sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

sucateando a nação



 BRASIL: UMA INVERSÃO TOTAL DE VALORES

 Por Alacir Arruda
  
Como filósofo, sociólogo e cientista político  sou a favor da secessão individual, ou seja, “porcamente explicando”, que cada um seja sua própria nação se assim quiser. Contudo, o que temos atualmente é um país,  no qual todos somos obrigados a fazer parte. Bem, a partir do momento que há essa obrigação e que não há possibilidade de secessão, ou sequer uma perspectiva de longo prazo, precisamos pelo menos viver em uma nação minimamente digna.

Infelizmente o Brasil é o contrário do que podemos chamar de “nação digna”, pois os valores essenciais para a convivência civilizada foram esquecidos e substituídos por arremedos de valores.

No Brasil atual a ética e a moral estão de tal maneira distorcidas que indivíduos viram heróis por fazerem nada além de suas estritas obrigações, como Joaquim Barbosa ao comandar o Supremo exigindo punição aos corruptos, ou Sergio Moro por colocar políticos criminosos na cadeia. Ora, essa é uma das obrigações deles como juízes que  nada fizeram além de cumprir a Lei. Porém, no país da malandragem e onde os conchavos substituíram o trabalho honesto e a integridade moral, um ato de responsabilidade pode até parecer de extrema coragem.
Vemos o sucateamento da moral e da ética, por exemplo, em discursos contraditórios do dia a dia, como: “você viu que X achou um celular e devolveu para o dono?”, “Nossa, quanta honestidade, está certo, tem que devolver…”, “Você devolveria?”, “Eu não, pois achado não é roubado”. É o império da hipocrisia.

A honestidade causa espanto, enquanto os crimes não chocam mais. A desonestidade e a malandragem viraram parte comum do cotidiano do brasileiro. Já admitimos abertamente votar em candidatos “menos piores”, ou até “que roubam menos”, pois junto com esse sucateamento da nação, vem a desesperança e até certo comodismo, ou preguiça de mudar algo. “Deixa como está. Não está bom, mas não está tão ruim”.

Quem busca ter uma vida honesta é considerado “trouxa” no Brasil. Fez o trabalho da escola, ou universidade, corretamente e sem “encheção de lingüiça”, nem o copia e cola da internet? Trouxa! Devolveu o dinheiro que viu cair do bolso de outra pessoa? Trouxa! Claro, que esse “trouxa” é sempre acompanhado de uma expressão de espanto pela “boa ação”, que não passa de cumprir com sua obrigação moral e/ou ética.

Não tentar levar vantagem sobre tudo e todos causa espanto e gera desconfiança, afinal, “o que você está querendo sendo tão honesto assim?”. Houve uma flagrante inversão, onde a desconfiança recai sobre o indivíduo honesto, enquanto o desonesto é até encorajado.
Estamos produzindo falsos heróis, baseados no espanto e aversão à responsabilidade, honestidade e integridade, causados pela carência de valores concretos e não relativizados de açodo com o que for conveniente, mas também por um projeto de sucateamento desses valores, que iniciou há mais de 60 anos, no Brasil, e atualmente está em seu auge.

Setores fundamentais da sociedade como educação, cultura, acesso a informação, jornalismo e mídia, saúde, política, etc, passaram (e ainda passam) por um processo de domínio e aparelhamento ideológico, advindo de um projeto de doutrinação em ampla escala, consideravelmente atuante desde os anos 50 do século XX, que tem por objetivo coletivizar e alienar as consciências individuais, destruir o próprio indivíduo e sucatear os valores éticos, morais e cívicos, transformando os cidadãos em uma grande massa burra, distorcida e que acha Valeska Popozuda uma grande pensadora moderna, enquanto chamam:  Mises, Hayek, Hoppe, J. O. de Meira Penna e tantos outros, de “velhos”, “coxinhas reacionários” e “elitistas”; que chamam MC Gui de gênio e Beethoven de “chato”, “ultrapassado” e “coisa de burguês, pois povão gosta é de funk”.

Nada contra os gostos individuais, pois cada um tem o direito à individualidade. Contudo, não posso deixar de observar o sucateamento promovido pelo projeto citado e que está diretamente relacionado com a disseminação desses gostos individuais como parâmetros do “bom gosto”, da “modernidade” e da construção/definição de uma cultura nacional e de valores distorcidos, seletivos e contraditórios.


3 comentários:

  1. Dizer o quê? Parabens Alacir.

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  2. VOCÊ VISLUMBRA ALGUMA SAÍDA ALACIR? Pamela-DF

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  3. Excelente leitura, desde que passei a seguir e ler este blog não passo mais tempo na frente da televisão que só apresenta desinformação!!! SD Figueiredo. Cuiabá-MT

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