E possível observar, através dos dados, que o processo de "jumentalização" de nossos jovens, patrocinado pelo estado, ocorre de forma lenta e gradual. Ele inicia no Ensino fundamental, onde o sucateamento é mais cruel, começando pela falta de valorização dos professores seguido de escolas que mais parecem prisões onde falta tudo, sobretudo, munição para os mestres se defenderem. Ele avança até o Ensino Médio onde, em virtude de um currículo absolutamente ultrapassado e desconectado de sua realidade, o "jumento-juvenil" ja se encontra condicionado a odiar: literatura, filosofia, sociologia, historia etc... Em suma, ele ja não pensa mais, age por estimulo-resposta.
A partir dai ele esta pronto (forjado pelo estado) para ser "massa de manobra", " boi de presépio" ou qualquer outro adjetivo que você queira propor. Enfim, é o estado brasileiro cumprindo muito bem o seu papel, que é de formar uma geração de analfabetos funcionais. Que o diga o grande Louis Althusser.
E evidente que o ápice de toda essa logística muito bem estruturada e patrocinada pelo estado, é a universidade, que hoje no Brasil também poderíamos chama-las de "curva de rio", pois é la que toda essa "tranqueira" - que o estado forjou - vai se instalar. Foi lá que, em meus 22 anos de sala de aula, eu assisti as situações mais cômicas da minha vida docente. Como por exemplo: certa vez, no primeiro dia de aula, eu me apresentei a um dos 1 períodos como o "Docente" daquela disciplina quando, derrepente, uma aluna me pergunta: " Uai, docente não é quem faz doce?". Isso foi um, se eu começar a contar os absurdos que ja ouvi dando aula em universidades, não caberia nesse texto.
Para fundamentar isso, um dado é alarmante: apenas 8% das pessoas que terminaram o ensino superior no Brasil e estão em idade de trabalhar são consideradas plenamente capazes de entender e se expressar por meio de letras e números. Ou seja, oito a cada grupo de cem indivíduos da população egressa das nossas universidade, isso é o Armagedom .
Eles estão no nível "proficiente", o mais avançado de alfabetismo funcional em um índice chamado Inaf (Indicador de Alfabetismo Funcional).
Um indivíduo "proficiente" é capaz de compreender e elaborar textos de diferentes tipos, como mensagem (um e-mail), descrição (como um verbete da Wikipedia) ou argumentação (como os editoriais de jornal ou artigos de opinião), além de conseguir opinar sobre o posicionamento ou estilo do autor do texto.
Também é apto a interpretar tabelas e gráficos como a evolução da taxa de desocupação e compreende, por exemplo, que tendências aponta ou que projeções podem ser feitas a partir desses dados.
Outra competência que o "proficiente" tem é resolver situações (de diferentes tipos) sendo capaz de desenvolver planejamento, controle e elaboração.
Numa situação ideal, os estudantes que completam o ensino médio deveriam alcançar esse nível -- no Brasil, o ensino médio completo corresponde a 12 anos de escolaridade.
Segundo a professora da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) Ana Lúcia Guedes-Pinto, essa defasagem reflete as desigualdades socioeconômicas históricas no país e aponta para a necessidade de mais investimento na educação básica e pública.
"Ainda não atingimos [bons] níveis de alfabetismo", diz a docente do departamento de ensino e práticas culturais da Faculdade de Educação. "[Os proficientes] ainda é um grupo muito pequeno, de elite", completa Guedes-Pinto.
Há cinco níveis de alfabetismo funcional, segundo o relatório "Alfabetismo e o Mundo do Trabalho": analfabeto (4%), rudimentar (23%), elementar (42%), intermediário (23%) e proficiente (8%). O grupo de analfabeto mais o de rudimentar são considerados analfabetos funcionais.
O estudo foi conduzido pelo IPM (Instituto Paulo Montenegro) e pela ONG Ação Educativa. No conjunto, foram entrevistadas 2002 pessoas entre 15 e 64 anos de idade, residentes em zonas urbanas e rurais de todas as regiões do país.
Vamos para algumas das Causas dessa catástrofe.
Especialistas apontam três causas principais para a decepção com a "geração do diploma".
A principal delas estaria relacionada a qualidade do ensino e habilidades dos alunos que se formam em algumas faculdades e universidades do país.
Os números de novos estabelecimentos do tipo criadas nos últimos anos mostra como os empresários consideram esse setor promissor. Em 2000, o Brasil tinha pouco mais de mil instituições de ensino superior. Hoje são 2.800, sendo 2.200 particulares.
