sábado, 21 de janeiro de 2017

A Infelicidade II

" O SER  HUMANO SE FRUSTA DUAS VEZES NA VIDA, PRIMEIRO QUANDO TENTA SER ALGUÉM  E NÃO CONSEGUE E A SEGUNDA, QUANDO CONSEGUE"
(Oscar Wilde)

Por Alacir Arruda

Uma  coisa sempre me incomodou desde a infância. Por que nunca estamos contentes com o que temos? O que somos, ou aquilo que tornamos? Por que estamos sempre em busca de algo? Não quero aqui buscar explicações sobrenaturais ou  entrar no campo religioso, pois essa é uma seara que não me aventuro. Logo, vou mergulhar no pensamento de Oscar Wilde, o grande escritor Irlandês,   que viveu a transição do século XIX para o XX, e foi perseguido, torturado e preso  por ser uma pessoa à frente de seu tempo e que é o  autor da frase que da nome  esse  texto.

A filosofia também  nos ajuda  a tentar entender esse mistério. Schopenhauer , o grande filósofo pessimista alemão que morreu no seculo XIX, em sua obra: "O Mundo como Vontade e Representação",  é  categórico ao afirmar que o homem é um cego, pois esta sempre em busca de algo que não existe, "a felicidade". Schopenhauer, que depois iria influenciar Nietzsche e até o próprio Freud, dizia  ainda que a nossa consciência vive uma ilusão interna de sensações bucólicas e passageiras,   e como o ser humano não consegue traduzir essas sensações, costumamos chamá-las de "felicidade". Mas é um truque, segundo ele,  que a consciência utiliza para manter viva uma coisa fundamental em nossa espécie, "a esperança". Na verdade,  Schopenhauer dirá nessa obra que somos fantoches frente à nossa consciência, pois  somos absolutamente manipulados por ela e, nesse contexto,  sobra nos apenas  a  Moral;  que funciona como uma espécie de  "juiz interno" frente aos desejos, sempre espúrios,  da nossa mente.

Voltemos a Oscar Wilde. Esse importante  escritor,  que  viveu na era pós vitoriana numa Inglaterra permeada por  preconceitos e perseguições,  é autor de uma das maiores  Obras Primas  da literatura inglesa: |" O Retrato de Dorian Gray", nessa obra o escritor mergulha nas insatisfações do personagem central da trama, Gray, que vive uma luta interna com sua aparência  e usa um espelho para externar toda essa  insatisfação.  Dorian Gray, no texto , é autor de uma frase que marca a  obra de Wilde: "julgo os meus amigos pela aparência  e o inimigos pelo intelecto",  talvez esteja ai um dos grandes dilemas humanos, a inveja. Caim matou Abel,  segundo o mito cristão, por inveja. Davi ,  que foi o segundo Rei de Israel após Saul, fez uma sacanagem sem igual com um dos seus comandados  Urias,  O mandou para a morte com interesse em sua mulher Betsabé, após isso casou-se com ela e a mesma  ainda gerou o herdeiro do trono, mesmo bastardo,  Salomão.  Desses dois casos podemos extrair alguns sintomas da insensatez e  infelicidade  humana. Ora, se a   máxima de Oscar Wilde estiver certo: "A cada bela impressão que causamos, conquistamos um inimigo. Para ser popular é indispensável ser medíocre",  a mediocridade  tem sido,  e será a grande  e inseparável  companheira de grande parte da humanidade. 

Enfim, esse é o ser humano. Nunca está contente, vive uma ilusão e tenta administrar insatisfações e invejas  recorrentes.  Nesse contexto, a vida tem se tornado cada vez mais, algo  muito importante para ser levada a sério. A solução é viver de forma intensa cada momento que, apesar de serem efêmeros,  é o que nos resta,  viver, mesmo ciente de que: "Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe".


Um comentário:

  1. oi, professor , é bem isso as pessoas estão a cada dia mais insatisfeitas, Freud escreveu o livro sobre o mal estar da civilização , mostrando exatamente isso

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