segunda-feira, 30 de setembro de 2013

AGRADECIMENTO

GOSTARIA DE AGRADECER A TODOS QUE COMPARECERAM NO PALACIO DA INSTRUÇÃO NESTE SABADO 28 DE SETEMBRO E  ABRILHANTARAM O NOSSO II CAFÉ FILOSÓFICO. MAIS DE 100 PESSOAS COMPARECERAM   E CONSEGUIMOS CRIAR UM ESPAÇO DE DISCUSSÕES FILOSÓFICAS PERMANENTE ONDE  OS TEMAS DO NOSSO COTIDIANO SERÃO REFLETIDOS SOB A ÓTICA DA FILOSOFIA.. FICA AQUI O CONVITE PARA  O III CAFÉ FILOSOFICO QUE SERÁ NO DIA 26 DE OUTUBRO – ULTIMO SABADO DO MÊS- . O TEMA DO PROXIMO CAFÉ, ESCOLHIDO PELOS PARTICIPANTES DO II,  SERA;
“ SCHOPENHAUER: O AMOR COMO UMA ESTRATÉGIA DA NATUREZA”.. 

terça-feira, 24 de setembro de 2013

o primeiro foi um sucesso, vem ai o : 

   "II CAFÉ FILOSOFICO       DIALOGOS DO SER"    

TEMA: “UMA ANÁLISE DA OBRA O ANTICRISTO DE FRIEDRICH NIETZSCHE”
MEDIADORES
PROF. DR. ALACIR ARRUDA
PROF.MS. ALBERTO MUILLER


Data: 28 de setembro de 2013
Local: Palácio da Instrução – Centro- Ao lado da Matriz
Horário: 18h00
Entrada Franca –  ao término degustaremos um delicioso Coffee Brake..


Informações: 8153-0017 – 9307-1970


PARTICIPEM......
 O AMOR COMO UMA ESTRATÉGIA DA NATUREZA...

