: professores, enfermeiros, policiais, empregadas domesticas, pedreiros etc... O que eu não considero razoável são os membros do judiciário, a despeito de todas as regalias que já possuem, ainda fazerem jus ao “auxilio creche” quando o artigo 205 já estabelece que: "A educação, direito de todos e dever do Estado". Alguns poderiam justificar tal auxilo citando a super lotação da nossas creches: Opa!..Peraí! Mas se as creches públicas não conseguem atender os "honoríficos" filhos do senhores juízes, também não conseguem atender os filhos do Sr.Manoel, porteiro, que ganha 980,00 por mês. Afinal não é a mesma Constituição, que Suas Excelências defendem com tanta volúpia, que diz em seu artigo 5 : "somos todos iguais perante a Lei?" Ah me esqueci!!.. Estamos no Brasil e aqui existem os mais iguais.

Ao confrontar tais dados, é difícil manter a fé de que os magistrados e os burocratas do Poder realmente se preocupem em mudar o sistema atual ou fazer parte dele.


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-Fontes de consulta

-CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. Justiça em Números permite gestão estratégica da Justiça há 10 anos. Disponível em: http://www.cnj.jus.br/noticias/cnj/79579-justica-em-numeros-permite-gestao-estrategica-da-justica-ha-10-anos Acesso em 22/04/2018. 

-UFPR. O custo da Justiça no Brasil: uma análise comparativa exploratória. Disponível em: http://observatory-elites.org/wp-content/uploads/2012/06/newsletter-Observatorio-v.-2-n.-9.pdf Acesso em 22/04/2018

-ESTADÃO. Justiça do Trabalho custa R$ 61,24 a cada brasileiro. Disponível em: http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,justica-do-trabalho-custa-r-61-24-a-cada-brasileiro-imp-,758497 Acesso em 22/04/2018. 

-GAZETA DO POVO. Desembargador defende auxílio-moradia para ir a Miami comprar terno. E para não ter depressão. Disponível em: http://www.gazetadopovo.com.br/blogs/caixa-zero/desembargador-defende-auxiliomoradia-para-ir-a-miami-comprar-terno-e-para-nao-ter-depresao/   Acesso em 22/04/2018.



sexta-feira, 1 de junho de 2018

ENEM 2018 - 30 Anos da nossa Constituição

OS 30 ANOS DA CONSTITUIÇÃO CIDADÃ.

Por Alacir Arruda

No dia 5 de outubro desse ano a nossa  Constituição  completará 30 anos de vigência exatamente num contexto histórico em que o Brasil experimenta sua maior crise constitucional desde 1988. É necessário, então, compreender as dimensões da crise, as perspectivas para o futuro e as alternativas disponíveis.

O conceito de crise já perdeu muito de seu componente de excepcionalidade. A gradativa normalização do conceito – fala-se a todo momento em crise política, crise econômica, crise de valores, crise da civilização – tem duas consequências: uma espécie de banalização da ideia de crise e uma certa opacidade do conceito. Nem sempre é fácil separar o normal do extraordinário; aumenta o uso da noção de “crise estrutural”, que por si só desafia a excepcionalidade da situação de crise e permite antever que o mundo político e institucional moderno contempla essa ideia desde suas primeiras manifestações. Em outras palavras: viver sob o desenho institucional construído a partir da modernidade significa estar sujeito a constantes crises. Uma delas é a crise constitucional.

É natural – e até previsível – que as democracias contemporâneas vivam, de tempos em tempos, situações de incerteza e instabilidade. A princípio, as constituições são soluções para as crises políticas – elas indicam o espaço de atuação dos poderes constituídos, estabelecem limites e formas de controle entre poderes. Entretanto, em determinadas circunstâncias, as crises políticas podem levar a uma crise constitucional.

Isso ocorre quando se manifesta a ampliação do espaço de deliberação disponível, com base na constituição então vigente, aos atores e instituições da política e do direito. A crise política assume, assim, uma dimensão constitucional. Ela inclui uma crise da função da constituição, ou seja, a crise apresenta-se quando a constituição é colocada à prova, e os procedimentos ordinariamente disponíveis para o enfrentamento de impasses e discordâncias não são suficientes para resolver o impasse político. Ao persistir a situação de conflito, novas possibilidades são cogitadas e testadas por atores e instituições. Com isso, abre-se o risco de que a solução proposta atinja o núcleo da constituição da comunidade política, a saber, alguma das opções fundamentais contidas no documento constitucional.

