quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

ENEM: a parcela de culpa dos pais

ENEM: O FRACASSO COMEÇA EM CASA

Por Alacir Arruda

E possivel listar no  mínimo, 30 motivos óbvios  para que se explique o fiasco na última prova do ENEM, em que mais de 500 mil alunos tiraram zero em Redação (isso mesmo, zero!).

Falta de investimentos em escolas públicas é um deles. No entanto, para mim, esse argumento não cola. Trabalhei,  anos, em escolas particulares em Sao Paulo e Rio de Janeiro. E digo, com certeza, que a falta de leitura, a falta de hábito da escrita e a falta de compromisso com as notas altas não são exclusividades da escola pública.

Corrupção (é claro!), descaso com a educação, aprovação automática, materiais didáticos mal elaborados, professores desmotivados e mal remunerados, governo preocupado com estatísticas e o tema da redação, o qual teria sido muito complexo, este – confesso – a desculpa mais esfarrapada… Todos esses, e muitos outros, são motivos sociais que – claramente – existem no Brasil e que contribuem para o fracasso no processo educacional. Contudo, tenho uma novidade: educação é um complexo processo que envolve diversos atores, a escola é um deles. Há um ator fundamental que ainda não foi mencionado no texto: OS PAIS.

“Meu Deus… meu filho é um fracasso e eu tenho parcela de culpa?” Sim, claro que sim. Os pais, primeiramente, escondem-se naqueles motivos supracitados – os motivos sintomáticos que são de responsabilidade dos governos. Entretanto, não percebem que não incentivam os filhos a ler (talvez por não terem o hábito de ler), deixam seus filhos à mercê dos ensinamentos turvos fornecidos por programas de TV e novelas, presenteiam seus filhos com celulares de última geração – sem que algum sucesso seja exigido em troca -, smartphones nos quais os jovens passam simplesmente o dia todo (como vou estudar? Se o whatsapp está bombando). Você, que está me lendo, passa o dia no celular, imaginem os adolescentes…

Os pais não punem mais os filhos por constantes notas baixas, os pais sequer os culpam (a culpa é da escola, do professor, que é um chato rigoroso). O grande problema é que os pais de hoje são os filhos dos filhos da ditadura de ontem. Eles têm medo de punir, de gritar, de reprimir, de castigar, de cobrar. Criam filhos em uma redoma de impunidade, a qual certamente gera péssimos alunos e cidadãos introspectivos (e o bom-dia do elevador vai morrendo).

Sou professor universitario e perguntem, por favor, a QUALQUER professor universitário sobre a qualidade dos textos dos seus alunos  e vejam-no cobrindo o rosto com as duas mãos, jogando levemente a cabeça para trás. A faculdade é, então, a última etapa na vida profissional de um aluno. A partir de então, ele será o médico, o professor, o engenheiro… Durante a faculdade, aqueles famosos déficits, por meio dos quais vocês sempre justificaram a rotina de insucessos dos seus filhos, serão os grandes geradores de um péssimo profissional no futuro. Imaginem um médico errando em uma cirurgia, indo à mídia e dizendo: “é que eu tenho problema de atenção desde pequeno…”. A vida não costuma perdoar, como nossos pais.

O que ocorre em casa – e vai dentro da mochila com o aluno para a escola – é um terrível déficit de interesse, na verdade. Falta de interesse em tudo que seja livro, letra, papel, caneta, caderno. Estamos na pior época no quesito alienação, e cabe à família proteger seus filhos do fracasso. O bom resultado na escola será uma linda consequência de um dia a dia de treinamentos. Confesso que NUNCA esperarei dos políticos uma consciência de que educação passe a ser a prioridade, eu espero isso dos pais. Os políticos não amam nossos filhos, nós os amamos. Seus filhos não precisam ler Machado de Assis, eles precisam LER! Ler inclusive livros sobre jogos de videogame. Eles podem ser o pontapé inicial de uma vida literária ativa.


Como professor de humanidades, porém um grande admirador da língua portuguesa,  sinto-me na obrigação de produzir um novo texto falando sobre os aspectos linguísticos envolvidos nessa problemática. Continuarei o assunto com um teor mais técnico, mais textual. Vamos continuar a ousadia de pensar!


Observação: Como a interpretação também é algo problemático no meu país, afirmo a quem estiver me lendo que não desconsidero a existência do Déficit de Atenção clínico. Ele existe. Meu medo é quando ele é diagnosticado a quem claramente não possua tal problem
a.

2 comentários:

  1. Meu pai nunca foi na minha escola professor. E minha mae so em reuniao de pais, memso assim apressada. Pegava minha nota e vazava. Concordo com s eu texto. Abs. Paulo Vinicios- Cuiaba

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  2. Pura verdade. Alias, dura realidade brasileira. Li um texto seu em que vc diz que na Alemanha eles ralam,ralam, 8 horas por dia para depois um ignorante qualquer chama los de gênios. Na verdade nao é questão de genialidade, é trabalho. Abs.

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