sábado, 9 de junho de 2018

ENEM 2018 - Nada mudou

Em 2008 tive a honra de ser convidado pelo Inep (Instituto Nacional e Ensino e Pesquisa) órgão que elabora o ENEM para compor um  grupo de  20 professores que foram a Brasilia ajudar a estruturar o chamado "Novo Enem". O governo PT -  sob a batuta do então  Ministro da Educação Fernando Haddad tinha - ideia de usar esse exame, antes com apenas 63 questão e usado única e exclusivamente para avaliar o ensino médio brasileiro, em uma  ferramenta politica inclusiva como hoje podemos constatar. Passados 10 anos desse fato,  tenho observado a evolução do ENEM e sua importância na vida de milhões de jovens, sobretudo os menos favorecidos,  que a cada ano se inscrevem com intuito de  mudar suas realidades. Nesse período tive a oportunidade  de montar vários Pre Enem gratuitos e  usar minha experiência como elaborador de Itens do Enem  para ajudar esses jovens:  alem disso fiz muitas palestras em escolas públicas e privadas de vários Estados alertando-os  sobre necessidade de mudarem seus Planos Políticos Pedagógicos  para atender as exigências do ENEM. É evidente que sofri muitas retaliações, e ainda sofro,  de professores, coordenadores e diretores que ainda imaginam que  essa aula conteudista serve para algo.

Escrevi o texto abaixo no dia 15 de agosto de 2013, na época eu já questionava esse modelo que ainda hoje persiste, onde o aluno e visto como um depósito  o professor detentor do conhecimento. Confiram..



POR QUE O ENEM ASSUSTA TANTO?

Por Alacir Arruda

Falta pouco para o Exame Nacional do Ensino Médio-2013 (Enem). Esse ano as provas serão nos dias 26 e 27 de outubro. Considero natural e justificável a ansiedade de alguns jovens quanto a essa avaliação por três razões básicas;

- 1º) o nosso jovem não é preparado para esse tipo de prova. Possuímos um currículo ultrapassado, engessado e conteudista onde o aluno é visto como um depósito de conhecimentos. Os professores vão “entupindo” matérias fragmentadas em suas cabeças depois cobram em provas sem qualquer contexto, ou seja, tudo aquilo que o ENEM condena.
-2º) os professores, viciados nesse modelo bancário conteudista, não conseguem estabelecer relações, construir pontes ou contextualizar suas disciplinas aos moldes do que exige a matriz ENEM, alguns por comodismo e outros porque desconhecem mesmo o ENEM.

-3º) somos um país que, culturalmente, não possui o hábito da leitura e o ENEM exige do aluno o domínio dessa competência. Todos os Itens do ENEM possuem; texto base, enunciado, distratores e alternativas. Sendo que o texto base é 50% a 80% da resposta correta. O problema está justamente ai, nosso aluno lê, mas não compreende. Muito menos consegue contextualizar aquilo que leu. Isso ocorre pelo fato de sermos o país que menos lê na américa latina e um dos mais atrasados nesse quesito no mundo. Querer que um aluno, hoje com 17- 18 anos, que teve como literatura mais importante nos últimos 5 anos “Crepúsculo, Lua Nova e Amanhecer” saia bem no ENEM é um tremendo engodo.

O que eu defendo, e há mais de 6 anos venho sofrendo severas criticas por isso, é que as escolas, sobretudo as privadas, comecem ( pra ontem) o processo de transição do vestibular tradicional -QUE NÃO EXISTE MAIS- salvo uma meia dúzia de faculdades no Brasil, para o PRÉ-ENEM, ou seja que os cursinhos preparem seus alunos para o ENEM que hoje é aceito como requisito único em 93% das federais brasileiras e as a outras 7% ate 2016 estarão nesse grupo, inclusive USP e UNICAMP. O que não pode é o que ocorre hoje, o aluno que vai prestar só ENEM fica como um bobo alegre nas aulas, uma vez que ele não consegue estabelecer conexão entre aquilo que é ensinado e as questões do ENEM. 

Mas para que isso ocorra, faz se necessário que escolas se reinventem, aprendam a aprender, uma vez que precisam preparar seus professores, capacita-los a partir da plataforma ENEM e suas matrizes. Quando coordenei algumas escolas em SP tive a oportunidade de colocar em pratica esse modelo. Escolhia algumas aulas de forma aleatória, colocava em sala de aula 4 professores, sorteava um tema qualquer, como por ex: II Guerra Mundial que pode, a principio, ser uma tema de história, mas se aplicarmos as matrizes do ENEM ele se transforma em um tema interdisciplinar, ou seja, o prof. de história abre a aula, contextualizando todo processo histórico do período, o de geopolítica contextualiza todos os interesses e etnias envolvidas, o de física trata da balística (ótica), movimentos, fissão e fusão nuclear e o de química analisa a composição dos gases que foram utilizados pelo regime nazista no processo de limpeza étnica praticado contra judeus e outras etnias. A aula fica interessante, não é maçante para o aluno visto que, em 1 hora, 4 professores falam no máximo 15 minutos. Isso faz com que aluno, perca o medo e comece a entender o que é o ENEM, que tem como função principal inter-relacionar o conhecimento. Eu fiz isso em 2013, é possível sim.

A pergunta que não quer calar:  estarão as escolas dispostas a isso?? Ou preferem a zona de conforto estabelecido por um modelo Anglo-Saxão de perguntas e respostas desconexas que tem dominado a educação privada no Brasil há mais de 60 anos? Não tenho dúvida que a primeira que realizar essas mudanças será destaque e vanguarda no Brasil. Aquelas que recusam tal sistema e que assentam-se sob a égide do tradicionalismo estão fadadas ao fim....

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2 comentários:

  1. Caro professor, tive o prazer de participar desses seus projetos de Pre Enem em 2013 no Afirmativo de Cuiabá, me recordo que éramos 19 alunos e todos , sem exceção, passaram em Federais sendo 9 deles em medicina. Eu sou prova viva disso em dezembro do ano que vem (2019), se tudo correr bem e não tiver greve, me formo em Medicina na UFRJ e deve muito a você isso. Sinto muito você não ser compreendido por essas escolas que mais deturpam que ajudam os nossos jovens. Mas sei que vc e um lutador e continuará pregando aquilo que acredita e ajudando pessoas como eu. Bjs (Natália Gomes) - P.S: Minha mãe esta com saudade de vc visita ela.

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    1. O Natália fico feliz pelo seu sucesso, o Hugo a Paola e a Tayana, que na Unesp, tbm se formam ano que vem e o pessoal que escolheu engenharia como o Paulo a Denise a Karine e a Ana já se formaram e o pessoal que fizeram Direito já estão advogando. Fico muito feliz por vocês e espero que sejam profissionais que façam a diferença, alias, não sei se você lembra, mas a única coisa que eu pedia a vocês era isso:"façam a diferença", não importa a carreira que escolham, façam a diferença. Quanto sua mãe, vou sim visitá la, afinal nunca comi um pão de queijo igual. Sucesso.

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