O QUE OCORRE COM O BRASIL? "OS BESTIALIZADOS".
Por Alacir Arruda
Em respeito ao tempo que não escrevo sobre o Brasil e suas peripécias, farei apenas um recorte dos últimos acontecimentos que julgo importante para que eu possa construir um juízo de valor. Que temos os piores políticos do mundo, um sistema educacional sedimentado na falácia instrumental, um modelo de segurança digno de fazer inveja a Hitler e Mussolini e poderes viciados em interesses individuais disso todos sabem. Mas aqui meu objetivo é outro: é “tentar entender que povo e este, qual seu imaginário político e qual sua prática política”.
Em épocas de Impeachment, Lavas-jatos e a certeza de que perdemos o rumo vou buscar numa das maiores obras literárias brasileiras - Os Bestializados de Jose Murilo de Carvalho- subsídios para tentar explicar aquilo que muitos julgam inexplicável, qual seja, o comportamento do povo brasileiro diante disso tudo.
O livro Os Bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi, de José Murilo de Carvalho se refere ao estudo da prática de cidadania entre o povo brasileiro no início da República. Utilizando-se de inúmeras fontes, que vão desde revistas e jornais da época a documentos oficiais, desde artigos e teses a livros conceituados, o autor constrói seu trabalho de maneira singular. O trabalho é dividido em cinco capítulos, além da conclusão, notas, caderno de fotos e bibliografia no final. São ao todo 196 páginas muito bem utilizadas, e que vale a pena serem lidas. Logo na introdução ele lança o questionamento que buscará responder no decorrer do livro: por que o povo era considerado bestializado? Qual a razão de sua apatia política? Num primeiro momento, ao ler-se o título da obra, pensa-se até que o autor tratará da passividade do povo brasileiro, de sua inércia política. Mas seu objetivo é outro: é “tentar entender que povo era este, qual seu imaginário político”.
Os Bestializados do século XXI pouco diferencia daquele do final do seculo XIX, grande parte da massa não entende o que ocorre em Brasilia, rimos como bobo alegre da nossa própria desgraça, somos motivo de piada internacional e vibramos quando aparece um salvador da pátria que, como o detentor da espada do Rei Arthur, nos salvará das mãos impiedosas dos nossos algozes. Ou seja, sonhamos! Vivemos uma Utopia de Hobbes, onde o Leviatã do momento é Sergio Moro, mas no passado já foram Collor, FHC e Lula, enfim, não interessa quem; o importante e termos alguém que "cuide" de nós, afinal não seria essa a figura da república? Uma mulher desnuda com os seios amostra que sacia a fome dos seus? Que cuida do povo?
Segundo o Dados do Data Folha à época do impedimento da ex Presidente Dilma, menos de 15% da população brasileira sabia o que era Impeachment, 10% nunca tinham ouvido falar em Michel Temer e para 74% Lava Jato é um posto de gasolina que também lava carro, salve a ignorância. Temos mais, menos de 8% sabiam o papel das duas casas do Congresso, 4% a função de um senador e 12% a de um deputado o STF era uma sigla incompreensível para 92% dos entrevistados e pasmem, para 55% Lula ainda era Presidente ( bom esses acertaram..)...Como diria Francelino Pereira no auge da ditadura: "que país e esse"? Deixo aos senhores essa resposta.
Ora, sou um educador e como tal não tenho pretensão alguma de mudar o imutável, de sonhar com o irrealizável ou de pensar que algo extraordinário ainda ocorra nesse seculo, tenho massa cinzenta o suficiente para entender que em educação o máximo que posso fazer é a minha parte: educação e a arte do possível. E por que insisto? Não sei, talvez teimosia ou irresponsabilidade mas não consigo me calar diante desse disparate de coisas estranhas que vejo passar diante dos meus olhos. Sabe por que nos acostumamos com tudo isso? Porque toda mudança exige sacrifício, esforço, e não somos ensinados a isso, tudo que o mundo nos oferece é mais prático, mais cômodo, acessível, então permanecemos sempre dependentes. Quiséssemos nós desde cedo, ter sido ensinado a lutar, não desistir, perseverar, sacrificar...hoje estaríamos muito mais a frente de outras nações, seriamos muito melhores
Ao final do seu livro, Jose Murilo pontua que a República não era para valer. O discurso bonito do Estado não condizia com a realidade. Quem percebia isso não era bestializado. “Bestializado era quem levasse a política a sério, era o que se prestasse a manipulação (...) Quem apenas assistia, como fazia o povo o Rio por ocasião das grandes transformações realizadas a sua revelia, estava longe de ser bestializado. Era bilontra [gozador, espertalhão].” (p. 160). Em sua conclusão o autor explica que como não aconteceu uma República real, ou seja, o governo nunca foi uma coisa pública, a cidade não teve cidadãos, nesse sentido. Estes se relacionavam com o Estado da maneira que conseguiam. Como a cidade foi impedida de ser República, foram formadas várias repúblicas, onde os cidadãos foram construindo a sua identidade coletiva.
Fazendo uma analogia com a atualidade, hoje podemos dizer que reina o "cada um por si e o diabo por todos", onde os interesses pessoais estão a frente de valores como cidadania, ética comprometimento etc. Sabemos que a corrupção impera porém, a vingança do povo se dá com a indiferença a não participação no debate politico enfim...é a forma encontrada pelos bestializados de se fazerem vistos. Por mais contraditório que isso possa parecer é forma legitima ( mesmo que não a ideal), de manifestação..
Contato/palestras: agaextensao@gmail.com
Parabens pelo belo artigo Alacir e Viva os bestializados...que somos..
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