terça-feira, 9 de junho de 2015

Enem e os nossos fracos alunos

 POR QUE NOSSOS ALUNOS NÃO SE 
ADAPTAM AO ENEM?
Por Alacir Arruda

      Falta pouco mais de 4 meses para o Exame Nacional do Ensino Médio-2015 (Enem). Esse ano as provas serão no final de outubro. Ao ser criado em 1998 o ENEM tinha como primeira meta, medir o nível de conhecimento do alunos egresso do ensino médio baseado numa metodologia revolucionaria e mundialmente aceita alicerçada no binômio: Competências e Habilidades. Essa metodologia foi criada por intelectuais o Quilate de Jacques Delórs e Edgar Morin, em 1996 a pedido da ONU. No Brasil eu considero natural e justificável a ansiedade de alguns jovens quanto a essa avaliação por três razões básicas;

      - 1º) o nosso jovem não é preparado para esse tipo de prova. Possuímos um currículo ultrapassado, engessado e conteudista onde o aluno é visto como um depósito de conhecimentos. Os professores vão “entupindo” matérias fragmentadas em suas cabeças depois cobram em provas sem qualquer contexto, ou seja, tudo aquilo que o ENEM condena.
    -2º) os professores, viciados nesse modelo bancário conteudista, não conseguem estabelecer relações, construir pontes ou contextualizar suas disciplinas aos moldes do que exige a matriz ENEM, alguns por comodismo e outros porque desconhecem mesmo o ENEM.
        -3º) somos um país que, culturalmente, não possui o hábito da leitura e o ENEM exige do aluno o domínio dessa competência. 
     
      Todos os Itens do ENEM possuem; texto base, enunciado, distratores e alternativas. Sendo que o texto base corresponde de  50% a 80% da resposta correta. O problema está justamente ai, nosso aluno lê, mas não compreende. Muito menos consegue contextualizar aquilo que leu. Isso ocorre pelo fato de sermos o país que menos lê na America Latina e um dos mais atrasados nesse quesito no mundo. Querer que um aluno, hoje com 17- 18 anos, que teve como literatura mais importante nos últimos 5 anos “Crepúsculo, Lua Nova e Amanhecer” e assistiu nos cinemas toda a saga "X Men e Vingadores" saia bem no ENEM é um tremendo engodo.

           O que eu defendo e, há mais de 6 anos venho sofrendo severas criticas por isso, é que as escolas, sobretudo as privadas, comecem ( pra ontem) o processo de transição do vestibular tradicional -QUE NÃO EXISTE MAIS- salvo uma meia dúzia de faculdades no Brasil, para o PRÉ-ENEM, ou seja que os cursinhos preparem seus alunos para o ENEM que hoje é aceito como requisito único em 93% das federais brasileiras e as a outras 7% ate 2016 estarão nesse grupo, inclusive USP e UNICAMP. O que não pode é o que ocorre hoje, o aluno que vai prestar só ENEM fica como um bobo alegre nas aulas, uma vez que ele não consegue estabelecer conexão entre aquilo que é ensinado e as questões do ENEM. 

            Mas para que isso ocorra, faz se necessário que escolas se reinventem, aprendam a aprender, uma vez que precisam preparar seus professores, capacita-los a partir da plataforma ENEM e suas matrizes. Tive a oportunidade de ter sido convidado pelo INEP em 2006 para elaborarmos estruturalmente o Novo Enem que passou a vigorar em 2009 com 180 questões. Confesso que foi uma experiencia unica, onde aprendi efetivamente o que seja educcão moderna, voltada para resultados. 

            Fui professor de cursinhos e ensino médio em  grandes escolas de SP: como Anglo, Objetivo, COC e  Poliedro e ate coordenei algumas delas. Foi então que, usando da bagagem adquirida em  Brasilia junto ao Inep na construção do Novo Enem,  resolvi colocar em pratica o modelo pedagógico ENEM. Escolhia algumas aulas de forma aleatória, colocava em sala de aula 4 professores, sorteava um tema qualquer, como por ex: II Guerra Mundial que pode, a principio, ser uma tema de história, mas se aplicarmos as matrizes do ENEM ele se transforma em um tema interdisciplinar, ou seja, o prof. De história abre a aula, contextualizando todo processo histórico do período, o de geopolítica contextualiza todos os interesses e etnias envolvidas, o de física trata da balística (ótica), movimentos, fissão e fusão nuclear e o de química analisa a composição dos gases que foram utilizados pelo regime nazista no processo de limpeza étnica praticado contra judeus e outras etnias. A aula fica interessante, não é maçante para o aluno visto que, em 1 hora, 4 professores falam no máximo 20  minutos. Isso faz com que aluno, perca o medo e comece a entender o que é o ENEM, que tem como função principal inter-relacionar o conhecimento transpor as áreas.

       A pergunta que não quer calar. Estarão as escolas  de Cuiabá dispostas a isso?? Ou preferem a zona de conforto estabelecido por um modelo Anglo-Saxão de perguntas e respostas desconexas que tem dominado a educação privada no Brasil há mais de 60 anos? Não tenho dúvida que a primeira que realizar essas mudanças será destaque e vanguarda no Estado. Aquelas que recusam tal sistema, e que assentam-se sob a égide do tradicionalismo estão fadadas ao fim....






Sugestão de Leitura: " Educação: um tesouro a descobrir". Jacques Delórs Org..
Este livro trata do perfil do aluno do seculo XXI e foi base para construção do ENEM

4 comentários:

  1. Parabens professor...te conheci no CIN lembro dessa experiencia que voce fez la..foi a melhor aula da minha vida..Uma pena so existir no MT o sr. com essa visão. Hoje estudo na UFPE graças a vc. Congratualações. Adriano

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  2. Show de bola alacir, assisti uma aula sua e nunca vi nada igual em termos de contextualização. Posso participar do seu Grupo de Estudo as Quintas e Sextas? Eu sei que vc esta com alguns alunos preparando-os. Posso? Te ligarei ok. Lucas - Maxi Cuiaba

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  3. professor porque vc nao ministra aulas nos cursinhos de Cuiabá? aqui na cidade nao há ninguem com esse conhecimento de ENEM que o sr. tem, isso deveria ser explorado pelos cursinhos..Gostaria de ter aulas com o sr. abs. Miguel.

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  4. obrigado Lucas e Adriano. Lucas e só me ligar vc tem meu telefone. Quanto a sua pergunta Miguel, eu sou professor universitário, pesquisador vinculado ao CNPq com diretórios de pesquisa em policita e economia, logo, sobra-me pouco tempo para que eu pudesse desenvolver a docência no nível médio e cursinho, coisa que na verdade amo fazer, pois me construí enquanto professor em cursinhos de SP e RJ, são mais de 18 anos so de cursinhos. Quem sabe se algum me convidar, Abraços

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