Por Alacir Arruda
           
         Por que amamos? Será que o amor é algo inerente a espécie humana?  Ou uma estratégia da natureza para que possamos perpetuar a espécie?   Ao estudar o filosofo alemão Artur Schopenhauer, que viveu no seculo XIX e influenciou importantes pensadores como Nietzsche, Marx e Freud, o leitor poderá  ter uma ideia do sejam todos esses questionamentos e entender melhor  os relacionamentos humanos por dois motivos:  segundo Schopenhauer, o amor merece ser considerado em toda sua importância. O primeiro é de que os poetas fazem do amor o tema preferencial em suas obras dramáticas, trágicas, cômicas ou românticas. As mais perfeitas e imortais são Romeu e Julieta, Nova Heloísa e Werther. Se os poetas lhe dão tanto crédito não é por força da retórica e da fantasia, mas por força da importância natural do tema e é isso que faz a poesia merecer interesse por parte da humanidade, pois só o que é manifestação da verdade merece crédito e a poesia não seria uma verdadeira arte se não falasse a verdade. Os poetas são assim testemunhos fidedignos do merecimento que o amor tem como tema dispensador de investigação.
     O segundo motivo vem da experiência. O cotidiano é farto em exemplos onde, personagens não literários, mas sim pessoas de carne e osso, levados pelo sentimento do amor, chegam a ultrapassar o razoável envolvendo-os nos negócios privados ou do Estado, a ponto de cometer assassinato, suicidar-se ou ser levados ao manicômio.
            Então, pelo papel de primeira ordem que o amor ocupa na vida humana é de se estranhar, diz Schopenhauer, que os filósofos pouco ou nada tenham se preocupado com esse tema. E os que se debruçaram, tal como Platão, Rousseau, Kant e Spinoza, o fizeram ou de forma equivocada ou superficialmente. Platão, por exemplo, trata a questão bem longe do seu habitat natural, ou seja, o impulso físico ou o instinto sexual, levando-o às alturas da fábula e do mito. Nem Platão nem os espiritualistas compreenderam que o amor em nada é abstrato, mas que é algo bem material e determinado, enraizando-se no “instinto natural dos sexos”.
Toda paixão amorosa é apenas um impulso sexual bem determinado e individualizado. Em toda paixão amorosa trata-se sempre de uma metade encontrar uma outra metade, trata-se de todo João encontrar a sua Maria, em vista de algo grandioso, objetivo último de toda atração amorosa: a geração e o futuro da espécie. Nada além disso. Mas isso é o sério da questão. Compreender que toda paixão amorosa tem em vista a perpetuação da espécie é ter ultrapassado o adorno que envolve o amor para alcançar o seu núcleo essencial. Com efeito, diz Schopenhauer, “não se trata aqui, como nas demais paixões humanas, de uma desgraça ou de uma vantagem individual, mas da existência e constituição especial de todo gênero humano futuro; e desse modo, a vontade individual transforma-se em vontade da espécie” (Schopenhauer, 2004, p. 83). Essa é, diz Schopenhauer, a chave da questão do amor, desde a mais fugaz inclinação até a paixão mais avassaladora.
      Dessa forma, o tema do amor se conecta com o núcleo duro da filosofia de Schopenhauer, ou seja, a vontade cega, a vontade de viver, ínsita em todo ser. De tal forma que as vicissitudes da vontade individual ou da “necessidade subjetiva”, envoltas no impulso sexual, não passam de meras ilusões da consciência. Sempre que uma metade se junta a outra, que um João encontra a sua Maria, o que está em questão são sempre os estratagemas da vontade da natureza para atingir seus fins, no caso a constituição das gerações futuras. O sentimento individual, nesse caso, é apenas uma máscara ilusória, o que importa mesmo é o filho que surge duma relação amorosa. “Que uma criança determinada seja gerada, é este o verdadeiro alvo de todo romance de amor, embora os envolvidos não tenham consciência disso: a intriga que leva ao desenlace é coisa acessória” (Schopenhauer, 2004, p.84). Isso pode parecer chocante às almas românticas e sentimentais, mas a natureza não se importa com sentimentalismos. E estes deveriam ponderar se pode haver maior finalidade na vida do que perpetuar a própria vida. De que valem os sentimentos impossíveis e suas quimeras ideais comparado com o futuro da geração? Somente esse elevado fim pode justificar os tormentos e incidentes com que o amor está envolto. Assim como nos momentos mais encantadores sempre está, sorrateiramente, a vontade da natureza pela reprodução. Em todos os passos do amor é a vontade de vida que os conduz. Em cada atração do olhar e união final, a fusão num único ser, o ser a ser gerado será a prolongação da sua existência. Ao contrário, na aversão mútua, o que a natureza impede é uma constituição sem harmonia e infeliz do filho. Por isso a natureza faz de alguns, homossexuais, pois se gerassem enfraqueceriam a espécie. Eis a astúcia da natureza cumprindo a sua vontade.
    O que importa é a sobrevivência da espécie, afirmação da vontade, e para tal se vale da sexualidade para alcançar seu fim. Para isso pouco importa se o indivíduo precisa ser sacrificado, a natureza é insensível ao indivíduo, importando-se somente com a idéia da humanidade. Se uma pessoa morre, outra nasce no seu lugar. Assim, por trás de cada amante, cada casal formado, está o Em-si cósmico, arquitetando a espécie através do instinto sexual. Por trás do enlace amoroso está a vontade que quer se perpetuar, mesmo que os indivíduos não tenham consciência disso. Por isso os casais brigam, mas estão de acordo no quesito sexo. Pode até faltar a correspondência psicológica, mas ambos se dão no prazer físico. Astúcia da natureza e da vontade, nada mais. O que importa é que a criança seja gerada e a geração futura mantida. É o filho ausente que dirige o amor cego. O amor é cego, e nem precisa enxergar, pois alguém, invisível, vê pelo casal.
       Portanto, no amor entre dois seres o que está em questão nunca é a felicidade efêmera dos indivíduos envolvidos. A felicidade individual é uma promessa ilusória para que o gênio da espécie possa cumprir o seu objetivo que é a perpetuação da própria espécie. Para isso ela se vale da ilusão do instinto fazendo passar por bem individual o que na verdade é o próprio bem da espécie. “Portanto, a busca zelosa e apaixonada da beleza, a escolha cuidadosa a que se procede, não se referem ao interesse pessoal de quem escolhe, embora este assim o suponha, mas se referem ao fim verdadeiro, ao ser futuro, no qual deve ser mantido o tipo da espécie da maneira mais integral e pura possível” (Schopenhauer, 2004, p.87).

quinta-feira, 19 de setembro de 2013

O Supremo não pode ceder às pressões das ruas?

