sábado, 3 de janeiro de 2015

Schopenhauer e a negação

Arthur Schopenhauer e a Negação do Querer

Por Alacir Arruda

Arthur Schopenhauer se tornou o meu filósofo predileto, não apenas pelo seu pessimismo em ralação ao existir mas, sobretudo, pela audácia de enfrentar o idealismo alemão comandado por Kant e Hegel que invocavam o individuo como um ser insuperável e o conhecimento cientifico como fim e não com o meio,  além de sofrer em  uma sociedade movida pela razão instrumental.

A vida, como mostra Schopenhauer, está fadada ao sofrimento. Deste não há como fugir senão por uma espécie de resignação alcançada pela negação do querer, a qual “de maneira alguma significa a eliminação de uma substância, mas o simples ato de não-querer: o mesmo que até agora quis, não quer mais” (Schopenhauer, 2005, p. 291, § 161). Se a vontade sempre quer, a todo o momento busca se afirmar e, por isso, consome o homem em seu intento, somente pela sua negação ele consegue pôr fim a ela. Ao contrário do que se poderia pensar, não é extinguindo a própria vida que a vontade cessará. 

A negação está comprometida com uma atitude frente a esse sofrimento, a uma busca por uma visão da unidade que existe no mundo, a uma elevação da percepção dos seres e das coisas assim como de si mesmo. Normativamente, Schopenhauer não indica que algo deva ser feito. Tampouco afirma que negar a vontade seja a coisa certa a fazer. Que se busque a tranqüilidade e a paz para a própria alma, é algo que cabe ao indivíduo escolher. Sua ética não é prescritiva, não ordena nada, não estabelece princípios. 

O caminho para a negação é apontado, mas não se apresenta como imposição. Como a vontade não pode ser conhecida enquanto coisa em si, mas somente na sua forma fenomênica, o modo como deve ser acessada não se dá pelo conhecimento abstrato, ou seja, por conceitos. A vontade se expressa, ou melhor, se objetiva adequada e imediatamente em Idéias, que dão origem à multiplicidade dos seres e coisas. Elas são objetos da representação que, entretanto, não são conhecidas pelo indivíduo, somente pelo sujeito puro do conhecimento, ou seja, implicam uma mudança no sujeito para que possam ser apreendidas. 

Cada indivíduo exprime, pela sua existência, a Idéia que é uma objetivação da vontade. Cada ser, portanto, é uma objetivação mediata da vontade (como coisa em si) que se submete ao princípio da razão. A Idéia confere a ele a forma como se individualiza, porém, está fora do domínio do princípio da Controvérsia 

Somente o indivíduo é que está encerrado nas formas apropriadas para sua determinação conforme a vontade. Nele se expressa a vontade individual, que forma seu caráter inteligível. Em resumo, a vontade, ainda que seja essência de tudo o que existe, pode ser desdobrada em outras duas formas. De acordo com Salviano, “há assim três formas de compreendermos o conceito de Vontade na filosofia Shopenhauriana: como Coisa em si ou Vontade noumênica; como vontade individual ou Idéia platônica; e como vontade ou querer fenomênico” (Salviano, 2005, p. 89).

O indivíduo, desse modo, manifesta aquela Vontade noumênica tanto na sua própria individuação, possível em virtude da forma que adquire mediante a decomposição da Idéia, a qual forma seu caráter (embora como indivíduo ele seja determinado, a Idéia que o originou se mantém fora do princípio da razão), e no seu querer, que é a Vontade expressa na ação do homem. Essas formas de compreender a vontade são importantes para sabermos em que nível a sua negação é possível.



2 comentários:

  1. Alacir, primeiro parabéns, gostaria de perguntar se é verdade que Schopenhauer influenciou o musico alemão Richard Wagner que ficou tão impressionado com os textos desse filosofo que fez a peça Tristão e Isolda que retrata, mesmo que forma poética, o pensamento schopenhaueriano? Outra pergunta, ele influenciou mesmo Nietzsche??. Bjs. Dayanne-RJ

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    1. Oi Dayanne, espero que esteja bem e aproveitando a UFRJ..Saudades... Bom Dayanne, vamos por partes: Sim ele influenciou a Obra e Wagner esse músico leu "O mundo como vontade e reapresentação" de Schopenhauer 4 vezes e retirou desse livro os elementos usados nessa famosa ópera, como angustia, sofrimento, dor etc.. Mas o pensamento de Schpenhauer nao esta cisrcunstcrito a Wagner apenas, praticamente todos os artistas alemães da segunda metade do seculo XIX foram influenciados direta ou indiretamente pelas obras desse filosofo. Não sei se vc sabe Dayanne, Schopenhauer não teve reconhecimento em vida, apenas após sua morte é que el foi resgatado primeiro por Feuerbach depois por Nietzsche passando ainda por Kiekergaard, Marx, Hurssel, mas sem duvida aquele me melhor representou sua filosofia foi Friedrich Nietzsche, que depois rompeu com ele....Então as duas perguntas suas a resposta é SIM..abs

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