quarta-feira, 27 de março de 2019

Política: Muito além de uma crise moral..

BRASIL: UM PROJETO QUE NÃO DEU CERTO.


Por Alacir Arruda

Por muitas vezes me perguntei quando adolescente: “O Brasil tem solução”? Então cresci e  fui estudar sociologia, ciência política, filosofia e antropologia para tentar encontrar nessas áreas do conhecimento uma resposta razoável à esse questionamento. Confesso que ainda não encncontrei! Mas, por quê?

Talvez isso se deva ao fato de realmente não termos solução, ou a solução ainda estar a caminho ou ainda que não haja uma forma conceitual de avaliar isso. Bom, teorias à parte as minhas preocupações residem na incapacidade dos nossos governantes enxergarem o óbvio; “o nosso povo carece de conhecimento”. É sofrível, para ser educado, o nível de alunos que hoje chegam as universidades brasileiras; aqui faço uma ressalva: os alunos de federais ainda conseguem estabelecer com a ciência uma relação de proximidade, mas o senso comum impera nas privadas. 

Outra coisa não menos óbvia, é que não há, por parte dos governantes, qualquer interesses em mudar esse quadro pois isso seria um tiro no próprio pé. O Estado tem um papel central nesse processo, uma vez que controla a educação e essa, por si só, será sempre reprodutora: A Escola sempre reproduz algo. O seu problema maior não reside nessa necessidade da reprodução cultural, mas sim naquilo que há por se reproduzir. 

A escola transmite as ideologias dominantes; é, assim, „reprodutora‟ do disciplinamento capitalista. É antiga essa constatação da importância da educação para a manutenção de uma estrutura social. Numa carta de 11 de junho de 1868, enviada a Kugelmann, Marx afirmou que “se uma formação social não reproduz as suas condições de produção ao mesmo tempo que produz, não conseguirá sobreviver um ano que seja” – (cf. Luckesi, 1994, p. 51).

Diante disso, como discutir ou entender o binômio ética e política no Brasil? Até que ponto a política é compatível com a ética? A política pode ser eficiente se incorporar a ética? Não seria puro moralismo exigir que a política considere os valores éticos? 

Quando se trata da relação entre ética e política não há respostas fáceis. Há mesmo quem considere que esta é uma falsa questão, em outras palavras, que ética e política são como a água e o vinho: não se misturam. Quem pensa assim, adota uma postura que nega qualquer vínculo da política com a moral: os fins justificam os meios.

O ‘realismo político’, ou seja, a busca de resultados a qualquer preço, subtrai os atos políticos à qualquer avaliação moral, entendendo esta como restrita à vida privada, dissociando o indivíduo do coletivo.

Esta concepção sobre a relação ética e política desconsidera que a moral também é um fator social e como tal não pode se restringir ao santuário da consciência dos indivíduos. Em outras palavras, embora a moral se manifeste pelo comportamento do indivíduo, ela expressa uma exigência da sociedade (um exemplo disso é a adoção dos diversos "códigos de ética"). Ou seja, não leva em conta que a política nega ou afirma certa moral e que, em última instância, a política também é avaliada pelo comportamento e entendimento moral das pessoas. Aliás, se a política almeja legitimidade não pode, entre outros fatores, dispensar o consenso dos cidadãos — o que pressupõe o apelo à moral.

Há também os que, ingenuamente ou não, adotam critérios moralizantes para julgar os atos políticos. Por conseguinte, condicionam a política à pureza abstrata reservada ao ‘sagrado’ espaço da consciência individual. Estes imaginam poder realizar a política apenas pelos meios puros.

O moralismo abstrato concentra a atenção na esfera da vida privada, do indivíduo. Portanto, aprisiona a política à moral intimista e subjetiva deste. Ao centrar a atenção na esfera individual, o moralista julga o governante tão-somente por suas virtudes e vícios, enfatizando suas esperanças na transformação moral dos indivíduos.

Ao agir assim reduz um problema de teor social e coletivo a um problema individual. No limite, chega à conclusão de que as questões sociais podem ser solucionadas se convencermos os indivíduos isoladamente a contribuírem, por exemplo, dividindo sua riqueza como os desafortunados.

O resultado é catastrófico: o moralista angustia-se porque a política não se enquadra nos seus valores morais individuais e termina por renunciar à própria ação política. Dessa forma, contribui objetivamente para que prevaleça outra política.

De um lado o ‘realismo político’; de outro, o moralismo absoluto. Nem tanto mar, nem tanto terra. A política e a moral, embora expressem esferas de ação e de comportamento humano específicas e distintas, são igualmente importantes para a ação humana no sentido da transformação social.

Política e moral são formas de comportamento que não se identificam (a primeira enfatiza o coletivo; a segunda o indivíduo). Nem a política pode absorver a moral, nem esta pode ser reduzida à política. Embora sejam esferas diferentes, há a necessidade de uma relação mútua que não anule as características particulares de cada uma. Portanto, nem a renúncia à política em nome da moral; nem a exclusão absoluta da política.

Mas ainda fica a pergunta inicial: é possível a ética na política? Para uma resposta mais abrangente é preciso analisar as diferenças entre ética e moral (conceitos que usamos de forma indistinta), visto que para  nossos políticos, Ética são as vantagens que o cargo proporciona e Moral é a forma de mantê-las...


 RENATO RUSSO QUE O DIGA.




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sábado, 23 de março de 2019

Estamos bem....

O Prêmio Nobel e o Brasil


Por: Alacir Arruda

Alguém certa vez escreveu que o Brasil dá mais valor em ganhar uma Copa do Mundo de futebol do que ter um prêmio Nobel. Fui checar o assunto no semideus da informação, o Google. E resolvi espichar a pesquisa para toda a América Latina.

O prêmio Nobel é distribuído desde 1901 nas áreas de Química, Física, Medicina, Paz e Literatura. Em 1969 foi acrescentado o de Economia. O Brasil não tem mesmo nenhum prêmio Nobel.

Carlos Chagas foi indicado em 1921 para medicina, mas não levou. Outro indicado de fora para dentro foi Dom Helder Câmara para o da Paz e não levou também. É realmente intrigante como o mundo olha o Brasil.

Em Literatura a América Latina recebeu os prêmios Nobel em 1945 com Gabriela Mistral do Chile; em 1967 com Miguel Astúrias da Guatemala; em 1971 com Pablo Neruda do Chile; Octávio Paz do México o levou em 1990 e Gabriel Garcia Márquez da Colômbia em 1982. Não sei se o Brasil teve pelo menos alguém indicado para Literatura.