Por Alacir Arruda
         
    O povo brasileiro assistiu atônito à vergonhosa decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), nesta quarta-feira 18 de setembro. O voto do Ministro Celso de Melo, decano da casa, dando parecer favorável aos Recursos Infringentes dos condenados pelo mensalão revelou não apenas a fragilidade e o fisiologismo da nossa justiça, como também contrariou a vontade popular. Com essa decisão o STF abre margem para que sejam recolocados no cenário político nacional, corruptos condenados e raposas que há muito deveriam ter sido expurgados da vida pública.O supremo se revelou medíocre. Essa decisão é um evidente retrocesso e um estímulo à impunidade. O povo brasileiro tem pressa sim. Pressa de saúde, de segurança, de educação, de ética, de acabar com a corrupção. A decisão do STF pode significar não apenas uma afronta a ética, mas, sobretudo, um atestado a favor da corrupção e dos desvios de conduta. A idéia de um novo julgamento a pessoas, comprovadamente, bandidas abre uma discussão sobre qual o verdadeiro papel do STF. Ser o guardião da constituição? Como prescreve a nossa Carta Magna. Ou ser um instrumento de recursos infindáveis onde uma prole de políticos corruptos sentem-se representados? 
     A justificativa do voto do Ministro Celso de Melo não poderia ser mais reveladora: “O supremo não pode ceder às pressões das ruas”.. Excelentíssimo Ministro, Vossa excelência tem noção do seja “democracia” na acepção do termo? A democracia é uma forma de governo que se caracteriza por fazer recair o poder sobre a população. Este propósito significa que as direções que toma um grupo social se sustentam na vontade da maioria. Desde o ponto de vista etimológico, a palavra democracia compõe-se de formantes provenientes do grego, que significam “governo” e “povo”.
   A opinião mais estendida é que a democracia seja a forma de governo onde o povo verdadeiramente é o “grande juiz” por compor a maioria. Sendo assim Sr. Ministro, sua justificativa de voto, afirmando que o clamor popular não pode ser um instrumento de pressão que possa ser levado em conta pelo Supremo, é no mínimo, “dúbia”, pois coloca em risco o próprio conceito de “Estado Democrático de Direito” item previsto na Carta Magna e que garante a todos os cidadãos o direito de representar e serem representados dignamente. Decisão judicial não se discute, mas a omissão deve ser questionada sempre. Muitos criticam o Ministro Joaquim Barbosa, dizem que é espalhafatoso em seus discursos e até que possua pouca ética, porém, de todas as criticas direcionadas a ele, uma não o atinge, a omissão. Ele pode ate pecar, mas por excesso, jamais por se omitir. 
    Fecho esse artigo com as sábias palavras de nosso maior jurisconsulto, Ruy Barbosa:            “ Sinto vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer… Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor, ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
   Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo brasileiro!
‘De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

( Ruy Barbosa preferido no Congresso em 1914)



quarta-feira, 18 de setembro de 2013

POR QUE OS NOSSOS ALUNOS TEM UM  DESEMPENHO MEDIOCRE NO ENEM.??

