segunda-feira, 18 de março de 2019

Muita mutreta pra salvar a situação....

AQUI NA TERRA TÃO JOGANDO FUTEBOL (..)

Por Alacir Arruda

Na década de 70 o grande compositor Chico Buaorque escreveu uma música chamada " Meu caro amigo", que foi dedicada aos brasileiros que se encontravam exilados à época.  Por que falo dessa musica? Porque acredito que ela sintetize o que hoje ocorre no Brasil. Nessa música Chico, usando de toda a sua capacidade de improvisação, através de mensagens subliminares reporta aos seus amigos a situação do Brasil, que vivia um Regime de Exceção com os militares no poder. Colocarei aqui apenas o inicio , ela inteira estará no final do texto. Sugiro que ouçam."

Meu caro amigo, me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita

Aqui na terra tão jogando futebol 
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll 
Uns dias chove, noutros dias bate o sol 
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta 

Muita mutreta pra levar a situação 
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça 
E a gente vai tomando que também sem a cachaça 
Ninguém segura esse rojão

Voltemos a atualidade. A eleição de Bolsonaro, além de uma tremenda incógnita,  reflete em seus discursos uma velha prática bem brasileira, que é "sempre levar alguma vantagem", seja no governo, seja no trabalho. Em suma, os nossos políticos não querem largar osso pois, para eles, mesmo com a imprensa e as  denúncias, ainda  é possível retirar alguma carne. . Mas por por que eles agem assim?

O povo brasileiro é mundialmente conhecido como um povo alegre, criativo e capaz de gerar soluções práticas para os problemas. Claro que essa última característica se estende a muito mais que simplesmente buscar agilizar a burocracia, otimizar o tempo e as relações comerciais e sociais, e sim está associada ao famoso “jeitinho brasileiro”, em que, para se conseguir o desejado, vale quebrar regras e até cometer atos ilícitos.

Isso foi retratado até mesmo nos cinemas quando, nos anos de 1940, o Brasil ganhou representatividade internacional com o personagem “Zé Carioca”. O conhecido papagaio brasileiro, com seu jeito típico de malandro, encontrava solução para tudo, e assim saia de qualquer enrascada. 

Essa esperteza brasileira é uma velha conhecida que foi se arraigando há muitos anos em nossa cultura, de maneira que se tornou amplamente aceita para o alcance de benefícios pessoais. 

Por exemplo, há pessoas que, despudoradamente, estacionam seu carro em vagas destinadas a deficientes e idosos, furam a fila, compram atestado médico para enganar o patrão, pagam para fazer sua monografia, enganam no troco, “pagam o café” para se livrar da multa, surrupiam material da empresa, como canetas, papel sulfite, papel higiênico, sabonete etc. 

Sem falar dos milhões de “gatos” feitos para roubar luz, água, internet, sinal de TV a cabo etc. Veja que, para tudo, o brasileiro é capaz de arrumar uma maneira de enganar. 

O problema é que essa habilidade, que começa na infância e normalmente dentro de casa, vai se refinando até se tornar em crime lá na frente. Por isso temos tantos ladrões de colarinho branco que roubam o pão da mesa dos mais fracos; vemos o direito do doente ser atendido dignamente em um hospital público ser ignorado; a escola e a merenda da criança ser defraudada etc. E não apenas isso: quantas pessoas há que enganam, mentem e fazem de tudo para levar certa vantagem e acham que jamais serão penalizadas? Muitos estão acostumados com a ideia que para subir na vida vale tudo. 

Diante disso, que incoerência clamar por políticos honestos, se a desonestidade campeia solta no dia a dia da maioria! Que contradição exigir a verdade dos outros, quando “mentirinhas” são contadas a três por quatro para se safar de problemas! 

Com isso, os escândalos que tanto nos envergonham têm raízes em pequenas ações erradas, permitidas e incentivadas, em nome da esperteza. 

Sendo assim, o problema não está no político que estava antes ou no que virá, muito menos na sigla partidária. O problema está em toda a nação, pois a “matéria-prima humana”, isto é, as autoridades, que constituem nossos três poderes estão doentes moralmente. 