Latino-americanos receberam Nobel da Paz. No geral, foram dados a pessoas que combatiam algum tipo de ditadura nesse ou naquele país ou momento. Saavedra Lamas, Argentina, 1936; Garcia Robles, México, 1982; Perez Esquivel, Argentina, 1980; Oscar Arias, Costa Rica, 1987; e Rigoberta Manchu, Guatemala, 1992. A pequena Guatemala tem dois Nobel e o Brasil nenhum.

Na área de Química a América Latina teve dois laureados. Federico Leloir, 1971, nasceu em Paris, mas se fez profissionalmente na Argentina, e Mario Molina, México, 1996.

Na de Medicina, receberam o Nobel Cesar Milstein, Argentina, 1984; Alberto Houssay, Argentina, 1947 e o venezuelano, Baruj Beuacerraf em 1980.

São 15 prêmios Nobel para a América Latina, sendo dois terços deles da Paz e Literatura. Os argentinos levam cinco prêmios. Goleada no Brasil.
Numa conta grosseira,  seriam quase 480 prêmios Nobel distribuídos desde 1901. A América Latina tem algo como 3% do total. É muito pouco. E desses somente cinco nas áreas Médica e de Química.

A situação do Brasil é quase vexatória. O interessante é que não recebemos o tal prêmio nem nas áreas de Literatura e da Paz. Mesmo na época da ditadura militar, em que gente como Helder Câmera mostrava a cara contra o regime que o mundo lá fora condenava, não se teve um da Paz. Perez Esquivel o recebeu por combater a ditadura na Argentina, aqui não.

As universidades norte-americanas falam que os latino-americanos quase não contribuem para a evolução da humanidade. Que não se encontra nada que a região tenha feito ou produzido que ajudou a melhorar a qualidade da vida no mundo. Se olharmos pelo prisma do prêmio Nobel parece que eles  têm razão.

PS. Torço com o dia em  que a academia sueca crie mais uma categoria: A melhor letra de Funk Probidao;  ai não tem  pra Ninguém...


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segunda-feira, 18 de março de 2019

Muita mutreta pra salvar a situação....

AQUI NA TERRA TÃO JOGANDO FUTEBOL (..)

Por Alacir Arruda

Na década de 70 o grande compositor Chico Buaorque escreveu uma música chamada " Meu caro amigo", que foi dedicada aos brasileiros que se encontravam exilados à época.  Por que falo dessa musica? Porque acredito que ela sintetize o que hoje ocorre no Brasil. Nessa música Chico, usando de toda a sua capacidade de improvisação, através de mensagens subliminares reporta aos seus amigos a situação do Brasil, que vivia um Regime de Exceção com os militares no poder. Colocarei aqui apenas o inicio , ela inteira estará no final do texto. Sugiro que ouçam."

Meu caro amigo, me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate o sol 
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta 

Muita mutreta pra levar a situação 
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça 
E a gente vai tomando que também sem a cachaça 
Ninguém segura esse rojão

Voltemos a atualidade. A eleição de Bolsonaro, além de uma tremenda incógnita,  reflete em seus discursos uma velha prática bem brasileira, que é "sempre levar alguma vantagem", seja no governo, seja no trabalho. Em suma, os nossos políticos não querem largar osso pois, para eles, mesmo com a imprensa e as  denúncias, ainda  é possível retirar alguma carne. . Mas por por que eles agem assim?

O povo brasileiro é mundialmente conhecido como um povo alegre, criativo e capaz de gerar soluções práticas para os problemas. Claro que essa última característica se estende a muito mais que simplesmente buscar agilizar a burocracia, otimizar o tempo e as relações comerciais e sociais, e sim está associada ao famoso “jeitinho brasileiro”, em que, para se conseguir o desejado, vale quebrar regras e até cometer atos ilícitos.

Isso foi retratado até mesmo nos cinemas quando, nos anos de 1940, o Brasil ganhou representatividade internacional com o personagem “Zé Carioca”. O conhecido papagaio brasileiro, com seu jeito típico de malandro, encontrava solução para tudo, e assim saia de qualquer enrascada. 

Essa esperteza brasileira é uma velha conhecida que foi se arraigando há muitos anos em nossa cultura, de maneira que se tornou amplamente aceita para o alcance de benefícios pessoais. 

Por exemplo, há pessoas que, despudoradamente, estacionam seu carro em vagas destinadas a deficientes e idosos, furam a fila, compram atestado médico para enganar o patrão, pagam para fazer sua monografia, enganam no troco, “pagam o café” para se livrar da multa, surrupiam material da empresa, como canetas, papel sulfite, papel higiênico, sabonete etc. 

Sem falar dos milhões de “gatos” feitos para roubar luz, água, internet, sinal de TV a cabo etc. Veja que, para tudo, o brasileiro é capaz de arrumar uma maneira de enganar. 

O problema é que essa habilidade, que começa na infância e normalmente dentro de casa, vai se refinando até se tornar em crime lá na frente. Por isso temos tantos ladrões de colarinho branco que roubam o pão da mesa dos mais fracos; vemos o direito do doente ser atendido dignamente em um hospital público ser ignorado; a escola e a merenda da criança ser defraudada etc. E não apenas isso: quantas pessoas há que enganam, mentem e fazem de tudo para levar certa vantagem e acham que jamais serão penalizadas? Muitos estão acostumados com a ideia que para subir na vida vale tudo. 

Diante disso, que incoerência clamar por políticos honestos, se a desonestidade campeia solta no dia a dia da maioria! Que contradição exigir a verdade dos outros, quando “mentirinhas” são contadas a três por quatro para se safar de problemas! 

Com isso, os escândalos que tanto nos envergonham têm raízes em pequenas ações erradas, permitidas e incentivadas, em nome da esperteza. 

Sendo assim, o problema não está no político que estava antes ou no que virá, muito menos na sigla partidária. O problema está em toda a nação, pois a “matéria-prima humana”, isto é, as autoridades, que constituem nossos três poderes estão doentes moralmente. 

Então fica latente que nossa necessidade urgente é de integridade. Homens e mulheres que façam o que é certo como algo natural e constante. Pessoas que sejam corretas não apenas quando alguém está vendo, mas quando ninguém está por perto, pois o que as coage internamente é o seu caráter e não a observação alheia. 

Assim, chega de jogar a culpa em terceiros! Temos direitos como cidadãos, mas também deveres, e precisamos assumi-los, antes que não haja mais nada a ser feito pelo nosso País. 

