POR QUE A NOSSA EDUCAÇÃO É ULTRAPASSADA?
Durante o período que palestrei para professores da educação básica, sempre contava essa historinha para iniciar nossa reflexão: "Se fosse possível ressuscitar um médico cirurgião, formado em medicina em 1920, e colocarmos ele hoje numa sala de cirurgia, será que ele conseguiria operar? Com certeza não! A medicina , nesses últimos 90 anos, evoluiu de tal forma que ele sequer acharia a sala de cirurgia, quanto mais operar. Agora pensemos o professor: Se pegarmos um professor , que dava aula em 1890, e o colocarmos numa sala de aula hoje, será que ele conseguiria ministrar uma aula? Com certeza! Sem dúvida que sim. pois ele encontraria em sua frente uma lousa com uma caneta pilot, ou quadro negro e giz, uma mesa, carteiras e um bando de alunos com seus cadernos, livros (ou apostilas), sentados, olhando para a cara dele, exatamente como há 120 anos.
Sempre disse isso e reforço: "A educação no Brasil é um dos seguimentos que menos evoluiu nos últimos 100 anos." 95% dos nossos professores ainda dão aula, como se isso fosse algo positivo -. Aula não ensina nada para ninguém, e prova não avalia. Mas insistimos nesse modelo medieval, onde o aluno é obrigado a assistir aulas hibridas onde ele não se vê. No Brasil o aluno e tratado como um "imbecil", um bobo alegre, que nada sabe, que deve copiar matérias desconexas com sua realidade e gravar fórmulas para a prova, e por ultimo, ele deve respeito ao professor, esse sim, detêm o conhecimento. Vocês sabem o que esse modelo conseguiu nos últimos anos? Fazer com que o educando "odeie" escola e tenha ojeriza de algumas disciplinas e, por extensão, da cara do professor. . Onde está o aluno como agente?
Quando falo isso sou muito criticado, sobretudo pelos meus pares, que sempre me perguntam: "-fazer o que então Alacir, uma vez que fomos doutrinados a fazer assim?" Sempre penso muito antes de responder, pois se eu falar o que penso, os ofenderia. Mas pensemos o seguinte: " seria possível uma outra forma de educar?" Bom, usemos a Finlândia como exemplo, que parece um país muito distante quando buscamos pelas gélidas imagens das suas paisagens na internet, mas ela investe cerca de 50% do seu PIB em Educação.
A Finlândia é bem menor que o Brasil, com uma população de pouco mais de 5 milhões de habitantes (estimada em 2013), a Finlândia é o exemplo do que seja educação moderna. A chefe do seu Departamento de Educação – Marjo Kyllönen –, que recentemente esteve no Brasil, tem levado ao mundo as novas perspectivas do país para a área.
Desde 2015, Kyllönen tem trabalhado na “abolição” das disciplinas tradicionais dos currículos escolares. Isso significa que não haverá mais aulas de Matemática, Química, Física, História, Geografia, Finlandês ou qualquer matéria que tenha seu conteúdo isolado das demais. Exatamente o que praticamos aqui..Aulas hibridas,desconexas e sem qualquer razão de existirem. O aluno por sua vez se sente uma besta,chega em casa meio dia a mãe pergunta: " -teve aula de que hoje filho?". O filho, " puto" de raiva, responde: "-pô mãe, eu ja fiz muito de ir na aula, lembrar que matérias tive, ai já querer demais...sei lá!"
A chefe do Departmento de educação da Finlândia explica ainda que “há escolas que estão ensinando à moda antiga, o que foi benéfico no início dos anos 1900 – mas as necessidades não são as mesmas, e precisamos de algo adequado para o século XXI”.
A FINLÂNDIA DEU ADEUS, SÉCULO XIX ( nós ainda estamos lá).
Para isso, professores, diretores, pais e alunos têm trabalhado em conjunto para adequar o procedimento cujo objetivo é permitir que os alunos estudem eventos e fenômenos em um formato interdisciplinar.
Por exemplo, uma aula da Segunda Guerra Mundial será examinada a partir da perspectiva da História, Geografia e Matemática, fazendo com que os alunos também interajam com todo um conjunto de conhecimentos sobre Língua Inglesa, Economia e habilidades comunicativas.
Este sistema será introduzido aos estudantes mais velhos, de 16 anos. A ideia geral é que eles possam escolher o tópico ou o fenômeno que querem estudar, tendo em mente suas ambições para o futuro e suas capacidades.
Dessa forma, nenhum aluno terá que passar por um curso inteiro de Física ou Química, perguntando-se o tempo todo: “Pra que eu preciso saber isso?”.
