VENEZUELA: O PERIGO DE UM PRÓXIMO VIETNÃ.
Por: Alacir Arruda.
É BOM NÓS, BRASILEIROS, ABRIRMOS BEM OS OLHOS. A crise Venezuelana vem
ganhando, a cada dia, contornos de uma tragédia global. A fome fez os venezuelanos perderem, em média, 14 quilos em 2018. A
violência esvazia as ruas das grandes cidades quando anoitece. E a situação
provocou um êxodo em massa para países vizinhos. Em 2018, uma reportagem da BBC relatou a situação de
corpos que explodem nos necrotérios pela falta de eletricidade para
refrigeração e a briga do povo por algum produto alimentar em supermercados
vazios.
Não bastasse esse quadro de
caos, 2019 começa com o país tendo dois governantes. Um é o ditador Nicolas
Maduro, herdeiro de Hugo Chaves e que esta no poder desde sua morte em 2013, e foi reeleito
em 2018 numa eleição que foi colocada sob suspeita de fraude pelos organismos
internacionais. O outro é o atual Presidente da Assembleia venezuelana, Juan Guando,
que não aceitando mais um mandato de Maduro,
se autodeclarou Presidente em Janeiro
ultimo e recebeu apoio de algumas
potencias como; USA, França., Alemanha, Reino Unido Brasil entre outros.
Lembrando que Maduro tem o apoio de Rússia e China
A grande verdade é que a Venezuela
vive hoje a maior recessão de sua história: são 14
trimestres seguidos de retração econômica, segundo anunciou em dezembro a Assembleia Nacional, o parlamento
venezuelano, que atualmente é controlado pela oposição.
A dimensão do colapso pode ser
vista nos números do Produto Interno Bruto. Entre 2013 e 2017, o PIB
venezuelano teve uma queda de 37%. O Fundo Monetário Internacional prevê que,
neste ano, deve cair mais 30%.
A situação do pais vizinho foi amplamente
sido explorada na campanha eleitoral brasileira de 2018. Candidatos e eleitores
de oposição ao Partido dos Trabalhadores, que historicamente apoiou os governos
de Hugo Chávez e Nicolás Maduro, tentaram usar o fracasso venezuelano como
alerta do que poderia ocorrer no Brasil.
Mas
como a situação na Venezuela chegou a esse ponto?
Para entender o abismo em que a
Venezuela se encontra, faz-se necessário um resumo histórico desse que já foi o
pais mais rico da América do Sul na década de 80 e que tem a
maior reserva de petróleo do planeta, por isso o interesse das grandes
potencias.
1 - Crise do petróleo
A Venezuela tem as maiores
reservas de petróleo do mundo - e o recurso é praticamente a única fonte de
receita externa do país. Após a Primeira Guerra Mundial,
sucessivos governantes venezuelanos deixaram o desenvolvimento agrícola e industrial
de lado para focar em petróleo, que hoje responde por 96% das exportações - uma
dependência quase total.A aposta no petróleo foi segura
durante anos e deu bons resultados nos momentos em que o preço do barril estava
alto. Entre 2004 e 2015, nos governos de Hugo Chávez e no início do de Nicolás
Maduro - eleito em 2013 após a morte de seu padrinho político, no mesmo ano - ,
o país recebeu 750 bilhões de dólares provenientes da venda de petróleo.
O governo chavista aproveitou
essa chuva dos chamados "petrodólares" para financiar de programas
sociais a importações de praticamente tudo que era consumido no país. Mas, em 2014, o preço do
petróleo desabou. Em parte devido à recusa de Irã e Arábia Saudita - outros
dois dos grandes produtores - em assinar um compromisso para reduzir a
produção. Outros fatores foram a desaceleração da economia chinesa e o
crescimento, nos EUA, do mercado de produção de óleo e gás pelo método
"fracking" - o fraturamento hidráulico de rochas.
