ENEM: A ETERNA " VACA" DO PRESÉPIO..
Por Alacir Arruda ( o pulso ainda pulsa)
Em algum momento da vida você já deve ter ouvido a expressão "vaca de presépio". Para quem não conhece essa metáfora vou refrescar sua memoria. Antigamente, nas Igrejas, em cima da caixa de esmolas dos pobres havia um presépio. Quando uma pessoa punha uma moedinha, a vaquinha do presépio agradecia, abaixando a cabeça, num gesto semelhante a um "sim". Vaca de presépio é gente que só fala "sim" A pouco tempo, quando fazia uma palestra sobre o Enem em uma escola pública, fui questionado por uma aluna do porquê as nossas escolas não preparam o jovem para essa prova? Resolvi dar uma explicação filosófica: “você já ouviu falar em Michel Foucault? Ele me disse. Não! Mocinha é o seguinte, Michel Foucault foi um filosofo francês considerado por muitos um dois maiores do século XX, ele fez parte de um movimento que revolucionou o pensamento na França da década de 60. Algumas de suas obras se tonaram célebres como: “Vigiar e Punir e Microfísica do Poder. Foucault era, acima de tudo, um analista das instituições e suas ramificações com o poder, dentre elas a educação. E continuei a minha explanação:
Cara aluna, para esse pensador o Estado detém o monopólio não apenas da violência mas dos aparelhos ideológicos e, levando se em conta que os grupos políticos têm uma forte tendência a se perpetuarem no poder, a educação é um dos aparelhos que eles controlam. Para ele é pura ingenuidade imaginar que um dia países com democracias fragmentadas (como a nossa) , um povo desconectado de suas obrigações com a pátria e sem comprometimento com a politica possa desfrutar de um sistema educacional verdadeiramente libertário. Uma das suas frases mais emblemáticas é: “a educação foi criada e pensada pelo sistema para não funcionar”.
Você já imaginou se um dia a educação brasileira funcionar e formar pessoas verdadeiramente criticas? Seria uma catástrofe para esses grupos que sequestraram a nossa pátria, que só utilizam o poder para distribuir benesses. Para esses "canalhas" , o Brasil é uma grande “vaca leiteira” onde cada um procura uma teta parta mamar, expropriam a coisa publica e a consequência disso é o total sucateamento da educação. Como já disse anteriormente, vivemos hoje na educação uma sequência de fingimentos: “o governo finge que paga, o professor finge que ensina o aluno finge que aprende e a sociedade finge que esta tudo bem”.
Há pouco mais de um mês a ONU publicou um relatório sobre a educação brasileira e o resultado seria cômico se não fosse trágico. Na América Latina perdemos para todos os países, inclusive Venezuela (que esta a beira do caos) e, pasmem, até o Haiti (imerso há mais de 10 anos numa crise humanitária) está na nossa frente. E sabem o que disse o atual ministro da educação? Enquanto a população esperava que ele fizesse uma autocritica, uma mea-culpa e oferecesse soluções, o mesmo teve o “cinismo” de dizer: “ é, realmente o nosso Ensino Médio esta no fundo do poço, num caos absoluto”. Uma pergunta: “de quem é a culpa Sr. ministro?”.
Enquanto isso daqui a 20 dias mais de seis milhões de jovens - pobres coitados- vão encara dois domingos de provas em busca da realização de sonhos que o sistema tem tornado cada vez mais distantes de suas realidades. A chance de um aluno de escola pública ir bem numa prova do ENEM é quase nula, menos de 1%. A ideia de que o ENEM é um exame democrático cai por terra quando os dados revelam que mais de 80% dos alunos matriculados nos cursos de medicina (um dos mais concorridos) em universidades federais são ricos. Para Barbara Bruns – economista chefe do banco mundial para educação- “ Urge no Brasil a necessidade de que alunos de classes sociais mais elevadas paguem pelos seus estudos superiores, mesmo que seja proporcional a renda, quanto mais ricos mais devem pagar”.
Na educação básica, a economista defende a escola em tempo integral, com aumento da carga horária de estudos, e uma reforma do currículo de disciplinas. Bruns indica o sistema chileno como modelo a ser seguido. Com regimento semelhante, professores seriam certificados por avaliações governamentais e aqueles com melhor desempenho ganhariam bônus.
Quanto aos poderosos, aqueles que conseguem pagar boas escolas a seus filhos e isso garantir-lhes uma vaga nas federais, Bruns disse : "Isso me parece uma questão histórica por aqui. Todos os beneficiados desse sistema atual querem que se mantenha assim. Querem manter suas vantagens. Mas não é justo. Se houver uma pesquisa, fica claro que os alunos de famílias mais ricas é que têm acesso ao ensino superior público. Então, eles devem pagar ou pegar empréstimos. Em um sistema incrível que existe na Austrália o aluno pega o empréstimo e paga progressivamente. Ele estuda de graça e, quando se forma, paga de acordo com o salário que vai receber. Uma profissão que paga bem, retorna mais dinheiro. Se não ganha tanto, paga menos. Não vejo porque o Brasil não pode fazer algo assim, mas o desgaste político para aprovar algo assim seria grande"
Será que essa senhora está errada? Ou os nossos “gênios”, que controlam a educação brasileira engravatados em suas salas acarpetadas e climatizadas de Brasília, tem uma solução melhor? Pense nisso!!.. Enquanto aguardamos a resposta daqueles que se julgam os "intelectuais" da educação do Brasil, o ENEM continua sendo a "Vaca do Presépio" de um sistema falido... E os alunos? Bom, esses continuam se Fud....
Bom dia Alacir. Ótimo texto. É verdadeiro o que vc disse no texto, fazemos parte de um aparelho ideológico, programado para não funcionar. É perigoso para o governo um povo culto e critico . Como trabalho na educação básica, a algumas décadas sei bem o que é isso. Quando algo que propõe em um ano letivo que dê certo ou resultados positivos pode ter certeza que no outro ano aquela ideia cai por terra. É revoltante esse sistema. Um grande abraço.
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