segunda-feira, 11 de março de 2019

Educação no Brasí: uma inversão de valores

EDUCAÇÃO ENRIQUECE, PERGUNTE AOS DONOS DE ESCOLA!

Por Alacir Arruda

Uma certeza e inquestionável: o fracasso de muitos jovens que freqüentam instituições particulares no ENEM. Diante disto, uma  pergunta urge: O que acontece com as escolas privadas que não conseguem bons resultados nesse exame? Para responder essa pergunta precisamos analisar o processo histórico que levou a isso.

A educaçao no Brasil assistiu a quatro grandes operações de aquisição nos últimos 10 anos. Em 12 de julho de 2010, a Abril Educação comprou o Anglo, um dos mais tradicionais grupos de educação do país. Um mês depois, o fundo de private equity (de investimentos em outras empresas) BR Investimentos adquiriu parte da  Abril Educação por 226,2 milhões de reais. Ainda em julho de 2010, foi a vez da britânica Pearson assumir o controle do Sistema Educacional Brasileiro (SEB), dono do COC, Pueri Domus e Dom Bosco.

Longe de configurar simples coincidência, a proximidade das operações reflete o aquecimento do mercado de sistemas de ensino nos últimos anos em nosso país – métodos desenvolvidos por empresas de educação e distribuídos a escolas privadas, em sua maioria, e também instituições públicas. Alguns dos protagonistas desse mercado – em ordem, Positivo, Abril Educação/Anglo, Pearson/SEB e Objetivo – não informam faturamento e suas respectivas fatias de mercado, o que dificulta precisar o tamanho do bolo. Mas uma coisa é certa: trata-se de um negócio, de fato, bilionário. A Hoper Consultoria, especializada em educação, estima que a receita do setor gira em torno de 1 bilhão de reais.

O que mais tem chamado atenção de especialistas, é que na educação pública, que hoje ainda atende a 85%  da demanda nacional,  a relação é diametralmente oposta, ou seja, o sucateamento das escolas publicas brasileiras segue na mesma proporção, em sentido oposto, ao crescimento desses grandes grupos. Mas educação é negocio?
Sim! E isso tudo se deve ao fato da escola  brasileira estar em crise há muitos tempo e  não é exagero nem uma novidade, infelizmente. Mas qual seria a razão para tamanho problema? Ao procurarmos explicação para essa crise, nos perdemos na tentativa de definir o que é causa e o que é conseqüência de tudo.

Violência escolar, violência em casa, descaso na escola e em casa, uso de drogas, indisciplina, desinteresse, desestímulo. O que é motivo e o que é motivado? Onde começa o problema e em que ponto ele poderá se tornar solução?

Em artigo à revista Superinteressante, Luiz Barco, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP, analisa possíveis razões da decadência do sistema escolar brasileiro. Ele cita uma cena curiosa que presenciou um dia desses: “uma jovem mãe tentava responder à pergunta de sua filha de cinco anos sobre como nascem os bebês. Em dado momento, a menina cortou-lhe a frase e disse: o que eu quero saber é se eles nascem com roupa ou sem roupa”.

Um bom exemplo da diferença entre quem quer fazer e quem quer explorar educação é o caso da Coréia. Em 1958, Coreia do Sul e Gana tinham o mesmo Produto Interno Bruto (PIB) per capita. Nas décadas seguintes, surgiu uma diferença brutal,  com a Coréia despontando. Até que ponto isso pode ser atribuído ao investimento em educação? Esse resultado se deveu a um esforço do governo coreano em conciliar crescimento econômico e políticas educacionais. A Coreia do Sul tem a tradição de manter esse tema dentro de seus valores. Depois da II Guerra Mundial, o governo começou a pensar nos alicerces da sociedade, com a educação no centro da construção da identidade nacional. Fica impossível pensar em crescimento econômico sustentável sem investimento em ensino.

De que forma a escola conseguiu servir de plataforma para a mobilidade social? Logo após a II Guerra, a escola conseguiu ser um bom mediador para aqueles que pretendiam alcançar uma posição social mais elevada. Isso pode ser traduzido em uma palavra: meritocracia. Hoje, para os pais, a educação é uma preocupação constante na criação dos filhos, mas nem sempre foi assim. Durante os anos 1960, muitas famílias acreditavam que apenas o filho homem poderia ir à universidade. As mulheres, após completarem o ensino médio, tinham de ir trabalhar. Em apenas uma geração a mentalidade mudou. Os casais têm um ou dois filhos e acham que todos devem concluir os estudos.

O investimento privado em educação na Coréia do Sul é um dos maiores do mundo. Essa é uma questão que não deve dizer respeito apenas ao Estado.? É uma questão que deve ser gerenciada por agências públicas. O investimento privado vem crescendo, enquanto o público se estabilizou. Discute-se que o governo deve focar em mais recursos para a educação pública, até como forma de diminuir a intervenção do setor privado. Mas as escolas privadas são monitoradas pelo governo, que garante qualidade. O governo desempenha um papel central no controle de ambas.

Uma das principais discussões no Brasil é elevar o investimento público em educação para 7% até 2020. Como é na Coreia?  A  Coréia, investe entre 4,6% e 4,8% do PIB em educação (em décadas passadas, o índice superou 10%). Cerca de 15% do orçamento nacional vai para a área (em 2013, o orçamento do governo federal para a área foi de 3,87%), mas segundo o governo, eles  precisam mais que isso. Vejam a situação do Brasil, que curiosidade. O Brasil é a sétima maior economia do mundo e para onde esse dinheiro vai? Logo, há  dinheiro o suficiente para realizar mudanças estruturais em educação, o que falta e vontade política.

Já o ambiente privado é totalmente diferente, investimentos não faltam. Escola colocam catracas e só entra quem é estudante e estudante pagante. Aquele que não paga pode ter a credencial bloqueada até regularizar o pagamento”, conta Donizete Sanches, aluno do cursinho Anglo de SP. Ele mesmo já passou por esse constrangimento quando atrasou o pagamento, por dificuldades financeiras devido ao desemprego  de seus pais. “Cheguei atrasado e não consegui entrar para assistir às aulas”, conta o aluno, que só teve acesso à escola após o pai comparecer emitir um cheque como garantia do pagamento da parcela.             

Especialistas avaliam que essa é uma tendência no ensino privado do país, justamente pelo fato de essas instituições terem assumido o papel de empresas prestadoras de serviços. “E, como empresas, pensam prioritariamente nos lucros e na concorrência com as demais instituições”.

A questão é que toda essa opulência não e garantia de bons resultados. O ENEM tem provado ano a ano que o modelo conteudista, que essas escolas ainda adotam, tem sido um empecilho  ao acesso do educando ao ensino superior de qualidade ( entenda Universidades Federais e Estaduais). Os dados são alarmantes,  de cada 100 alunos de boas escolas privadas, apenas 2 passam em medicina em federais, que é um curso referencia no Brasil (fonte: todos pela educação).

Portanto, se alguém um dia lhe perguntar: A educação enriquece?”. Responda sim: Pergunte aos donos de escola!!

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