EDUCAÇÃO ENRIQUECE, PERGUNTE AOS DONOS DE
ESCOLA!
Por Alacir Arruda
Após mais uma certeza de
fracasso de muitos jovens que freqüentam instituições particulares no ENEM 2014, a pergunta que não
quer calar é: O que acontece com as escolas privadas que não conseguem bons
resultados nesse exame? Para responder essa pergunta precisamos analisar o
processo histórico que levou a isso.
O setor da educação no Brasil
assistiu a quatro grandes operações de aquisição nos últimos 8 anos. Em 12 de
julho de 2010, a Abril Educação comprou o Anglo, um dos mais tradicionais
grupos de educação do país. Um mês depois, o fundo de private equity (de
investimentos em outras empresas) BR Investimentos adquiriu parte da Abril Educação por 226,2 milhões de reais. Ainda
em julho de 2010, foi a vez da britânica Pearson assumir o controle do Sistema
Educacional Brasileiro (SEB), dono do COC, Pueri Domus e Dom Bosco.
Longe de configurar simples coincidência, a proximidade das operações reflete o aquecimento do mercado de sistemas de ensino nos últimos anos em nosso país – métodos desenvolvidos por empresas de educação e distribuídos a escolas privadas, em sua maioria, e também instituições públicas. Alguns dos protagonistas desse mercado – em ordem, Positivo, Abril Educação/Anglo, Pearson/SEB e Objetivo – não informam faturamento e suas respectivas fatias de mercado, o que dificulta precisar o tamanho do bolo. Mas uma coisa é certa: trata-se de um negócio, de fato, bilionário. A Hoper Consultoria, especializada em educação, estima que a receita do setor gira em torno de 1 bilhão de reais.
O que mais tem chamado atenção
de especialistas, é que na educação pública, que hoje ainda atende a 85% da demanda nacional, a relação é
diametralmente oposta, ou seja, o sucateamento das escolas publicas brasileiras
segue na mesma proporção, em sentido oposto, ao crescimento desses grandes
grupos. Mas educação é negocio?
Sim! E isso tudo se deve ao
fato da escola brasileira estar em crise
há muitos tempo e não é exagero nem uma
novidade, infelizmente. Mas qual seria a razão para tamanho problema? Ao
procurarmos explicação para essa crise, nos perdemos na tentativa de definir o
que é causa e o que é conseqüência de tudo.
Violência escolar, violência em
casa, descaso na escola e em casa, uso de drogas, indisciplina, desinteresse,
desestímulo. O que é motivo e o que é motivado? Onde começa o problema e em que
ponto ele poderá se tornar solução?
Em artigo à revista Superinteressante, Luiz Barco, professor da Escola
de Comunicação e Artes da USP, analisa possíveis razões da decadência do
sistema escolar brasileiro. Ele cita uma cena curiosa que presenciou um dia
desses: “uma jovem mãe tentava responder à pergunta de sua filha de cinco anos
sobre como nascem os bebês. Em dado momento, a menina cortou-lhe a frase e
disse: o que eu quero saber é se eles nascem com roupa ou sem roupa”.
Um bom exemplo da diferença
entre quem quer fazer e quem quer explorar educação é o caso da Coréia. Em
1958, Coreia do Sul e Gana tinham o mesmo Produto Interno Bruto (PIB) per
capita. Nas décadas seguintes, surgiu uma diferença brutal, com a Coréia despontando. Até que ponto isso
pode ser atribuído ao investimento em educação? Esse resultado se deveu a um esforço do governo coreano em conciliar
crescimento econômico e políticas educacionais. A Coreia do Sul tem a tradição
de manter esse tema dentro de seus valores. Depois da II Guerra Mundial, o
governo começou a pensar nos alicerces da sociedade, com a educação no centro
da construção da identidade nacional. Fica impossível pensar em crescimento
econômico sustentável sem investimento em ensino.
De que forma a escola conseguiu
servir de plataforma para a mobilidade social? Logo após a II Guerra, a escola conseguiu ser um bom mediador para aqueles que
pretendiam alcançar uma posição social mais elevada. Isso pode ser traduzido em
uma palavra: meritocracia. Hoje, para os pais, a educação é uma preocupação
constante na criação dos filhos, mas nem sempre foi assim. Durante os anos 1960,
muitas famílias acreditavam que apenas o filho homem poderia ir à universidade.
