quinta-feira, 18 de abril de 2013


Freud e à Religião

Por. Alacir Arruda


– Freud é considerado um dos maiores nomes da ciência no século XX. Em seus vários inscritos, manteve sempre um postura racional na avaliação do homem e sua relação com os fenômenos sociais, dentre eles a Religião. O Mal-Estar na Civilização é um livro em que Freud descreve sua teoria sobre a religião e a moral. Em linhas gerais, ambas representam, para Freud, uma repressão sobre as pulsões humanas, tanto as de vida quanto as de morte, na medida em que pregam valores sobre-humanos como os de modéstia, caridade, solidariedade, paz, todos valores que supostamente se realizariam numa época vindoura e extra-terrena, mas que já poderiam começar a ser realizadas na vida terrena. Mas esses valores são anti-humanos porque supõem, segundo Freud, a repressão dos instintos mais básicos, que são sempre egoístas.

– No item I do livro, Freud destaca a idéia de sentimento oceânico – levantada por seu amigo Romain Rolland, colocando-a sob a crítica da psicanálise. Freud introduz o texto com um breve questionamento dos valores sociais. Afirma que há duas ordens de pessoas admiráveis, aquelas que admiramos mas que não queremos imitar, e aquelas que admiramos e queremos imitar. A primeira diz respeito às pessoas cujos valores são os de caráter ético; essas pessoas são admiráveis, mas ninguém quer imitá-las. A segunda diz respeito às pessoas cujos valores são o poder, o sucesso e a riqueza; essas pessoas são admiráveis, e todos querem imitá-las. Freud considera seu amigo Rolland como uma pessoa da primeira ordem; um ser excepcional. Mas Freud quer questionar seus princípios (valores), o que significa igualmente questionar sua própria pessoa.

 – Freud tinha enviado a Rolland um livro expressando sua opinião sobre a religião: a religião é uma ilusão. Rolland, que era religioso, afirmara não ter Freud compreendido a verdadeira fonte da religião, uma espécie de sensação de eternidade, um sentimento de algo ilimitado, sem fronteiras – oceânico, por assim dizer (p. 81). A religião seria, para Rolland, apenas um expediente de expressão deste sentimento profundo, um sentimento de divindade que o ser humano sente em face de sua pequenez. Poder-se-ia aniquilar a religião que o sentimento permaneceria no íntimo do ser humano.

– O questionamento de Freud é simples; representa o paradigma do questionamento psicanalítico da religião. Freud afirma que ego maduro designa algo autônomo e unitário, distintamente demarcado de tudo o mais (p. 83). No entanto, este ego, no início de sua vida, ainda no recém-nascido, não era precisamente demarcado, isto é, o bebê ainda não se percebia como diferente do mundo e o mundo como diferente de si. Ambos, bebê e mundo mantinham uma unidade. Isso ocorre sobretudo na vida uterina, onde há unidade entre o bebê e seu ambiente.




-No entanto, há interrupções nesta relação. A separação entre bebê e o útero é a primeira interrupção, a separação entre o bebê e o seio da mãe também. O bebê passa a se sentir desamparado com essas interrupções e sonha com a unidade perdida. O ego maduro ainda conserva, inconscientemente (mente inconsciente), memórias deste elo perdido com o ambiente e, via de regra, regride a estágios anteriores da infância em busca dele. Ora, este sentimento oceânico (que Freud diz não encontrar em si mesmo, mas que admite existir na maioria dos seres humanos), representa, para Freud e a psicanálise, uma expressão do elo perdido com o universo, com algo maior, mais perfeito, preenchedor, poder-se-ia dizer.

 – Em suma, tanto a religião quanto a suposta fonte inspiradora da mesma são, para Freud, apenas funções de uma mente cindida entre um ego autônomo e um ego ainda retido nas relações com o mundo externo, quer dizer, funções de uma mente psiconeurótica: a origem da atitude religiosa pode ser remontada, em linhas muito claras, até o sentimento de desamparo infantil (p. 90).

– Logo, os verdadeiros valores sociais são aqueles do segundo tipo de pessoa, expressão do nosso egoísmo natural, o que põe por terra todos os valores ético-religiosos.

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