terça-feira, 13 de maio de 2014

inveja!

AS TRÊS INVEJAS

Por: Alacir Arruda

A inveja é difícil de ser analisada e como todos sabem que gosto do experimento científico para fundamentar aquilo que digo, me sinto com limites para expor esse tema. Não há muitos trabalhos acadêmicos ou livros sobre esse assunto. um dos poucos textos que encontrei é do psicanalista Alberto Gondim, no texto ele conta a história de um executivo que depara com uma situação comum nas organizações - o reconhecimento do talento individual de um novato. É um monólogo hipotético que ajuda a esclarecer três tipos básicos de inveja: a sublimada, a neurótica e a perversa. Será que você conhece alguém que pensa desta ou daquela maneira? Confira:

Inveja sublimada
"Vi-o entrar esta manhã. Parecia um herói de fotonovela. Queimado de sol, bem-disposto, seus 34 anos pareciam 18. Regressava de suas férias-prêmio. Merecidas... Apesar da pouca idade (começara aos 20 anos como contínuo), era o orgulho da gerência de vendas. Sua criatividade lhe havia valido uma simpática soma em dinheiro mais uma viagem para duas pessoas ao Caribe, primeira classe, tudo pago. Não sei por que, com todas essas virtudes, eu sinto inveja dele. A empresa saiu do vermelho, tudo por um golpe de sua genialidade ou sorte. Uma idéia absolutamente original, que abriu um novo nicho de mercado. Não poderíamos deixar de reconhecê-lo, embora parecesse uma loucura de alto risco. Mas sua ousadia lhe permitiu aproveitar a oportunidade e montar no cavalo branco. O curioso é que todos aqui sentimos por ele uma mescla de admiração e ódio. Por que não me ocorreu essa idéia? Algo tão simples... Pensando bem, com 20 anos de casa, jamais vi essa saída - e estava diante do meu nariz. Enfim, devo reconhecer seus méritos, aproveitar seu talento e agradecer a Deus por ele estar conosco. É um sujeito humilde, generoso e brilhante. Não posso dizer o mesmo de mim. Infelizmente não sou eu quem comanda os destinos humanos. Bem-vindo, jovem brilhante! E os mais antigos e acomodados como eu, que tenham humildade para aceitar o potencial, o talento e o brilhantismo dos jovens e gênios. Brindo a eles! Dentro de mim este pequeno sofrimento irá cicatrizando. Como todos sabem, anos atrás fui fundamental nos momentos críticos da empresa. Em algumas épocas o jovem genial fui eu. Admito que nem tão jovem nem tão genial, mas ainda assim, necessário e com vontade de crescer."

Inveja neurótica
"Não consigo olhá-lo de frente: me dá raiva. Tem sorte demais. Ganhou de todos e ainda por cima foi premiado com uma viagem de primeira classe. Não gostaria de falar mais com ele, mas, como é da minha equipe, vou suportá-lo do melhor modo possível. Para piorar as coisas, estou sentindo de novo aquelas terríveis dores no estômago. Minha velha úlcera abriu de novo..."

Inveja perversa
"Preparei um dossiê para quando ele voltar de férias. Já falei ao diretor-geral que, apesar de ele ter facilitado o aumento dos objetivos de venda, tenho quase certeza de que pensa em sair da empresa para trabalhar no concorrente. Percebo que ele é um sujeito capaz, porém, traiçoeiro. Devemos desmascará-lo. É perigoso para nossa organização e alertaria todos para que não se deixassem impressionar por esse êxito circunstancial. Juro que me vingarei."

Esses excertos de Inveja nas Organizações mostram a diversidade de ação do vírus da inveja. Mesmo a olho nu podemos observar uma grande quantidade de sentimentos envolvidos, ora em conjunto, ora em alternância - senso de justiça, inferioridade, admiração, ódio, raiva, exibicionismo, desdém, desconfiança, soberba, superioridade, dor... A inveja tem muitas faces. 

Percorra mais uma vez o raciocínio do executivo do monólogo e observe que, em várias oportunidades, ele acredita que está certo. E costuma ser assim mesmo no dia-a-dia. Em geral, quem inveja não se dá conta de que está invejando: o que passa pela cabeça é que está sendo injustiçado, ou que seu talento não é reconhecido, ou ainda que forças misteriosas levam bonança apenas ao outro, mas não a ele. E assim por diante. No caso extremo, o invejoso afirma que o outro usa de artimanhas para superá-lo e que, por fim, pretende trair todos na empresa - e o invejoso pode mesmo estar acreditando nisso com todas as suas forças. 

As variáveis são muitas. Por exemplo, embora fosse bastante desejável, não possuímos um conceito universal de justiça. E, como brasileiros, incorporamos crenças supersticiosas sobre felicidade no amor e na vida, sucesso no trabalho, fortuna etc. (daí a popularidade de simpatias contra olho gordo, olho-de-seca-pimenteira, quebranto e outros sinônimos da inveja). Ou seja, cada um, conforme a formação cultural e social, e também conforme as circunstâncias, pode acreditar-se justiçado ou não. Conclusão: vá devagar, pare e pense. Você pode estar com inveja de alguém e ainda não ter descoberto. Ou pior e mais provável: não está se esforçando o suficiente para atingir seus objetivos. 

Às pessoas que utilizam da critica vazia sem qualquer fundamento, praticam o axismo e o senso comum para se referir a esse profissional, tenho certeza que se identificaram com esse texto. Para esses, segue abaixo uma musica que é a resposta a tudo que pensam. Com um ultimo recado! "continuarei incomodando, essa é a minha função".





                      INJURIADO
                                    Chico Buarque


Se eu só lhe fizesse o bem
Talvez fosse um vício a mais
Você me teria desprezo por fim
Porém não fui tão imprudente
E agora não há francamente
Motivo pra você me injuriar assim

Dinheiro não lhe emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você nada está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora falando de mim 

3 comentários:

  1. Alacir, vc é, simplesmente, o melhor professor que ja tive na vida. Competente, coerente e firme na suas posições. Um doutor que estudou muito para poder falar o que pensa e quem se incomoda com vc são seres inferiores com os quais não deve se preocupar. Vc esta acima deles..infinitamente acima. abs e nao liga. Michele

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  2. Há duas formas de livrar de um invejoso, uma é afastar, outra , mais perigosa é ignorar. A inveja alimentada pode chegar a fatalidades irreversíveis. A inveja faz parte da subjetividade do ser humano, compete a ele retratar esse sentimento transformando em fonte de disposição e luta para atingir seus objetivos sem prejudicar ninguém com seus próprios méritos, afinal todos nascem com suportes suficientes para atingir o limite de suas capacidades.Interessantíssimo esse tema professor.

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