No início daquele ano, depois
de ter alcançado um pico de US$ 138,54 em 2008, o preço do barril de petróleo
era negociado a cerca de US$ 100 dólares e caiu pela metade no fim do ano,
mantendo essa queda significativa até este ano, quando voltou a atingir o
patamar de US$ 80.
Além de receber menos dinheiro
por seu principal produto, a Venezuela também teve uma queda significativa na
produção. Quando Chávez assumiu pela primeira vez o país, em 1999, a produção
era de mais de 3 milhões de barris por dia. Hoje, é de cerca de 1,5 milhão,
segundo a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) - é o pior
nível em 33 anos.
Essa queda de produção aconteceu
principalmente pela má gestão da PDVSA, a Petróleos de Venezuela, estatal que
gere a exploração do recurso no país com exclusividade. Em 2007, Chávez ordenou
que todas as empresas estrangeiras cedessem a maior parte do controle de suas
atividades de exploração ao Estado venzuelanos. Companhias com o a Exxon não
aceitaram, tiveram seus bens confiscados e batalhas jurídicas por indenizações
se desenrolam até os dias atuais.
Na PDVSA, Não houve
investimento em infraestrutura e a empresa sofre com má gestão e alto grau de
corrupção. Para se ter uma ideia, desde agosto de 2017, a Justiça venezuelana
processou 90 ex-funcionários da petroleira por corrupção. Em setembro, o
Ministério Público de lá mandou prender 9 diretores.
O Departamento de Justiça dos
EUA também conduziu uma investigação com base em Miami que revelou um esquema
de lavagem de dinheiro da PDVSA que desviou US$ 1,2 bilhão, entre 2014 e 2015 .
A operação chamada Fuga de Dinheiro contou com a cooperação de Reino Unido,
Espanha, Itália e Malta. Dois suspeitos foram presos.
Outra coisa que ajudou a
prejudicar as finanças da PDVSA foi a criação, ainda no governo Chávez, da
Petrocaribe, uma iniciativa na qual a Venezuela se comprometia a fornecer
petróleo a preços muito mais baixos para países caribenhos aliados ao chavismo,
com longos prazos para pagamento. Era como emprestar dinheiro com retorno a
perder de vista. Com o aprofundamento da crise, a iniciativa começou a minguar
e países como Jamaica e República Dominicana passaram a buscar outros contratos
para seu abastecimento.
2 - Dependência das importações
e controle cambial
Com o foco voltado para o
petróleo e usando parte do dinheiro arrecadado com as exportações do
combustível para sustentar programas sociais, o chavismo não se preocupou com o
desenvolvimento agrícola e industrial do país. O governo não investiu nem na
própria indústria do petróleo - levando à queda na produção de barris.
Chávez tomou uma série de
medidas que acabaram emperrando o desenvolvimento da indústria local:
nacionalizou as indústrias de cimento e aço, entre outras, e expropriou
centenas de empresas e de propriedades rurais.
O setor privado foi levado a
substituir a produção própria pelas importações mais baratas, subsidiadas pelo
governo. Além disso, o governo adotou uma política de controle de preços,
segurando artificialmente a inflação, o que ajudou ainda mais a acabar com a
indústria local.
A Venezuela passou a depender
mais e mais de importações - de alimentos e medicamentos até pneus e peças de
reposição para o sistema de metrô das grandes cidades. Nos dois últimos anos,
com menos dinheiro para importação, a questão do desabastecimento - e,
consequentemente, da fome - se agravou. Falta até papel higiênico nos
supermercados.
O governo também implantou uma
política cambial para segurar o valor do bolívar, a moeda local, controlando a
compra de dólares pela população, o que gerou um mercado paralelo da venda da
divisa americana.