A crise constitucional em que estamos inseridos, e que ficou evidenciada cerca de dois anos atrás, ao tempo do procedimento de impeachment da então presidente da República Dilma Rousseff, tem uma característica distintiva: ela é uma crise desconstituinte. Desde 2016, algumas ações adotadas pela coalizão política que se formou para viabilizar o impeachment e sustentar o governo Temer possuem um núcleo comum: a deliberada desfiguração do quadro de direitos fundamentais que é o núcleo da Constituição de 1988.

A promulgação da Emenda Constitucional nº 95, que fixa o teto dos gastos públicos, assim como a aprovação da Lei nº 13.467/2013, a chamada "reforma trabalhista", são exemplos concretos de um movimento de reação contra a Constituição de 1988, pois subtraem, de forma clara e direta, o direito das próximas gerações de deliberar sobre as modalidades de gasto dos recursos públicos (inviabilizando a concretude de direitos e garantias estipulados ao longo do texto constitucional), e flexibilizam ao extremo o núcleo da proteção social ao trabalhador que a Constituição de 1988 estabeleceu com inegável centralidade.

Podemos identificar, entre várias possibilidades, dois desfechos possíveis para a crise constitucional desencadeada em 2016. O primeiro deles é um gradativo esvaziamento da Constituição de 1988 que conduza a um estado de obsolescência. Se os movimentos desconstituintes persistirem, e novos ataques forem dirigidos ao núcleo do texto ora vigente, não mais será possível restaurar um mínimo padrão de estabilidade institucional, e com isso a história que se iniciou em 5 de outubro de 1988 terá chegado ao seu termo final.

-Esse desfecho, porém, não é inevitável e ainda não se configurou.

Desde 1988, o Brasil enfrentou algumas crises políticas e experimentou uma razoável alternância no comando do Poder Executivo federal. A Constituição de 1988 esteve à altura desses desafios – ela forneceu o quadro institucional que permitiu, nos anos de 1995-2002 (era FHC), a aprovação de emendas constitucionais que modificaram elementos da economia e da administração pública com o objetivo de implementar reformas liberalizantes e que diminuíram a presença do Estado na economia e na vida social. No período compreendido entre 2003 e 2014 (era Lula-Dilma), a Constituição absorveu as modificações relacionadas a políticas sociais inclusivas, como a ampliação de direitos sociais (EC nº 72) e a política de valorização do salário mínimo.

A Constituição de 1988 possui, portanto, um grau de abertura suficiente para sustentar o equilíbrio institucional necessário a uma democracia contemporânea. Não há, assim, um vício de origem no desenho constitucional de 1988, que justifique a sua redefinição ou a substituição do texto constitucional. Isso permite afirmar que um segundo desfecho para a atual crise é possível e desejável. Ele envolve, antes de tudo, a retomada do compromisso com o sistema de regras e princípios presente na Constituição em vigor.

As constituições democráticas são marcadas por uma abertura para o futuro. São documentos constitucionais que devem ser apropriados por gerações que se sucedem na experiência histórica de uma comunidade política. Essas gerações são responsáveis pela tarefa de conceder sentido e atualização a determinados preceitos originais do texto. No caso brasileiro, em que a Constituição de 1988 afirmou o processo de redemocratização após uma longa ditadura, e no qual persistem índices alarmantes de desigualdade (que aumentaram, aliás, na atual crise constitucional), dois daqueles preceitos originais permanecem atuais: liberdade e igualdade. As gerações sucessivas terão, contudo, uma tarefa adicional, que é a de restabelecer a ordem constitucional abalada com a crise que foi desencadeada em 2016. Para isso, será necessário contrapor uma resistência aos impulsos desconstituintes, sob a forma de um movimento. Um movimento reconstituinte.


Estudem esse tema se querem fazer o ENEM,  certeza ele que será explorado e aposto ate como tema da redação.


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