Por Alacir Arruda

     No Brasil a coisa é mais ou menos  assim; o ENEM caminha para o norte enquanto o ensino médio regular e cursinhos pré-vestibulares caminham para o sul. Estão, diametralmente, em posições opostas. Já disse em artigos anteriores que o ENEM é a coisa mais interessante que já se produziu em educação no Brasil nos últimos 513 anos. Digo isso por achar a sua proposta inovadora e estar em consonância com o que prescreve os conceitos de conhecimento para o século XXI, qual seja, um ser humano que possua uma visão holística de mundo, consiga enfrentar situações criticas e possa se doar,  ainda,  por compor o  grupo que ajudou a elaborar o Novo Enem em 2009 e ter colaborado, nos últimos 6 anos,  como elaborador de Itens para o Banco de Dados do INEP. Mas por que os nossos alunos demonstram não ter a menor idéia do que seja o ENEM? A explicação está na falta de conhecimento, por parte deles, dos conceitos básicos  que norteiam a prova como; Habilidades, Competências, Situações Problemas e Interdisciplinaridade. Esses conceitos, que são a base do ENEM, não são ensinados nas escolas, aliás, 94% dos professores brasileiros (segundo dados da faculdade de educação da USP)  não tem a menor noção do que sejam isso. Isso justifica, grosso modo, o fracasso de nossos alunos, que em parte está ligado a má formação dos nossos docentes e a outra parte na decadência da escola no Brasil. Em resumo, o ENEM é perfeito, para ser aplicado em países como Finlândia, Suécia Dinamarca Coréia do sul etc, mas o Brasil não esta preparado para um desafio desse porte.
     Que o objetivo da escola é dar um sentido ao Ensino Médio isso ninguém discute. Para ela, esse sentido é propedêutico, de continuação dos estudos. Assim, parece-lhe certo fazer o que for possível para o aluno atingir a universidade. Se as universidades aderiram ao ENEM, a escola deve preparar o aluno para um bom desempenho na prova. Com uma avaliação considerada mais fácil do que o vestibular, o investimento nele é prioritário, pois, se o desempenho do aluno no ENEM não for satisfatório, dificilmente o será no vestibular. Com um bom desempenho no vestibular, vem a soma: soma de pontos para ingressar na universidade e soma de conhecimentos para a prova do vestibular. Sem hipocrisias, como defende a professora, o ENEM se transformou em um vestibular de segunda categoria, ou mesmo, um vestibular mais humanizado.
   Dessa maneira, essa perspectiva do MEC - trazer o ENEM para orientar os currículos das escolas, indiretamente, pressionando via novas demandas de conhecimento, que serão exigidas nessa avaliação nacional - aproxima-se, e muito, da visão de transformar a educação em um grande cursinho. A diferença é que o cursinho anterior tinha o vestibular tradicional como alvo principal a atingir. Agora, o novo cursinho – quem quiser pode ler reforma do Ensino médio – terá como objetivo os padrões do ENEM.
      A máxima vem endossar que o problema não é o vestibular em si, mas sim, a não exigência de conteúdos compatíveis com a vida. Em outras palavras, passou-se muito a difundir que o problema não é seguir o vestibular. A questão é que o vestibular não estaria de acordo com o que a sociedade exige que o aluno aprenda. Como o vestibular, em nome da autonomia, depende de cada instituição de ensino superior, ele foi se fragmentando a ponto de cada escola exigir conteúdos diferentes, isolados. O ENEM, então, a nova bússola do Ensino Médio, entra para corrigir os currículos das escolas sem impor diretamente sua diretriz. É com essa conotação, como um modelo a ser seguido, que o ENEM tem a pretensão de servir como referência para os currículos.
    Uma primeira questão é que o sistema educacional no Brasil, como em diversos outros países subdesenvolvidos ou ditos em desenvolvimento, é montado para deixar uma grande parte de fora. E a forma como o sistema funciona é a de um funil (os governos odeiam essa analogia). Mesmo quando estão dentro, como é o caso do Ensino Fundamental e, em menor grau, o do Ensino Médio, o baixo rendimento, a evasão e a repetência contribuem para alimentar o funil. Muitos entram, poucos saem (e os poucos têm sido, em sua grande maioria, os das classes dominantes). O funil alivia a pressão sobre os demais níveis. Do Ensino Médio para o Ensino Superior, isso é escancarado. Basta ver quantos concluem o Ensino Médio e quantos tentam acesso à universidade. E dos que tentam o acesso, quantos conseguem entrar.
    Assim, é preciso afirmar que o vestibular (o grande vilão) não existe para excluir, ele exclui para existir: é o instrumento que possibilita colocar uns para dentro e manter outros de fora. Por isso que é ingênuo quando o MSU (Movimento dos Sem Universidade), anteriormente acordado com a direção do evento, invade a fala do ministro da educação, pedindo o fim do vestibular[1]. A verdade é que não há vagas para quem não pode pagar (sejam as universidades ou as escolas básicas). É a exclusão que faz existir o vestibular. Ele se faz necessário pela função que o Brasil ocupa na atual ordem capitalista. A prioridade da política econômica é o pagamento das dívidas internas e externas, do investimento no agronegócio, do sucateamento da educação pública, das privatizações das estatais. É inerente ao sistema educacional do capitalismo subdesenvolvido a exclusão. Isso não quer dizer que se deve cruzar os braços e não fazer nada, “pois tudo já está resolvido” ou “nada pode ser feito”. Pelo contrário. Só mostra que nada está resolvido, que o trabalho de quem quer construir uma sociedade diferente é muito mais complexa do que as reformas, no sistema capitalista, podem sugerir.
    Diante de todo o exposto, fica evidente que o ENEM cresceu em cima do desejo/ilusão de milhões de jovens de ingressar no ensino superior após as universidades ‘aceitarem’ usar o resultado como parte de seu processo seletivo. Com o uso desse imaginário, o MEC pensa em consolidar o exame para transformá-lo em bússola para a reforma do Ensino Médio (contribuindo com o professor em sala de aula), para acabar com o currículo para a ‘não-vida’ e efetivar o novo currículo para a vida.  
     Não precisa ser nenhum vidente para imaginar o estrago em que isso vai dar. De fato, o exame só atinge mesmo uma minoria que está na ponta do funil tentando escapar para a universidade. Desses, as estatísticas denunciam, todos os anos, só uma pequena parte vai conseguir sentar-se nos bancos dos institutos superiores de ensino. A grande massa que fez a inscrição para o ENEM foi ludibriada pela intensa propaganda de que poderia ser aprovada no vestibular se tivesse um bom desempenho. A onda de crescimento tanto já parou, como já começou o recuo de inscritos no ENEM (basta ver os anos de 2002, 2003 e 2004 do quadro VII). A tendência é estabilização nos marcos dos mesmos números dos vestibulares. Quem vai pagar o preço pelo patrocínio gratuito da frustração em nossos jovens não se sabe, mas a história deve dar alguma resposta, alhures.  Portanto, achar que uma avaliação que já nasceu com a função de selecionar pode contribuir com o professor para construir um novo Ensino Médio, demonstra bem que tipo de reforma se pretende implantar: além de estar baseada no currículo, ainda depende sobremaneira da ilusão de acesso ao Ensino Superior, que dura pouco tempo.






