sexta-feira, 28 de abril de 2017

ENEM 2017 - A decadência da Esquerda brasileira

A ESQUERDA BRASILEIRA  FOI ANIQUILADA PELA SUA INCOMPETÊNCIA E O PODER GRANDE MÍDIA.

Por Alacir Arruda

Não há dúvida que a esquerda brasileira perdeu o rumo e vive agora o seu pior momento desde o fim da ditadura militar. Se Marx fosse vivo com certeza estaria rindo disso tudo sentado no Mac Donalds comendo um Big Mac acompanhado de uma boa Coca Cola, afinal ele alertou: " A ação comum do proletariado, pelo menos nos países civilizados, é uma das primeiras condições para sua emancipação". Na verdade a esquerda brasileira estaá pagando o preço pela sua falta de união e por  tudo de ruim que aconteceu durante o ciclo do PT na Presidência da República. Se olharmos os resultados das últimas eleições municipais (2016) em todo o Brasil, vemos que a esquerda sofreu uma derrota colossal em todo o país. Todos sabem que sou marxista, atualizado, mas marxista e acho que essas derrotas são uma boa oportunidade para refletirmos sobre "qual o papel da esquerda no século XXI".

É hora de pensamentos medievais serem substituídos por ações concretas e positivas,de nada adianta continuar  gritando  aos quatro cantos que o capitalismo  é o grande  e único culpado de todas as mazelas que o mundo sofre, precisamos fazer uma mea-culpa, e se perguntar: "o que fizemos em 100 anos para mudar isso"? Muitos questionamentos que surgiram durante as manifestações de 2013 ainda permanecem sem resposta e os eleitores se sentem distanciados do processo político. A esquerda brasileira, inclusive a não-partidária, a chamada esquerda social, paga hoje o preço dos erros políticos cometidos pelo Partido dos Trabalhadores.

Esses erros, naturalmente, não são os mesmos apontados pela imprensa conservadora e pela oposição de direita, embora também não se possa ignorá-los. A esquerda petista precisa baixar as armas. A política é uma guerra, mas também não é uma guerra. A diferença entre a guerra e a política é que, na política, não é necessário destruir o adversário para vencer; pode-se transformá-lo. Isso significa que o derrotado, em política, não é necessariamente eliminado, ele pode se transformar, seja para ser incorporado ao vencedor, seja para reconstruir suas estratégias e vencer mais tarde.

Depois da derrota  sofrida no pleito de 2016, o mínimo que se espera de toda a esquerda nacional é ouvir as pessoas e os quadros, com mente aberta e espírito crítico. Esta sensibilidade excessiva, que reage agressivamente a qualquer crítica, não contribui para iniciarmos um processo de revisão dos erros cometidos, única maneira de reconstruir institucionalmente, politicamente, o campo progressista.

Nesse contexto os  blogs são uma  ferramentas que deveriam ser mais usadas pois reflete uma espécie de anticorpo jornalístico à manipulação das notícias e da verdade feita diariamente pela grande imprensa. Já escrevi muito sobre esse fator darwiniano que, infelizmente, não é compreendido pelas empresas de mídia. Os blogs sempre vão existir porque são fenômenos naturais, necessários, e sempre serão particularmente fortes no Brasil justamente por causa da nossa realidade midiática: um sistema de comunicação dominado por poucas famílias, sendo que uma delas, a Globo, detêm um poder comparável somente ao de monarcas absolutos do oriente médio.

Os blogs são necessários, como anticorpos, para a sobrevivência da própria mídia comercial brasileira, porque são os blogs que combatem os vírus da manipulação e da mentira, que comprometem seus últimos vestígios de profissionalismo. Mesmo assim, não é possível atribuir a derrota da esquerda apenas à grande mídia, até porque uma das principais críticas que se faz aos governos petistas tem sido, justamente, o de não ter combatido o sistema cartelizado da imprensa nacional.

O PT não fez nada e até hoje não faz nada para combater o monopólio. Em 13 anos de governo, nunca organizou um mísero seminário - aberto a todos os partidos, movimentos sociais, sociedade em geral - para discutir mídia. Os encontros de comunicação organizados pelo PT sempre foram ridiculamente fechados, uma espécie de treinamento para produzir soldadinhos de internet pró-PT, ao invés de se abrir à sociedade. Os eventos partidários do PT, em todos esses anos, sempre foram fechados, sectários, elitistas, inclusive em 2014 e 2015, quando o mundo já desabava sobre o partido.