Individualmente fuja de tudo o que infringe, é ilegal ou imoral, pois trará danos à nação de igual forma. Por exemplo, mesmo que você seja alguém que poderá ser prejudicado por não fazer parte do jogo sujo das propinas ou subornos, escolha o certo e deixe o restante nas mãos de Deus. Pois as consequências pelo bem que fazemos sempre virão, assim como não passará em branco as consequências das nossas más atitudes. 

Quatro a cada cinco brasileiros (81%) têm a percepção de que é melhor “dar um jeitinho” do que seguir as leis. O dado é de uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas em 2016 para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Possivelmente, você leu esse número e não caiu de costas para trás – convive com essa constatação desde sempre. 

Enquanto isso, vale lembrar de que o esporte nacional é criticar a corrupção na política. Os vereadores não valem nada,os prefeitos não valem nada os governadores não valem nada deputados não valem nada, os senadores não valem nada, a presidente não vale nada...Eu concordo, realmente grande parte dos nossos políticos são "canalhas", nunca duvidei disso, mas não seria momento de colocarmos as mãos na consciência e perguntar: "quem os colocou lá? Ou será que esses políticos vieram do espaço? Pois éh! Essa pesquisa pesquisa da FGV só comprova que os escolhidos pela população são só um retrato dela mesma. 

Não é moralismo, é fato. Você com certeza já deve ter visto algum sujeito bradar contra escândalos que envolvem peemedebistas, petistas, tucanos etc.., ao mesmo tempo, não se envergonhar de sonegar imposto, praticar suborno e manter contatos com políticos que sempre dão “aquela ajudinha” para burlar uma ou outra lei que os demais mortais precisam seguir. Quem nunca chegou num politico e disse: "olha amigo, não esqueça de mim ok". Ou: "arruma uma boquinha pra mim lá ." ( só um detalhe, eu nunca!) 

Os quatro quintos do “jeitinho”, no fundo, admiram os políticos que metem a mão no jarro, mas que mantêm a capacidade de não serem pegos. Votam por cumplicidade. Mas não desistem de dizer que a culpa é dos outros.


Meu Caro Amigo


Meu caro amigo, me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo, eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo, eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
Que a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo, eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus!


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quinta-feira, 14 de março de 2019

Felicidade: um engano...

PREFIRO A INFELICIDADE..

Por Alacir Arruda

Sempre questionei  as pessoas que afirmam terem encontrado um caminho para a felicidade plena, como se esta fosse comparada a uma pedra rara destinada a poucos. Aliás, sempre achei esse lance de felicidade um tremendo embuste do nosso Ego. Porém, quando toco nesse assunto muita gente me olha com aquela cara: "do que é que você está falando"? "Você está maluco"?

Nossa sociedade é viciada em felicidade. Aprendemos desde cedo que nossas decisões na vida devem ser tomadas baseadas no potencial que as escolhas a nossa frente possuem de nos proporcionar uma vida feliz. Com quem vou me casar? Vou ter filhos? Que profissão vai me realizar mais? E por aí vai. A cada passo que damos, supostamente, devemos fazer a matemática da felicidade em nossa mente e analisar qual opção tem maior potencial. Ficamos furiosos quando depois de um tempo descobrimos que a escolha que fizemos não era a que trazia felicidade, mas sim a outra que abrimos mão.

Tudo isso culpa da nossa moral  Judaico-cristã ocidental, diria Nietzsche. Esse raciocínio está tão impregnado em nossas mentes que temos muita dificuldade em percebermos toda a sua armadilha e decepção. A reação natural quando toco nesse assunto é o questionamento contrário: então se não vamos procurar a felicidade, vamos fazer o que? Procurar a infelicidade? Aceitar uma vida que não queremos? Qual o propósito disso?

Isso provém da noção de que se não buscarmos a felicidade na vida, então nada nos sobra. Bom, vamos pensar um pouquinho aqui com lógica, ok?!

O que é realmente essa tal de felicidade? Não de uma forma concreta, mas o que as pessoas estão buscando quando elas medem alternativas tentando descobrir qual delas as fará felizes?

Conforto, ausência de problemas e desafios, alegria, tranqüilidade, paz… Humm… parece ótimo, não? Do ponto de vista social, o final feliz é esse, não é mesmo? Mas você já parou para pensar que não há final algum? Não há final feliz, nem triste, não há final até que sua própria vida acabe! Nossa vida não é um filme que acaba depois que alcançamos nossos objetivos. Então porque tanta gente persegue “sonhos” como se esses carregassem seus finais felizes?

Mas vamos um pouco mais fundo… Que vidinha mais medíocre essa feliz, hein? Nenhum problema, nenhum desafio, só alegria, só conforto, só paz, só tranqüilidade… O quanto demoraria para você se sentir infeliz com toda essa felicidade?!

Mas  Alacir,  você está dizendo então  que deveríamos ser infelizes?

É aí que muita gente não entende exatamente do que é que estou falando… 
Felicidade ou infelicidade são percepções do ego, inclusive, já falei sobre isso em artigos anteriores, mas percebi pelos comentários que muita gente não entendeu direito o que eu estava falando…

Nosso lado egoísta, aquele que tem vontade, que quer as coisas, é que quer ser feliz. Nosso ego não gosta de nada que atrapalhe seu prazer. Se dependesse do nosso ego, ficaríamos em casa o dia inteiro sentados na frente da TV, comendo pipoca e pizza e só levantaríamos para fazer coisas que também são prazerosas. Jamais aceitaríamos qualquer situação que nos proporcionasse qualquer tipo de desconforto… a não ser que visualizássemos um benefício futuro resultante do sacrifício de abrir mão do próprio prazer.

Como a maioria das pessoas não pode se dar ao luxo de só fazer o que quer de acordo com suas próprias vontades, elas desgostosamente fazem os sacrifícios que a vida lhes impõe, mas seu “sonho” é voltar à condição de prazer máximo. É por isso que buscam a felicidade com tanto ardor. O que elas querem na verdade é eliminar todas as atividades que a vida lhes impõe para que elas possam então desfrutar de tudo de bom que a vida tem a oferecer.

Muitas pessoas erroneamente interpretam a filosofia carpe diem dessa forma. O motivo é que simplesmente não entendem o que poderia haver na vida além de se buscar a própria felicidade. Esse raciocínio, como eu mencionei, é resultado de uma vida inteira tendo essa idéia martelada na cabeça, assistindo filmes de Hollywood que mostram exatamente esse conceito – o filme sempre acaba quando o herói finalmente conquista seus objetivos e então supõe-se que depois do final da estória, ele viveu feliz para sempre.