[1] Aconteceu no Fórum Mundial de Educação em São Paulo, durante a palestra proferida pelo atual ministro da educação, Tarso Genro.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

 Espionagem;
  a fragilidade das democracias ocidentais..
Por Alacir Arruda e
EUA_Edward_Snowden06A_Yoani

O mundo assiste, perplexo, ao espetáculo sombrio da espionagem. Não a espionagem anti-terror, essa eu até entendo, mas a espionagem mais repugnante que existe, qual seja, espionar cidadãos, governos e empresas de outros países no intuito de auferir vantagens financeiras, Esse é um momento tão marcante de hipocrisia, cinismo, submissão, violação do direito internacional, abuso do poder tecnológico e paternalismo ocidental merece um lugar destacado na história humana. O episódio infame que fez com que o avião do presidente Evo Morales fosse bloqueado em Viena com base em um rumor infundado lançado pela Espanha, segundo o qual o ex-agente da NSA norte-americana, Edward Snowden, se encontrava a bordo é a consequência de uma caçada humana lançada pelo Ocidente em nome de um novo delito: a informação. 
Contra todas as regras internacionais, França, Itália, Espanha e Portugal negaram o acesso a seus espaços aéreos ao avião presidencial boliviano. Queriam capturar o homem que revelou como Washington, por meio de seu dispositivo Prism, espiona as comunicações telefônicas, os correios eletrônicos, as páginas do Facebook, os faxes e o Twitter de todo o planeta, incluídos os de seus próprios aliados europeus. 
Segundo assegura o presidente austríaco Heinz Fischer em uma entrevista publicada no domingo, dia 7, pelo jornal Kurier, o avião do presidente boliviano “não foi controlado”. Fischer afirma que “não houve controle científico”. “Não havia nenhuma razão para fazê-lo com base no direito internacional. Um avião presidencial  é um território estrangeiro e não pode ser controlado.” 
Os dirigentes europeus só levantaram a voz quando se revelou o alcance massivo do programa de espionagem norte-americano Prism. E se entende por quê: poucos dias depois, o jornal francêsLe Monde contava como a França fez o mesmo com seu “Big Brother” nacional. “A totalidade de nossas comunicações é espionada. O conjunto dos emails, SMS, as chamadas telefônicas, os acessos ao Facebook e ao Twitter são conservados durante anos”, escreve o Le Monde. 
Em uma entrevista publicada no fim de semana passado pelo semanário alemão Der Spiegel, Edward Snowden contou que a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA) “trabalha lado a lado com os alemães e os outros países ocidentais”. O agora ex-agente da NSA detalha que essa espionagem conjunta é realizada de maneira que se “possa proteger os dirigentes políticos da indignação pública”. 
Em suma, os “aliados” se espionam entre si e, além disso, separadamente, espionam o mundo e quando alguém resolve denunciar a ditadura tecnológica universal torna-se um delinquente. Muitos assassinos, genocidas e ladrões de seus povos vivem comodamente exilados nos países ocidentais. Os Estados Unidos não negaram abrigo ao ex-presidente boliviano Gonzalo Sánchez de Lozada, A França tampouco fechou as portas ao ex-presidente do Haiti, o traficante de drogas e assassino notório Jean-Claude Duvalier, Baby Doc. Mas no caso de Edward Snowden, negou. 
O ministro francês do Interior, Manuel Vals, disse que, no caso do ex-agente norte-americano solicitar asilo, não era favorável a aceitar o pedido. Snowden teria recebido uma resposta semelhante de mais de 20 países. Com isso, se converteu no terceiro homem da história moderna a ganhar a medalha de perseguido por ter alertado o mundo. 
Além do próprio Snowden, integra essa galeria Bradley Manning, o soldado estadunidense acusado de ter vazado o maior número de documentos da história militar dos EUA. Em 2010, Manning trabalhava como analista de dados no Iraque. Entrou em contato com o hacker norte-americano Adrián Lamo, a quem disse que estava com uma base de dados que demonstravam “como o primeiro mundo explora o terceiro mundo”. Bradley Manning entregou essa base de dados inteira a Julian Assange, que a difundiu pelo WikiLeaks. Alguns dias depois, Lamo denunciou Bradley para o FBI. 
Quem também pagou por fazer circular informação foi o próprio Assange. Protagonista de uma nebulosa história de sexo, Assange vive há mais de um ano refugiado na embaixada equatoriana de Londres. Dizer a verdade sobre como somos controlados, enganados, sobre como os impérios assassinam (vídeo divulgado por WikiLeaks sobre o assassinato de civis no Iraque), mutilam e torturam é um crime que não autoriza nenhuma tolerância. 
O pecado de informar é tão grande que até a Europa se põe de joelhos diante dos Estados Unidos e chega ao cúmulo da vergonha que foi bloquear um avião presidencial. E quem participa do complô são as mesmas potências que depois, nas Nações Unidas, pretendem dar lições de moral ao mundo. O ministro francês de Relações Exteriores, Laurent Fabius, e o presidente François Hollande pediram desculpas pelo incidente. Mas o mal estava feito. 
Segundo informações divulgadas pelo Le Monde, a “ordem” de bloquear o avião não veio da presidência francesa, mas sim do governo. Fontes do palácio presidencial francês e do governo, citadas pela imprensa, asseguram que a decisão foi tomada pela diretora adjunta do gabinete do primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault, Camille Putois. Christophe Chantepy, diretor do gabinete, disse porém que “se trata de uma decisão governamental”. Houve um erro, como disse Laurent Fabius, e a França disse que lamentava por ele.  
Nenhuma declaração pode apagar tremendo papelão. O incidente não fez mais do que pôr em evidência a inexistência da Europa como entidade autônoma e livre e também a recolonização do Velho Mundo pelos Estados Unidos. E isso não é tudo: assim como ocorre com a norte-americana, as grandes democracias espionam o mundo. Isso foi o que revelou o Le Monde no que diz respeito ao sistema francês. Trata-se de um procedimento “clandestino”, escreve o diário, cuja particularidade reside não em explorar o “conteúdo”, mas qual a identidade de quem intercambia conversações telefônicas, mensagens de fax, correios eletrônicos, mensagens do Facebook ou Twitter. 
Segundo o Le Monde, “a DGSE (serviços de inteligência) coleta os dados telefônicos de milhões de assinantes, identifica quem chama e quem recebe a chamada, o lugar, a data, o tamanho da mensagem. O mesmo ocorre com os correios eletrônicos (com a possibilidade de ler o conteúdo das mensagens), os SMS, os faxes. E toda a atividade na internet que transita pelo Google, Facebook, Microsoft, Apple, Yahoo”. 
Com esse sistema se consegue desenhar uma espécie de mapa entre pessoas “a partir de sua atividade numérica”. Sobre isso, o diário francês destaca que “este dispositivo é evidentemente precioso para lutar contra o terrorismo, mas permite espionar qualquer pessoa, em qualquer lugar, em qualquer momento”. A França conta com o quinto dispositivo de maior penetração informática do mundo. Seu sistema de espionagem eletrônica é o mais potente da Europa depois do britânico. A DGSE se move com um orçamento anual de €600 milhões.  
Estamos todos conectados. Sem sabê-lo, participamos da irmandade universal dos suspeitos, das pessoas que vivem sob a vigilância dos Estados, cujas mensagens amorosas ou não são conservadas durante anos. Inocentes enamorados se misturam nas bases de dados com criminosos e ladrões, ditadores e financistas corruptos. Pode-se apostar com os olhos fechados que essas últimas categorias mencionadas viverão impunes eternamente.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

