domingo, 3 de maio de 2015

anarquia instalada

PT, o Partido dos Toscos, e a “elite” de Pandora

Por ALEX ANTUNES - Yahoo

De uma só tacada, o congresso está atacando direitos de vários tipos: sociais (redução da maioridade penal), trabalhistas (liberação mais ampla de terceirização, afouxamento da lei contra trabalho escravo), alimentares (fim da obrigatoriedade do registro da presença de transgênicos em produtos industriais), de biodiversidade (afrouxamento das regras no marco legal, facilitando para a indústria e o agronegócio a exploração do patrimônio genético e de conhecimentos de comunidades indígenas, quilombolas e tradicionais).
Sem entrar no mérito de cada área (é possível, por exemplo, alguém considerar positivas algumas formas de terceirização e ao mesmo tempo repudiar o uso sigiloso de transgênicos), dá sim para se enxergar uma “onda de direita” nessas iniciativas. Mas o que leva a isso, se estamos no terceiro mandato de presidentes de um partido (supostamente) de esquerda, e há meros seis meses da última eleição presidencial?
Ou, em outras palavras, o que levou a presidência a uma paralisia tal em que o congresso pinta e borda uma pauta adversa, impondo seguidas derrotas ao governo? A resposta mais simples é de que esse “é o congresso mais conservador” em muito tempo, dominado pela bancada BBB (bala, boi e bíblia) etc etc. Ora bolas. Mas esse congresso foi eleito pela mesma população que elegeu e reelegeu várias vezes o PT no executivo.
Na verdade, podia ser até pior. A oposição e a base predadora só não estão aproveitando melhor a brecha política porque estão batendo cabeça. No PMDB o presidente da câmara Eduardo Cunha em choque com o do senado, Renan Calheiros, e o vice-presidente e articulador político do governo Michel Temer tentando se equilibrar entre os dois. No PSDB, Aécio Neves tendo que controlar sua adesão à direita social (que quer o pedido de impeachment) contra Fernando Henrique, Geraldo Alckmin e José Serra que, por razões diversas (de éticas a oportunistas), acham que não há (ou ainda não há) justificativa política para o pedido.
Esta semana foi peculiar. O choque de Renan contra Cunha, Temer e Dilma se acirrou. O Supremo Tribunal Federal liberou, por 3 votos a 2, os empreiteiros presos (atrapalhando a tática do juiz Moro de forçar delações premiadas) no caso do Petrolão. Uma investigação sobre tráfico internacional de influência chega a Lula (e o senado quer derrubar o sigilo das operações de empréstimos no exterior do BNDES, o que tem tudo a ver com o caso).
Marta Suplicy abandona oficialmente o PT mas quer manter o mandato acusando o partido de corrupção. O balanço publicado da Petrobrás confirmou e mensurou os valores da corrupção na empresa. E, finalmente, Dilma resolve não falar em tempo real no 1º de maio (contra a opinião do PT). Mas Lula, depois de veicular um vídeo bizarro de ginástica, fala – e faz ameaças, passando recibo não só de que o governo Dilma vai mal, como o de que se sente (finalmente) ameaçado pelas investigações. Não daria para descrever essa conjuntura em poucas palavras, a não ser “todos contra todos”.
Acontece que vale a pena sim fazer algumas leituras e distinções. E descobrir quem “abriu a porteira” para tal direita no Congresso. Há quem diga que é injusto a maior parte da culpa política cair sobre Dilma, enquanto Eduardo Cunha e Renan Calheiros não deixam esquecer seu histórico de picaretagem, e gente como o governador do Paraná, Beto Richa, do PSDB, massacra professores em greve.
Mas há uma justiça política, sim, em que o PT leve a maior parte da culpa pela crise. Ao procurar, nesses quatro mandatos, montar uma base com o que há de pior e mais fisiológico na política nacional, para evitar as elites “tradicionais”, o PT criou e empoderou uma elite pior ainda. Lá atrás, antes da primeira presidência petista, dá para lembrar a disposição de Lula em trabalhar com uma bancada evangélica. Aqui há um artigo interessante (insider evangélico, de 2006), explicando como e com quem esses acordos foram costurados, incluindo até Silas Malafaia.
Esse arco de alianças, que se completou agora com a ida de Katia Abreu para o ministério da Agricultura de Dilma, explica quem gestou esse “congresso mais conservador”. Na verdade, ao abrir mão de negociar com as “elites” mais próximas do PSDB (como tinham mesmo que ser) e procurar sua própria interlocução conservadora, o PT empoderou os setores marginais dessa elite, e abriu a caixa de Pandora que agora o vitima. O PT é o fiador da bancada BBB.
Evidentemente essa transformação oportunista do PT não se deu sem atrito. Muitos dos intelectuais e militantes éticos que passaram por lá entraram em rota de colisão com a burocracia partidária, principalmente depois que o partido chegou ao poder federal. Mas para cada Plinio de Arruda Sampaio que se perdeu, havia dezenas (ou centenas) de figuras como Delúbio Soares, um picareta sindical conhecido em Brasília por mostrar o conteúdo de sua geladeira aos amigos que o visitavam, para mostrar seu enriquecimento.
E, por falar em enriquecimento. Uma nota de pé de página, mas sintomática, é da visão “negocial” de quem agora está no poder. Eduardo Cunha, como diz o El País, é o “dono de Jesus na internet”: investe em deter quase 300 endereços virtuais como jesusfacebook.com.br, jesusgmail.com.br, jesusyoutube.com.br e, claro, jesusyahoo.com.br (risos). O ex-deputado André Vargas (foto), expulso do PT e do congresso, foi vender “perfumes alternativos” (falsos) da Up Essence, que tem funcionamento ilegal de pirâmide financeira. E Dilma, é sempre bom lembrar, faliu sua própria loja de 1,99 em 1996.
Marta Suplicy, com todos os seus defeitos, tem razão quando diz que, como socialite e figura de televisão, teve seu papel em abrir diálogo entre o PT e as “elites” produtivas. Mas Marta, personagem importante em São Paulo (e com uma densidade eleitoral real), foi afastada das disputas eleitorais por Lula, que sempre pensou em si mesmo como um genial marqueteiro político. E que (ao contrário do que disse no discurso de 1º de maio) é o grande responsável por tudo que está acontecendo, e não apenas alguém “quieto em seu canto”.
Na campanha eleitoral presidencial, outra figura da “elite” mais tradicional, porém ética, a educadora Neca Setúbal, foi usada mentirosamente para atacar a campanha da (ex-petista) Marina Silva. Sempre com o aval e o reforço de Lula. Mas é desse tipo de “representante dos bancos”, como o PT chamou Neca, que precisamos: alguém que usa sua fortuna para atuar, por exemplo, no ambiente de prisões. E não desse Partido dos Toscos, responsável principal pela confusão nacional, em que o PT se transformou.


2 comentários:

  1. Professor, o senhor sempre ofende o PT, poderia me dizer por quê??. Lauro,,

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    1. Olha aqui Lauro..eu nao ofendo o PT eu apenas reproduzo o sentimento de impotência da população frente a tudo que seu partido fez com o país..Temos hoje uma divida externa impagável, uma economia na bancarrota e a desconfiança dos mercados internacionais quanto ao nosso futturo..Seu partido Lauro, levou a Petrobras a quase falência por tantos desvios, os principais lideres do seu partido estão na cadeia ou condenados em ultima instancia.. Temos uma presidenta com quase 80% desaprovação e um ex presidente que foi denunciado pelo ministério publico por enriquecimento ilícito e trafico de influencia..Vc quer o quê?? Elogios...ah! Me poupe..

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