terça-feira, 11 de novembro de 2014

educação enriquece?

EDUCAÇÃO ENRIQUECE, PERGUNTE AOS DONOS DE ESCOLA!

Por Alacir Arruda

Após mais uma certeza de fracasso de muitos jovens que freqüentam instituições particulares no ENEM 2014, a pergunta que não quer calar é: O que acontece com as escolas privadas que não conseguem bons resultados nesse exame? Para responder essa pergunta precisamos analisar o processo histórico que levou a isso.

O setor da educação no Brasil assistiu a quatro grandes operações de aquisição nos últimos 8 anos. Em 12 de julho de 2010, a Abril Educação comprou o Anglo, um dos mais tradicionais grupos de educação do país. Um mês depois, o fundo de private equity (de investimentos em outras empresas) BR Investimentos adquiriu parte da  Abril Educação por 226,2 milhões de reais. Ainda em julho de 2010, foi a vez da britânica Pearson assumir o controle do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), dono do COC, Pueri Domus e Dom Bosco.

Longe de configurar simples coincidência, a proximidade das operações reflete o aquecimento do mercado de sistemas de ensino nos últimos anos em nosso país – métodos desenvolvidos por empresas de educação e distribuídos a escolas privadas, em sua maioria, e também instituições públicas. Alguns dos protagonistas desse mercado – em ordem, Positivo, Abril Educação/Anglo, Pearson/SEB e Objetivo – não informam faturamento e suas respectivas fatias de mercado, o que dificulta precisar o tamanho do bolo. Mas uma coisa é certa: trata-se de um negócio, de fato, bilionário. A Hoper Consultoria, especializada em educação, estima que a receita do setor gira em torno de 1 bilhão de reais.

O que mais tem chamado atenção de especialistas, é que na educação pública, que hoje ainda atende a 85%  da demanda nacional,  a relação é diametralmente oposta, ou seja, o sucateamento das escolas publicas brasileiras segue na mesma proporção, em sentido oposto, ao crescimento desses grandes grupos. Mas educação é negocio?
Sim! E isso tudo se deve ao fato da escola  brasileira estar em crise há muitos tempo e  não é exagero nem uma novidade, infelizmente. Mas qual seria a razão para tamanho problema? Ao procurarmos explicação para essa crise, nos perdemos na tentativa de definir o que é causa e o que é conseqüência de tudo.

Violência escolar, violência em casa, descaso na escola e em casa, uso de drogas, indisciplina, desinteresse, desestímulo. O que é motivo e o que é motivado? Onde começa o problema e em que ponto ele poderá se tornar solução?

Em artigo à revista Superinteressante, Luiz Barco, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, analisa possíveis razões da decadência do sistema escolar brasileiro. Ele cita uma cena curiosa que presenciou um dia desses: “uma jovem mãe tentava responder à pergunta de sua filha de cinco anos sobre como nascem os bebês. Em dado momento, a menina cortou-lhe a frase e disse: o que eu quero saber é se eles nascem com roupa ou sem roupa”.

Um bom exemplo da diferença entre quem quer fazer e quem quer explorar educação é o caso da Coréia. Em 1958, Coreia do Sul e Gana tinham o mesmo Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Nas décadas seguintes, surgiu uma diferença brutal,  com a Coréia despontando. Até que ponto isso pode ser atribuído ao investimento em educação? Esse resultado se deveu a um esforço do governo coreano em conciliar crescimento econômico e políticas educacionais. A Coreia do Sul tem a tradição de manter esse tema dentro de seus valores. Depois da II Guerra Mundial, o governo começou a pensar nos alicerces da sociedade, com a educação no centro da construção da identidade nacional. Fica impossível pensar em crescimento econômico sustentável sem investimento em ensino.