“UM MINUTO PARA  A  IGNORÂNCIA.."
 Por  Alacir Arruda 

  Resolvi dedicar um minuto do meu dia para discorrer sobre algo que me aflige, a IGNORÂNCIA. Não aquela circunscrita às pessoas simples, da roça por exemplo, essa sim, uma ignorancia aceitável e sadia. Falo de algo muito pior, uma ignorancia cujo seus seguidores estão mergulhados numa escuridão profunda e doentia, não aceitam o principio do contraditório, são os donos da razão e terminam por poluir o ambiente onde se encontram. Diversos sábios da Ciência, em todos os tempos, têm se manifestado sobre a “Ignorância” dos Seres Humanos. Dentre eles, destaca-se o nosso maior jurisconsulto, Rui Barbosa, que a respeito dela afirmou: “ A chave misteriosa das desgraças que nos afligem é esta; e somente esta: a Ignorância! Ela é a mãe da servilidade e da miséria”. Alguns outros conceitos a respeito da Ignorância, dito pelos homens mais influentes do Conhecimento Humano vale a pena relembrá-los aqui.  

-“Não há nada mais terrível que a Ignorância”(Goethe,1749-1832);

-“Se me perguntar o que é a morte! Respondo-te: a verdadeira morte é a Ignorância.Quantos mortos entre os vivos!” (Pitágoras, 582-497, AC);

-“A ignorância é a noite (escuridão) da Mente!” (Confúcio,551-478,AC);

-“A diferença entre um homem sábio e um homem ignorante é a mesma entre um homem vivo e um cadáver.” (Aristóteles, 384-322, AC);

-“Dar conselhos a um homem culto é supérfluo; aconselhar um ignorante é inútil.” (Sêneca, 65-2, DC);

-“A sabedoria e a razão, falam; a ignorância ladra.” (Arturo Graf, 1848-1913);

-“Nada no mundo é mais perigoso que a ignorância.”(Luther King,1968);

-“Todo aquele que não sabe,seja quem for,pode e deve entrar no rol do vulgar.” (Miguel Cervantes, 1547-1616);

-“ 
O tolo, quando erra,queixa-se dos outros; o sábio queixa-se de si mesmo.” (Sócrates, 469-399, AC).

