quarta-feira, 12 de agosto de 2015

o Enem e o embuste das escolas privadas

ESCOLAS FICTÍCIAS: ALUNOS REAIS

Por Alacir Arruda

Alguns podem até achar que pego muito no pé das escolas privadas do Brasil, mas falo com propriedade são 21 anos de sala de aula,  sendo 18 somente em escolas  privadas de renome nacional. Portanto, eu sempre soube das “falcatruas” realizadas por essas instituições para melhorarem seus índices no ENEM, os grandes grupos que trabalhei em SP já faziam isso em 2010, mas a “cara de pau” dessas escolas superou até o mais otimista dos críticos. 

O Resultado por escola do ENEM 2014 revela que aumentou a prática, entre as escolas particulares, de separar os alunos em unidades e/ou CNPJ’s diferentes para parecerem ser melhores do que realmente são.

Das 10 escolas com maior média no ENEM 2014, 8 delas são escolas de muitos alunos, só que a que aparece nos primeiros lugares do ENEM é uma escola com menos de 60 ou menos de 30 alunos. As escolas maiores, de mesmo nome, na mesma cidade ou até no mesmo endereço, também aparecem no resultado. Porém, se ranqueadas, estão em posições muito distantes das primeiras colocadas e com resultados, em geral, muito ruins se comparados aos das primeiras colocações.

A prática de ‘inventar’ escolas, para aparecer entre as primeiras colocadas no ENEM, é feita por motivos publicitários. O objetivo é usar essa informação nas suas propagandas para que consigam captar mais alunos ou, em alguns casos, para que vendam com mais facilidade seus materiais didáticos.

Algumas dessas escolas nunca participaram do ENEM. Explico: foram criadas há poucos anos, somente para aparecer entre as primeiras colocadas. A metodologia utilizada por essas oito escolas é padrão: com centenas e centenas de alunos, elas escolhem os que mais pontuam em simulados internos e os transferem para a escola ou o CNPJ escolhido para servir como instrumento de publicidade.

Também utilizam de sistemas de captação de alunos com alta performance em simulados e que estão matriculados em outras escolas, inclusive de outras cidades. Boa parte desses alunos, captados durante o ensino médio, são bolsistas parciais ou integrais destas escolas. Não pagam, ou pagam muito menos do que os outros, não necessariamente pelo mérito de acertar mais questões, ou por necessidade socioeconômica, mas pelo simples motivo de que são ‘usados’ para os interesses financeiros destas instituições. Algum interesse pedagógico? Não, nenhum.

Os alunos, que vieram desse modelo de captação, não foram formados por essas escolas durante todo o percurso escolar. Ficam pouco tempo nelas, geralmente somente os últimos anos do ensino médio ou somente durante o ensino médio.

Quando fazem propaganda de estar nos primeiros lugares no ENEM, tais instituições passam a impressão de que qualquer pai pode procurá-los e conseguir matricular seus filhos. Não é o que acontece. Se hoje um pai procurar essa escola, terá seu filho encaminhado para as unidades em que os alunos pontuam bem menos dos que aqueles que foram ‘usados’ para a publicidade da escola.

Novamente, no resultado do Exame de 2014, o primeiro colocado nacional é o Colégio Integrado Objetivo, de São Paulo, que funciona no mesmo endereço do Colégio Objetivo, na Avenida Paulista. No ano anterior a escola ocupava, ao mesmo tempo, o lugar 1 e o lugar 569 da lista, depois de ranqueadas todas as escolas do Brasil que tiveram mais de 10 alunos do terceiro ano prestando o ENEM.(http://educacao.estadao.com.br/blogs/mateus-prado/campea-do-enem-e-ao-mesmo-tempo-a-escola-1-e-a-escola-569-do-brasil/).

Um destaque do ano é a cidade de Fortaleza. Três escolas da cidade apareceram, em 2014, entre as 10 primeiras colocadas do ENEM. Duas delas já separavam alunos, o que já estava indicado nos dados dos anos anteriores, e uma passou a separar há pouco tempo, aparecendo pela primeira vez entre as primeiras. As escolas de Fortaleza parecem ter ‘aprimorado’ as suas formas de selecionar alunos para aparecer entre as primeiras colocadas, e passaram a ser as primeiras do Nordeste, resultado que tradicionalmente era do Dom Barreto, de Teresina.

Os dados de Fortaleza refletem a situação do mercado local, onde três escolas, todas muito grandes, disputam de forma bastante agressiva o mercado de alunos de alta renda. Duas delas possuem Sistema de Ensino que vendem para outras escolas, principalmente do Norte e Nordeste, e que receberam grandes aportes financeiros nos últimos anos.

Outro destaque são duas escolas, uma do Rio de Janeiro e outra de Minas Gerais, que pertencem ao mesmo fundo investidor e à mesma empresa (Fundo Gera, empresa ELEVA). Há dois anos, essas duas escolas eram desconhecidas nacionalmente. No ano de 2013 a escola do Rio de Janeiro, pertencente a este grupo, chegou a ocupar (ao mesmo tempo) o lugar 3 e o lugar 2015 entre as escolas que tiveram mais de 10 alunos do terceiro ano fazendo a avaliação. O controlador do grupo Gera é o megainvestidor Jorge Paulo Lemann. Além de um dos homens mais ricos do Brasil, Lemann é conhecido por ser assíduo doador de dinheiro para projetos educacionais (através da Fundação Lemann).

Em Goiás também há uma escola que, para aparecer entre as primeiras colocadas, matricula os alunos que costumam ter maior rendimento em simulados na sua unidade de ensino fundamental (os demais ficam na unidade do ensino médio).

As duas que aparecem entre as dez primeiras e não utilizam esse padrão (de ‘inventar escolas’) são do estado de Minas Gerais. As duas possuem alunos oriundos de famílias de alta renda (quando cruzamos os dados de todas as provas do ENEM, até hoje, renda é a principal influência nas notas da avaliação. Em média, alunos de maior renda conseguem notas superiores aos alunos de menor renda). Não é demais citar o colunista Hélio Schwartsman: “quando uma escola aumenta sua mensalidade, ela aumenta sua nota no ENEM” (2014, adaptado). 

Ou seja, o resultado divulgado pelo INEP das melhores escolas do Brasil no ENEM não é critério  para que país venham colocar seus filhos  nesses estabelecimentos, ao contrario isso apenas vem confirmar o seu despreparo no trato com a educação. E no futuro  quando alguém lhe perguntar se educação enriquece: Responda. Sim!  "pergunte aos donos de escola"



3 comentários:

  1. Professor isso é uma vergonha............Claudio. Cuiabá

    ResponderExcluir
  2. A inércia faz destes empresários da educação a preferirem manipular dados a ter que oferecer um ensino de acordo com que o governo quer de um aluno hoje, que este tenha competências e habilidades. O mais lamentável é ver alguns alunos, que por ter bons resultados devido ao esforço próprio, acabam sendo cooptados por esses empresários, enquanto muitos outros, por não pertencer a esse "grupo privilegiados" acabam por ter seu sonho de entrar em uma universidade pública adiado!

    ResponderExcluir