OS PROCESSOS DA NOSSA MENTE SEGUNDO FREUD..
Por Alacir Arruda.
Durante muitos anos tive a
honra de ministrar filosofia e
sociologia em diversos cursos de
psicologia. Lembro-me que quando ministrava aulas de Freud os alunos ficavam eufóricos. Muitos se apaixonavam, por esse autor, outros o odiavam, mas ninguém passava
por Freud com indiferença. Uma introdução que sempre usava quando entrava nesse
autor era essa: Imaginemos a seguinte
cena: Você é casado (a) e passa ao seu lado uma linda (o) mulher, (homem) daquelas (les) que a
televisão insiste em divulgar como modelo padrão. Segundo Freud, nesse momento você enfrenta três conflitos internos,
a saber:
1) a moral (Superego), como eu
posso olhar para outra mulher? Se fizer isso estarei traindo os juramentos que
um dia eu fiz a ela tendo Deus por testemunha. Não posso olhar;
2) a vontade (ID), caramba que
mulherão..Ah se eu tivesse uma dessas em
casa! Que mulher gostosa da p....:
3) a razão (ego), apesar dela ser bela, eu sou
um homem casado e devo respeitar minha esposa, portanto, posso ate olhar, mas
jamais cobiçar.
Para entender esse conflito o psicanalista austríaco, Sigmund Freud, distinguiu nossa consciência
em três níveis, na sua inicial divisão
topográfica da mente:
-
Consciente - diz respeito à capacidade de ter percepção dos
sentimentos, pensamentos, lembranças e fantasias do momento;
-
Pré-consciente - relaciona-se com os conteúdos que podem
facilmente chegar à consciência;
-
Inconsciente - refere-se ao material não disponível à
consciência ou ao escrutínio do indivíduo.
No entanto, o ponto nuclear da
abordagem psicanalítica de Freud é a convicção da existência do inconsciente
como:
a) Um receptáculo de lembranças
traumáticas reprimidas;
b) Um reservatório de impulsos
que constituem fonte de ansiedade, por serem socialmente ou eticamente
inaceitáveis para o indivíduo.
A perspectiva psicanalítica de
Freud surgiu no início do século XX, dando especial importância às forças
inconscientes que motivam o comportamento humano. Freud, baseado na sua
experiência clínica, acreditava que a fonte das perturbações emocionais residia
nas experiências traumáticas reprimidas nos primeiros anos de vida. Desta
forma, assumia que os conteúdos inconscientes, apenas se encontravam
disponíveis para a consciência, de forma disfarçada (através de sonhos e lapsos
de linguagem, por exemplo). Neste sentido, Freud desenvolveu a psicanálise, uma
abordagem terapêutica que tem por objetivo dar a conhecer às pessoas os seus
próprios conflitos emocionais inconscientes. Freud acreditava que a
personalidade forma-se nos primeiros anos de vida, quando as crianças lidam com
os conflitos entre os impulsos biológicos inatos, ligados às pulsões e às
exigências da sociedade.
Considerou que estes conflitos
ocorrem numa sequência invariante de fases baseadas na maturação do
desenvolvimento psicossexual, no qual a gratificação se desloca de uma zona do
corpo para outra – da zona oral para a anal e depois para a zona genital. Em
cada fase, o comportamento, que é a principal fonte de gratificação, muda – da
alimentação para a eliminação e, eventualmente, para a atividade sexual.
Das cinco fases do
desenvolvimento da personalidade, Freud considerou as três primeiras -
relativas aos primeiros anos de vida – como sendo cruciais. Sugeriu que, o fato
das crianças receberem muita ou pouca gratificação em qualquer uma destas
fases, pode levar ao risco de fixação – uma paragem no desenvolvimento – e
podem precisar de ajuda para ir para além da fase dessa fase. Acreditava ainda
que as manifestações de fixações na infância emergiam em adulto.
Segundo Freud, durante a fase
fálica, no período pré-escolar, quando a zona de prazer muda para os genitais,
ocorre um acontecimento-chave no desenvolvimento psicossexual: os rapazes
desenvolvem uma ligação ou vínculo sexual à mãe e as raparigas ao pai e veem
como rival a figura parental do mesmo sexo (denominado de “Complexo de Édipo”);
o rapaz aprende que a rapariga não tem pénis, assumindo que aquele foi cortado
e teme que o seu pai o possa também castrar. A rapariga, por sua vez, experiência,
o que Freud chamou de inveja do pénis e culpa a sua mãe por não lhe ter dado um
pénis. Possivelmente, as crianças resolvem a sua angústia identificando-se com
a figura parental do mesmo sexo. Durante o período escolar, fase da latência,
as crianças acalmam, socializam-se, desenvolvem competências e aprendem acerca de
si própria e da sociedade. A fase genital, a última fase subsiste pela vida
adulta. As mudanças físicas da puberdade reativam a libido, a energia que
alimenta as pulsões sexuais.
As pulsões sexuais da fase
fálica, reprimidas durante a latência, voltam a emergir para fluir de uma forma
socialmente aceite, naquilo que Freud definiu como relações heterossexuais com
pessoas forra da família de origem.
Freud
propôs ainda três hipotéticas instâncias da personalidade: o id, o ego e o
superego.
O ID é o reservatório
inconsciente das pulsões, as quais estão sempre ativas. Regido pelo princípio
do prazer, o ID exige satisfação imediata desses impulsos, sem levar em conta a
possibilidade de consequências indesejáveis.
