quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Prefiro infelicidade 2

PREFIRO A INFELICIDADE CONSCIENTE, QUE UMA FELICIDADE CONFORMISTA  2.

Por Alacir Arruda

Como dizem os cariocas, fico "bolado" com as pessoas que afirmam ter encontrado um caminho para a felicidade plena, como se essa felicidade fosse algo  raro destinado  a poucos. Aliás, sempre achei esse lance de felicidade um embuste do nosso Ego,como afirmou  Freud. Porém, quando toco nesse assunto muita gente me olha com aquela cara,: "do que é que você está falando?"   "Você está maluco?"E por ai vai. 

A grande verdade é que a nossa sociedade é viciada em felicidade. Aprendemos desde cedo que nossas decisões na vida devem ser tomadas baseadas no potencial que as escolhas à nossa frente possuem de nos proporcionar uma vida feliz. Com quem vou me casar? Vou ter filhos? Que profissão vai me realizar mais?  A cada passo que damos, supostamente, devemos fazer a matemática da felicidade em nossa mente e analisar qual opção tem maior potencial. Ficamos furiosos quando depois de um tempo descobrimos que a escolha que fizemos não era a que trazia felicidade, mas sim a outra que abrimos mão.  Um pouco disso e a  culpa da nossa moral Judaico-cristã ocidental. Essa idéia de pecado original nos aflige,   como diria Nietzsche. 

Esse raciocínio está tão impregnado em nossas mentes que temos muita dificuldade em percebermos toda a sua armadilha e decepção. A reação natural quando toco nesse assunto é o questionamento contrário: "então se não vamos procurar a felicidade, vamos fazer o que? Procurar a infelicidade? Aceitar uma vida que não queremos? Qual o propósito disso?"

Esse raciocínio provém da noção de que se não buscarmos a felicidade na vida, então nada nos sobra. Bom, vamos pensar um pouquinho aqui com lógica, ok?! 

O que é realmente essa tal de felicidade? Não de uma forma concreta, mas o que as pessoas estão buscando quando elas medem alternativas tentando descobrir qual delas as fará felizes? 

Conforto, ausência de problemas e desafios, alegria, tranqüilidade, paz…humm…isso  parece ótimo, não? Do ponto de vista social, o final feliz é esse, não é mesmo? Mas você já parou para pensar que não há final algum? Não há final feliz, nem triste, não há final até que sua própria vida acabe! Nossa vida não é um filme que acaba depois que alcançamos nossos objetivos. Então porque tanta gente persegue “sonhos utópicos” como se esses carregassem seus finais felizes? 

Mas vamos um pouco mais fundo..Ja imaginaram que  vidinha mais medíocre essa feliz, hein? Nenhum problema, nenhum desafio, só alegria, só conforto, só paz, só tranqüilidade…Fico imaginando o  quanto demoraria para você se sentir infeliz com toda essa felicidade?! 

Mas Alacir, você está dizendo então que deveríamos ser infelizes? 

É aí que muita gente não entende exatamente do que é que estou falando… 

Felicidade ou infelicidade são percepções do ego. Freud afirma que o nosso ego e nosso algoz, ele só quer elogios,tranquilidade e orgia. Inclusive, já falei sobre isso em artigos anteriores, mas percebi pelos comentários que muita gente não entendeu direito o que eu estava falando… 

Nosso lado egoísta, aquele que tem vontade, que quer as coisas, é que quer ser feliz. Nosso ego não gosta de nada que atrapalhe seu prazer. Se dependesse do nosso ego, ficaríamos em casa o dia inteiro sentados na frente da TV, comendo pipoca e pizza e só levantaríamos para fazer coisas que também são prazerosas. Jamais aceitaríamos qualquer situação que nos proporcionasse qualquer tipo de desconforto… a não ser que visualizássemos um benefício futuro resultante do sacrifício de abrir mão do próprio prazer. 

Como a maioria das pessoas não pode se dar ao luxo de só fazer o que quer de acordo com suas próprias vontades, elas desgostosamente fazem os sacrifícios que a vida lhes impõe, mas seu “sonho” é voltar à condição de prazer máximo. É por isso que buscam a felicidade com tanto ardor. O que elas querem na verdade é eliminar todas as atividades que a vida lhes impõe para que elas possam então desfrutar de tudo de bom que a vida tem a oferecer. 

Muitas pessoas erroneamente interpretam a filosofia Carpe Diem dessa forma. O motivo é que simplesmente não entendem o que poderia haver na vida além de se buscar a própria felicidade. Esse raciocínio, como eu mencionei, é resultado de uma vida inteira tendo essa idéia martelada na cabeça, assistindo filmes de Hollywood que mostram exatamente esse conceito – o filme sempre acaba quando o herói finalmente conquista seus objetivos e então supõe-se que depois do final da estória, ele viveu feliz para sempre. 

A minha percepção sobre esse assunto é altamente influenciada pelas diversas teorias orientais que abominam o ego e suas vontades. 