Ocorre que a explosão de escolas superiores não foi acompanhada pela melhoria da qualidade. A grande maioria das novas faculdades são ruins, eu diria, em alguns casos, que são péssimas, tanto em infra estrutura quanto em corpo docente. São verdadeiras fábricas de diplomas. E nesse nicho acrescente algumas Federais em Estaduais.
Tristan McCowan, professor de educação e desenvolvimento da Universidade de Londres, concorda. Há mais de uma década, McCowan estuda o sistema educacional brasileiro e, para ele, alguns desses cursos universitários talvez nem pudessem ser classificados como tal.
"São mais uma extensão do ensino fundamental", diz McCowan. "E o problema é que trazem muito pouco para a sociedade: não aumentam a capacidade de inovação da economia, não impulsionam sua produtividade e acabam ajudando a perpetuar uma situação de desigualdade, já que continua a ser vedado à população de baixa renda o acesso a cursos de maior prestígio e qualidade."
Para se ter a medida do desafio que o Brasil têm pela frente para expandir a qualidade de seu ensino superior, basta lembrar que o índice de analfabetismo funcional entre universitários brasileiros chega a 40%, segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope. Especialistas questionam, há muito tempo, a qualidade dessas novas faculdades no Brasil, para eles,elas acabam prestando um des-serviço ao ensino superior brasileiro.
Na prática, isso significa que quatro em cada dez universitários no país até sabem ler textos simples, mas são incapazes de interpretar e associar informações. Também não conseguem analisar tabelas, mapas e gráficos ou mesmo fazer contas um pouco mais complexas.
De 2001 a 2011, a porcentagem de universitários plenamente alfabetizados caiu 14 pontos - de 76%, em 2001, para 62%, em 2011. "E os resultados das próximas pesquisas devem confirmar essa tendência de queda", prevê Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do IPM.
Tal fenômeno, em parte, reflete o fato da expansão do ensino superior no Brasil ser um processo relativamente recente e estar levando para bancos universitários jovens que não só tiveram um ensino básico de má qualidade como também viveram em um ambiente familiar que contribuiu pouco para sua aprendizagem.
Além disso, muitas instituições de ensino superior privadas acabaram adotando exigências mais baixas para o ingresso e a aprovação em seus cursos. E como consequência, acabamos criando uma escolaridade no papel que não corresponde ao nível real de escolaridade dos brasileiros. Por exemplo, hoje no Brasil é muito comum o cidadão ter um diploma de Bacharel em Direito, administração, enfermagem etc..,mas pouco sabe dessa área, "empurrou com a barriga" a faculdade apenas para pegar o diploma, como assume alguns.
Postura e experiência
A segunda razão apontada para a decepção com a geração de diplomados estaria ligada a “problemas de postura” e falta de experiência de parte dos profissionais no mercado.
"Muitos jovens têm vivência acadêmica, mas não conseguem se posicionar em uma empresa, respeitar diferenças, lidar com hierarquia ou com uma figura de autoridade", diz Marcus Soares, professor do Insper especialista em gestão de pessoas.
"Entre os que se formam em universidades mais renomadas também há certa ansiedade para conseguir um posto que faça jus a seu diploma. Às vezes o estagiário entra na empresa já querendo ser diretor."
As empresas, assim, estão tendo de se adaptar ao desafio de lidar com as expectativas e o perfil dos novos profissionais do mercado – e em um contexto de baixo desemprego, reter bons quadros pode ser complicado.
Para Marcelo Cuellar, da consultoria de recursos humanos Michael Page, a falta de experiência é, de certa forma natural, em função do recente ciclo de expansão econômica brasileira.
"Tivemos um boom econômico após um período de relativa estagnação, em que não havia tanta demanda por certos tipos de trabalhos. Nesse contexto, a escassez de profissionais experientes de determinadas áreas é um problema que não pode ser resolvido de uma hora para outra", diz Cuellar.
Nos últimos anos, muitos engenheiros acabaram trabalhando no setor financeiro, por exemplo, outros profissionais foram para o serviço público desempenharem funções absolutamentes distintas da sua área de formação.
Não dá para esperar que, agora, seja fácil encontrar engenheiros com dez ou quinze anos de experiência em sua área – e é em parte dessa escassez que vem a percepção dos empresários de que ‘não tem ninguém bom’ no mercado.
Eu sei que peguei pesado com esse texto, até porque eu também fui um dos "jumentos" do estado, e devo reconhecer que temos boas instituições de ensino em nosso país, mas, são tão poucas, que acabam sendo exceções, a regra geral é o descrito acima.
Contato: agaextensao@gmail.com