terça-feira, 24 de setembro de 2013

 O AMOR COMO UMA ESTRATÉGIA DA NATUREZA...

Por Alacir Arruda
           
         Por que amamos? Será que o amor é algo inerente a espécie humana?  Ou uma estratégia da natureza para que possamos perpetuar a espécie?   Ao estudar o filosofo alemão Artur Schopenhauer, que viveu no seculo XIX e influenciou importantes pensadores como Nietzsche, Marx e Freud, o leitor poderá  ter uma ideia do sejam todos esses questionamentos e entender melhor  os relacionamentos humanos por dois motivos:  segundo Schopenhauer, o amor merece ser considerado em toda sua importância. O primeiro é de que os poetas fazem do amor o tema preferencial em suas obras dramáticas, trágicas, cômicas ou românticas. As mais perfeitas e imortais são Romeu e Julieta, Nova Heloísa e Werther. Se os poetas lhe dão tanto crédito não é por força da retórica e da fantasia, mas por força da importância natural do tema e é isso que faz a poesia merecer interesse por parte da humanidade, pois só o que é manifestação da verdade merece crédito e a poesia não seria uma verdadeira arte se não falasse a verdade. Os poetas são assim testemunhos fidedignos do merecimento que o amor tem como tema dispensador de investigação.
     O segundo motivo vem da experiência. O cotidiano é farto em exemplos onde, personagens não literários, mas sim pessoas de carne e osso, levados pelo sentimento do amor, chegam a ultrapassar o razoável envolvendo-os nos negócios privados ou do Estado, a ponto de cometer assassinato, suicidar-se ou ser levados ao manicômio.
            Então, pelo papel de primeira ordem que o amor ocupa na vida humana é de se estranhar, diz Schopenhauer, que os filósofos pouco ou nada tenham se preocupado com esse tema. E os que se debruçaram, tal como Platão, Rousseau, Kant e Spinoza, o fizeram ou de forma equivocada ou superficialmente. Platão, por exemplo, trata a questão bem longe do seu habitat natural, ou seja, o impulso físico ou o instinto sexual, levando-o às alturas da fábula e do mito. Nem Platão nem os espiritualistas compreenderam que o amor em nada é abstrato, mas que é algo bem material e determinado, enraizando-se no “instinto natural dos sexos”.
Toda paixão amorosa é apenas um impulso sexual bem determinado e individualizado. Em toda paixão amorosa trata-se sempre de uma metade encontrar uma outra metade, trata-se de todo João encontrar a sua Maria, em vista de algo grandioso, objetivo último de toda atração amorosa: a geração e o futuro da espécie. Nada além disso. Mas isso é o sério da questão. Compreender que toda paixão amorosa tem em vista a perpetuação da espécie é ter ultrapassado o adorno que envolve o amor para alcançar o seu núcleo essencial. Com efeito, diz Schopenhauer, “não se trata aqui, como nas demais paixões humanas, de uma desgraça ou de uma vantagem individual, mas da existência e constituição especial de todo gênero humano futuro; e desse modo, a vontade individual transforma-se em vontade da espécie” (Schopenhauer, 2004, p. 83). Essa é, diz Schopenhauer, a chave da questão do amor, desde a mais fugaz inclinação até a paixão mais avassaladora.
      Dessa forma, o tema do amor se conecta com o núcleo duro da filosofia de Schopenhauer, ou seja, a vontade cega, a vontade de viver, ínsita em todo ser. De tal forma que as vicissitudes da vontade individual ou da “necessidade subjetiva”, envoltas no impulso sexual, não passam de meras ilusões da consciência. Sempre que uma metade se junta a outra, que um João encontra a sua Maria, o que está em questão são sempre os estratagemas da vontade da natureza para atingir seus fins, no caso a constituição das gerações futuras. O sentimento individual, nesse caso, é apenas uma máscara ilusória, o que importa mesmo é o filho que surge duma relação amorosa. “Que uma criança determinada seja gerada, é este o verdadeiro alvo de todo romance de amor, embora os envolvidos não tenham consciência disso: a intriga que leva ao desenlace é coisa acessória” (Schopenhauer, 2004, p.84). Isso pode parecer chocante às almas românticas e sentimentais, mas a natureza não se importa com sentimentalismos. E estes deveriam ponderar se pode haver maior finalidade na vida do que perpetuar a própria vida. De que valem os sentimentos impossíveis e suas quimeras ideais comparado com o futuro da geração? Somente esse elevado fim pode justificar os tormentos e incidentes com que o amor está envolto. Assim como nos momentos mais encantadores sempre está, sorrateiramente, a vontade da natureza pela reprodução. Em todos os passos do amor é a vontade de vida que os conduz. Em cada atração do olhar e união final, a fusão num único ser, o ser a ser gerado será a prolongação da sua existência. Ao contrário, na aversão mútua, o que a natureza impede é uma constituição sem harmonia e infeliz do filho. Por isso a natureza faz de alguns, homossexuais, pois se gerassem enfraqueceriam a espécie. Eis a astúcia da natureza cumprindo a sua vontade.
    O que importa é a sobrevivência da espécie, afirmação da vontade, e para tal se vale da sexualidade para alcançar seu fim. Para isso pouco importa se o indivíduo precisa ser sacrificado, a natureza é insensível ao indivíduo, importando-se somente com a idéia da humanidade. Se uma pessoa morre, outra nasce no seu lugar. Assim, por trás de cada amante, cada casal formado, está o Em-si cósmico, arquitetando a espécie através do instinto sexual. Por trás do enlace amoroso está a vontade que quer se perpetuar, mesmo que os indivíduos não tenham consciência disso. Por isso os casais brigam, mas estão de acordo no quesito sexo. Pode até faltar a correspondência psicológica, mas ambos se dão no prazer físico. Astúcia da natureza e da vontade, nada mais. O que importa é que a criança seja gerada e a geração futura mantida. É o filho ausente que dirige o amor cego. O amor é cego, e nem precisa enxergar, pois alguém, invisível, vê pelo casal.
       Portanto, no amor entre dois seres o que está em questão nunca é a felicidade efêmera dos indivíduos envolvidos. A felicidade individual é uma promessa ilusória para que o gênio da espécie possa cumprir o seu objetivo que é a perpetuação da própria espécie. Para isso ela se vale da ilusão do instinto fazendo passar por bem individual o que na verdade é o próprio bem da espécie. “Portanto, a busca zelosa e apaixonada da beleza, a escolha cuidadosa a que se procede, não se referem ao interesse pessoal de quem escolhe, embora este assim o suponha, mas se referem ao fim verdadeiro, ao ser futuro, no qual deve ser mantido o tipo da espécie da maneira mais integral e pura possível” (Schopenhauer, 2004, p.87).