Com o controle cambial veio um
aumento significativo da corrupção, com desvio de dólares para o mercado
paralelo, onde a moeda valia até 12 vezes o preço do câmbio oficial. O governo
tentou manobras diversas para tentar conter a escalada do paralelo - como a
criação de bandas cambiais distintas que seriam aplicadas em diferentes
situações. Mas não houve resultado concreto e o câmbio ilegal continuou a
corroer o já combalido sistema econômico.
"Chávez capitalizou um
descontentamento social que existia desde governos passados, com uma
desigualdade social acentuada, e o início de seu governo marcado pelo peso
elevado que deu ao Estado e pelo aspecto populista. Isso se caracterizou por um
repúdio à propriedade privada e a um menor papel do mercado, o que resultou num
estrito controle de preços e transações cambiais", afirmou à BBC o economista Luis Arturo Bárcenas, da consultoria venezuelana Eco analítica.
"Ele satanizou o
livre-mercado. O Estado passou a ser um grande aparato produtivo e
centralizador. Então, isso vem de um forte subsídio cambial, onde
artificialmente se deu um valor à moeda local maior que as estrangeiras. Isso
acabou tornando muito mais barato para os produtores locais importarem do que
produzir internamente."
O Estado também viu seus gastos
públicos aumentarem para conseguir manter os programas sociais. A dívida
externa também aumentou em cinco vezes, com estimativa do FMI de bater os US$
159 bilhões neste ano - este montante inclui títulos de dívida pública emitidos
pelo governo e pela PDVSA e créditos com China e Rússia. Em 2015, a dívida era
de US$ 31 bilhões, segundo estimativas do FMI.
3 - Hiperinflação
Ao tentar supervalorizar a
moeda venezuelana, o governo provocou distorções de valores que, além de
causarem a crise de desabastecimento, contribuíram para um cenário de
hiperinflação.
Além disso, com a queda do
preço do petróleo e uma redução no fluxo de divisas, o governo passou a
imprimir mais dinheiro para cobrir o rombo nas contas públicas e isso foi
gerando cada vez mais inflação.
A previsão do Fundo Monetário
Internacional é que neste ano a inflação na Venezuela chegue a 1 milhão % (Isso
significa você multiplicar por 10 mil o preço de um produto). Por dia, o FMI
estima em 4% o valor da inflação no país vizinho.
A hiperinflação fez com que
faltassem até cédulas de dinheiro circulando, já que as pessoas passaram a
precisar de muito mais dinheiro para comprar qualquer coisa. Para tomar um café
ou comprar um papel higiênico, por exemplo, aqueles que não usam cartão de
débito do banco, passaram a ter de carregar pilhas de cédulas de bolívar -
quando conseguiam sacar dinheiro.
"Com a escassez de divisas
produtoras, recorremos muito mais a financiamentos e imprimimos muito dinheiro,
com o Estado gastando sem gerar mais recursos", diz o economista Bárcenas.
Com a deterioração da situação,
o chavismo adotou uma espécie de controle artifical da inflação: obrigava os
comerciantes a adotarem um preço abaixo do que eles gastavam para produzir,
porque precisavam importar os insumos. Então, indústrias e comerciantes
começaram a quebrar.
A hiperinflação provocou uma
pulverização da renda e a pobreza aumentou. Em 2017, o índice de pessoas na
linha da pobreza no país de 30 milhões de habitantes chegou a 87%, um aumento
de 40 pontos percentuais em três anos, segundo levantamento da Universidade
Católica Andrés Bello.
Vale lembrar que na era Chávez,
a pobreza na Venezuela havia caído em mais de 20%, de acordo com a Cepal
(Comissão Econômica para América Latina e Caribe), e o país passou a registrar
a menor desigualdade entre ricos e pobres entre países latino-americanos, de
acordo com relatório da ONU.
4 - Crise política
A Venezuela vive também uma
intensa crise política. O país está dividido entre os chavistas e os
opositores, que esperam o fim dos 19 anos de poder do grupo que atualmente se
reúne em torno do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV). Nos últimos
anos, a independência entre os Poderes se reduziu na prática, o que contribuiu
ainda mais para a situação crítica atual.
