A Transparência do Mal: a Banalização do Sujeito..
Por Alacir Arruda
Quando iremos superar a nossa síndrome de “vira latas”, como dizia o Nelson Rodrigues? Ao ver que as pesquisas divulgadas pela mídia para a corrida presidencial apenas evidenciam aquilo que mais temia, ou seja, a vitória do projeto criminoso de poder do PT, passo a refletir sobre o conceito de povo alienado, anestesiado politicamente por um governo assistencialista e irresponsável no trato com a coisa publica. Um governo que conseguiu quase levar a falência uma das maiores empresas do mundo, a Petrobras, que aumentou o numero de ministérios de 19 para 39, aumentou a divida publica em quase 300%, o déficit da previdência de 8 bilhões em 2002 para 30 bilhões em 2014, investiu bilhões na construção de um porto em Cuba em troca de médicos daquele país, que inundou as universidades brasileiras de “analfabetos funcionais” com programas de incentivo como Fies e ProUni. Enfim, o que leva o povo a colocar uma “peneira” para tapar um sol de irregularidades?? Quem sabe a ciência nos ajude.
“A transparência do Mal – ensaios sobre os fenômenos extremos” de Jean de Baudrillard bem como toda a obra de Zygmunt Bauman, nos instrumentalizam e nos norteiam em um mundo onde a lógica cartesiana para entender o pós-moderno e o contemporâneo não são suficientes. A lógica pulsional, do gozo, do pós gozo, trans, do pós-orgia, líquida, não é a mesma das estruturas burguesas da virada do século XIX para o século XX. O mal já amortecido se torna virulento, podendo destruir não como um inimigo paranóico a ser denunciado bem como suas relações de poder ao modo de M. Foucault, mas decompõe o que resta de humanidade no homem de dentro para fora. O desafio aqui é encarar essas análises sem um reducionismo do nós contra eles, do mal à espreita, do paranóico, do saudosista.
Freud na sua obra mais famosa e vendida de todos os tempos – “O mal-estar na civilização” (curiosamente este artigo é o mais vendido de Freud, acima de “A interpretação dos sonhos”), nos ensina sobre a relação antagônica entre o sujeito e sua cultura, uma vez que o conceito de civilização pressupõe que o sujeito reprima seus impulsos, tanto destrutivos quanto sexuais, o que acaba por lhe causar um mal-estar. Se olharmos pelo vértice dos impulsos destrutivos, a civilização é o mecanismo que permite que possamos compartilhar o mesmo espaço, a vencer como espécie e não como indivíduos. Nesse momento surgem sentimentos antissociais e anti-culturais. Nesse sentido, bastaria um olhar sobre a relação da sociedade sobre a violência que nela se produz para percebermos o quanto a própria civilização ou processo civilizatório alcança ou não seus objetivos. Em que base se dá mesmo na contemporaneidade essa relação entre o indivíduo e a sociedade quando em termos de destrutividade e violência? Até que ponto as estruturas sociais e econômicas da contemporaneidade modificam a balança desse conflito ao propor novas formas de subjetividade cada vez mais narcísicas?
Hanna Arendt, filósofa alemã, em seu brilhante trabalho “Eichmann em Jerusalém: Informe sobre a banalidade do mal” por sua vez nos demonstra como pessoas comuns, burocratas, donas de casa, etc ... podem fazer parte de uma indústria da morte como foi o Holocausto, sem se aperceber do entorno, da brutalidade e da crueldade na qual estavam mergulhadas. Algumas pessoas ali envolvidas nas atividades dos campos de concentração encaravam aquilo como meras “atividades de trabalho”. Esse trabalho é fundamental para que possamos afinar nossa sensibilidade em relação a degradação do humano, do Outro e de si, no que tange ao nosso cotidiano social.
Segundo Read More O homem é capaz de muitas crueldades, mas talvez a maior crueldade seja a não percepção dela mesma. Essa mesma obra já inspirou diversos estudos em psicanálise, todos sobre o vértice da perversão.
A pulsão de morte e sua materialidade se torna hoje banal – violência, destruição, destituição do outro e de si. Morte, assassinato, violência doméstica, violência sexual, das condições mínimas de igualdade não comove o suficiente para se gerar novas utopias. Sociedades de direitos flertam com o autoritarismo de estado e não se percebe o pior mal é aquele disfarçado de bem.
Talvez esses autores nos ajude a compreender a lógica que norteia os interesses de um povo contaminado por um egoísmo atroz, que ao receber benesses do governo não consegue se ver como o manipulado, o idiota o bobo alegre da historia. Ora, se vivemos a lógica do “EU” a qualquer custo, isso significa que o mal deixou de ser abstrato e se tornou algo transparente.