A minha percepção sobre esse assunto é altamente influenciada pelas diversas teorias orientais que abominam o ego e suas vontades e também pela ocidental
Esse meu background me leva a crer que não viemos a esse mundo para curtir a vida e sermos felizes, mas sim para evoluir e ajudarmos uns aos outros. Dentro dessa perspectiva, a felicidade parece ser uma grande perda de tempo, um poço sem fundo de mediocridade.

Acredito que temos uma programação de vida, uma missão (ou várias!) e que a realização desse propósito não envolve conforto, alegria ou tranqüilidade. Quem sente essas emoções é o ego, justamente a parte de nós que não está a fim de cumprir missão alguma, está a fim de ficar quieto, sem ser perturbado ou melhor, só curtir a vida no maior conforto. O ego não gosta de nada difícil, evidentemente! “Difícil” envolve desconforto, desafios e muitas vezes sacrifício sem benefício do final das contas. O ego não quer saber desse tipo de coisa, o ego só topa o sacrifício se ele estiver de olho no benefício que vai usufruir quando terminar.

O próprio conceito de evolução carrega inerente consigo uma interpretação de benefício, porém, muitos de nós, na condição de seres humanos sem visão de conjunto alguma, não conseguimos ver os benefícios reais. Nosso ego, por sua vez, não topa desafio algum se não for para ganhar nada em troca de todo o sacrifício. É por isso que muita gente simplesmente não entende porque precisamos abrir mão da felicidade. Nossa sociedade está tão impregnada com a idéia de que se não há benefício, não vale à pena, que muita gente não consegue deixar cair a ficha.

Não é uma questão de ser infeliz, não é isso que estou defendendo! A minha posição é que se preocupar com felicidade ou infelicidade é uma atividade puramente egóica. O que defendo é não se importar com felicidade ou com infelicidade, simplesmente fazer o que tem que ser feito e ponto final. É difícil? Ok. Vou ter que fazer sacrifícios sem benefício algum? Ok. Viver seu propósito de vida requer esse tipo de postura.

Não acredito que a felicidade seja o propósito de ninguém! Se fosse pra ser fácil, você não estaria nesse mundo! Você já pensou nisso?

O negócio então é aceitar a dificuldade sem reclamar, sem ficar dizendo com aquela voz chorona “mas Alacir,  não é fácil!”… (por que deveria ser?)

Ao aceitar o que vier, encarar as dificuldades, vencer os desafios sem fugir deles, sem ficar tentando eliminá-los porque você quer ser feliz, porque você quer sombra e água fresca, ao ter essa postura, você encontra sua força interior. É só a partir daí que você pode realmente viver seu propósito de vida!

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quarta-feira, 13 de março de 2019

Educação: esse é o caminho


UMA OUTRA ESCOLA POSSĺVEL


Por: Alacir Arruda


Como é de conhecimento de todos que acompanham esse Blog, sou um voraz critico dessa educação "prussiana" ainda hoje praticada no Brasil, que na minha analise, não serve para, absolutamente, nada. Faço essas criticas baseadas em dados e observando experiencias inovadoras como o da Escola da Ponte em Portugal comandada à epoca pelo Prof. Jose Pacheco. Esse exímio educador cometeu a façanha de abastecer com relatórios falsos o Ministério da Educação de Portugal, seu país, por longos 10 anos. E de aceitar crianças que as demais escolas portuguesas rejeitavam. E manteve essas crianças disciplinadas, mesmo sem a presença de um dirigente central. Mas o conceito de disciplina da Escola da Ponte é outro, mais libertário que o comumente aceito em outras escolas. 

Chamado de Pontífice, que o dicionário nos assegura ser o elo entre os homens e Deus, ou papa, ele rejeita a alcunha. E também não gosta de ser aplaudido quando fala, porque “perde-se muito tempo com aplausos”.

O Prof. José Francisco Pacheco, nasceu em 10 de maio de 1951, educador português que hoje aposentado tem sua residencia atual no Brasil, sendo considerado um Peregrino da Educação, levando suas falas de esperança e solidariedade a todos os recantos do nosso país.

Especialista em Música e em Leitura e Escrita, é mestre em Ciências da Educação pela Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação daUniversidade do Porto. Coordenou, desde 1976, a Escola da Ponte, da qual é idelizador, instituição que se notabilizou pelo projeto educativo inovador, baseado na autonomia dos estudantes.

Este homem é o principal articulador da Escola da Ponte, uma escola sem diretor, sem salas de aula, sem divisão por séries ou turmas e a única que conseguiu autonomia junto ao governo. Mas não foi de graça. Com sua indisciplina, a Escola da Ponte conseguiu provar por A mais B que consegue gerir-se sozinha há 15 anos é a primeira colocada em todos os exames português e europeus. Comparado ao Brasil, seria o mesmo que ser a 1º colocada no ENEM por 10 anos.

É autor de livros e de diversos artigos sobre educação, definindo-se como "um louco com noções de prática". 

Em 8 de maio de 2004, condecorado, pelo Presidente da República de Portugal, Jorge Sampaio com a Ordem da Instrução Pública.
Ex-sindicalista, Pacheco comenta sobre a situação atual dos educadores brasileiros, para espanto geral, que o salário não é tudo e contesta os que dizem que ganham mal, por isso têm má atuação: “Isso volta-se contra nós”, alerta. 

Pacheco afirma que, o salário não paga o que o professor faz. A missão do professor é de tão grande excelência, que nenhum salário paga. Tem que ter um salário digno, eu não defende que se pague tão mal a essa gente, como viu no interior de Pernambuco e noutros lugares, a ganhar misérias. Não defende isso. Mas quer que os professores mostrem que são capazes de fazer melhor e exigir do Estado o reconhecimento do seu estatuto monetário também. E não que andem a dizer que por ganharem pouco, fazem pouco. 

Observador privilegiado, Pacheco fala que há escolas no Brasil que fazem inveja às europeias. As chama de escolas invisíveis, são os projetos que ele coordena em São Paulo. Mas ele alerta: “Enquanto não estiver consolidado o projeto, é melhor que não sejam conhecidas”.

Pacheco afirma que, aula é inútil e avaliação não avalia ninguém, para ele: o Brasil possui um modelo de ensino que impede o aluno de aprender e si doutrina bons soldados, ele diz ainda: “se queremos ser autônomos, teremos que ser todos diretores.” O poder tem que ser horizontalizado. Não pode haver mecanismos de controle, porque assim não há professores atuantes. Se houver diretor é sinal de que os professores não são autônomos, que é preciso haver alguém que mande neles, a dizer o que devem fazer, para onde devem ir, que horário devem ter. O que realizamos na Escola da Ponte foi horizontalizar todas as posições de poder. Há um coordenador, eleito anualmente, e agora tri anualmente, mas que pode ser destituído a qualquer momento; é um professor como os outros.

