MUITO PRAZER: RICARDO VÉLEZ MINISTRO DA EDUCAÇÃO.
Por Alacir Arruda/ Dados da Uerj
Quem teve acesso a Revista Veja desta semana e leu a entrevista do atual ministro da educação, o teólogo colombiano
Ricardo Vélez , deve ter ficando pasmo
com tantas “asnices” que esse senhor pronunciou. Mas quem é Ricardo Velez? Fui pesquisar e encontrei sua origem: Ricardo Vélez Rodríguez nasceu em Bogotá, Colômbia, aos 15 de novembro de 1943 é um teólogo,
filósofo, ensaísta e professor colombiano naturalizado brasileiro. É o atual
Ministro da Educação do Brasil. Suas visões políticas são descritas por algumas
fontes como de extrema-direita.
Uma pergunta urge: onde
Bolsonaro foi encontrar essa figura para comandar a educação brasileira? ...Bingo...
Se respondeu no Exército. É obvio que foi na caserna, é de lá que ele governa.
Com todo respeito que o seu
cargo aduz, mas esse senhor é um lunático; vejam o que ele defende nessa entrevista: Implementar
nas escolas a disciplina de Educação Moral e Cívica, que foi extinta em 1985 com o fim do Regime
Militar. Alguém tem noção do que é isso
representa? Em pleno século XXI, século do
conhecimento em que nossos alunos
conversam com um australiano em frações de segundos de dentro da sala de aula,
por seus smart phones, voltar uma disciplina que nos remete ao período medieval?
Uma disciplina que assustava os alunos e professores na década de 70, pois era ministrada, em
alguns casos, por militares fardados e exaltados usando como ferramenta didática
a palmatória. Os alunos (eu passei por isso) eram obrigados a cantar o hino nacional em cada
entrada de turno, num sol de rachar. Parece cômico, se não fosse trágico..
Na sua entrevista a Veja ele
ainda disse que o acesso a universidade não é para todos, que o meio acadêmico está
circunscrito a intelectuais e pessoas que estejam dispostas a se dedicarem aos
estudos e a pesquisa, que a grande
maioria deveria dar por satisfeita com o Ensino Médio ou Técnico. Para justificar
ele afirmou que, não faz sentido um advogado estudar anos para virar motorista
de Uber. Nada contra o Uber, mas esse cidadão poderia ter evitado perder seis
anos estudando legislação”, diz. Para o novo comandante do MEC, o retorno
financeiro dos cursos técnicos é maior e mais imediato do que o da graduação, o
que pode a diminuir a procura por ensino superior no Brasil”. Como pode isso um
Ministro de Educação dizer isso? Sua fala fere a Constituição, que no seu artigo 205 preconiza a Educação como sendo um “direito de
todos e um dever do Estado”.
E como desgraça pouca é bobagem
ele fechou com chave de ouro o rol de ofensas, segundo o novo Ministro da Educação
do Governo Bolsonaro Ricardo Vélez, “os brasileiros que viajam para o exterior são
conhecidos internacionalmente como ladrões”; roubam os hotéis onde ficam
hospedados, e ate assento de avião. Isso
mesmo assento de avião (gostaria de saber
como eles saem do avião com o assento).
O professor Anísio Teixeira
(1900-1971), um dos maiores educadores brasileiros de todos os tempos, cujo
nome empresta respeitabilidade ao INEP – instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, deixou-nos importantes reflexões sobre
a Universidade. Em um importante texto, publicado originalmente pela “Revista
Brasileira de Estudos Pedagógicos”, em 1964, depois de empreender um singelo
bosquejo sobre a história da universidade nos diz que: “Até aí a missão da
universidade era a da guarda e transmissão do saber, como condição para a ordem
e a civilização. Eminentemente seletiva, orgulhava-se de poucos alunos e da
alta qualidade dos seus intelectuais e eruditos. Era a casa do intelecto, a
torre de marfim de uma cultura fora do tempo. Foi essa universidade que começou
a transforma-se com as três revoluções do nosso tempo: a revolução científica,
a revolução industrial e a revolução democrática”. (Grifei). (Anísio Teixeira.
A Universidade de Ontem e de Hoje. Editora UERJ, 1998).
Há 55 anos o Professor Anísio
Teixeira já nos ensinava que a ideia de um ensino superior, nos moldes
preconizados pelo atual ocupante da pasta da Educação, já era antiquada,
arcaica e obsoleta, ou seja, de viés elitista (eminentemente seletivo),
destinada e composta por intelectuais e eruditos, uma espécie de casta
sapiencial, encerrada em sua torre de marfim, constituindo um mundo à parte,
descontextualizado e desconectado das questões e demandas sociais e em
descompasso com o tempo que se descortinava, com as revoluções científica,
industrial e, principalmente, democrática.
O UNESCO tem realizado, com
periodicidade decenal, Conferências Mundiais sobre Educação Superior, cuja
próxima ocorrerá em Paris, em meados deste ano de 2019.
Em outubro de 1998, na sede da
UNESCO em Paris, ocorreu a penúltima edição de mais uma conferência mundial,
cujo foco foi “A Universidade no Século XXI” e da qual resultou a “Declaração
Mundial Sobre Educação Superior no Século XXI: Visão e Ação”.
No discurso de abertura da
referida Conferência o Diretor Geral da Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO – Frederico Mayor assevera ser missão
da Educação Superior: “Formar os cidadãos do mundo de amanhã, cidadãos
autônomos, críticos, polivalentes, criativos, capazes, em uma palavra, de
discernir os múltiplos desafios que o século XXI certamente trará. Dotar a
todos de meios para formar tais cidadãos: eis a missão dessa conferência”.
(Grifei). (Frederico Mayor. Visão e Ação: A Universidade no Século XXI. Editora
Uerj, 1999).
Regressemos à fala do Ministro
da Educação e sua investida contra o “Programa Educação Para Todos – Pro-Uni”.
Esse programa foi criado para facilitar o acesso dos menos favorecidos ao
Ensino Superior. O Pro-Uni é uma política educacional, implementada pela Lei
11.096/2005, voltada ao segmento da Educação Superior, possuindo como uma de
suas premissas fundamentais a democratização do acesso, realizando a concessão
de bolsas de estudos para estudantes de cursos de graduação e sequenciais de
formação específica em Instituições de Ensino Superior (IES) privadas em todo o
país.
O aludido programa, como tudo
que é tocada por nossa condição humana, apresenta pontos que atraem criticas e
vários outros dignos de efusivos aplausos. O que é desejável seria identificar
eventuais falhas, acaso existentes, nesta uma década e meia de sua implantação,
e corrigi-las, aperfeiçoando ainda mais o programa, principalmente como instrumento
de acesso das camadas mais populares e excluídas socialmente à Educação
Superior de qualidade.
É possível constatar que a
postura elitista e excludente do Ministro Vélez Rodríguez não encontra
ressonância nem sequer nos primórdios do ensino superior, na Idade Média. Como
sabemos, a universidade é uma invenção da Europa medieval. A universidade de
Bolonha é considerada a primeira universidade do mundo ocidental, criada baixa
Idade Média, no ano de 1080 e nem ela, naquela época, aceitaria um discurso tão
fora de contexto como esse do Sr. Vélez.
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Excelente texto Alacir. muito esclarecedor, estamos cada vez mais no retrocesso da educação. É isso mesmo as estratégias do governo , "povo intelectual e perigoso" então e somente uma parcela da população que terá acesso. Adorei o texto. Vou compartilhar.
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