SINTO VERGONHA DE MIM!!
Por Alacir Arruda.
Por que temos a vocação para a malandragem? Após mais uma enxurrada de denúncias, vindas de Brasília, envolvendo os nossos homens públicos a discussão sobre a lisura do nosso caráter torna vir a baila. Por que nossos políticos tem vocação para o ilícito? Responderei essa pergunta mais abaixo. Antes citarei exemplos de países onde a intolerância à corrupção, o bom emprego do dinheiro publico e a ética são Dogmas nacionais e os políticos não se locupletam. Nesses países termos como: “dá um jeitinho”, “propina", “politicagem” , “sabe com quem está falando” ou ” troca de favores eleitorais’ simplesmente não existem.
Peguemos a Suécia como exemplo:
experimentem entrar no Youtube e pesquisar por: “deputados na Suécia”. Com
certeza, muitos, ficarão pasmos de como é o dia-dia de um Deputado sueco. Primeiro
que o salário deles é irrisório (cerca de 3.000,00) comparado ao dos nossos
deputados (hoje cerca de 33.000,00). Segundo não há qualquer regalia como: Verba gabinete, apartamentos
funcionais, auxilio moradia, motoristas,
carros oficiais, passagens aéreas, indicação de aliados, enfim...Ficaria horas digitando as benesses
dos nossos representantes, mas na Suécia não há nada disso. Na Suécia existe uma palavra que é um lema de todos
os homens públicos e que faz toda a diferença: “comprometimento”.
Na Noruega temos um dos
melhores parlamentos do mundo, o custo para a população é quase 0% em face dos benefícios
que ele trás - lembrando que o Congresso Brasileiro é o mais caro do mundo e o
custo da câmara de vereadores de São Paulo paga todo o Congresso Inglês e sobra.
Assim como na Suécia, os Deputados noruegueses só recebem uma espécie de ajuda de custo que não chega a 3.000,00.
Nesse país há uma intolerância coletiva contra o ilícito, desde a mais tenra infância
os noruegueses são ensinados que aquilo que é público ninguém tem o direito de usurpar
para seu beneficio. Mas sem duvida
nenhuma o país que mais abomina o ilícito público é o Japão. A coisa lá e tão
seria que há poucos anos um primeiro ministro
foi “acusado”. Vejam bem, apenas acusado de ter praticado ilicitudes durante sua
gestão. Esse cidadão não aguardou o julgamento, ele suicidou pulando do 13 andar do prédio que morava
em Tóquio por vergonha. Fico imaginando uma situação dessas no Brasil. Suponhamos
que os nossos políticos corruptos optem pelo suicídio pulando de prédios, não tenho
a menor duvida que faltaria imóveis.
No Brasil é diferente, aqui politica
e carreira, e uma vez eleito os “pseudos representantes do povo” enxergam o Estado como uma grande “vaca
leiteira” de onde buscam extrair leite de quantas tetas puder obter. É aquela velha historia: “eu sei que a farinha é pouca, então, meu pirão primeiro”. O POVO
QUE SE DANE. Politica no Brasil é sinônimo
de “enriquecimento rápido”. Ou vocês conhecem algum politico de carreira
pobre? Peguemos alguns exemplos: José Sarney: dizem que esse homem é dono do “ar”,
“terra” e “água” do Maranhão. Collor de Mello, esse, a despeito de ter sofrido
um impeachment em 1992, continua sendo um dos homens mais ricos do Brasil, dono
de metade de Alagoas. Vou detalhar apenas nesses dois, entretanto, se acresce
ainda a esses: Jader Barbalho do Pará,
Renan Calheiros Alagoas, Tasso Jereissati
do Ceara, e por ai vai.. Esses indivíduos fizeram da politica profissão e do erário
o cofre.
Para entender
esse comportamento “carnívoro” dos nossos homens públicos, vou recorrer ao
grande antropólogo Roberto DaMatta que, em
um dos seus livros, discorre sobre um dos mais salientes adjetivos que podemos empregar ao politico brasileiro: o "jeitinho". Entre idas
e vindas o autor enxerga nesta "malandragem", tipicamento brasileira,
uma forma de navegação social que permite juntar o pessoal com o impessoal.
