segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Boechat: Um dos ultimos

A MORTE DE BOECHAT: MAIS UMA VOZ QUE SE CALA!

Por Alacir Arruda

Se já não bastasse a tragédia que são os nossos homens públicos, 2019 começa com um tsunami de   negatividades: tragédias como a  de Brumadinho, com mais de 300 vitimas, as chuvas da última semana que  causaram pânico e morte no Rio de Janeiro e o incêndio no Centro de Treinamento do Flamengo que vitimou 10 garotos tragicamente, hoje 11/02 /2019, somos sorvidos com a noticia da morte, igualmente trágica, do jornalista Ricardo Eugênio Boechat. O que confirma esse início de ano como um dos mais trágicos da historia do país.

Boechat era um daqueles sujeitos que foi feito pelo “poder superior” e sua forma jogada fora, uma cara acima da media no que tange ao jornalismo politico e do cotidiano, um gênio de seu tempo com as palavras. Quando perdemos um jornalista do calibre de um Boechat a sociedade se sente um pouco órfã, pois o domínio que o mesmo tinha com as palavras, usadas em sua maioria em defesa dos menos favorecidos, se enfraquece. Não e raro encontrar pessoas que admirava, aliás, isso era muito fácil, pois sua capacidade de encantar era algo de outro mundo. Um homem generoso com os pares e ácidos com os corruptos que, independente de sigla partidária, batia com a mesma ferramenta pesada em todos.  Boechat não se omitia quando o assunto era um Brasil mais justo e honesto era intolerante  com o descaso de nossos políticos.

Tive o prazer de conhecê-lo pessoalmente quando morava em São Paulo - 2010. A Faculdade em que trabalhava o convidou para fazer uma palestra aos alunos de MBA em Administração Pública. Sentei no fundo de um auditório absolutamente lotado, tinha umas 200 pessoas, e o observei por uma hora e meia. Fiquei impressionado como a sua empatia e de como as palavras se esvaiam de sua boca com uma singularidade única, mas aquilo que mais me chamou atenção foi sua capacidade de interpretar o mundo. A sua visão geopolítica era algo monstruoso, falava da miséria na África com a mesma capacidade que analisava o crescimento chinês e o conflito na Síria, passando ainda pelos ditadores das Américas Central e do Sul, além da crise imigratório na  Europa Central – temas em evidência à época.

Nem todos sabem, mas ele trabalhou na Globo por muitos anos,   e a sua demissão em 2002 ocorreu em função dele não abrir mão da sua liberdade de opinião. Ele era comentarista do Bom dia Brasil e em determinado comentário, acabou por ferir interesses de poderosos influentes junto ao Grupo Globo. Quando lhe foi solicitado uma retratação pelos seus superiores o mesmo preferiu ser demitido a retirar o que havia dito, dando uma demonstração clara de amor a um  jornalismo livre de censura e perseguição – coisa rara hoje em dia.

Boechat sempre dizia que, assim como começou a trabalhar aos 16 anos vendendo livros, não tinha qualquer constrangimento em voltar a fazê-lo, pois, para ele, empregos vêm e vão, mas o caráter, esse sim, deve permanecer. Ele foi um dos últimos representantes de uma  safra de jornalistas que não se intimidavam com os donos do poder, eram atrevidos,  e com seus tinos jornalísticos ajudaram desvelar  o véu que, durante décadas, cobriu a impunidade, o fisiologismo e a falta de caráter dos nossos homens públicos mostrando a verdadeira face de uma nação corrompida –aliás, alguns desses  ainda estão por ai.

O Brasil esta mais pobre a partir de hoje, pobre de conhecimento, pobre da “fala” pobre de opinião. O jornalismo perde um de seus baluartes e o Brasil perde uma pessoa do bem. Vai Boechat...! Vai encantar outras plateias, como um dia me encantou. Vai ser a voz de outros tantos que, como nós, víamos em você um digno  representante. Vai encantar outros, mas saiba,  o seu legado ficou e, quiçá, tenhamos alguém que, espelhado em você, seja a voz desse povo sofrido.

 Meus sinceros sentimentos a família.



2 comentários:

  1. Bela homenagem prof. Concordo com suas palavras. O país ficou mais pobre de conhecimento. Grande perda. Parabéns pelo texto.

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    1. 'Obrigado professora, precisamos exaltar esse tipo de Brasileiro...Aliás ele argentino de nascimento mas um brasileiro por paixão...Abs

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