A MORTE DE BOECHAT: MAIS UMA VOZ QUE SE CALA!
Por Alacir Arruda
Se já não bastasse a tragédia que são os nossos homens públicos, 2019 começa com um tsunami de negatividades: tragédias como a de Brumadinho, com mais de 300 vitimas, as chuvas da última semana que causaram pânico e morte no Rio de Janeiro e o incêndio
no Centro de Treinamento do Flamengo que vitimou 10 garotos tragicamente, hoje
11/02 /2019, somos sorvidos com a noticia da morte, igualmente trágica, do jornalista
Ricardo Eugênio Boechat. O que confirma esse início de ano como um dos mais trágicos
da historia do país.
Boechat era um daqueles
sujeitos que foi feito pelo “poder superior” e sua forma jogada fora, uma cara acima
da media no que tange ao jornalismo politico e do cotidiano, um gênio de seu
tempo com as palavras. Quando perdemos um jornalista do calibre de um Boechat a
sociedade se sente um pouco órfã, pois o domínio que o mesmo tinha com as
palavras, usadas em sua maioria em defesa
dos menos favorecidos, se enfraquece. Não e raro encontrar pessoas que admirava,
aliás, isso era muito fácil, pois sua capacidade de encantar era algo de outro
mundo. Um homem generoso com os pares e ácidos com os corruptos que, independente
de sigla partidária, batia com a mesma ferramenta pesada em todos. Boechat não se omitia quando o assunto era um
Brasil mais justo e honesto era intolerante
com o descaso de nossos políticos.
Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente
quando morava em São Paulo - 2010. A Faculdade em que trabalhava o convidou
para fazer uma palestra aos alunos de MBA em Administração Pública. Sentei no
fundo de um auditório absolutamente lotado, tinha umas 200 pessoas, e o
observei por uma hora e meia. Fiquei impressionado como a sua empatia e de como
as palavras se esvaiam de sua boca com uma singularidade única, mas aquilo que
mais me chamou atenção foi sua capacidade de interpretar o mundo. A sua visão geopolítica
era algo monstruoso, falava da miséria na África com a mesma capacidade que
analisava o crescimento chinês e o conflito na Síria, passando ainda pelos
ditadores das Américas Central e do Sul, além da crise imigratório na Europa Central – temas em evidência à época.
Nem todos sabem, mas ele
trabalhou na Globo por muitos anos, e a sua demissão em 2002 ocorreu em função dele
não abrir mão da sua liberdade de opinião. Ele era comentarista do Bom dia
Brasil e em determinado comentário, acabou por ferir interesses de poderosos influentes
junto ao Grupo Globo. Quando lhe foi solicitado uma retratação pelos seus superiores
o mesmo preferiu ser demitido a retirar o que havia dito, dando uma demonstração
clara de amor a um jornalismo livre de
censura e perseguição – coisa rara hoje em dia.
Boechat sempre dizia que, assim
como começou a trabalhar aos 16 anos vendendo livros, não tinha qualquer constrangimento
em voltar a fazê-lo, pois, para ele, empregos vêm e vão, mas o caráter, esse
sim, deve permanecer. Ele foi um dos últimos representantes de uma safra de jornalistas que não se intimidavam
com os donos do poder, eram atrevidos, e
com seus tinos jornalísticos ajudaram desvelar o véu que, durante décadas, cobriu a impunidade,
o fisiologismo e a falta de caráter dos nossos homens públicos mostrando a
verdadeira face de uma nação corrompida –aliás, alguns desses ainda estão por ai.
O Brasil esta mais pobre a partir
de hoje, pobre de conhecimento, pobre da “fala” pobre de opinião. O jornalismo perde um de seus baluartes e o Brasil perde uma pessoa do bem. Vai Boechat...!
Vai encantar outras plateias, como um dia me encantou. Vai ser a voz de outros
tantos que, como nós, víamos em você um digno representante. Vai encantar outros, mas saiba, o seu legado ficou e, quiçá, tenhamos alguém que, espelhado em você, seja a
voz desse povo sofrido.
Meus
sinceros sentimentos a família.
Bela homenagem prof. Concordo com suas palavras. O país ficou mais pobre de conhecimento. Grande perda. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluir'Obrigado professora, precisamos exaltar esse tipo de Brasileiro...Aliás ele argentino de nascimento mas um brasileiro por paixão...Abs
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