Entre o "pode" e o "não pode", o brasileiro vê o
"jeitinho".
"Entre a desordem
carnavalesca, que permite e estimula o excesso, e a ordem, que requer a
continência e a disciplina pela obediência estrita às leis, como é que
nós, brasileiros, ficamos? Qual a nossa relação e a nossa atitude para com
e diante de uma lei universal que teoricamente deve valer para todos? Como
procedemos diante da norma geral, se fomos criados numa casa onde, desde a
mais tenra idade, aprendemos que há sempre um modo de satisfazer nossas
vontades e desejos, mesmo que isso vá de encontro às normas do bom senso e
da coletividade em geral?
Como
é que reagimos diante de um “proibido estacionar”, “proibido fumar”,
ou diante de uma fila quilométrica? Como é que se faz diante de um
requerimento que está sempre errado? Ou diante de um prazo que já se
esgotou e conduz a uma multa automática que não foi divulgada de modo
apropriado pela autoridade pública? Damos um jeitinho, procuramos um conhecido
na fila que possa pagar nosso boleto, estacionamos em local proibido
ou paramos em fila dupla para pegar nosso filho na escola sob a desculpa
de é “rapidinho”, fumamos no banheiro de aviões, ônibus ou simplesmente
borrifamos fumaça em qualquer transeunte
que passe, e quando um politico, nosso amigo, é eleito para qualquer cargo, o procuramos
não para cumprimentá-lo, mas para dizer:” vê se arruma uma boquinha pra “mim”
lá ok”? Lembram-se das tetas? Nós também queremos uma.
Hoje no Brasil, 11, em cada 10 jovens , querem ser servidores públicos.
Mas por quê? Por que tem vocação? Querem
contribuir para um Brasil melhor.. etc.. etc..? Porra nenhuma, buscam na verdade a estabilidade de um emprego público onde se
trabalha pouco , ganha bem e aposenta-se
melhor ainda ( por enquanto). Existe ate uma máxima para alguns cargos, onde dizem: “não
é o Céu, mas é bem pertinho”. Refiro-me aqui a cargos como fiscais da Receita, funcionários de Tribunais
de Contas entre outros que são muito bem remunerados – que fique claro não tenho nada contra,
apenas quis usar como exemplo.
Não posso deixar de frisar
ainda que o serviço publico não e feito apenas de “céu”, há aqueles que estão próximos
daquele “outro lugar“ Me refiro aquelas
carreiras sofríveis tais como:
professores (como eu), policiais, enfermeiros entre outros, esses são aqueles
chamados de “sacerdotes”..( eu não quero
mais ser sacerdote, cansei!!rs).
Por que estou dizendo isso? Na verdade eu quis estabelecer uma relação entre
os nossos “bem sucedidos” políticos, a imagem de sucesso que eles passam e o
efeito que isso causa no inconsciente coletivo.. O Fato de muitos brasileiros
optarem pelo serviço publico intimamente ligado a ideia de que o Estado é um grande patrão e lá estarei seguro, afinal
, é essa a imagem que os políticos passam: carros do ano, assessores, glamour..
(Freud Explica)
Diante desse quadro, dessa nuvem
escura que insiste em ficar estacionada sobre o nosso país, onde a impunidade
encontrou morada e a leniência abraçou o povo, só resta aos brsileros de bem sentirem
vergonha....
Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte deste povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-Mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a qualquer custo,
buscando a tal 'felicidade'
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos 'floreios' para justificar
actos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre 'contestar',
voltar atrás
e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...
Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.
Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino
e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo deste mundo!
'De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'
(Poema de Cleide Canton)
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Bom dia Alacir. Como sempre os textos escritos por você arrasam. Muito reflexivos, chocantes e realistas. E segundo os noticiários o congresso renovou muita gente inciando pela primeira vez. Mal assumiram a posse e vemos muitos nobres deputados passeando no exterior com suas namoradas e esposas e tudo continua igual. Um abraço
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