Em 2007, em seu segundo
mandato, Chávez conseguiu, por meio de um referendo com voto popular, aprovação
para alterar a Constituição e mudar a regra de reeleição para presidente. Desde
então, os presidentes venezuelanos passaram a poder concorrer a reeleições sem
limites.
O chavismo, projeto de poder
que se consolidou a partir da primeira eleição de Hugo Chávez, tem como
elementos centrais uma atuação muito maior do Estado e a defesa de medidas que
ampliam a participação social na política - um exemplo é a organização de
"comunas" nos bairros mais carentes das principais cidades, órgãos
que se articulam, por sua vez, com o Legislativo local para apresentar demandas
e controlar o fluxo de entrada de alguns programas sociais.
Também é caracterizado por uma
política "anti-imperialista", defendendo a integração dos povos
sul-americanos para combater a influência dos Estados Unidos na região. No
chavismo, o mandatário tem seu poder baseado num forte militarismo.
Depois da morte de Chávez, em
2013, Nicolás Maduro, que era seu vice-presidente e também do PSUV, já foi
eleito e reeleito presidente com a promessa de dar continuidade às políticas do
antecessor.Só que Maduro herdou a
Venezuela já entrando em colapso econômico e tomou medidas que contribuíram
mais para a crise.
5- Poder militar e controle da
imprensa
Um outro ponto que contribuiu
para a crise venezuelana é a forte presença do Exército na gestão do
Estado.
Em 25 anos, a Venezuela sofreu
três tentativas de golpe de Estado pelos militares. Uma delas foi deflagrada
por um grupo do qual o então coronel Chávez era líder, em 1992.
Preso após a tentativa de golpe
militar, ele foi solto anos depois e conseguiu se eleger em 1998.
Chávez trouxe as Forças Armadas
para seu governo. Ele nomeou vários generais para cargos em estatais,
substituindo funcionários técnicos especializados.
Uma das empresas que teve parte
de seu corpo técnico substituído por militares foi a petroleira PDVSA, o que,
segundo especialistas, explica em parte o fato dela não ter investido em
melhorias, não ter se desenvolvido.
O chavismo também colocou
militares para atuarem como ministros. Um terço do gabinete de Maduro é
composto por militares e ex-militares.
Pela Constituição venezuelana,
as Forças Armadas deveriam ser apolíticas. Mas o ministro da Defesa, general
Vladimir Padrino, escreve em seus despachos "Chávez vive, a pátria
continua. Independência e pátria socialista".
Durante a crise de
abastecimento iniciada em 2016, Maduro também passou o controle da produção,
importação e distribuição de alimentos para o Exército. Há graves acusações de
corrupção envolvendo o controle dos militares desse setor chave na crise.
Outro fator que contribuiu para
a crise venezuelana é o estrito controle da imprensa. Veículos considerados de
oposição foram comprados por chavistas, enquanto outros foram fechados (caso da
emissora RCTV, que teve sua concessão cassada).
Em outros casos, o chavismo
sufocou o suprimento de papel-jornal para veículos de linha editorial opositora
- o governo venezuelano controla, por meio de uma corporação estatal, a
importação e a distribuição do insumo.
Por esses e outros motivos é
que o mundo olha com parcimônia para o que pode acontecer com o nosso vizinho,
caso o Presidente Donald Trump realmente cumpra com sua promessa de enviar tropas caso Maduro não renuncie e a Rússia decida apoia-lo. Alguns analistas dizem que a Venezuela pode ser o próximo Vietnã, onde os USA
e a antiga URSS se digladiaram por quase 20 anos por pura “birra”, levando o país
ao colapso e seu povo a extrema miséria. E podem ter certeza, isso irá respingar por aqui...
Se gostou compartilhe...
Nenhum comentário:
Postar um comentário