UMA NOVA ORDEM MUNDIAL.
Por Alacir Arruda
Agencia Reuters
2017 tem sido um ano de transformações politicas nunca antes vista na historia. O crescimento da extrema direita no mundo civilizado - entenda Europa - , a vitória de Trump nos Estados Unidos e as interferências russas em eleições de países como USA e França marcaram esse primeiro semestre. A era da hegemonia norte-americana e do neoliberalismo sempre foi, por definição, tempos de turbulências e incertezas. Ninguém, e nem nada, pode prever com certeza um futuro imediato, menos ainda o de médio e longo prazo. Mas o acúmulo de acontecimentos permite projetar 2018 como um ano em que desenhará, com mais clareza, o surgimento de um mundo mais que multipolar.
O fim da Guerra Fria fez o mundo retroagir ao período histórico da hegemonia britânica, em que uma única potência detinha o predomínio mundial. A decadência britânica introduziu um tempo de disputa hegemônica primeiro entre os EUA e a Alemanha, com duas guerras mundiais no meio, depois entre os EUA e a URSS, no cenário chamado de "guerra fria".
O fim desta ultima fez com que a humanidade voltasse a um mundo unipolar, desta vez com a hegemonia imperial norte-americana. Não tardou a se anunciar que a história terminaria desembocando nessa hegemonia, que trazia, com ela, a economia capitalista de mercado e a democracia liberal, como horizontes insuperáveis da história. Seguiriam havendo acontecimentos, mas todos enfeixados nesse marco, que nos aprisionaria definitivamente. Ao invés de rodar para frente, a história teria retrocedido e ficado congelada. A superioridade militar, econômica, política e ideológica dos EUA não permitiram alimentarmos ilusões em outra direção. O fim do socialismo, que seria o futuro da humanidade, na concepção derrotada, relegava esse tipo de sociedade para o museu da história, como um longo parêntesis finalmente encerrado. A economia capitalista passava a ser simplesmente "a economia", a única possível, assim como a democracia liberal, a única democracia possível.
Porém a Pax Americana não trouxe o fim dos conflitos bélicos, mas sua multiplicação, ao mesmo tempo em que o reino do mercado não trouxe de volta o crescimento econômico, mas a recessão prolongada. Como resultado dessas contratendências, surgiram governos antineoliberais, como na América Latina, assim como forças que se coordenam pela construção de um mundo multipolar, como aquelas congregadas nos Brics.
Aquele episódio que parecia ser mais um exercício da superioridade militar dos EUA e dos seus aliados no bloco imperialista ocidental – como havia ocorrido no Afeganistão, no Iraque, na Líbia -, o da destruição do governo da Síria, como passo prévio para o bombardeio do Irã, acabou promovendo uma grande reviravolta que, somada a outros fenômenos, aponta para o surgimento desse mundo multipolar.
Os EUA não conseguiram criar as condições do bombardeio do Irã, ao contrario, nem dentro do país, nem com seus aliados, ao contrario,para surpresa de analistas, houve ate uma certa aproximação entre Teerã e Washington. . A Rússia que se aproveitou disso,pois foi ela quem propôs um processo de negociação entre os EUA e o Irã, que teve sucesso, desarticulando os planos bélicos de Israel, apoiado pela Arábia Saudita e realizando o primeiro processo de resolução pacífica de um conflito importante no mundo, em muito tempo.
Esse sucesso foi o preâmbulo que permitiria uma resolução da também aparentemente interminável guerra na Síria. A Arábia Saudita incentivou o apoio ao chamado Estado Islâmico, hohe em fase terminal, que tornou-se a força fundamentalista e terroristas que que ameaçou os governos no Oriente Médio, e em todo o mundo nos últimos 4 anos, com suas ações terroristas. Como um dos seus efeitos, a guerra na Síria polarizou-se entre o EI e o governo sírio, tirando do cenário supostas forças de oposição moderada, usadas como pretexto para os EUA apoiar as tentativas de derrubada do governo sírio. O acordo entre a Rússia, a Turquia e o Irã, chancelado pelo Conselho de Segurança, apoiado na derrota do EI, pela intervenção decisiva das tropas russas, promoveu um novo grande acordo, desta vez sem os EUA.
A esse novo horizonte se soma à aliança em torno dos Brics, tendo a Rússia e a China como protagonistas essenciais, como forças que promovem o fortalecimento de modelos de desenvolvimento econômico com distribuição de renda, como contrapartida do esgotamento do neoliberalismo e a prolongada recessão em que desembocou esse modelo.
Tem ainda o Brexit e a vitória de Donald Trump que apontam cada vez mais para a recuo do processo de globalização, com políticas protecionistas e enfraquecimento dos processos de livre comércio se impondo nas duas potências, que desde há mais de um século comandam, aliadas, o bloco imperialista no mundo.
A combinação desses fatores, com a retirada da Grã Bretanha da União Europeia, assim como as ações - algumas desastrosas - do governo de Trump, farão com que aquilo que já se vinha desenhando com o esgotamento do modelo neoliberal, a incapacidade dos EUA de concluir as guerras no Afeganistão e no Iraque e sua impotência diante da extensão dos conflitos bélicos para toda a região, bem como o fortalecimento da capacidade da Rússia como ator político e militar global, contribuirá para criação de um novo cenário mundial, onde atores como China e Rússia deverão ser os protagonistas.
Um mundo que tem que ser, para a América Latina, um espaço de novas oportunidades, para fugir definitivamente de ditadores déspotas e uma extrema-esquerda que afundou países como:equador, Venezuela e Bolívia, além da hegemonia norte-americana, buscando aprofundar alianças que promovam a solução pacífica dos conflitos mundiais e apoiem políticas de desenvolvimento econômico com distribuição de renda. O Brasil, a Argentina, o México e todos os países do continente devem orientar suas políticas externas na perspectiva desse novo horizonte mundial.
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