quinta-feira, 5 de novembro de 2015

MEDIOCRIDADE

O Brasil  não passaria na prova do ENEM
Por Alacir Arruda
Estou horrorizado com a capacidade de superação dos conservadores reacionários e imbecis desse país. Se não bastasse terem eleitos bandidos para nos governarem, agora querem discutir Ideologia de Gênero  a partir de Simone de Beauvoir. A incapacidade de concatenar idéias desse povo supera qualquer governo Bush. Senão vejamos! Por uma questão do ENEM 2015 – por sinal muito bem elaborada- de humanidades,  onde o elaborador  cita um pequeno fragmento da obra “O Segundo Sexo” da filosofa francesa Simone Beauvoir resolveram execrar essa filósofa.  Aliás, filósofa da mais alta magnitude,  essa cidadã só  era esposa de Jean Paul  Sartre um ícone da filosofia existencial.
Agora imaginem  um aluno vendo na sua frente um parágrafo de texto escrito por uma figura histórica conhecida, uma dessas pessoas que viveu um momento histórico particular, que pensou sobre o mundo e agiu para transformá-lo. Será que consegue ler e interpretar o tal parágrafo? E se puder escolher uma resposta pronta entre 5 possíveis (sendo que algumas delas claramente não tem relação nenhuma com o texto)? Ajuda? Escolha a alternativa certa e eu vou saber se você conseguiu entender o que o texto estava dizendo. Isso é o resumo da mecânica de uma prova como o ENEM, que pretende avaliar as habilidades dos alunos com 180 questões e uma redação.
A polêmica a respeito de parágrafos de texto assinados por Simone de Beauvoir e Milton Santos, usados como enunciados de questões do ENEM, são uma má interpretação dessa mecânica. O objetivo da prova é avaliar, entre outras habilidades, a capacidade de interpretar textos, e isso não tem nenhuma relação com a opinião dos alunos. Se os tais enunciados são polêmicos ou se vão na contramão das convicções daquele que está fazendo a prova, tanto melhor. Se eu não conheço os autores citados, se não concordo com eles, mas ainda assim consigo ler e compreender o que eles estão querendo dizer, isso significa que eu consigo interpretar um texto, qualquer texto.
Mesmo a redação, não tem como objetivo abrir um espaço para conhecer a opinião dos alunos sobre esse ou aquele tema. A redação é também um teste para saber se o estudante consegue estruturar argumentos em sequência, com começo, meio e fim, sem apelar para afirmações sem fundamento. Aliás, os enunciados das questões, assinados por pensadores, poderiam servir como argumentos e contra-argumentos para a redação, já que o tema – a persistência da violência contra a mulher na sociedade brasileira – pode ser abordado por diferentes ângulos. Isso mostra apenas como a prova é bem elaborada.
Se tudo o que conseguimos extrair do ENEM 2015 é a polêmica, a doutrinação ideológica, o feminismo etc., nossa capacidade de interpretar textos está bem prejudicada. A sociedade brasileira não passaria nessa prova de conhecimento gerais e habilidades básicas, e isso significa que não temos formação para navegar pela complexidade da vida contemporânea. Vamos ter que começar de novo. Aos livros, cidadãos!


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