terça-feira, 11 de março de 2014

FREUD

UMA PROSA SOBRE A PSICANÁLISE DE FREUD.

Alacir Arruda

 Sigmund Freud revolucionou a psicologia no inicio do século XX com a criação de uma nova terapia para tentar entender o individuo a partir de suas emoções.   A psicanálise de Freud proporciona uma visão da vida mental como um jogo mútuo de forças estimuladoras e repressoras, tendo o conflito como fator dinâmico central. A vida mental é considerada como uma unidade de forças contrárias, de elementos conscientes e inconscientes, de cuja interação nasce a riqueza e a variedade de pensamento e sentimentos do homem.
     Para o educador, quais os aspectos mais substantivos dessa teoria, capazes de fundamentar a prática pedagógica? Ou, em outras palavras, porque a Psicologia Educacional não pode deixar de incluir a psicanálise no elenco de seus conteúdos?
      Em primeiro lugar, não é possível estudar o individuo, seus processos de desenvolvimento e aprendizagem, somente a partir da construção da inteligência e racionalidade. O comportamento humano é determinado também e, principalmente, por forças inconscientes construídas ao longo das relações de indivíduos com outros indivíduos.
     É importante ressaltar, contudo, que a racionalidade e a irracionalidade, assim como o inconsciente e o inconsciente, não se opõem mas continuem as bases dialéticas de um único processo: o da formação da personalidade.
     Em segundo lugar, através do estudo das fases psicossexuais do desenvolvimento, integrantes da teoria psicanalítica, se pode interferir os subprodutos da relação da criança com a sua sexualidade, subprodutos estes que constituirão o alicerce afetivo de sua personalidade. Nesse sentido, a sexualidade humana se desenvolve de modo absolutamente original, já que, diferentemente do que ocorre com os animais, se encontra, desde cedo, inserida num processo psíquico e emocional capaz de transformar o biológico (o instinto sexual, assim como outros instintos) em motivações psíquicas que ultrapassam o nível exclusivamente orgânico.
     Em terceiro lugar, do ponto de vista sócio-afetivo se pode entender a passagem do estado da natureza (comportamento biologicamente determinado) para o estado da cultura (constituição da autoridade, da lei ou dos limites).
     Segundo a psicanálise, o homem se constitui como um sistema de energia que opera em função dos instintos e pulsões na busca de prazer. O sistema energético humano obedece às mesmas leis de outros sistemas de energia. Esta pode ser alterada, transformada, canalizada e descarregada. A psicanálise tenta explicar a maneira pela qual esta energia psíquica desenvolve-se,  expressa-se, é transformada ou, ainda, como é bloqueada.
     Freud não sustentou em todos os seus trabalhos que os instintos sexuais e seus derivados sejam a única fonte de energia. Nas suas primeiras formulações admitiu a existência dos instintos do Ego que se relacionam com a autoconservação e que são rapidamente “moldados” para adaptar-se às exigências da realidade. Posteriormente, procurando explicar os fenômenos do sadismo e masoquismo, o conceito de instinto de morte (Thânatos), que se opõe ao instinto de vida (Eros).
     Os instintos de vida (Eros) referem-se àqueles impulsos que levam a conservação do individuo e da espécie: instinto do Ego e instintos sexuais. Por instinto do Ego, Freud classifica a fome, a sede, a fuga, a dor, etc.  São instintos que se referem a autoconservação, em termos individuais. O instinto sexual refere-se à conservação da espécie. Os instintos de morte “thânatos” têm como objetivo o retorno a um estado prévio da matéria inorgânica. Quando esta tendência se desvia para o exterior, se expressa como agressão.
     O próprio Freud admitiu, em alguns momentos de sua obra, que a agressão pode fazer parte do instinto de vida. O lutar pela vida, as competições, o trabalho são exemplos de atividades que demandam uma certa dose de agressividade.
     Um instinto, segundo Freud, é o representante psíquico dos estímulos que se organizam no organismo e chegam à mente. A fonte de um instinto é o processo somático que da origem aos estímulos, que se representam na mente como um instinto.
      Freud utiliza o termo libido para se referir a energia oriunda dos instintos, energia esta que se relaciona não somente ao desejo de prazer corporal ou orgânico, como também aos impulsos afetuosos, ao amor, à amizade entre pais e filhos e amigos, resultantes das pulsões. O termo libido, no sentido psicanalítico, refere-se, portanto, a qualquer energia de natureza instintiva ou pulsional que presumivelmente tenha como fontes, estimulações erógenas que surgem no corpo.
     Os instintos e pulsões, em que pesem a sua importância para o equilíbrio do ser humano, nem sempre encontram a sua livre satisfação, uma vez que estão sujeitos ao controle social. O homem em conflito com a sociedade, com padrões culturais e consigo mesmo, é levado, muitas vezes, a inibir, retardar ou transformar as formas de satisfação de seus instintos e pulsões, o que, segundo Freud, se dá através  do que ele denominou “mecanismos de ajustamento”.
    Os mecanismos de ajustamento permitem um certo grau de tolerância à frustração (estado emocional que ocorre quando algo interfere ou impede que o organismo atue com alguma resposta que lhe seja realmente importante), aliviando ou defendendo o individuo de tensões, angustias e ansiedade a que fica exposto diante de situações conflitivas  e frustradoras. Tais mecanismos não favorecem, contudo uma atuação do individuo no sentido de alterar a realidade.
     Os conflitos provocam reações emocionais intensas. A mais comum é ansiedade, que se caracteriza por um misto de medo, apreensão e esperança ligados ao futuro. Constitui-se, geralmente, num sentimento de ameaça imaginária ou real à segurança do individuo.
