sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

Até quando??

SINTO VERGONHA DE MIM!! 

Por  Alacir Arruda.

Por que temos a vocação para a malandragem? Após mais uma enxurrada de denúncias, vindas de Brasília,  envolvendo os nossos homens públicos a discussão sobre a lisura do nosso caráter torna vir a baila. Por que nossos políticos tem vocação para o ilícito? Responderei essa pergunta mais abaixo. Antes citarei exemplos de países onde a intolerância à corrupção, o bom emprego do dinheiro publico e a ética são  Dogmas nacionais  e os políticos não se locupletam. Nesses países termos como: “dá um jeitinho”, “propina",  “politicagem” , “sabe com quem está falando” ou ” troca de favores eleitorais’ simplesmente não existem.

Peguemos a Suécia como exemplo: experimentem entrar no Youtube e pesquisar por: “deputados na Suécia”. Com certeza, muitos, ficarão pasmos de como é o dia-dia de um Deputado sueco. Primeiro que o salário deles é irrisório (cerca de 3.000,00) comparado ao dos nossos deputados (hoje cerca de 33.000,00). Segundo não há qualquer regalia como: Verba gabinete, apartamentos funcionais, auxilio moradia, motoristas, carros oficiais, passagens aéreas, indicação de aliados,  enfim...Ficaria horas digitando as benesses dos nossos representantes, mas na Suécia não há nada disso.  Na Suécia existe uma palavra que é um lema de todos os homens públicos e que faz toda a diferença: “comprometimento”. 

Na Noruega temos um dos melhores parlamentos do mundo, o custo para a população é quase 0% em face dos benefícios que ele trás - lembrando que o Congresso Brasileiro é o mais caro do mundo e o custo da câmara de vereadores de São Paulo paga todo o Congresso Inglês e sobra. Assim como na Suécia, os Deputados noruegueses só recebem uma espécie de ajuda de custo que não chega a 3.000,00. Nesse país há uma intolerância coletiva contra o ilícito, desde a mais tenra infância os noruegueses são ensinados que aquilo que é público ninguém tem o direito de usurpar para  seu beneficio. Mas sem duvida nenhuma o país que mais abomina o ilícito público é o Japão. A coisa lá e tão seria que   há poucos anos um primeiro ministro foi “acusado”. Vejam bem, apenas acusado de ter praticado ilicitudes durante sua gestão. Esse cidadão não aguardou o julgamento,  ele  suicidou pulando do 13 andar do prédio que morava em Tóquio por vergonha. Fico imaginando uma situação dessas no Brasil. Suponhamos que os nossos políticos corruptos optem pelo suicídio pulando de prédios, não tenho a menor duvida que faltaria imóveis.

No Brasil é diferente, aqui politica e carreira, e uma vez eleito os “pseudos representantes do povo”  enxergam o Estado como uma grande “vaca leiteira” de onde buscam extrair leite de quantas tetas puder obter.  É aquela velha historia: “eu sei que a farinha é pouca, então, meu pirão primeiro”. O POVO QUE SE DANE.  Politica no Brasil é sinônimo de “enriquecimento rápido”. Ou vocês conhecem algum politico de carreira pobre?  Peguemos alguns exemplos:  José Sarney: dizem que esse homem é dono do “ar”, “terra” e “água” do Maranhão. Collor de Mello, esse, a despeito de ter sofrido um impeachment em 1992, continua sendo um dos homens mais ricos do Brasil, dono de metade de Alagoas. Vou detalhar apenas nesses dois, entretanto, se acresce ainda a esses:  Jader Barbalho do Pará, Renan Calheiros Alagoas,  Tasso Jereissati do Ceara, e por ai vai.. Esses indivíduos fizeram da politica profissão e do erário o cofre.

Para entender esse comportamento “carnívoro” dos nossos homens públicos, vou recorrer ao grande  antropólogo Roberto DaMatta  que,  em um  dos  seus livros, discorre sobre  um dos mais salientes adjetivos  que podemos empregar ao  politico  brasileiro: o "jeitinho". Entre idas e vindas o autor enxerga nesta "malandragem", tipicamento brasileira, uma forma de navegação social que permite juntar o pessoal com o impessoal. Entre o "pode" e o "não pode", o brasileiro vê o "jeitinho".  

"Entre a desordem carnavalesca, que permite e estimula o excesso, e a ordem, que requer a continência e a disciplina pela obediência estrita às leis, como é que nós, brasileiros, ficamos? Qual a nossa relação e a nossa atitude para com e diante de uma lei universal que teoricamente deve valer para todos? Como procedemos diante da norma geral, se fomos criados numa casa onde, desde a mais tenra idade, aprendemos que há sempre um modo de satisfazer nossas vontades e desejos, mesmo que isso vá de encontro às normas do bom senso e da coletividade em geral?

