quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Uma Ilha..ufmt

A  UFMT é uma Ilha....
Alacir Arruda
Por varias vezes referi a   UFMT como uma Ilha, algo isolado na capital. Por que afirmo isso? Tive a oportunidade de estudar na UFRGS além de USP e Unicamp e fora do Brasil na U.C.L.A ( que não vem ao caso por ser americana)  em cursos de especialização e Stricto Sensu, o que me chamou atenção e que  todas essas universidades tem uma papel central nas  cidades onde estão instaladas. A UFRGS, por exemplo,  é referência em Porto Alegre e em outros Campi  onde possuem mais de 1200 projetos de extensão, e  escolas de aplicação de conhecimento ligados a maioria das graduações. A USP é referência mundial nesse mister e a Unicamp só criou o ENEM em 1998. Ou seja, a função de uma Universidade, sobretudo as Federais ou Estaduais, além de serem  centros acadêmicos de conhecimento, é de cumprir aquilo que a LDB determina, qual seja, o tripé: Graduação, Extensão e Pesquisa. Não ha duvida de quem tem  algo de errado com a UFMT. A exceção do Hospital Universitário Julio Muller, vinculado ao curso e medicina da UFMT, eu desconheço em Cuiabá alguma outra contrapartida dessa instituição.. E quando alguém a  procura em busca de  ajuda vejam o que acontece.....
 DESABAFO DO PROF. GABRIEL NOVIS NEVES, MÉDICO, EX-REITOR E UM DOS FUNDADORES DESSA INSTITUIÇÃO..
Site Mídia News
Falência do ensino
Centro de formação de gente, UFMT se preocupa mais com obras físicas
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Prof. Gabriel Novis Neves, Médico Ex-Reitor e um dos Fundadores da UFMT

Um grupo de alunos do último ano do ensino médio do Instituto Tecnológico de Mato Grosso (ITMT) - a antiga Escola Técnica Federal - foi orientado pela professora de História do Brasil a
realizar um trabalho sobre a “Revolução de 1964 e seus reflexos na Universidade Federal de Mato Grosso” (UFMT).
 

A professora-doutora orientou no roteiro das perguntas e encaminhou os jovens estudantes ao Curso de História da nossa UFMT, povoado de mestres, doutores e pesquisadores, e com apoio de um Centro de Documentação Histórica com muitos trabalhos científicos e livros publicados.
 

Após perambularem por corredores e salas do qualificado Curso de História - onde muito dos seus integrantes pertencem ao nosso Instituto Histórico -, em busca de um mestre para ajudá-los no trabalho gratuito para uma instituição pública de ensino, tiveram a decepção de ouvir dos seus futuros professores o veredicto de que naquela instituição não existia ninguém que dominasse o assunto em pauta.
 
"Isso ocorre quando um centro de formação de gente se preocupa mais com obras físicas do que com os cérebros e, assim sendo, a sua função principal está interrompida"
Foram unânimes em indicar um antigo médico professor aposentado da universidade como a pessoa mais gabaritada para ajudá-los no trabalho acadêmico. 

Decepcionados, e com pouca esperança, telefonaram ao “escolhido” que, sabendo da “história”, se prontificou a ser solidário com eles. Assim, eles vieram à minha casa.
 

Porém, antes do trabalho ser iniciado, fiz duas colocações.
 

Primeira: esclareci que eles teriam o tempo que fosse necessário para as perguntas e que fazia questão de ter todo o meu depoimento filmado e gravado com som.
 

Segunda: gostaria de saber a opinião deles sobre o fato de um médico ser indicado para substituir um professor graduado em história para discorrer sobre o assunto do trabalho.
 

Minha curiosidade quanto à segunda colocação, aliada a uma desagradável estranheza, tem uma explicação.
 

Não acredito que o famoso Curso de História não possua um único professor-doutor para falar sobre o assunto solicitado.
 

Por pura acomodação dos professores foi indicado o nome, por unanimidade, de um médico - já que pelas leis vigentes este não pode lecionar nem no curso de graduação e, muito menos, frequentar os holerites dos historiadores.
 

Na Academia, se isso acontecesse, seria um bom motivo para uma greve geral “por melhor qualidade de ensino”. 
 

Sem jeito, os estudantes, que nunca tinham ouvido falar o meu nome, edu cadamente disseram que seria, talvez, pela minha idade.
 

Mais uma decepção para jovens. No curso de História, existem em atividade professores mais idosos que eu, sendo muitos deles meus contemporâneos.
 

Na verdade, o único motivo para a recusa daqueles professores era o tema do exercício acadêmico – “A revolução de 1964 e seus reflexos na UFMT”.
 

Todos são funcionários do governo instituído e queriam sair politicamente correto na fotografia. A verdade histórica não lhes interessava.
 

O fato histórico aconteceu, mas aqueles mestres negaram esclarecimentos aos jovens alegando “falta de conhecimento” para interpretá-lo.
 

A entrevista começou e terminou num clima muito bom. O interesse daqueles jovens em adquirir conhecimento renovou minhas esperanças na juventude atual.
 

Entretanto, ficou clara a falência do nosso ensino superior, onde interesses outros desvirtuaram as raízes da nossa UFMT.
 

Isso ocorre quando um centro de formação de gente se preocupa mais com obras físicas do que com os cérebros e, assim sendo, a sua função principal está interrompida.
 

Encerramos horas de estudos com mútua satisfação. Eles, pelo prazer demonstrado pelo conhecimento adquirido. Eu, pelas esperanças renovadas.
 

Espero, sinceramente, que as portas para a aquisição do saber estejam sempre abertas para os jovens com ânsia de aprender – única possibilidade de ascensão social para muitos jovens.
 


GABRIEL NOVIS NEVES é médico em Cuiabá, foi reitor da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT)



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