Pacheco conclui que não pode e nem deve dizer, porque o projeto que tem visibilidade social acaba. Explica que vai precisar de uns cinco ou dez anos e talvez o Brasil talvez venha a ter uma surpresa.

“Está a acontecer uma reforma silenciosa no Brasil, que tem um potencial humano tremendo e por isso é que venho viver no Brasil, para me afastar da Escola da Ponte e para participar desta transformação das escolas que, discretamente, clandestinamente, vem ocorrendo.”
E eu faço parte desse grupo.

Alguns de seus Livros:
PACHECO, José. (2000) Quando eu for grande, quero ir a Primavera. Ed. Didática Suplegraf.
PACHECO, José. (2003) Sózinhos na Escola. Ed. Didática Suplegraf.
PACHECO, José. (2006) Caminhos para a Inclusão, Artmed Editora. 




PS. SE ALGUEM SE INTERESSOU POR ALGUM DESSES LIVROS, TENHO TODOS EM PDF E MAIS ALGUNS QUE O PRÓPRIO PACHECO ME ENVIOU, BASTA m UMANDAR ME ENVIAR UM EMAE REPASSO: zokena@hotmail.com

segunda-feira, 11 de março de 2019

Educação no Brasí: uma inversão de valores

EDUCAÇÃO ENRIQUECE, PERGUNTE AOS DONOS DE ESCOLA!

Por Alacir Arruda

Uma certeza e inquestionável: o fracasso de muitos jovens que freqüentam instituições particulares no ENEM. Diante disto, uma  pergunta urge: O que acontece com as escolas privadas que não conseguem bons resultados nesse exame? Para responder essa pergunta precisamos analisar o processo histórico que levou a isso.

A educaçao no Brasil assistiu a quatro grandes operações de aquisição nos últimos 10 anos. Em 12 de julho de 2010, a Abril Educação comprou o Anglo, um dos mais tradicionais grupos de educação do país. Um mês depois, o fundo de private equity (de investimentos em outras empresas) BR Investimentos adquiriu parte da  Abril Educação por 226,2 milhões de reais. Ainda em julho de 2010, foi a vez da britânica Pearson assumir o controle do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), dono do COC, Pueri Domus e Dom Bosco.

Longe de configurar simples coincidência, a proximidade das operações reflete o aquecimento do mercado de sistemas de ensino nos últimos anos em nosso país – métodos desenvolvidos por empresas de educação e distribuídos a escolas privadas, em sua maioria, e também instituições públicas. Alguns dos protagonistas desse mercado – em ordem, Positivo, Abril Educação/Anglo, Pearson/SEB e Objetivo – não informam faturamento e suas respectivas fatias de mercado, o que dificulta precisar o tamanho do bolo. Mas uma coisa é certa: trata-se de um negócio, de fato, bilionário. A Hoper Consultoria, especializada em educação, estima que a receita do setor gira em torno de 1 bilhão de reais.

O que mais tem chamado atenção de especialistas, é que na educação pública, que hoje ainda atende a 85%  da demanda nacional,  a relação é diametralmente oposta, ou seja, o sucateamento das escolas publicas brasileiras segue na mesma proporção, em sentido oposto, ao crescimento desses grandes grupos. Mas educação é negocio?
Sim! E isso tudo se deve ao fato da escola  brasileira estar em crise há muitos tempo e  não é exagero nem uma novidade, infelizmente. Mas qual seria a razão para tamanho problema? Ao procurarmos explicação para essa crise, nos perdemos na tentativa de definir o que é causa e o que é conseqüência de tudo.

Violência escolar, violência em casa, descaso na escola e em casa, uso de drogas, indisciplina, desinteresse, desestímulo. O que é motivo e o que é motivado? Onde começa o problema e em que ponto ele poderá se tornar solução?

Em artigo à revista Superinteressante, Luiz Barco, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, analisa possíveis razões da decadência do sistema escolar brasileiro. Ele cita uma cena curiosa que presenciou um dia desses: “uma jovem mãe tentava responder à pergunta de sua filha de cinco anos sobre como nascem os bebês. Em dado momento, a menina cortou-lhe a frase e disse: o que eu quero saber é se eles nascem com roupa ou sem roupa”.

Um bom exemplo da diferença entre quem quer fazer e quem quer explorar educação é o caso da Coréia. Em 1958, Coreia do Sul e Gana tinham o mesmo Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Nas décadas seguintes, surgiu uma diferença brutal,  com a Coréia despontando. Até que ponto isso pode ser atribuído ao investimento em educação? Esse resultado se deveu a um esforço do governo coreano em conciliar crescimento econômico e políticas educacionais. A Coreia do Sul tem a tradição de manter esse tema dentro de seus valores. Depois da II Guerra Mundial, o governo começou a pensar nos alicerces da sociedade, com a educação no centro da construção da identidade nacional. Fica impossível pensar em crescimento econômico sustentável sem investimento em ensino.

De que forma a escola conseguiu servir de plataforma para a mobilidade social? Logo após a II Guerra, a escola conseguiu ser um bom mediador para aqueles que pretendiam alcançar uma posição social mais elevada. Isso pode ser traduzido em uma palavra: meritocracia. Hoje, para os pais, a educação é uma preocupação constante na criação dos filhos, mas nem sempre foi assim. Durante os anos 1960, muitas famílias acreditavam que apenas o filho homem poderia ir à universidade. As mulheres, após completarem o ensino médio, tinham de ir trabalhar. Em apenas uma geração a mentalidade mudou. Os casais têm um ou dois filhos e acham que todos devem concluir os estudos.

O investimento privado em educação na Coréia do Sul é um dos maiores do mundo. Essa é uma questão que não deve dizer respeito apenas ao Estado.? É uma questão que deve ser gerenciada por agências públicas. O investimento privado vem crescendo, enquanto o público se estabilizou. Discute-se que o governo deve focar em mais recursos para a educação pública, até como forma de diminuir a intervenção do setor privado. Mas as escolas privadas são monitoradas pelo governo, que garante qualidade. O governo desempenha um papel central no controle de ambas.

Uma das principais discussões no Brasil é elevar o investimento público em educação para 7% até 2020. Como é na Coreia?  A  Coréia, investe entre 4,6% e 4,8% do PIB em educação (em décadas passadas, o índice superou 10%). Cerca de 15% do orçamento nacional vai para a área (em 2013, o orçamento do governo federal para a área foi de 3,87%), mas segundo o governo, eles  precisam mais que isso. Vejam a situação do Brasil, que curiosidade. O Brasil é a sétima maior economia do mundo e para onde esse dinheiro vai? Logo, há  dinheiro o suficiente para realizar mudanças estruturais em educação, o que falta e vontade política.