Estes, e centenas de outros conceitos de Ignorância, foram emitidos pelos maiores gênios do mundo e, como já disse,  em diferentes épocas da História. E o que dizem os dicionários a respeito da Ignorância? Segundo alguns autores, “Ignorante, é o indivíduo que não sabe”; “aquele que não tem conhecimento de algo”; é “quem desconhece”; etc. De acordo com outros pensadores, o ignorante estabelece critérios que desqualifica o conhecimento alheio em favor de sua falta de conhecimento. Ele faz idéias falsas sobre si, e o mundo que o cerca, de forma errônea e deturpada. Ainda sobre a Ignorância, dizem outros sábios (quase inexistem sábios nos dias atuais) que: “ Ignorância é não saber, não querer saber ou ignorar o conhecimento científico provado e comprovado por métodos científicos e pela lógica. Embora, na linguagem popular e como termo de uso agressivo pelos próprios ignorantes; Ignorante é o "Estupido, burro, asno, idiota, imbecil, retardado, grosso, grosseito, etc.."

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Por que não demos certo como os Estados Unidos?
 Por Alacir Arruda
.Muitos brasileiros já se fizeram essa pergunta.....
Afinal, se temos mais ou menos a mesma “idade”, dimensão geográfica muito próxima, semelhanças históricas, como ambos terem passado por colonização européia, escravatura, imigração européia, etc., então quais teriam sido os fatores determinantes que levaram à resultados econômicos e sociais tão diferentes ?
Eu já havia lido alguma coisa a respeito e conversado com alguns estudiosos sobre o assunto. Em 2008 escrevi um artigo sobre o tema que, somado ao que eu já havia pensado a respeito, me deu finalmente a sensação de ter atingido um grau de entendimento mais satisfatório do assunto. Essa sensação me motivou a resumir aqui alguns trechos desse artigo (adicionando alguns poucos comentários), a fim de melhor organizar meus pensamentos.
Primeiramente coloco comentários sobre fatores que já foram usados para explicar aquelas diferenças mas que hoje estão desacreditados.A seguir, passo a analisar os fatores históricos, ja conhecidos, que levaram os Estados Unidos e o Brasil aos resultados econômicos tão diferentes :
1- O processo de colonização
2- XIX : o século perdido
3- A herança absolutista e a herança de uma sociedade de classes
Penso que uma reflexão sobre esses aspectos nos ajuda a enxergar e compreender melhor o Brasil de hoje. Penso também que essa reflexão pode ajudar a melhor nos posicionarmos politicamente com relação a aspectos relevantes, contribuindo para que nosso país seja menos problemático para as gerações futuras.
2. Aquilo que não explica 
Com uma colonização inglesa tudo teria sido diferente da colonização portuguesa e seríamos muito melhores. 
Entre os brasileiros, a piada que a culpa pelo nosso atraso é dos portugueses toma ares de verdade, depois de tanto repetida. Como se bastasse tomar o chá das cinco ou fumar cachimbo como os ingleses para insuflar a fumaça do desenvolvimento nas rudes terras tropicais. Na verdade, a explicação para nossas misérias é bem mais complexa do que esse simples preconceito anti-lusitano. Basta ver como estão hoje algumas ex-colônias inglesas como Quênia, Zimbábue, além de nossa vizinha Guiana, para constatar que a realidade não é tão simples.
Vieram ainda as teorias de superioridade racial, superioridade cultural, que causaram muitos estragos e deixaram marcas que insistem em permanecer entre nós, mesmo depois de desmentidas e derrotadas em todos os fóruns científicos e em todos os confrontos lógicos.
Já tentaram explicar nossas diferenças com os americanos por razões religiosas, raciais ou geográficas. Esses três fatores influenciaram sim nossa formação, mas não foram determinantes.
O fato de os Estados Unidos de hoje, sem o Alasca, ficarem quase totalmente na faixa temperada não justifica aquelas teorias antigas , chamadas de “determinismo geográfico”, que, levadas ao absurdo, queriam dizer que era impossível de dar a civilização nos trópicos; que era preciso frio para que a humanidade prosperasse e outras tolices do tipo.Na verdade, a civilização ocidental nasceu muito mais próxima do calor do que do frio. No tempo do apogeu egípcio, na zona desértica, a Europa era um continente atrasado. E a América do Norte, no século XVI, tratava-se de um subúrbio abandonado da grande civilização asteca, também nos trópicos. 
Determinantes foram as razões econômicas e históricas. Quando se joga a culpa na raça, na religião ou na geografia, que são dados integrantes da formação brasileira, dá-se uma boa razão para o imobilismo e para a inércia. Quando se entende que é a história que justifica este ou aquele fato, fica mais fácil mudar as coisas em nossa vida ou em nosso país.
3. Aquilo que explica ou justifica o nosso atraso 