No período que governou,  a comunicação da legenda se limitava a patrocinar uma "Agência PT", o que é evidentemente uma péssima ideia, o conceito mais antijornalístico que se possa imaginar. O partido precisa ter seu site, com notícias de partido, naturalmente, mas a comunicação maior precisava ser minimamente não-partidária, para ter resultados práticos na formação da opinião pública.

Os dirigentes do PT, ainda hoje, depois de tudo que aconteceu, são incapazes de formulações minimamente embasadas para criticar a mídia. Limitam-se a repetir uma crítica ou outra que leram em blogs e apenas para dar uma resposta apressada à militância ao último ataque da imprensa ao partido. Não sabem como é a mídia em outros países, então não tem como oferecer à população nem à sua própria militância a argumentação necessária para combater o arbítrio midiático.  

Entretanto, o pior erro do PT, pelo visto, está em sua incapacidade de ouvir críticas, que não significa apenas ouvir, mas assimilá-las e reagir dialeticamente a elas. A esquerda no Brasil vive hoje o seu pior momento: não tem mais governo, não tem mais recursos, não tem mais voto.  O único recurso que lhe resta são estas jazidas de inteligência política, esparsas, fragmentadas, porém imensas, inesgotáveis, porque podem ser encontradas não apenas em território nacional e não apenas no presente, mas no mundo inteiro e em toda a história.

A vantagem de não ser mais governo, de não ter mais nada a perder, é esta liberdade maravilhosa de ouvir críticas sem que isso se torne um problema de "governabilidade". Nem todas as críticas são justas, ou inteligentes, ou corretas. Mas todas as críticas podem nos levar ao auto-aperfeiçoamento. As críticas injustas nos permitirão reafirmar valores e acertos. As críticas justas nos farão ver onde erramos e a desenvolver projetos e ideias que serão os vencedores amanhã.

A reação à crítica, no entanto, deve ser serena e inteligente, e sobretudo entender que se um partido é criticado é porque ainda há quem lhe dê importância. Ninguém critica o PP, por exemplo.  A questão da mídia é organicamente ligada à questão política. Ao não entender este ponto, o PT perdeu a batalha sem lutar: a mídia promoveu uma lavagem cerebral de toda a população brasileira sem que houvesse, jamais, uma mísera denúncia disso por parte do governo.

Por ocasião da morte de Roberto Marinho, Palocci, importante quadro do PT na época, divulgou nota dizendo que ele tinha sido muito importante para a democracia... Hoje Palocci é um preso ( não que ele nao mereça)  e a Globo baixa a lenha nele. O ex-ministro da Comunicação, Paulo Bernardo, foi preso por Sergio Moro e deveria ficar por lá para sempre   pois,  além de ladrão, enquanto  ministro jamais fez nada para combater o monopólio.

A comunicação falha gerou outros problemas: ao não desenvolver uma estratégia inteligente de comunicação, o PT não ouviu as massas, ou então as ouviu mal. Erros de projeto também são gerados por falhas de comunicação.  A questão da pobreza e da fome, que naturalmente sempre foram essenciais no país, foi atacada muitas vezes de maneira superficial, com investimento insuficiente em saneamento básico e mobilidade urbana.

Voltando um pouco à questão da comunicação, hoje eu vejo que a tão festejada pulverização de recursos da Secom durante a gestão de Franklin Martins, no primeiro governo Lula, foi na verdade uma iniciativa demagógica, que não resultou em nenhuma mudança estrutural na produção de notícia. Uma análise dos contratos da Secom mostram a distribuição de quantias incrivelmente ínfimas para uma quantidade enorme de rádios e pequenos jornais.

Num primeiro momento, esses recursos podem até ter sido importantes, mas depois de um tempo eles são naturalizados. Os custos aumentam, e o volume de recursos continua o mesmo. Mil reais para um pequeno jornal do interior já não significam mais nada. Não permitem o surgimento de nenhum tipo de jornalismo diferente. Pagam uma continha ali e aqui.