De que forma a escola conseguiu servir de plataforma para a mobilidade social? Logo após a II Guerra, a escola conseguiu ser um bom mediador para aqueles que pretendiam alcançar uma posição social mais elevada. Isso pode ser traduzido em uma palavra: meritocracia. Hoje, para os pais, a educação é uma preocupação constante na criação dos filhos, mas nem sempre foi assim. Durante os anos 1960, muitas famílias acreditavam que apenas o filho homem poderia ir à universidade. As mulheres, após completarem o ensino médio, tinham de ir trabalhar. Em apenas uma geração a mentalidade mudou. Os casais têm um ou dois filhos e acham que todos devem concluir os estudos.

O investimento privado em educação na Coréia do Sul é um dos maiores do mundo. Essa é uma questão que não deve dizer respeito apenas ao Estado.? É uma questão que deve ser gerenciada por agências públicas. O investimento privado vem crescendo, enquanto o público se estabilizou. Discute-se que o governo deve focar em mais recursos para a educação pública, até como forma de diminuir a intervenção do setor privado. Mas as escolas privadas são monitoradas pelo governo, que garante qualidade. O governo desempenha um papel central no controle de ambas.

Uma das principais discussões no Brasil é elevar o investimento público em educação para 7% até 2020. Como é na Coreia?  A  Coréia, investe entre 4,6% e 4,8% do PIB em educação (em décadas passadas, o índice superou 10%). Cerca de 15% do orçamento nacional vai para a área (em 2013, o orçamento do governo federal para a área foi de 3,87%), mas segundo o governo, eles  precisam mais que isso. Vejam a situação do Brasil, que curiosidade. O Brasil é a sétima maior economia do mundo e para onde esse dinheiro vai? Logo, há  dinheiro o suficiente para realizar mudanças estruturais em educação, o que falta e vontade política.

Já o ambiente privado é totalmente diferente, investimentos não faltam. Escola colocam catracas e só entra quem é estudante e estudante pagante. Aquele que não paga pode ter a credencial bloqueada até regularizar o pagamento”, conta Donizete Sanches, aluno do cursinho Anglo de SP. Ele mesmo já passou por esse constrangimento quando atrasou o pagamento, por dificuldades financeiras devido ao desemprego  de seus pais. “Cheguei atrasado e não consegui entrar para assistir às aulas”, conta o aluno, que só teve acesso à escola após o pai comparecer emitir um cheque como garantia do pagamento da parcela.             

Especialistas avaliam que essa é uma tendência no ensino privado do país, justamente pelo fato de essas instituições terem assumido o papel de empresas prestadoras de serviços. “E, como empresas, pensam prioritariamente nos lucros e na concorrência com as demais instituições”.

A questão é que toda essa opulência não e garantia de bons resultados. O ENEM tem provado ano a ano que o modelo conteudista, que essas escolas ainda adotam, tem sido um empecilho  ao acesso do educando ao ensino superior de qualidade ( entenda Universidades Federais e Estaduais). Os dados são alarmantes,  de cada 100 alunos de boas escolas privadas, apenas 2 passam em medicina em federais, que é um curso referencia no Brasil (fonte: todos pela educação).

Portanto, se alguém um dia lhe perguntar: “ Educação enriquece?”. Responda sim: Pergunte aos donos de escola!!





4 comentários:

  1. Alacir, monta a sua escola. Eu estudarei lá com certeza, pois reconheço a sua competência. Luanna

    ResponderExcluir
  2. Alacir parabéns, com muita propriedade você traçou o perfil da nossa educação privada que segue a logica capitalista moderna, ou seja, o que nos interessa é lucro. Aluno não passou no ENEM, sem problemas, terei ele por mais um ano. Isso e maldade. Valeu. Abs, Danilo

    ResponderExcluir
  3. Professor ouvi boato que ano q vem teremos dois Enem, o sr. que elabora Itens para o exame sabe de algo? E se tiver dois quando pretende começar essa turma sua, esse ano ou ano que vem? Quero participar hein.Abs. Claudia

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi Claudia, bom, esse boato rola desde 2010 que o INEP faria dois ENEM, um em Abril outro em novembro. Nao tenho nenhuma novidade quanto a isso, mas logo estarei em Brasilia então estarei a par desse assunto. Caso realmente sejam dois começaremos o Pre Enem antes. Mas avisarei. Abs

      Excluir