A grande diferença entre a reforma finlandesa e a recente reforma brasileira é que a primeira está sendo feita com diálogo e muita cautela a fim de respeitar os estágios tanto dos alunos quanto do próprio sistema educacional.
Assim, os pilares da estrutura não são simplesmente arrancados, desmoronando o [pouco do] alicerce que [ainda] existe.
E COMO FICA A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO?
O formato tradicional de comunicação professor-aluno também está mudando. Os estudantes não se sentam mais atrás das carteiras e esperam a explicação do professor. Em vez disso, eles trabalham em pequenos grupos para discutir problemas.
Este sistema será introduzido aos estudantes mais velhos, de 16 anos. A ideia geral é que eles possam escolher o tópico ou o fenômeno que querem estudar, tendo em mente suas ambições para o futuro e suas capacidades.
Dessa forma, nenhum aluno terá que passar por um curso inteiro de Física ou Química, perguntando-se o tempo todo: “Pra que eu preciso saber isso?”.
A grande diferença entre a reforma finlandesa e a recente reforma brasileira é que a primeira está sendo feita com diálogo e muita cautela a fim de respeitar os estágios tanto dos alunos quanto do próprio sistema educacional.
Assim, os pilares da estrutura não são simplesmente arrancados, desmoronando o [pouco do] alicerce que [ainda] existe.
Isso mostra que o sistema educativo finlandês encoraja o trabalho coletivo (que é bem diferente de competição), razão pela qual as mudanças também afetam os professores.
A reforma escolar está exigindo uma grande cooperação entre professores de diferentes disciplinas.
Cerca de 70% dos professores de Helsínquia, capital da Finlândia, já realizaram trabalhos preparatórios em consonância com o novo sistema de apresentação de informações e, consequentemente, estão recebendo um aumento salarial.
MENTALIDADE DA SOCIEDADE AJUDA NO PROCESSO DE ADAPTAÇÃO
Quando coordenei uma Escola pública em São Paulo - era o ano de 2006- implantei esse modelo no 1 ano do ensino médio como experiência. Um dia uma mãe soube que a escola havia abolido as provas tradicionais. Mal tive tempo de comemorar a liberdade das amarras do século passado, quando essa mãe procurou a Diretora e disse que a coordenação havia mudado o modelo avaliativo e que eu teria de voltar atrás na minha postura, porque os outros pais ficaram revoltadíssimos com o “novo” procedimento. ( isso ocorreu em Guaratinguetá -SP ano de 2006)
Será que esses mesmos pais aceitariam as políticas educacionais finlandesas? Tudo indica que não. E os professores? Estão preparados para isso?
Em entrevista à organização Porvir, a Chefe do Departamento de educação d Finlândia, Kyllönen, deixou bem claro que o apoio da comunidade é fundamental e quando é perguntada sobre a opinião dos pais dos alunos a respeito das mudanças, a resposta é categórica:
“Na Finlândia, temos o privilégio de ter uma sociedade que valoriza a educação e os professores. Existem algumas escolas que estão dando apenas os primeiros passos e outras muito avançadas nessa reforma de suas rotinas. A resposta dos pais, no entanto, é muito satisfatória porque seus filhos estão verdadeiramente motivados.”
E no Brasil?
Estamos todos (ou deveríamos estar) cientes de que os rumos da Educação no Brasil – assim como os da Economia e Política – são incertos e preocupantes.
Passamos por uma fase que muito se assemelha à Idade Média em muitos aspectos, mas isso não significa que enquanto nós reclamamos atrás das telas dos nossos computadores, não existam pessoas trabalhando para a melhoria da população como um todo.
Como um TODO, não apenas para poucos privilegiados por uma meritocracia ilusória. Em setembro de 2016, por exemplo, a própria finlandesa responsável pelas mudanças em seu país participou do evento brasileiro Educação 360, “um encontro internacional que reúne pessoas que vivenciam e pensam a educação sob diferentes e novos pontos de vista e põem em prática iniciativas transformadoras”, promovido pelo Sesc e outros parceiros.
Há esperança e há caminhos claros a serem trilhados em busca de uma educação que abra a mente dos nossos cidadãos e quebre suas amarras. O que não há é desculpas para atribuir a culpa a terceiros enquanto se assiste à novela das nove.
“Tudo isso faz com que a gente reescreva a narrativa das nossas escolas. Os alunos precisam saber como aquilo que estão aprendendo está conectado com sua vida cotidiana. Queremos ser um país onde todos amam aprender.”, finaliza Marjo Kyllönen, defendendo uma abordagem cada vez mais holística do ensino e da aprendizagem.
É isso....reflita!
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