Já o ambiente privado é totalmente diferente, investimentos não faltam. Escola colocam catracas e só entra quem é estudante e estudante pagante. Aquele que não paga pode ter a credencial bloqueada até regularizar o pagamento”, conta Donizete Sanches, aluno do cursinho Anglo de SP. Ele mesmo já passou por esse constrangimento quando atrasou o pagamento, por dificuldades financeiras devido ao desemprego  de seus pais. “Cheguei atrasado e não consegui entrar para assistir às aulas”, conta o aluno, que só teve acesso à escola após o pai comparecer emitir um cheque como garantia do pagamento da parcela.             

Especialistas avaliam que essa é uma tendência no ensino privado do país, justamente pelo fato de essas instituições terem assumido o papel de empresas prestadoras de serviços. “E, como empresas, pensam prioritariamente nos lucros e na concorrência com as demais instituições”.

A questão é que toda essa opulência não e garantia de bons resultados. O ENEM tem provado ano a ano que o modelo conteudista, que essas escolas ainda adotam, tem sido um empecilho  ao acesso do educando ao ensino superior de qualidade ( entenda Universidades Federais e Estaduais). Os dados são alarmantes,  de cada 100 alunos de boas escolas privadas, apenas 2 passam em medicina em federais, que é um curso referencia no Brasil (fonte: todos pela educação).

Portanto, se alguém um dia lhe perguntar: A educação enriquece?”. Responda sim: Pergunte aos donos de escola!!

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sexta-feira, 8 de março de 2019

Sartre e a angustia que e existir..

"O INFERNO SÃO OS OUTROS"

Por:  Alacir Arruda

Quando ensinava o filosofo Jean Paul Sartre na faculdade, uma coisa sempre me chamava atenção:  como alguns alunos tinham dificuldade em entender a frase “ O inferno são os outros" desse filósofo existencialista francês. Esses alunos eram compostos, em sua grande maioria, de egressos de Escola Publica, onde a filosofia sempre foi considerada um "monstro" que ninguém ousa ensinar, logo, eram analfabetos nesse mister. Para os mais interessados eu sempre sugeria ler o artigo homônimo da professora de Filosofia e Mitologia grega Luciene Felix na revista Visão Jurídica n.º 41, ali,com muita propriedade e uma linguagem acessível a todos, ela faz uma síntese dessa afirmação existencialista.

É, realmente entender Sartre é para poucos. Mas vamos lá. Temos por hábito, pensar no inferno quando nossas relações corroem, se deturpam ou se extinguem. Achamos entretanto que o inferno é o outro, aquele que rompemos, que mandamos embora de nossa vida, mas não, ele não é especificamente o inferno.

O que Sartre quer nos alertar com essa frase, é que inferno é o olho do outro, é o desmascarar de nossas verdades ocultas que não escapolem o olhar do outro e nos revela o íntimo, o âmago. Observe: “ Sem que possam sequer expiar suas faltas, descobrem o horror da nudez psíquica que os outros lhe evidenciam. Está revelado o verdadeiro inferno: a consciência não pode furtar-se a enfrentar outra consciência que a denuncia, por isso: o inferno são os outros.” 

Vivemos numa constante nudez psicológica ao nos relacionarmos no dia a dia com amigos, amores, família, etc. Nos auto-sabotamos, mentimos ou tergiversamos para ocultar nossas deficiências mas não por muito tempo. A intimidade e a rotina vai desgastando nossas máscaras até chegarmos a nudez total. E quando o outro nos aponta a flecha em direção a verdade inerente, o ódio e o ressentimento recendem e o outro passa a ser o nosso inferno. 

Pensemos ainda que: “Os outros são todos aqueles que, voluntária ou involuntariamente, revelam a nossa verdadeira face. Algumas vezes, mesmo sufocados pela indesejada presença do outro, tememos magoar, romper, ferir e, a contragosto, os suportamos. Uma vez que a incapacidade de compreender e aceitar as fraquezas humanas torna a convivência realmente um inferno, o angustiante existencialismo ateu sartriano não nos deixa saída. Sem o mínimo de boa-vontade, não há paraíso possível.” ( grifo meu )

Ao elucidar a ideia Sartriana de que o homem produz a sua própria essência, elucidamos também outra frase igualmente famosa desse filosofo: “ a existência precede a essência". Para Sartre é na construção da própria essência, que o homem se justifica enquanto "ser" e, ao contrário, quando ele foge disso, age de má-fé e covardia, transferindo para outrem a infelicidade  justificando assim, seu próprio fracasso. 

Mediante tal constatação, da proposição de Sartre, pergunto: é possível nos livrarmos do inferno do outro? 

Para responder a essa pergunta, socorri-me de outro grande filósofo chamado Arthur Schopenhauer que, no seu livro, “ O mundo como vontade e representação,” livro IV, nos apresenta a metáfora dos porcos-espinhos que contra-põe e atenua o pessimismo de Sartre. Diz o texto in verbis:  “ Um grupo de porcos-espinhos perambulava num dia frio de inverno. Para não congelar, os animais chegavam mais perto uns dos outros. Mas, no momento em que ficavam suficientemente próximos para se aquecer, começavam a se espetar com seus espinhos. Para fugir da dor, dispersavam-se, perdiam o benefício do convívio próximo e recomeçavam a tremer, o que os levava a buscar novamente a companhia uns dos outros – e o ciclo se repetia: a luta para encontrar uma distância confortável entre a dor e a proximidade. “ 

Se o olhar do outro é o espinho que me espeta a carne, me faz doer e até odiá-lo, a sua ausência também é abandono e solidão. A metáfora dos porcos-espinhos nos faz pensar sobre o preço do olhar do outro e da compensação do calor, quando pensamos que também somos o inferno de alguém. 


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quinta-feira, 7 de março de 2019

Enem..Apenas Simone

PRAZER: SIMONE DE BEAUVOIR!


Por Alacir Arruda

Em épocas de "empoderamento feminino", fragilidade da Lei Maria da Penha, mulheres chefes de família e o absurdo das agressões que ainda persistem, é sempre importante debater o papel da mulher na sociedade. No livro "O Segundo Sexo", da  filósofa existencialista francesa Simone de Beauvoir (1908 - 1986)  encontramos a seguinte  expressão:  "Ninguém nasce mulher: torna-se mulher".  Ao longo da história  a sociedade capitalista sempre recusou  uma essência primeira para o gênero feminino, em outras palavras, primeiro o ser existe, depois, em liberdade, exerce escolhas que vão criando a constitutividade político-discursivo-ideológica desse sujeito social, não importa se este ser nasce como um corpo dotado de genitálias masculinas ou femininas.