O governo, se quisesse usar seus bilhões anuais de publicidade federal para mudar a super-estrutura da comunicação social brasileira, tinha que ter ajudado a criar centros de produção de jornalismo autônomos e autossustentáveis, em todo o território nacional, em rádio, jornal impresso, internet e tv. Essa seria uma estratégia central inclusive para oferecer um mínimo de segurança midiática a seus próprio quadros.

Isso sem falar na questão liberal. Os institutos liberais brasileiros são pastiches hipócritas, contraditórios e cretinos, porque o liberalismo pressupõe respeito à pluralidade política, às garantias constitucionais contra a perseguição do Estado, à segurança jurídica e à liberdade individual, fatores que foram destruídos por esse golpismo patrocinado pelo monopólio midiático.

Claro que essa sempre foi uma batalha difícil. Mas era central, e a mídia sabia disso, tanto que, mesmo sem o governo fazer nada, ela iniciou um ataque maciço à qualquer ensaio ou mero discurso de mudança, taxando-o de bolivariano ou coisa parecida. E o governo cedeu antes de lutar, como aqueles lutadores de sumô que desistem apenas com um troca de olhar com o adversário.

No campo da corrupção, os governos Lula e Dilma, que poderiam colher frutos de várias iniciativas inéditas, como o portal da transparência, as auditorias, o investimento na Polícia Federal, deixaram de fazê-lo pela mesma razão de sempre: uma inexplicável e imperdoável ausência no campo da comunicação política.  O PT, sempre que tentava fazer, às pressas, algum tipo de comunicação, fazia mal, confundindo comunicação com propaganda.

A ausência de comunicação também gera corrupção. Os gastos precisam ser abertos para que a sociedade possa monitorá-los. A lição dos países mais bem sucedidos na guerra contra a corrupção é maior transparência e participação social no processo de execução orçamentária. A corrupção acontece obviamente onde circula dinheiro, então para combatê-la é preciso muita luz sobre essas áreas.

Se o PT quiser renascer como um legenda de esquerda, o que eu duvido muito, precisa ouvir as críticas, com serenidade, porque todas serão oportunidade para que o partido se reinvente, afinal naquele mar de lama que o partido se tornou ainda é possível que alguém sobreviva. Uma coisa é certa, incitar greves e manifestações sem fundamentos num país envolto por uma crise econômica sem precedentes  é, no minimo, uma burrice.

2 comentários:

  1. Nunca imaginei que voce fosse marxista professor. Bom, isso nao diminui a admiração que tenho por você uma vez que detesto Marx. Bruninha

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Ola Bruna, Sim, eu sou marxista. Não sei se já tive a oportunidade de me declarar assim, mas, se não o fiz, as coisas que escrevo certamente já o fizeram por mim.
      Houve um tempo em que "pegava mal" falar em marxismo ou materialismo histórico em algumas rodas. Não sei como as coisas andam por lá ultimamente, mas nunca me conformei com essa "coxinhice acadêmica" de considerar que vivemos uma era epistemológica pós-marxista.
      Não vejo como falar de uma sociedade marcada pela disputa de classes, em que uma minoria se apropria indebitamente de privilégios produzidos pela força de trabalho da maioria, sem recorrer a Marx.
      Quando Fukuyama veio com aquele papo de fim da história, muita gente embarcou de maneira irrefletida. O fim do bloco da URSS representou mesmo um momento de perda de referenciais para a esquerda em todo o mundo, mas daí a considerar que passaríamos a viver tempos em que apenas um discurso reinaria hegemonicamente já é um tanto fanático, né não?
      O "edifício social" continua aí de pé. Combalido, com graves problemas infraestruturais, mas de pé. A superestrutura ideológica continua retroalimentando a infraestrutura econômica, e querem me convencer de que recorrer a conceitos marxistas para interpretarmos esses nossos tempos conturbados é uma prática ultrapassada? Difícil acreditar quando toda a realidade me demonstra o contrário. O pensamento de Marx, para mim, está mais vivo do que nunca. Negá-lo me parece ser uma escolha covarde e intelectualmente desonesto. Mas respeito os neo liberais. Bjs Bruninha

      Excluir