Esse meu background me leva a crer que não viemos a esse mundo para curtir a vida e sermos felizes, mas sim para evoluir e ajudarmos uns aos outros. Dentro dessa perspectiva, a felicidade parece ser uma grande perda de tempo, um poço sem fundo de mediocridade. 

Acredito que temos uma programação de vida, uma missão (ou várias!) e que a realização desse propósito não envolve conforto, alegria ou tranqüilidade. Quem sente essas emoções é o ego, justamente a parte de nós que não está a fim de cumprir missão alguma, está a fim de ficar quieto, sem ser perturbado ou melhor, só curtir a vida no maior conforto. O ego não gosta de nada difícil, evidentemente! “Difícil” envolve desconforto, desafios e muitas vezes sacrifício sem benefício do final das contas. O ego não quer saber desse tipo de coisa, o ego só topa o sacrifício se ele estiver de olho no benefício que vai usufruir quando terminar. 

O próprio conceito de evolução carrega inerente consigo uma interpretação de benefício, porém, muitos de nós, na condição de seres humanos sem visão de conjunto alguma, não conseguimos ver os benefícios reais. Nosso ego, por sua vez, não topa desafio algum se não for para ganhar nada em troca de todo o sacrifício. É por isso que muita gente simplesmente não entende porque precisamos abrir mão da felicidade. Nossa sociedade está tão impregnada com a idéia de que se não há benefício, não vale à pena, que muita gente não consegue deixar cair a ficha. 

Não é uma questão de ser infeliz, não é isso que estou defendendo! A minha posição é que se preocupar com felicidade ou infelicidade é uma atividade puramente egoísta. O que defendo é não se importar com felicidade ou com infelicidade, simplesmente fazer o que tem que ser feito e ponto final. É difícil? Ok. Vou ter que fazer sacrifícios sem benefício algum? Ok. Viver seu propósito de vida requer esse tipo de postura. 

Não acredito que a felicidade seja o propósito de ninguém! Se fosse pra ser fácil, você não estaria nesse mundo! Você já pensou nisso? 

O negócio então é aceitar a dificuldade sem reclamar, sem ficar dizendo com aquela voz chorona   “minha  vida não é fácil!!”… ( e por que deveria ser?) 

Ao aceitar o que vier, encarar as dificuldades, vencer os desafios sem fugir deles, sem ficar tentando eliminá-los porque você quer ser feliz, porque você quer sombra e água fresca, ao ter essa postura, você encontra sua força interior. É só a partir daí que você pode realmente viver seu propósito de vida! 

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8 comentários:

  1. Simplesmente amei! Um dos textos mais interessantes que ja li ate hoje. Nunca imaginei o conceito de felicidade sob essa ótica e concordo plenamente em como somos egoístas. Na verdade so pensamos em nós quando queremos ser felizes, nao conseguimos imaginar se o outro, aquele que me acompanha, concorda com essa idéia. Me formei em psicologia em Belo Horizonte ha 12 anos e mas nao atuo na a´rea, porem gosto de ler textos filosóficos, e uma amiga me indicou seu blog, serei sua fiel leitora. Parabéns. Dianna Betim Minas Gerais

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    1. Fico deveras feliz com sua chegada Dianna, e obrigado por aquilo quenos toca.

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  2. PARABÉNS PELO TEXTO, É A SUA CARA, VEJO VOCE EM MINHA FRENTE AO LER ISSO . OLHA PROFESSOR, TODOS NOS AQUI DO RIO DE JANEIRO SENTIMOS SUA FALTA. ESPERO QUE TENHA RECOMPOSTO SUA SAÚDE O MARCELO SEMPRE LEMBRA DE VOCÊ ELE AGORA E GERENTE DE BANCO E LHE CITA DIRETO. A CAMILA MORA E TRABALHA NA GRECIA E O ELTON CONSEGUIU IR PARA O CANADA, EU ESTOU AQUI EM VOLTA REDONDA AINDA,MAS FELIZ. SAUDADES DE SUAS AULAS. - VERÔNICA MARTINS

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    1. O Veronica reciproca e verdadeira, tbm sintofalta de voces ai do Rio. fico feliz pelo Marcelo de microempresarioa Gerente de banco,olha a evolução. Bom quanto a Camila, ela ja havia me dito que minhas aulas de filosofia a fez se interessar pela cultura grega e que um dia ela iria para lá, kibom que ela esta no berço da civilização ocidental. O Elton e uma figura, ele foi preso umas três vezes tentando entrar clandestinamente nos Estados Unidos, eu sempre disse a ele, " Canada é melhor", fico muito feliz por ele ter conseguido, quanto a você verônica, na verdade o fato de estar ainda em Volta Redonda nao a diminuiu em nada pois a felicidade é algo que ocorre de dentro para fpora e não ao contrario.. Seja feliz e sucesso a todos. Estou me recuperando.

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  3. Seus textos são para pemsare refletir. Chow. Beijos saudades.

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  4. Revigorar o cérebro com boas leituras. Muito bom ser leitora assídua do blog. Um abraço

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    1. Fico feliz e agradecido professora Naildes por estar sempre por aqui, desejo sucesso em seu mestrado. Abs.

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