Qual a radicalidade desse princípio existencialista-marxista de que “a existência precede a essência”, quando vamos lutar por lugares outros para a mulher na sociedade? Exatamente o fato de que o lugar econômico-social-ideológico-político-discursivo da mulher é construído socialmente, logo, não passa de pura dominação ideológica querer traçar um destino e uma essência moral para a mulher se encaixar, destino e essência, estes, muitas vezes construídos sob a ótica de atender o interesse dominador daqueles que possuem corpos com genitálias masculinas. O que Simone Beauvoir anuncia é a radicalidade de que cada mulher singular é livre e responsável para criar sua própria moral existencial, bem como livre e responsável para lutar por espaços econômico-sociais que retirem a mulher da condição de corpo destinado a viver “supostas essências femininas” traçada pela ditadura dos machos.

Acreditar que existe, enquanto essência, um “lugar da mulher” na sociedade seria uma atitude comodista, subserviente e equivocada, retirando da mulher exatamente a sua única força capaz de criar seu próprio destino, a sua liberdade de escolha em traçar caminhos diferentes, inclusive os considerados “impossíveis para a mulher”. Portanto, o que existe, sim, é uma construção econômico-ideológico-jurídico-discursiva-social que, criada com base em opressões e dominações, tenta enquadrar a mulher em papeis não escolhidos por ela própria.

Estou com Simone Beauvoir, a mulher não tem que  seguir nenhuma “moral feminina”, por medo de deixar de ser mulher. Todas as morais criadas para a feminilidade, desde usar saia frufru a depilações e cirurgias plásticas aparentemente naturais para alimentar a sede de lucro das indústrias cosméticas, passando pela tortura de ser “a responsável pelos serviços domésticos” ou de ser “a responsável por cuidar dos filhos”, até ser o objeto sexual monogâmico do homem, não passam de “morais e essências construídas” que servem tão somente para criar um padrão do ser mulher na sociedade. E a quem interessa padronizar os corpos das mulheres ou padronizar esse jeito de ser mulher? Basta exercer a postura crítica que veremos a que serve cada “moral social” construída para a mulher. Existe toda uma parafernália ideológica para fazer a mulher acreditar que o “ser mulher” é algo eterno e imutável, quando tudo isso não passa de dominações de mau gosto que tiram toda a criatividade e toda liberdade da singularidade de cada mulher, colocando-a em lugares sociais perpassados por opressões cotidianas.

Até em brincadeiras, aparentemente inofensivas, como brincar de boneca, constrói-se um lugar para mulher na sociedade, como se o corpo feminino, desde criança, fosse incapaz de inventar seu próprio destino, tendo de resignar-se a cuidadora de bebês. Existem movimentos permitidos e movimentos proibidos para o corpo feminino, como se a mulher fosse incapaz de criar e assumir seus próprios movimentos corporais. Assim, sem direito à liberdade de movimentar o próprio corpo a seu bel prazer, é um passinho para, nesse jogo de dominação ideológica, tirarem da mulher a liberdade também de decidir sobre o próprio corpo, tornando-a um ser infeliz, pois um corpo escravizado não pode ser feliz. O corpo da mulher é cobrado a aparecer socialmente de acordo com determinados padrões de moda e beleza, como se a mulher tivesse de ser aquilo que estipulam para ela e não o que cada mulher singular estipula para si mesma.

À mulher também, estupidamente, coloca-se o fardo ideológico-econômico de cuidar dos filhos, como se a responsabilidade de procriar a espécie humana fosse exclusiva de um único corpo, o feminino. É absurdo o número de filhos morando apenas com as mulheres, enquanto os machos ficam soltos e livres para fazer outros órfãos. A que serve essa “moral da generosidade feminina” que a responsabiliza por cuidar moralmente dos filhos? Muito triste, não é verdade?. E pior, como o próprio Estado Capitalista Burguês é gerenciado sob a ótica dos machos, em uma compulsão pela economia de gastos, nunca foi prioridade absoluta a construção de creches diurnas e noturnas, onde os bebês e as crianças possam ser socialmente assistidos e cuidados. É um grande absurdo o Estado Capitalista Burguês deixar exclusivamente nas costas das mulheres a responsabilidade social-econômica por dar continuidade à espécie humana. 

À mulher, de um modo geral, “morais machistas” aparecem como sendo “essências”, ofuscando a liberdade da mulher em criar a singularidade de sua própria vida, conforme suas escolhas. À mulher, nascida economicamente no seio da classe trabalhadora, tanto pior. Não é apenas oprimida por uma moral machista que tenta impedir sua liberdade de construir a própria vida e de decidir sobre o próprio corpo. A mulher trabalhadora é, além de tudo, mais explorada pelos patrões do que os homens trabalhadores o são. Os patrões, usando da desculpa ideológica esfarrapada e antiga de que a mulher “produz menos, devido à menor força física”, aproveitam-se disso para extrair uma maior parcela de mais-valia da mulher trabalhadora. Lembrando que, no sentido marxista, “mais-valia é o tempo de trabalho não pago aos trabalhadores e às trabalhadoras”, justamente o tempo em que a mulher trabalhadora trabalha gratuitamente para gerar riquezas para os patrões, dando-lhes o chamado lucro. O que essa ideologia atrasada esconde é que hoje, com as diversas tecnologias, não faz diferença ter mais ou menos força física: a mulher consegue operar, com igual produtividade, qualquer trabalho que os homens executam. Por que a mulher trabalhadora não recebe salário igual por trabalho igual? Absurdos que o dia de luta internacional da mulher não pode deixar de denunciar.

A  pior das crueldades é a imposição que é  fruto dessa moral machista hipócrita e escravocrata, imputando uma falsa “moral feminina” a “ser seguida como essência” pelas mulheres, mas que, no fundo, tira a liberdade de a mulher decidir sobre o próprio corpo, oprimindo-a em cadeias ideológicas insanas, dezenas e dezenas de mulheres são assassinadas por dia nesse planeta, quando se recusam a manter relações afetivo-sexuais com determinados machos estúpidos. Este é o lado mais dramático e atroz dessa moral que tenta impedir a mulher de decidir e escolher o que fazer com o próprio corpo.

