quinta-feira, 10 de setembro de 2015

quando a imbecilidade impera

A “infelicidade” não é nenhum mal, conforme pensam os ignorantes ilustrados, mas a expressão objetiva da impossibilidade da natureza humana em viver rigidamente sob os moldes do capitalismo. Mais saudável é o indivíduo que fica triste com sua precária condição, e não aquele que sufoca sua tristeza e a “transmuta” para viver “feliz”, mesmo que alienado.
Tampouco viver confortavelmente e ter saúde são garantia de felicidade. Pode-se muito bem ser rico e gozar de plena saúde e não ser uma pessoa feliz. Outro dia li, numa grande Revista, uma reportagem que tratava das diferenças entre um porteiro e  um homem de classe média. O jeito que a reportagem pôs as coisas, principalmente comparando o homem de classe média com o porteiro feliz, parece que o homem de classe média tem a obrigação (?!) de ser feliz, e como não é, dá a entender que o mesmo só pode estar doente.
Isso é outra mistificação, só porque todo mundo busca dinheiro e bens materiais, inferem que isso realmente traz felicidade. Não traz, só traz felicidade mundana, a mesma que temos quando usufruímos pequenos prazeres ou quando nos esquecemos de nós mesmos. Por si só, ter dinheiro ou poder consumir, não traz felicidade pra ninguém.
A “consciência feliz” não precisa mesmo de conteúdo material para se sustentar, pois existe tanta fome de imaginário, como há de comida. Tudo contribui para matar nossa fome de imaginário, desde as religiões, até o futebol, a música ou a “bunda da mulher melancia”.
A “alienação” faz as pessoas felizes. Isso ninguém pode negar.
Se não preenchesse uma necessidade psicológica, porque haveria tanta no mundo? Já a desalienação faz a pessoa mergulhar -pelos menos por algum momento- na consciência infeliz. Ela se sente isolada da sociedade e dos seus valores egoístas. Começa a não ver sentido no modo de vida que lhe impuseram. Não perde mais muito tempo tentando satisfazer desejos pueris. A pessoa, então, fica melancólica, pois não tem pra onde fugir, não consegue encontrar abrigo no seio da sociedade porque a considera decadente, tampouco acha que uma vida de prazeres resolve alguma coisa.
O porteiro só é feliz porque desconhece todas essas coisas, sua felicidade está na ignorância, é a felicidade de todos que estão inseridos no mundo, que se perdem no cotidiano. Ele, na verdade, é a grande vítima, é o bobo alegre, que ri da sua exploração, o homem, que mesmo tendo conforto, é triste, age de acordo com a natureza humana, que não pode se satisfazer plenamente no capitalismo. Tomar Serotonina e Prozac também são formas  de se alienar, pois quem, ao invés de lutar e resolver seus próprios problemas se ampara em muletas químicas, não só busca um método eficiente de não ter que lidar consigo mesmo, como cai no engodo ideológico de que devemos estar sempre -ou pelo menos predominantemente- felizes.

5 comentários:

  1. Prof. Achei maravilhoso esse artigo..Sempre que vc fica um tempo sem escrever volta inspiradíssimo. Realmente vc definiu as angustias do homem moderno nesse texto. A eterna obrigação de sermos felizes e a cobrança da sociedade. Parabéns mestre. Bjs. Rayane

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  2. muito bom, concordo plenamente. Paulinha- Recife

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  3. Um ótimo texto. Realista e ao mesmo tempo inspirador e eloquente.

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    1. Estimado prof parabéns mais uma vez por este belíssimo texto que nos faz pensar a fundo sobre umas das maiores buscas do ser humano que é a felicidade, pois entre o nascimento e a morte, esta posto em xeque se de fato fomos felizes ou não, ou até mesmo se a humanidade é feliz ou não, essa resposta tão desafiadora vai depender de cada um é claro, mais levando-se em conta (como sugestão) seis fatores primordiais, primeiro:será que amamos de verdade, segundo: valorizamos mais o ser do que o ter, terceiro: tivemos mais momentos alegres e felizes do que tristes e infelizes, quarto: estes momentos foram vividos com intensidade, quinto:seguimos o curso da estrada da vida rumo ao nosso horizonte, sexto: a vida teve sentido para nós ou seja demos sentido a ela e sétimo: de fato a vida valeu a pena ou seja a vida de fato foi vivida?

      Davino B. B. Filho de Cuiabá - MT

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    2. Com essa resp, faço correção do meu próprio comentário, na 5° linha onde deve-se ler: PODEMOS LEVAR EM CONTA SE QUISER.

      Davino B. B. Filho de Cuiabá - MT

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