O PROCESSO DE LIMPEZA ÉTNICA NOS BALCÃS.
Por Alacir Arruda
Atendendo a pedido...
Entender os conflitos, sobretudo étnicos, na região dos Bálcãs não é fácil pois essa região, historicamente, sempre esteve envolvido em contendas desde a época que pertencia ao Império Romano. Mas foi a partir de 1990 que essa região ficou realmente conhecida mundialmente com o fim do socialismo. Com a fragmentação da grande Yuguslávia em 1989, a Servia adotou uma postura imperialista frente a Bósnios, Croatas, Monte negristas, Eslovenos, Macedônios e Kosovares. Sob a égide de Slobodan Milosevic, presidente Sérvio, a Europa assistiu a um dos maiores derramamentos de sangue dos últimos 50 anos. A Servia,não aceitando a independência desses países, enviou tropas a todas essas ex-republicas Youguslavas e o mundo assistiu ao caos.
Não foi a primeira vez que os sérvios – ou iugoslavos - fizeram uma limpeza étnica nos Bálcãs. Antes dos albaneses kosovares, as vítimas foram os croatas e os bósnios, principalmente os muçulmanos, cuja religião foi herdada do longo domínio turco otomano na região até pouco antes da Primeira Guerra Mundial.
Aliás, os sérvios já estiveram envolvidos na deflagração da Primeira Guerra. Foi um estudante sérvio chamado Gavrilo Princip, pertencente a uma associação secreta conhecida como "Mão Negra", quem assassinou o arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono da Áustria. O atentado bem sucedido, ocorrido na cidade de Saraievo na Bósnia, culminou com a declaração de guerra contra a Sérvia por parte do Império Austro-Húngaro. Os países europeus foram, um a um, arrastados para o conflito que durou quatro anos, de 1914 a 1918.
A região sempre foi um barril de pólvora e até hoje possui um baixo padrão de vida. O que mantinha a antiga Iugoslávia coesa era a mão de ferro do Marechal Tito. Mas sua morte em 1980 abriu espaço para a manifestação de nacionalismos reprimidos durante muito tempo. Eslovênia, Croácia, Bósnia e Macedônia conseguiram, a muito custo, desvencilhar-se da dura dominação sérvia.
O atual conflito possui raízes no começo do século e isso pode ser sabiamente explorado pelos examinadores nas provas de História. É recomendável estudar a hegemonia que os turcos otomanos já exerceram na região, as guerras balcânicas contra a Turquia, a Primeira Guerra, os fatores que contribuíram para sua eclosão, a formação da Iugoslávia em 1945, a vida do Marechal Tito, o pan-eslavismo (união de todos os povos eslavos sob a batuta de Moscou), a influência soviética na península balcânica após a Segunda Guerra, etc.
A Guerra dos Balcãs
Entre 1912 e 1913, acontece a chamada “Guerra dos Balcãs”, que envolveu várias nações e províncias do leste europeu. Sérvia, Montenegro, Grécia e Bulgária uniram-se contra a Turquia, com o objetivo de expulsar os turcos otomanos da região, que dominavam a Macedônia, que pertenceria à Sérvia. A tendência de expansionismo da Sérvia também buscava anexar a Albânia. A Áustria, no entanto, interveio e conseguiu o reconhecimento da independência da Albânia, impedindo o expansionismo sérvio.
Estes conflitos iriam se desencadear na 1 Guerra Mundial, e na formação prévia do chamado “pan-eslavismo”, que foi um movimento que visava agregar as nações dos balcãs na chamada Grande Sérvia. Em outras palavras, caracterizava o interesse hegemônico do expansionismo Sérvio na região, com o apoio posterior da URSS stalinista.
O final da Primeira Guerra e o desmembramento do Império Áustro-Húngaro, resultou na unificação dos territórios da Croácia, Eslovênia e Bósnia-Herzegovina com os da Sérvia e Montenegro. Nasce aí o chamado Reino da Sérvia, Croácia e Eslovênia.
Durante a 2 Guerra Mundial, em 1941, a Yoguslávia assina um pacto de amizade com a URSS. A Alemanha, Itália, Hungria e Bulgária, então, invadiram a Yoguslávia, aproximando-se da Croácia, que fazia oposição e desejava a separação, o que os levou a uma aproximação dos croatas com a Alemanha.
Uma Guerra civil se instaurou na região. (Conflito dos Balcãs)
Não apenas étnico, este episódio também pode ser visto como um conflito político. O sentido geo-político do conflito civil nos balcãs era claro, porém, “maquiado” pela justificativa de um conflito étnico. Havia, claro, interesses econômicos e territoriais.
Com o fim da 2 Guerra Mundial, é proclamada a República Federativa da Yoguslávia, ligada ao bloco socialista. Até o início da década de 1990 foi mantida tal ordem, baseada em um pensamento unitário (de partido único), influenciado pelo stalisnismo.