E aqui, para subverter essa lógica escravocrata e determinista, retomamos a radicalidade do princípio livre de Simone Beauvoir: “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. E que cada mulher tenha essa coragem de ser livre, que cada mulher rompa com essa ideologia do “feminino” que se quer a-histórico e eterno. Não existe nada eterno e natural no que se refere ao lugar social das mulheres. A mulher é um ser social em construção e, em liberdade, escolhendo e decidindo sobre o próprio corpo, sem ceder nenhum milímetro às ideologias machistas-capitalistas-escravocratas que tentam aprisioná-las e explorá-las, deve ser a única dona e toda soberana do seu destino. Ser mulher livre é a possibilidade máxima a ser construída e vivida por todas as mulheres e por todos os homens que respiram a liberdade, sem jamais ceder a quaisquer práticas que cheirem opressão e exploração. O lugar da mulher livre é o mesmo lugar do homem livre:  qual seja, um mundo livre.

P.S:    Em 2015, aqui no Brasil,  Simone de Beauvoir  foi objeto de um intenso debate  em função do ENEM daquele ano  ter utilizado fragmentos de sua Obra " O Segundo Sexo" em uma  das suas questões. Religiosos conservadores (com certeza desconhecendo o contexto das obras  dessa pensadora) criticaram o INEP - que organiza o ENEM - por, segundo eles,  essa questão "  fazer apologia ao homossexualismo" .  Observem a que ponto chega a ignorância....

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sábado, 2 de março de 2019

Queiroz..Queiroz..Olha o buco...

QUEIROZ: NÃO SEI QUEM FUI!


Por Alacir Arruda

Fabrico Queiroz, ex- assessor e motorista de Flavio Bolsonaro, o “bode expiatório da vez”, enfim falou. Ou melhor, tentou explicar o inexplicável. Mediante um depoimento por escrito enviado ao Ministério Publico, ele justificou a movimentação de 1.2 milhões em sua conta corrente. É de dar nojo quando lemos essas justificativas: o que leva um ser humano que, supostamente possui alguns neurônios, dizer as asnices que esse senhor disse? Deve ser a certeza da impunidade. Convenhamos, esse cara deve considerar a população brasileira muito imbecil para ter coragem de exprimir tanta baboseira disfarçada de depoimento. Tenho certeza, quase absoluta, que nem ele acredita no que disse. É obvio que há toda uma instrumentalização, comandadas por advogados caríssimos, por trás de toda essa celeuma com objetivos claros de blindar o Senador Flavio Bolsonaro (que, supostamente, arquitetou todo esse plano) e, em última análise, o próprio Presidente da República, the Big Boss.

Mas vamos as suas justificativas. Queiroz criou uma nova forma de se fazer politica, o da multiplicação dos assessores com o mesmo orçamento. Segundo ele, o seu papel no gabinete do, então Deputado Estadual, Flavio Bolsonaro era gerenciar uma espécie de “ação entre amigos’ que consistia do seguinte: vocês –assessores -trabalham, eu gerencio 60% dos seus salários, contratamos mais alguns assessores informais e o Deputado ganha. Com um detalhe, ele, o Deputado, não pode saber de nada. Entendam uma coisa meus amigos: apesar de estarmos fazendo isso sem qualquer interesse financeiro,  porque o ”amamos”, o Deputado, movido pela sua usual “seriedade canônica” e “bondade no coração” , jamais permitiria esse tipo de ajustes no seu gabinete. Logo, faremos isso calados e, se um dia a casa cair,  nós assumiremos tudo. Em suma, ele sairá ileso.. e nós? cana! ok?. Todos concordaram e a felicidade reinou for 4 years no reino dos Bolsonaros. ( nem meu sobrinho de 3 anos acreditaria numa besteira dessas).

Ôh Queiroz nos poupe, inventa outra, essa não colou! É a justificativa de desvio de dinheiro público mais esdrúxula que já vi. Isso me fez lembrar o saudoso Deputado João Alves da Bahia, um dos envolvidos no esquema conhecido à época como anões do orçamento. Ele foi acusado, em 1993, de desvios de dinheiro público, prevaricação, enriquecimento ilícito e peculato. Ao ser intimado para depor na CPI dos anões, sobre a origem da sua riqueza, João Alves não titubeou:

“Olha gente (...), eu vou confessar uma coisa a vocês. Eu jogo na loteria há muito tempo e nunca tinha ganhado nada, porém, depois que virei Deputado ganhei uma vez e, desde então, Deus tem me ajudado e tenho ganhado na loteria toda semana (...) ” ( Esta lá no Youtube, é só pesquisar). 

Isso mesmo, a sua riqueza não era fruto de desvios de dinheiro público, como os maldosos jornalistas insistiam em noticiar, mas sim, da sua tenacidade, insistência e fé em jogar na Mega Sena. O Deputado explicou di-rei-ti-nho. Igualzinho ao Queiroz. 

Isso serve para você, que agora lê esse texto e fica ai reclamando que sua vida é um perrengue danado. É óbvio, você não insiste: Entenda, você precisa seguir o conselho do Deputado: ser eleito (a) e jogar toda semana na loteria que Deus vai te ajudar. Aprendeu? Mas essa fórmula só funciona se for eleito. 

Voltemos ao Fabrício Queiroz: Essa movimentação altíssima em sua conta corrente, ao contrário do que essa imprensa golpista brasileira insiste em propagar, é  fruto de suas táticas e técnicas aprendidas em Nova Iguaçu-RJ para multiplicar dinheiro. Vendas de roupas, compras e venda de automóveis e intermediação de imoveis ninguém faz melhor que ele. Um verdadeiro Steve Jobs da Baixada Fluminense. Queiroz, apesar de ser um simples praça da Policia Militar do RJ é, na verdade,  um gênio da economia. Sua capacidade de multiplicar seus dividendos,  e dos amigos, é de  fazer inveja: a  cristo nas Bodas de Canaã, convencer  Milton Friedman repensar suas ideias neoliberais e a  Escola de Economia de Chicago ( a mais respeitada do mundo) a rever seus conceitos. Uma verdade urge: Queiroz sabe fazer dinheiro! ( deve ter uma máquina em sua casa).

Elucubrações à parte, suas  artimanhas até deram  certo por um tempo. Porém, um dia a casa caiu, os - beneméritos- assessores sumiram, o Deputado virou filho do Presidente e Senador, tirando seu corpo fora. Com isso,  sobrou para ele   um  “buco de 25 cm.”. Detalhe, sem vaselina... Será que dói?

É isso aii.. Bom carnaval à todos

Se discorda, baixe a lenha em mim..