A república no Brasil começa com mais de cem anos de atraso em relação aos Estados Unidos. Mas ainda guardando sinais do velho regime. Muitos dos homens que assumem os ministérios do início da república haviam servido à monarquia e carregavam muitos dos seus ranços.  A proclamação da república no Brasil foi um movimento militar. Quer dizer, nada de movimentos populares, como os sans culotte franceses ou os dos fazendeiros dos Estados Unidos. A Constituição republicana , que foi bandeira em outros países, demorou aqui dois anos para ser aprovada, para logo em seguida ser suspensa por um estado de sítio. Por aqui, as leis que deveriam moldar a nação republicana sob uma nova forma (mais aberta, esperava-se) custaram para mudar e quando o fizeram , não foram significativas. E mantiveram os privilégios das oligarquias rurais que mandavam e continuaram mandando no país. Os militares e civis mais avançados que ajudaram a proclamar a república foram logo presos, exilados, afastados, deixados no ostracismo ou, mais tristemente, cooptados, para que o governo pudesse continuar servindo a quem sempre serviu, a oligarquia rural.  A industrialização do Brasil para valer começa no final do século e em São Paulo. A política do governo brasileiro de subsidiar a imigração geraria um fenômeno benéfico aos cafeicultores : a abundância de mão-de-obra barata. Aos imigrantes se juntavam milhões de nordestinos, expulsos pela seca e pelo fracasso das plantações de algodão, que enfrentaram a retomada da produção americana.  “Também a imigração européia que à primeira vista pode parecer um fenômeno que aconteceu de modo similar no Brasil e nos Estados Unidos, guarda diferenças importantes entre os dois países”.   Como o governo brasileiro custeava a viagem, vieram para o Brasil, principalmente, os europeus dos países mais pobres e menos letrados, geralmente do sul da Europa, que não podiam pagar a viagem para os Estados Unidos.  “Os números da migração não escrava para o Brasil e para os Estados Unidos são absolutamente diferentes. Entre 1820 e 1998 entraram no Brasil 4,5 milhões de migrantes, enquanto no mesmo período foram para os Estados Unidos 53,1 milhões”.  Por falta de consistência e outros apoios, os militares que proclamaram a república acabaram se aliando às elites agrárias de São Paulo e Minas, que governaram o país até 1930, quando Getúlio Vargas rompeu o pacto do café-com-leite e tentou novamente impulsionar mudanças industriais.  Com o golpe de estado de Getúlio Vargas, os industriais de São Paulo acharam que subiriam ao poder , mas sofreram grande decepção com o realinhamento do poder em torno dos interesses rurais, agro-exportadores. Já em 1932 organizariam a Revolução Constitucionalista, sufocada rapidamente. Os poderes da economia agrária exportadora eram mais fortes do que Vargas poderia suspeitar.  Durante toda a primeira metade do século XX os interesses industrialistas , mais voltados para o mercado interno, chocaram-se com os tradicionais esquemas agro-exportadores, mais interessados no mercado externo e na valorização das moedas dos compradores de seus produtos. Os industrialistas queriam a ampliação do mercado interno. Para o setor agro-exportador isso não interessava. O que valia era exportar. “Essa herança nos chegou até os anos 1970, no lema dos governos militares, de que o que valia era exportar . Naquele momento até justificadamente em função da necessidade do país fazer frente à dívida externa que se agigantava. O que levou à paralisação da economia nos anos 80.”   A variável que parece ter feito toda a diferença entre o desenvolvimento americano e o brasileiro foi a do crescimento do mercado interno. Enquanto nos Estados Unidos um mercado interno forte cresceu junto com as exportações, aqui os lucros do mercado externo eram apropriados por uma pequena parcela da população, desde os tempos do ouro de Minas Gerais, até os tempos do boom do café. E mercado interno era uma variável sem a menor importância para uma economia agro-exportadora (“de estrutura retrógrada”).  A grande defasagem entre Brasil e Estados Unidos está em que, na América do Norte , a república independente formou-se há mais de 200 anos, por uma população livre, de grandes e pequenos proprietários e trabalhadores. Desde o início, os Estados Unidos herdaram as sementes da industrialização, da livre concorrência, o que transformou o país no motor da Segunda Revolução industrial. Desde a independência, formou-se um alicerce político razoavelmente democrático, igualitário e duradouro no país, com uma estrutura estatal não intervencionista, o que favoreceu o crescimento do capitalismo.   “O escravismo – “com toda sua herança formadora de uma sociedade de classes” – lá, nos Estados Unidos, foi limitado, ficou isolado, sendo derrubado militarmente há 150 anos, pelo Norte capitalista. No Brasil foi generalizado geograficamente em todo o território nacional, começou muito antes e terminou depois, e impediu a formação de um mercado interno consumidor, influenciando de um modo muito mais profundo, a estrutura econômica e a mentalidade formadora da cultura brasileira. Como conseqüência temos no Brasil de hoje a presença muito mais marcante de uma sociedade de classes sociais e de renda, do que o que existe nos Estados Unidos.”