sábado, 6 de abril de 2013


A SIMBIOSE DA VIDA MODERNA

Por Alacir Arruda
       

Outro dia assisti a uma cena do cotidiano que, apesar de corriqueira, jamais havia atentando. Como as pessoas são dependentes de celulares! Sobretudo, os celulares modernos. Estava sentado em um Café no centro da cidade quando passei a observar as pessoas na rua, algumas chegavam a tropeçar nas calçadas por estarem com o olhar fixado na tela de seus celulares, não enxergavam um palmo a sua frente. Caminhavam como robôs hipnotizados com seus “brinquedinhos”. Isso me fez questionar! E se alguém,   ao passar por eles,  desse um singelo Bom Dia? Será que se lembrariam o que é isso?
Há algumas gerações, os indivíduos têm nascido imersos nesse paradigma denominado “sociedade digital” e são envolvidos por essa cultura. Vêem como natural operar e orientar seus processos subjetivos mais diversos e fundamentais no consumismo, na fugacidade, no culto à aparência, na imagem e em tantas outras estampagens de sua identidade, ou identidades. “Trata-se aqui do que Freud designou como sistemas de ilusões coletivas e como ideais de ego da cultura, e do que Marx designou como ideologia” (Ibid., p. 67).
Assim sendo, esse ideal consumista, que chega até mesmo a ser definidor da atualidade, não é simplesmente um “complô de sinistros especuladores. Antes de qualquer coisa, ele é um grande movimento cultural, talvez, o maior na história de nossa cultura desde o cristianismo’’(Calligaris, 1999, p. 31).
Com efeito, podemos observar que o Shopping Center substitui a Igreja ou a Catedral como referência arquitetônica da cidade. As imagens idolatradas, agora cobiçadas, são, sobretudo, aquelas expostas nas vitrines de lojas suntuosas. A sociedade atual cultiva o imediatismo, a fugacidade, o simulacro e, acima de tudo, se orienta pelo e para o consumo. O templo do consumo acrescenta às antigas dívidas contraídas pelos cristãos com Deus, as dívidas contraídas com os credores: sacerdotes do sistema financeiro pós-moderno.
A “hipertrofia da economia capitalista”, como diz Costa (2004, p. 131), “diluiu esferas da vida social, como a política, a religião e a tradição familiar em um consumismo hedonista e narcisista [...]” sendo estes, hedonismo e narcisismo, os principais estruturantes do sujeito atual.

Basear a identidade no narcisismo significa dizer que o sujeito é o ponto de partida e chegada do cuidado de si. [...] Família, pátria, Deus, sociedade, futuras gerações só interessam ao narcisista como instrumentos de auto-realização [...]. O hedonismo, por sua vez, é um efeito desta dinâmica identitária. O narcisista cuida apenas de si, porque aprendeu a acreditar que a felicidade é sinônimo de satisfação sensorial. Assim, o sujeito da moral hodierna teria se tornado indiferente a compromissos com os outros – faceta narcisista – e a projetos pessoais duradouros – faceta hedonista. (Ibid., p.185)

À primeira vista, somos levados a acreditar que, com a inserção desses novos valores, os antigos são abandonados ou substituídos. Entretanto, o referido autor descarta a hipótese da substituição e diz que há, na verdade, uma “re-hierarquização dos valores tradicionais sob o dossel da moda” (Ibid., p.131). Os valores que norteavam fortemente os sujeitos na modernidade continuam presentes na subjetividade dos sujeitos pós-modernos, porém, subjugados e enfraquecidos, literalmente fora de moda.
Atualmente “[...] a maioria dos indivíduos urbanos elegeram o bem estar e os prazeres físicos como a bússola moral da vida” (Ibid., p. 131). Logo, grande parte dos sujeitos pós-modernos busca um ideal de felicidade que está, sem dúvida, intimamente ligado à dinâmica psíquica designada por Freud (1911/2004) de Princípio do Prazer, maneira pela qual interagimos com o mundo nas fases iniciais da vida. “De início as pulsões só procuram descarregar-se, satisfazer-se pelos caminhos mais curtos” (Laplanche & Pontalis, 2001, p. 367). Contudo, a vida em sociedade impõe o funcionamento psicológico pautado no Princípio da Realidade que: exige um mínimo de relações interpessoais. Tenho saudade de um tempo onde um simples Bom Dia bastava...

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