sábado, 13 de dezembro de 2014

Brasil, corrupção, doença

Brasil: a Corrupção como Endemia 


Por Alacir Arruda 

Começarei hoje uma seqüência de 5 artigos tratando exclusivamente da corrupção em nosso país que, apesar de ser um tema recorrente, voltou à tona após a Operação Lava Jato da Policia Federal que investiga o desvio de quase 1 bilhão da nossa maior empresa, a Petrobras e o seu total aparelhamento pelo PT. Endemia é um termo que empresto da biologia que etimologicamente significa “ A ocorrência de uma determinada doença que no decorrer de um largo período histórico, acomete sistematicamente grupos humanos distribuídos em espaços delimitados e caracterizados, mantendo a sua incidência constante, permitidas as flutuações de valores tais como as variações sazonais”.

Mas porque o nosso sistema politico em todos os níveis foi acometido por essa “praga”? Bom, para chegarmos a essa resposta precisaremos recorrer ao nosso processo histórico e isso será tema dos próximos artigos, por hoje vamos refletir um pouco sobre o nosso quadro politico.

A máxima “o poder corrompe” é a bandeira que cobre o caixão no qual velamos a política. Ela é primeiro desfraldada por aqueles que pretendem evitar a partilha do poder que constitui a democracia. Ela é aceita por todos aqueles que se deixam levar pela noção de que o poder não presta e, deste modo, doam o poder a outros como se dele não fizessem parte. Esquecem-se que a falta de poder também corrompe, mas esquecem sobretudo de refletir sobre o que é o poder, ou seja, ação conjunta.

Democracia é partilha do poder. É o campo da vida comum, a vida onde todos estamos juntos como numa mesma embarcação em mar aberto. Partilhamos o poder querendo ou não, mas podemos fazê-lo de modo submisso ou democrático, omisso ou presente. Estamos dentro da democracia e precisamos seguir suas conseqüências. 

Democracia é também responsabilização pelo contexto em que vivemos: pelo resultado das eleições, pela miséria, pelo cenário inteiro que produzimos por ação ou omissão. Mas não nos detivemos em escala social para entender o que a democracia é e, por isso, falta-nos a reflexão que é capaz de orientar o seu sentido, bem como o sentido do poder e da política. 

Acreditamos que o poder é mau. Que a política é ação para espíritos corruptíveis. Construímos a noção de que política não combina com ética, com moral, com princípios. Quem acredita nisso já contribui para a manutenção do estado geral da política, pois afirmamos uma essência em lugar errado. Onde deveria estar a ação que constitui a política, está a crença que determina o preconceito e a inação. Neste sentido, a compreensão disseminada no senso comum, já é corrupta. Ela compactua com a corrupção ao reafirmá-la no discurso que sempre orienta a prática. 

É nosso dever hoje reavaliar a experiência brasileira diante da política. A compreensão da política como campo da profissão, por definição, corrupta, é ela mesma corrompida e corrupta. Ela destrói a política, cujo significado, precisamos hoje, refazer. 

Esta é a ação política mais urgente. 

Acostumamo-nos ao pré-conceito de que política é apenas governabilidade e deixamos de lado a idéia fundamental de que a política é projeto de sociedade da qual participam todos os cidadãos. Reclusos em nossas casas, acreditamos que a esfera da vida privada está imune ao político. Esquecemos que o pessoal é também político, não como espetáculo, mas como lugar de relação e modelo da esfera macroscópica da sociedade. Políticos somos porque falamos e estamos com os outros. Política é relação “entre-nós” produzida pela linguagem, pela nossa fala, por nossos discursos. O que dizemos é sempre político. Pois falar é o primeiro passo do fazer ou, mesmo, a primeira de nossas ações.

Política é a relação estabelecida no enlace inevitável entre indivíduos e sociedade. Na omissão praticamos a anti-política. Toda anti-política que seja omissão e não crítica é corrupção da política por ser corrupção da ação. A mais urgente das ações políticas na atualidade, além da punição dos que transformaram nossa governabilidade em prostituição da ação, é refazermo-nos como políticos no verdadeiro sentido. 

2 comentários:

  1. Professor, primeiro parabéns pelo belo artigo, estava sentindo falta da criticidade estilo alacir. rs, em segundo lugar, gostaria de pergunta-lo: qual o o percentual de culpa da população em todo esse processo? Mikaela-DF bjs

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    1. Ola Mikaela, sudades, e Brasilia como está? Espero que esteja feliz ai na UNB. Bom Mikaela, é obvio que existe uma parcela de culpa do povo em todo esse processo..Porém, como o sociólogo ai mesmo da UNB Pedro Demo, " Ao pobre no Brasil não lhe é dado o direito nem dele saber que é pobre", diante disso fica difícil culpa´-lo. Na verdade ainda ainda não sabemos se o povo é ignorante em função de termos políticos corruptos, ou se a ignorância do povo eque produz esse politico bandido. Abs

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