Como é que reagimos diante de um  “proibido estacionar”, “proibido fumar”, ou diante de uma fila quilométrica? Como é que se faz diante de um requerimento que está sempre errado? Ou diante de um prazo que já se esgotou e conduz a uma multa automática que não foi divulgada de modo apropriado pela autoridade pública? Damos um jeitinho, procuramos um conhecido na fila que possa pagar nosso  boleto, estacionamos em local proibido ou paramos em fila dupla para pegar nosso filho na escola  sob a desculpa  de é “rapidinho”, fumamos no banheiro de aviões, ônibus ou simplesmente borrifamos  fumaça em qualquer transeunte que passe,  e quando um politico,  nosso amigo, é eleito para qualquer cargo, o procuramos não para cumprimentá-lo, mas para dizer:” vê se arruma uma boquinha pra “mim” lá ok”? Lembram-se das tetas? Nós também queremos uma.

Hoje no Brasil,  11, em cada 10 jovens , querem ser servidores públicos. Mas por quê?  Por que tem vocação? Querem contribuir para um Brasil melhor.. etc.. etc..? Porra nenhuma, buscam na verdade  a estabilidade de um emprego público onde se trabalha pouco ,  ganha bem e aposenta-se melhor ainda ( por enquanto). Existe ate uma máxima para alguns cargos,  onde  dizem: “não é o Céu, mas é bem pertinho”. Refiro-me aqui a cargos como  fiscais da Receita, funcionários de Tribunais de Contas entre outros que são muito bem remunerados  – que fique claro não tenho nada contra, apenas quis usar como exemplo.  
Não posso deixar de frisar ainda que o serviço publico não e feito apenas de “céu”, há aqueles que estão próximos daquele “outro  lugar“ Me refiro  aquelas  carreiras sofríveis tais  como: professores (como eu), policiais, enfermeiros entre outros, esses são aqueles chamados de “sacerdotes”..( eu não quero mais ser sacerdote, cansei!!rs).

 Por que estou dizendo isso?  Na verdade eu quis estabelecer uma relação entre os nossos “bem sucedidos” políticos, a imagem de sucesso que eles passam e o efeito que isso causa no inconsciente coletivo.. O Fato de muitos brasileiros optarem pelo serviço publico intimamente ligado a ideia  de que o Estado  é um grande patrão e lá estarei seguro, afinal , é essa a imagem que os políticos  passam: carros do ano, assessores, glamour.. (Freud Explica)
Diante desse quadro, dessa nuvem escura que insiste em ficar estacionada sobre o nosso país, onde a impunidade encontrou morada e a leniência abraçou o povo,   só resta aos brsileros de bem sentirem vergonha....

Sinto vergonha de mim
por ter sido educador de parte deste povo,
por ter batalhado sempre pela justiça,
por compactuar com a honestidade,
por primar pela verdade
e por ver este povo já chamado varonil
enveredar pelo caminho da desonra.

Sinto vergonha de mim
por ter feito parte de uma era
que lutou pela democracia,
pela liberdade de ser
e ter que entregar aos meus filhos,
simples e abominavelmente,
a derrota das virtudes pelos vícios,
a ausência da sensatez
no julgamento da verdade,
a negligência com a família,
célula-Mater da sociedade,
a demasiada preocupação
com o 'eu' feliz a qualquer custo,
buscando a tal 'felicidade'
em caminhos eivados de desrespeito
para com o seu próximo.

Tenho vergonha de mim
pela passividade em ouvir,
sem despejar meu verbo,
a tantas desculpas ditadas
pelo orgulho e vaidade,
a tanta falta de humildade
para reconhecer um erro cometido,
a tantos 'floreios' para justificar
actos criminosos,
a tanta relutância
em esquecer a antiga posição
de sempre 'contestar',
voltar atrás
e mudar o futuro.

Tenho vergonha de mim
pois faço parte de um povo que não reconheço,
enveredando por caminhos
que não quero percorrer...

Tenho vergonha da minha impotência,
da minha falta de garra,
das minhas desilusões
e do meu cansaço.

Não tenho para onde ir
pois amo este meu chão,
vibro ao ouvir o meu Hino

e jamais usei a minha Bandeira
para enxugar o meu suor
ou enrolar o meu corpo
na pecaminosa manifestação de nacionalidade.

Ao lado da vergonha de mim,
tenho tanta pena de ti,
povo deste mundo!

'De tanto ver triunfar as nulidades,
de tanto ver prosperar a desonra,
de tanto ver crescer a injustiça,
de tanto ver agigantarem-se os poderes
nas mãos dos maus,
o homem chega a desanimar da virtude,
A rir-se da honra,
a ter vergonha de ser honesto'
(Poema de Cleide Canton)


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Um comentário:

  1. Bom dia Alacir. Como sempre os textos escritos por você arrasam. Muito reflexivos, chocantes e realistas. E segundo os noticiários o congresso renovou muita gente inciando pela primeira vez. Mal assumiram a posse e vemos muitos nobres deputados passeando no exterior com suas namoradas e esposas e tudo continua igual. Um abraço

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