     A ansiedade pode gerar comportamentos aparentemente irracionais mas que destinam-se, especialmente,a diminuir sentimentos de tensão e de insegurança.
     Nossas necessidades de estima e tendência em manter o autoconceito constituem motivações básicas que nos levam, diante de conflitos e frustrações, a desenvolver algumas formas típicas de ajustamento. São elas:
      As pessoas, de modo geral, têm a tendência de se esquecerem mais  dos fatos desagradáveis da vida que dos agradáveis e,  mesmo  quando os fatos desagradáveis são relembrados, eles já não parecem tão desagradáveis assim. O passar do tempo é um remédio para todos os males, diz o senso comum. Em verdade, o mecanismo de repressão é que torna os acontecimentos traumáticos da vida, suportáveis.
     Regressão: é o mecanismo pelo qual o individuo angustiado apresenta formas de comportamentos características de fases anteriores de desenvolvimento. A criança muitas vezes, volta a chupar bico, tomar mamadeira ou andar engatinhando, por ocasião do nascimento de um irmãozinho. O adulto, frente a uma situação angustiante, pode chorar, gritar, roer as unhas e fazer birra tal qual uma criança.
     Projeção: é um mecanismo no qual características do individuo que estão angustiados são vistas, por ele mesmo, como pertencentes a outros indivíduos. Aquele sujeito que sempre desconfia da hostilidade dos outros, por exemplo, pode apresentar em sua conduta certos traços de desonestidade que o incomodam, e que, por isto mesmo, prefere vê-los em outras pessoas.      
     Negação: é um outro mecanismo de defesa que implica na percepção do mundo tal como a pessoa desejaria que ele fosse não como ele é, realmente. As crianças, comumente, negam a realidade quando esta lhe é desagradável. O devaneio e o sonho acordado do adulto é uma forma de negação da realidade. Pelos menos durante aquele s poucos minutos em que a pessoa devaneia e imagina as coisas acontecendo como ela desejaria que fossem, ela se sente bem. Entre as vitimas do nazismo foi observado que grande parte dos judeus, nos campos de Treblinka, se comportou como se a morte não existisse, apesar das constantes execuções ocorridas. Para tais pessoas era tão angustiante a expectativa de serem mortas, a qualquer momento, que acabavam por negar tal evidencia.
     Formação reativa: é outro tipo de mecanismo de defesa que envolve a deformação da consciência, de forma que, um impulso que originalmente gera a ansiedade e angustia, é substituído por motivações diametralmente oposta. Por exemplo, uma pessoa pode se apresentar bondosa com outra pessoa quando em verdade a motivação subjacente é a hostilidade e o ódio. Esta suposta bondade impede a angustia e o sentimento de culpa que ocorreria, caso a pessoa desse vazão à  hostilidade reprimida.
     Racionalização: racionalizar é dar razoes socialmente plausíveis para comportamentos individuais não aceitáveis, normalmente, pelos outros. A inquisição torturou e matou milhares de pessoas sob a alegação de que elas não tinham uma crença verdadeiramente cristã.
     Aquele estudante que não conseguiu aprovação nos exames vestibulares diz que foi até bom não ser aprovado, pois o curso que havia escolhido não lhe daria uma profissão rendosa. O pai que espanca o filho, diz que faz isso para que ele se torne um homem de verdade. Um outro exemplo de racionalização é o da fabula da raposa e das uvas verdes, na qual a raposa diz que as uvas estavam verdes quando, em verdade, era ela que não havia conseguido apanha-las.
     Agressão: a agressão é uma reação típica à frustração. A agressão pode ser direta, quando se dirige a pessoas ou objetos provocadores de frustração. Esse tipo de agressão, em nosso sistema social e cultural, de modo geral é menos freqüente. (A passividade e submissão do povo diante de constantes frustrações, relativas à necessidades básicas mostra que a maioria das vezes a agressão é deslocada para outros objetos e pessoas).
     A agressão indireta é uma das formas mais comum de agressão. As pessoas são levadas a reproduzir as agressões sofridas em cima de indivíduos mais fracos, como forma de se descarregar tensões, como, por exemplo: brigar e blasfemar no campo de futebol;  subjulgar pessoas socialmente inferiores, entre outros.
     Reação de conversão: consiste na conversão de tensões psicológicas e emocionais em sintomas físicos (dores de cabeça, por exemplo). Tais mecanismos são muito freqüentes nas situações escolares.
     Identificação: pelo processo de identificação, o individuo é levado a incorporar características daquele com o qual se identifica. Isto leva a fortalecer o seu ego com sentimentos de autovalorização, prestígio e estima. É comum,  principalmente na adolescência, buscar identificação com artistas de sucesso, com heróis e com adultos que apresentem traços de personalidades valorizados socialmente.


Um comentário:

  1. Maravilhosa matéria professor, a psicanálise de Freud, um setor importantíssimo na área da psicologia. Um dos métodos utilizados pelo psicanalista que me interessei muito, mas que não é considerado hoje pela psicologia é a hipnose, super curioso e tentador. Se comenta muito entre a sociedade contemporânea a possibilidade e a curiosidade de se submeter a esse tipo de tratamento, onde a ciência descartou com a afirmação de que esse método apenas desaparece o sintoma e não trata a causa. Porém,com minha opinião até mesmo leiga, acredito que descobrindo a origem do problema através da hipnose pode se tratar a causa e desaparecer de vez os sintomas. Muitos temem esse procedimento por acreditarem no mito de que no hipnotismo, a alma se desloca do corpo podendo não retornar, o que ao meu ver se trata de uma regressão da mente, no inconsciente do individuo. Também é de difícil aceitação para muitas famílias o conhecimento sobre o complexo de Édipo e o complexo de Electra no estudo da sexualidade infantil.

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