7 comentários:

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  2. Refletindo bem sobre o que diz Schopenhauer, se o amor, o carinho e o afeto, ou qualquer relação transcendental fosse o suficiente para os casais, não haveria a necessidades deles fazerem sexo, embora a gente use sempre a desculpa esfarrapada de que não fazemos sexo, mas amor.
    Não deixa de ter sentido a teoria schopenhauriana quando trata do amor. Segundo a obra de Schopenhauer, todos aqueles em idade adulta, e minimamente saudáveis, física e psiquicamente, já experimentaram a ilusão do amor no beijo dado em qualquer um no meio da noite e depois os "finalmentes" em algum leito de motel ( no carro, ou em qualquer outro lugar).

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  3. O amor foi abatido pelos fatos sociais nos dias de hoje é tido como estatos social.

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  4. "ser temido do que amado" tenho uma duvida sobre essa frase nos dia de hoje com o frágil amor liquido o esposo bate na mulher pra prender ela ao medo

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    1. Olha, essa frase de Maquiável deve ser entendida sob a ótica da ciência politica, não pode ser transportada para as relações pessoais..Maquiavel quis alertar os governantes quanto a fragilidade de uma sociedade sem comprometimento, onde esse terror estabeleceria um minimo de ordem...Quanto as agressões a qual vc referiu, isso tem mais a ver com o processo histórico nas relações homem mulher, onde a mulher era vista como inferiora em quase todas as culturas e isso leva a um entendimento, "grosseiro, lógico", que o marido é proprietário da mulher, assim, agredi-lá e apenas um dos elementos que regem essa relação de posse..

      obrigado..

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