Então fica latente que nossa necessidade urgente é de integridade. Homens e mulheres que façam o que é certo como algo natural e constante. Pessoas que sejam corretas não apenas quando alguém está vendo, mas quando ninguém está por perto, pois o que as coage internamente é o seu caráter e não a observação alheia. 

Assim, chega de jogar a culpa em terceiros! Temos direitos como cidadãos, mas também deveres, e precisamos assumi-los, antes que não haja mais nada a ser feito pelo nosso País. 

Individualmente fuja de tudo o que infringe, é ilegal ou imoral, pois trará danos à nação de igual forma. Por exemplo, mesmo que você seja alguém que poderá ser prejudicado por não fazer parte do jogo sujo das propinas ou subornos, escolha o certo e deixe o restante nas mãos de Deus. Pois as consequências pelo bem que fazemos sempre virão, assim como não passará em branco as consequências das nossas más atitudes. 

Quatro a cada cinco brasileiros (81%) têm a percepção de que é melhor “dar um jeitinho” do que seguir as leis. O dado é de uma pesquisa feita pela Fundação Getúlio Vargas em 2016 para o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Possivelmente, você leu esse número e não caiu de costas para trás – convive com essa constatação desde sempre. 

Enquanto isso, vale lembrar de que o esporte nacional é criticar a corrupção na política. Os vereadores não valem nada,os prefeitos não valem nada os governadores não valem nada deputados não valem nada, os senadores não valem nada, a presidente não vale nada...Eu concordo, realmente grande parte dos nossos políticos são "canalhas", nunca duvidei disso, mas não seria momento de colocarmos as mãos na consciência e perguntar: "quem os colocou lá? Ou será que esses políticos vieram do espaço? Pois éh! Essa pesquisa pesquisa da FGV só comprova que os escolhidos pela população são só um retrato dela mesma. 

Não é moralismo, é fato. Você com certeza já deve ter visto algum sujeito bradar contra escândalos que envolvem peemedebistas, petistas, tucanos etc.., ao mesmo tempo, não se envergonhar de sonegar imposto, praticar suborno e manter contatos com políticos que sempre dão “aquela ajudinha” para burlar uma ou outra lei que os demais mortais precisam seguir. Quem nunca chegou num politico e disse: "olha amigo, não esqueça de mim ok". Ou: "arruma uma boquinha pra mim lá ." ( só um detalhe, eu nunca!) 

Os quatro quintos do “jeitinho”, no fundo, admiram os políticos que metem a mão no jarro, mas que mantêm a capacidade de não serem pegos. Votam por cumplicidade. Mas não desistem de dizer que a culpa é dos outros.


Meu Caro Amigo


Meu caro amigo, me perdoe, por favor
Se eu não lhe faço uma visita
Mas como agora apareceu um portador
Mando notícias nessa fita


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


Muita mutreta pra levar a situação
Que a gente vai levando de teimoso e de pirraça
E a gente vai tomando que também sem a cachaça
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo, eu não pretendo provocar
Nem atiçar suas saudades
Mas acontece que não posso me furtar
A lhe contar as novidades


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


É pirueta pra cavar o ganha-pão
Que a gente vai cavando só de birra, só de sarro
E a gente vai fumando que, também, sem um cigarro
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo, eu quis até telefonar
Mas a tarifa não tem graça
Eu ando aflito pra fazer você ficar
A par de tudo que se passa

Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta
Muita careta pra engolir a transação
Que a gente tá engolindo cada sapo no caminho
E a gente vai se amando que, também, sem um carinho
Ninguém segura esse rojão


Meu caro amigo, eu bem queria lhe escrever
Mas o correio andou arisco
Se me permitem, vou tentar lhe remeter
Notícias frescas nesse disco


Aqui na terra tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n'roll
Uns dias chove, noutros dias bate o sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta


A Marieta manda um beijo para os seus
Um beijo na família, na Cecília e nas crianças
O Francis aproveita pra também mandar lembranças
A todo o pessoal
Adeus!


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