As mulheres, após completarem o ensino médio, tinham de ir trabalhar. Em apenas
uma geração a mentalidade mudou. Os casais têm um ou dois filhos e acham que
todos devem concluir os estudos.
O investimento privado em
educação na Coréia do Sul é um dos maiores do mundo. Essa é uma questão que não
deve dizer respeito apenas ao Estado.? É uma questão que deve ser gerenciada por agências públicas. O investimento
privado vem crescendo, enquanto o público se estabilizou. Discute-se que o
governo deve focar em mais recursos para a educação pública, até como forma de
diminuir a intervenção do setor privado. Mas as escolas privadas são
monitoradas pelo governo, que garante qualidade. O governo desempenha um papel
central no controle de ambas.
Uma das principais discussões
no Brasil é elevar o investimento público em educação para 7% até 2020. Como é
na Coreia? A Coréia, investe entre
4,6% e 4,8% do PIB em educação (em décadas passadas, o índice superou 10%).
Cerca de 15% do orçamento nacional vai para a área (em 2013, o orçamento do
governo federal para a área foi de 3,87%), mas segundo o governo, eles precisam mais que isso. Vejam a situação do
Brasil, que curiosidade. O Brasil é a sétima maior economia do mundo e para
onde esse dinheiro vai? Logo, há dinheiro o suficiente para realizar mudanças
estruturais em educação, o que falta e vontade política.
Já o ambiente privado é
totalmente diferente, investimentos não faltam. Escola colocam catracas e só
entra quem é estudante e estudante pagante. Aquele que não paga pode ter a credencial
bloqueada até regularizar o pagamento”, conta Donizete Sanches, aluno do
cursinho Anglo de SP. Ele mesmo já passou por esse constrangimento quando
atrasou o pagamento, por dificuldades financeiras devido ao desemprego de seus pais. “Cheguei atrasado e não
consegui entrar para assistir às aulas”, conta o aluno, que só teve acesso à
escola após o pai comparecer emitir um cheque como garantia do pagamento da
parcela.
Especialistas avaliam que essa
é uma tendência no ensino privado do país, justamente pelo fato de essas
instituições terem assumido o papel de empresas prestadoras de serviços. “E,
como empresas, pensam prioritariamente nos lucros e na concorrência com as
demais instituições”.
A questão é que toda essa opulência
não e garantia de bons resultados. O ENEM tem provado ano a ano que o modelo
conteudista, que essas escolas ainda adotam, tem sido um empecilho ao
acesso do educando ao ensino superior de qualidade ( entenda Universidades
Federais e Estaduais). Os dados são alarmantes,
de cada 100 alunos de boas escolas privadas, apenas 2 passam em medicina
em federais, que é um curso referencia no Brasil (fonte:
todos pela educação).
Portanto, se alguém um dia lhe
perguntar: “ Educação enriquece?”.
Responda sim: Pergunte aos donos de
escola!!
Alacir, monta a sua escola. Eu estudarei lá com certeza, pois reconheço a sua competência. Luanna
ResponderExcluirAlacir parabéns, com muita propriedade você traçou o perfil da nossa educação privada que segue a logica capitalista moderna, ou seja, o que nos interessa é lucro. Aluno não passou no ENEM, sem problemas, terei ele por mais um ano. Isso e maldade. Valeu. Abs, Danilo
ResponderExcluirProfessor ouvi boato que ano q vem teremos dois Enem, o sr. que elabora Itens para o exame sabe de algo? E se tiver dois quando pretende começar essa turma sua, esse ano ou ano que vem? Quero participar hein.Abs. Claudia
ResponderExcluirOi Claudia, bom, esse boato rola desde 2010 que o INEP faria dois ENEM, um em Abril outro em novembro. Nao tenho nenhuma novidade quanto a isso, mas logo estarei em Brasilia então estarei a par desse assunto. Caso realmente sejam dois começaremos o Pre Enem antes. Mas avisarei. Abs
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