terça-feira, 25 de outubro de 2016

Redação ENEM 2016 - Calais

O INFERNO DE CALAIS..

Por Alacir Arruda

" É o inferno na terra", disse uma refugiada etíope ao deparar com a realidade de Calais. Viver ali é tudo, menos fácil. Estou falando de 1500 refugiados, seres humanos - chegaram a ser seis mil em outubro de 2015, antes da evacuação forçada de parte do campo - que vivem em Calais (França) assentadas em barracas de madeira, edifícios devolutos e tendas. Afegãos, sírios, iraquianos, eritreus, etíopes e outras nacionalidades instalaram-se ali à espera de uma oportunidade de atravessar o Canal da Mancha (nos caminhões que por ali passam ou no comboio que atravessa o túnel) buscando uma vida melhor em solo inglês, eles vivem em condições de insalubridade que assemelha aos Campos Nazistas e em nada deve a Auschwitzs. A violência é comum, afinal são etnias diferentes dividindo espaços minúsculos, e as rixas entre os residentes são bastante comuns. 

Conhecida como "a selva", Calais representa hoje a síntese de um mundo que virou as costas, há seculos, aos miseráveis do planeta, é como se eles não existissem. Milhares de africanos, e refugiados dos conflitos no Oriente Médio, vivem hoje como animais na Europa perambulando de país em país ate que a toda poderosa União Europeia decida qual destinação dar a eles. A Grécia não suporta mais recebê-los, a Itália idem, não suporta mais resgatá-los no mediterrâneo, Macedônia ja fechou a fronteira, assim como a Austria, mas ninguém supera a Hungria que costuma agredi-los de forma covarde. 

Antes do governo francês decidir fechar Calais, todos os dias chegavam mais de uma centena de migrantes que, mais tarde ou mais cedo, tentariam a travessia de cerca de 30 quilômetros para o que acreditam ser uma vida melhor no Reino Unido. De acordo com o diário britânico Guardian, no ano passado morreram pelo menos 15 migrantes a tentar chegar a Dover. Os que sobrevivem arriscam-se a sofrer ferimentos graves ou a serem agredidos pela polícia. Segundo o Telegraph, 1200 migrantes em Calais foram deportados para fora do país em 2014. Para muitos, a travessia de Calais para o Reino Unido é o último passo para uma nova vida. Mas um passo perigoso, como explica Riswan ao Guardian, um jovem migrante paquistanês que já viu dezenas de pessoas ficarem feridas nas auto-estradas, ao tentarem entrar nas caixas de carga dos caminhões. “moças novas com seus bebês”, explica Riswan.“Um rapaz ficou gravemente ferido no peito quando uma roda [de caminhão] o atropelou… havia muito sangue.” E depois há a polícia: “A polícia luta muito. Já atravessei fronteiras na Grécia, Holanda, Bélgica, mas eles são só conversa. Aqui lutam.” Uma vida melhor Na base da crise de migrantes em Calais está a convicção de que uma vida no Reino Unido será melhor do que em França. 

Muitos migrantes falam inglês, não outras línguas europeias, e têm também família no Reino Unido, como explica à Reuters Christian Salomé, presidente do grupo humanitário francês Albergue dos Migrantes. De acordo com um estudo do Ministério do Interior francês, o sistema britânico resolve mais rapidamente pedidos de asilo do que o francês – seis meses contra nove. Na França, os migrantes são enviados para centros de acolhimento, enquanto no Reino Unido recebem residências de urgência “o mais cedo possível”. Para além disto, explica a Reuters, um migrante recebe assistência médica grátis no Reino Unido e, sem documentação, tem ao seu dispor uma “economia paralela em crescimento”. “Em Inglaterra, quando entregam um pedido de asilo, têm abrigo, existem, são reconhecidos”, diz Salomé. "na França, entregam um pedido e regressam para o bairro de lata.” O bairro de lata de Calais chama-se “Selva II”, ou “Nova Selva”.

É uma rede de vários quilômetros de tendas e abrigos improvisados onde vive a maior parte dos migrantes. “Cabanas com tetos de plástico negro e tendas que se estendem até onde o olhar alcança”, como escreve o Telegraph. As condições são piores do que em muitos cenários de guerra, diz o diário britânico, citando as agências humanitárias que trabalham no local. “Temos direito a uma refeição por dia e temos que estar numa fila durante várias horas. Algumas vezes a comida acaba-se antes de lá chegarmos”, disse Bahad ao Guardian, numa reportagem publicada no início de Junho. Era final da tarde e Bahad ainda não tinha comido. “Toda a gente anda sempre com fome”, explicou. Teddy, da Eritreia, falou com o Guardian na Nova Selva. Descansava depois de uma noite passada na auto-estrada a tentar embarcar num camião de carga. Segundo ele, conseguiu entrar em três, mas acabou sempre expulso. “Um amigo meu com quem estive na noite passada acabou de me ligar e está no Reino Unido”, disse. “Agarrou-se debaixo de um camião. Foi muito perigoso." Mas, como diz Riswan, é a única alternativa. "Temos de continuar a tentar porque isto não é lugar onde ficar."

Vivemos um novo conceito de campos de concentração, onde pessoas que nada possuem, em sua grande maioria negras e miseráveis, são afastadas do "convívio social" largadas à própria sorte em condições subumanas em campos como Calais, enquanto os engravatados da UE não se entendem sobre o que fazer com esse "Refugo Humano", como diz o sociólogo polonês Zygmunt Baumam. Porém, aquilo que mais assombra o mundo tem sido a Inércia dos chamados "países ricos" que se comportam como se nada tivesse acontecendo, como se não fossem eles os culpados por essa catástrofe humanitária (ou se esquecerem do neocolonialismo??). Reino Unido e França teriam um compromisso moral com esses miseráveis, pois foram algozes de grande parte deles no passado. Se hoje esses países mergulharam em crises internas e conflitos civis isso se deve ás ações interesseiras e imperialistas dessas duas grandes nações. Mas virar as costas , jogar a sujeira para debaixo do tapete e calar-se diante do caos é bem menos dolorido.. E mais fácil concordar com Nelson Rodrigues:  “A Europa é uma burrice aparelhada de museus.” 



Contato palestras: agaextensao@gmail.com  



3 comentários:

  1. Obrigado Alacir, isso muito me enriquece, faço cursinho e caro e nenhum professor sequer comentou sobre Calais, falam apenas dos refugiados, Escreva mais sobre as Redações do ENEM por favor. Sua escrita e de facil compreensão.

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  2. Professor o que vc acredita que acontecerá com esses refugiados que estao sendo removidos de Calais? Existem alguns analistas que dizem que serão eliminados ou deportados de volta aos seus países de origem..o que acha? Parabéns por ter voltado a escrever sou seu fã. Cleber. Cuiaba

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    1. Ola Cleber, obrigado por estar por aqui. Cleber nao acredito nisso a União Europeia precisa dar uma resposta ao mundo no que tange a situação desses refugiados e ultima coisa que ela quer e ver seu nome envolvido em eliminação em massa ou deportações. Acredito que esses refigiados serao todos identificados e aqueles que possuem parentes na Inglaterra com certeza serão para la encaminhados os que perambulam correm o risco de serem deportados sim mas nada que choque o mundo. Eles farão isso em doses homeopáticas de forma lenta e gradual ate que todos sejam alocados mesmo que em condições adversas.

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