O ego funciona principalmente a
nível consciente e pré-consciente, embora também contenha elementos
inconscientes, pois evoluiu do id.
Regido pelo princípio da
realidade, o ego cuida dos impulsos do ID, logo que encontre a circunstância
adequada. Desejos inadequados não são satisfeitos, mas reprimidos. Apenas
parcialmente consciente, o superego serve como um censor das funções do ego
(contendo os ideais do indivíduo derivados dos valores familiares e sociais),
sendo a fonte dos sentimentos de culpa e medo de punição.
Obstáculo
ao Crescimento: a Ansiedade
Para Freud, o principal
problema da psique é encontrar maneiras de enfrentar a ansiedade. Esta é
provocada por um aumento, esperado ou previsto, da tensão ou desprazer, podendo
se desenvolver em qualquer situação (real ou imaginada), quando a ameaça a
alguma parte do corpo ou da psique é muito grande para ser ignorada, dominada
ou descarregada. As situações prototípicas que causam ansiedade incluem as
seguintes:
1. Perda de um objeto desejado
- Por exemplo, uma criança privada de um dos pais, de um amigo íntimo ou de um
animal de estimação.2. Perda de amor - A rejeição ou o fracasso em reconquistar
o amor, por exemplo, ou a desaprovação de alguém que lhe importa. 3. Perda de
identidade - É o caso, por exemplo, daquilo que Freud chama de medo de castração,
da perda de prestígio, de ser ridicularizado em público. 4. Perda de
auto-estima -. Por exemplo, a desaprovação do Superego por atos ou traições que
resultam em culpa ou ódio em relação a si mesmo.
A ameaça desses ou de outros
eventos causa ansiedade e haveria, segundo Freud, dois modos de diminuir a
ansiedade. O primeiro modo seria lidando diretamente com a situação. Resolvemos
problemas, superamos obstáculos, enfrentamos ou fugimos de ameaças, e chegamos
a termo de um problema a fim de minimizar seu impacto. Desta forma, lutamos
para eliminar dificuldades e diminuir probabilidades de sua repetição,
reduzindo, assim, as perspectivas de ansiedade adicional no futuro.
A outra forma de defesa contra
a ansiedade deforma ou nega a própria situação. O Ego protege a personalidade
contra a ameaça, falsificando a natureza desta. Os modos pelos quais se dão as
distorções são denominados Mecanismos de Defesa.
Mecanismos
de defesa
Mecanismos de defesa são
processos psíquicos inconscientes que aliviam o ego do estado de tensão
psíquica entre o id intrusivo, o superego ameaçador e as fortes pressões que
emanam da realidade externa.
Devido a esse jogo de forças
presente na mente, em que as mesmas se opõem e lutam entre si, surge a
ansiedade cuja função é a de assinalar um perigo interno. Esses mecanismos
entram em ação para possibilitar que o ego estabeleça soluções de compromisso
(para problemas que é incapaz de resolver), ao permitir que alguns componentes
dos conteúdos mentais indesejáveis cheguem à consciência de forma disfarçada.
No que toca ao fortalecimento
do ego, a eficiência desses mecanismos depende do nível de integração dessas
forças mentais conflituosas por parte do ego, pois diferentes modalidades de
formação de compromisso poderão (ou não) vir a tornar-se sintomas
psiconeuróticos.
Quanto mais o ego estiver
bloqueado em seu desenvolvimento, por estar enredado em antigos conflitos
(fixações), apegando-se a modos arcaicos de funcionamento, maior é a
possibilidade de sucumbir a essas forças.
Os
principais mecanismos de defesa são os seguintes:
1. Repressão - retirada de
ideia, afetos ou desejos perturbadores da consciência, pressionando-os para o
inconsciente.
2. Formação reativa - fixação
de uma ideia, afeto ou desejo na consciência, opostos ao impulso inconsciente
temido.
3. Projeção - sentimentos
próprios indesejáveis são atribuídos a outras pessoas.
4. Regressão - retorno a formas
de gratificação de fases anteriores, devido aos conflitos que surgem em
estágios posteriores do desenvolvimento.
5. Racionalização -
substituição do verdadeiro, porém assustador, motivo do comportamento por uma
explicação razoável e segura.
6. Negação - recusa consciente
para perceber fatos perturbadores. Retira do indivíduo não só a percepção
necessária para lidar com os desafios externos, mas também a capacidade de
valer-se de estratégias de sobrevivência adequadas.
7. Deslocamento - redirecionamento
de um impulso para um alvo substituto.
8. Anulação - através de uma ação,
busca-se o cancelamento da experiência prévia e desagradável.
9. Interjeição - estreitamente
relacionada com a identificação, visa resolver alguma dificuldade emocional do
indivíduo, ao tomar para a própria personalidade, certas características de
outras pessoas.
10. Sublimação - parte da
energia investida nos impulsos sexuais é direcionada à consecução de
realizações socialmente aceitáveis (e.g., artísticas ou científicas).
Em suma, a teoria de Freud
constituiu uma importante contribuição histórica. Fez-nos tomar consciência dos
pensamentos e emoções inconscientes, da ambivalência das relações precoces de
pais e filhos, e da presença, desde o nascimento, de pulsões sexuais. O seu
método psicanalítico influenciou muito a psicoterapia atual, embora a teoria
freudiana se inscreva largamente na história e sociedade da época (na cultura
europeia da época Vitoriana).
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