Ao longo dos anos foi produzida na região uma grande insatisfação popular, que explodiria durante a década de 1990.
De fato, a pluralidade da unitária Iugoslávia deve ser levada em conta: são cinco grupos eslavos (eslovenos, montenegrinos, croatas, sérvios e macedônicos); dois alfabetos (cirílico e latino); três línguas (esloveno, macedônico e sérvo-croata); quatro religiões (católicos, protestantes, ortodoxos e muçulmanos); e seis repúblicas federadas.
Em 1991 iniciou-se a fragmentação da Iugoslávia: Croácia e Eslovênia declararam suas independências. A Bósnia, em 1995, após três anos de guerra, conquista também a sua independência. A guerra da Bósnia, entre 1992 e 1995, mostra a divisão étnica do país, além de fazer saltar aos olhos os interesses econômicos por trás dos conflitos.
Na segunda metade da década de 1990, a Guerra de Kosovo intensificaria os conflitos na região. Desde desmembrada a Iugoslávia, sérvios e albaneses se digladiam na região do Kosovo, que luta para conseguir sua independência da Sérvia.
Depois dos bombardeios da Otan à Belgrado, em 1999, os líderes ocidentais e Slobodan Milosevic chegaram a acordo para colocar fim aos conflitos. As tropas sérvias seriam retiradas, com a formação de uma força internacional de paz no Kosovo.
Milošević foi indiciado em maio de 1999, durante a Guerra do Kosovo, pelo Tribunal Penal Internacional para a antiga Youguslavia das Nações Unidas por crimes contra a humanidade no Kosovo. As acusações de violar as leis ou costumes de guerra, violações graves das Convençõles de Genebra, na Croácia e na Bósnia e o genocidio da Bósnia foram adicionados um ano e meio depois.
Na sequência da transferência de Milošević, a acusação original de crimes de guerra no Kosovo foram atualizados pela adição de acusações de genocídio na Bósnia e crimes de guerra na Croácia. Em 30 de janeiro de 2002, Milošević acusou o tribunal de crimes de guerra de ser um "mal e hostil ataque" contra ele. O julgamento começou em Haia, em 12 de fevereiro de 2002, com Milosevic se defendendo enquanto se recusava a reconhecer a legalidade da competência do tribunal.
As acusações pelas quais Milošević foi indiciado foram: genocídio, cumplicidade em genocídio, deportação; assassinatos, perseguições por motivos políticos, raciais ou religiosos, atos desumanos / transferências forçadas , extermínio, prisão, tortura, homicídio voluntário, privação ilegal de liberdade, intencionalmente causando grande sofrimento; deportação ou transferências ilegais, destruição extensiva e apropriação de bens, não justificadas por necessidades militares e executadas de forma ilegal e arbitrária; tratamento cruel; pilhagem de propriedade pública ou privada, ataques a civis, destruição ou danificação deliberada de monumentos históricos e instituições que se dedicam à educação ou à religião; atentados ilegais a objetos civis.
Em fevereiro de 2007, o TPII julgou a Sérvia não culpada de genocídio e concluiu que o governo de Belgrado não planejou o Massacre de Srebrenica (o episódio mais grave contido na acusação). No entanto, o presidente do TPII afirmou que Milošević estava ciente do risco de ocorrência de massacres na Bósnia e não fez nada para impedir.
Funeral de Milošević: uma multidão de sérvios esperando para render homenagem a Slobodan Milošević em seu domicilio em Belgrado
Milošević foi preso e condenado pelo tribunal internacional de Haia por crimes contra a humanidade. No dia 11 de março de 2006 Slobodan Milosevic foi encontradpo morto em sua cela no centro de detenção do tribunal penal em Scheveninguen em Haia. As autópsias logo estabeleceram que ele morreu de um ataque cardíaco. Ele sofria de problemas cardíacos e pressão arterial elevada. Muitas suspeitas foram expressas no sentido de que o ataque cardíaco tinha sido causado ou provocado deliberadamente pelo TPII, de acordo com simpatizantes, ou por si mesmo, segundo os críticos.
A morte de Milošević ocorreu logo após o tribunal negar o seu pedido para tratamento médico especializado em uma clínica de cardiologia na Rússia. As reações à morte de Milošević foram mistas: os apoiantes do TPII lamentaram pois consideraram que Milošević permaneceu impune, enquanto os adversários responsabilizaram o tribunal pelo o que tinha acontecido.
Como lhe foi negado um funeral de Estado, um funeral privado para Milošević foi realizado por seus amigos e família em sua cidade natal, Požarevac, depois de dezenas de milhares de seus partidários participaram de uma cerimônia de despedida, em Belgrado. O retorno do corpo de Milošević e o retorno de sua viúva à Sérvia foram muito controversos, levando a grandes dificuldades antes da sua resolução.
Se gostou compartilhe,,