PETRÓLEO: A VERDADE ESCONDIDA NO LEILÃO DO CAMPO DE
LIBRA
Por
Alacir Arruda
A Petrobras leva a leilão hoje, 21 de outubro
de 2013 a maior reserva descoberta na
era pré sal, o Campo de Libra na Bacia de Santos. Existem alguns pontos que precisam ser
esclarecidos em face desse obscuro leilão. A humanidade está no limiar do pico da
produção de petróleo, fato inconteste
que elevará seu preço. Em pouco tempo, os países que
controlarem suas reservas serão donos de um tesouro fantástico. Assim, leiloar
o nosso petróleo é o mesmo que vender um bilhete premiado. Na década de 90, auge
do neoliberalismo, o Governo FHC flexibilizou
o monopólio da União sobre o petróleo, através da emenda numero nove da
Constituição Federal (1995), e passou a permitir que outras empresas, além da
Petrobrás explorassem e produzissem o petróleo. Em 1997 enviou ao Congresso e o
fez aprovar a Lei 9478/97 que, em seu artigo 26, dá a propriedade do petróleo a
quem o produzir, com a suave obrigação de pagar só 10% de royalties, em
dinheiro. Para se ter uma ideia do absurdo dessa lei, no mundo, os países
exportadores ficam com a média de 80% do petróleo produzido.
Durante o mesmo governo, se
iniciou um processo de desnacionalização da Petrobrás e se chegou a tentar
mudar o seu nome para Petrobrax. O Diretor de exploração da época fazia corpo
mole na exploração, já que, em agosto/2003, as áreas em poder da Petrobras, que
não tivessem sido exploradas seriam devolvidas à Agência Nacional do Petróleo
para serem leiloadas. Ele também desmontou o Grupo que trabalhava na pesquisa
do Pré-sal.
Veio o Governo Lula e o novo
diretor de exploração, geólogo Guilherme Estrela, retomou intensamente a
exploração e de janeiro a agosto/2003 se descobriu 6 bilhões de barris dos 14
bilhões anteriores ao pré-sal. Ele também reativou o grupo de pesquisadores do
pré-sal e, em 2006, se iniciou a perfuração nessa província, logrando êxito
total em 2007.
Essa nova província
apresentou uma reserva de 100 bilhões de barris conservadoramente estimada,
pois entre ela e o limite da zona economicamente exclusiva existem mais áreas
com prospectos de grandes possibilidades de existência de hidrocarbonetos.
Desde a descoberta do
pré-sal, a Petrobrás já perfurou cerca de 25 poços e achou campos com potencial
superior a 50 bilhões de barris de reservas, a saber: Tupi (Lula) – 9 bilhões
de barris de reservas de óleo equivalente (Óleo, gás e condensado); Iara – 4
bi; Carioca – 10 bi; Franco – 9bi; Libra - 15 bi, Guará 2bi, área das baleias,
5bi e vários outros. Antes do pré-sal, os 14 bilhões de barris de reservas
provadas já garantiam uma auto-suficiência para mais de 10 anos. Com os campos
acima citados essa auto-suficiência supera os 50 anos. Pra que mais leilões se
a Petrobrás mapeou e descobriu as reservas brasileiras e atingiu tal auto-suficiência?
A Agência Nacional do
Petróleo, desde a sua fundação tem tomado posições não muito favoráveis ao País
são elas:
1) No discurso de posse do seu primeiro diretor, com o salão repleto de
empresas estrangeiras ou seus representantes, ele proclamou: “o petróleo agora
é vosso”;
2) Ao estabelecer o tamanho dos blocos para leilão ele fixou suas áreas
com cerca de 210 vezes as áreas dos blocos leiloados no Golfo do México na
pressa de entregar;
3) A ANP fez parte do lobby no Congresso Nacional em defesa dos leilões
com argumentos muito falaciosos, tais como: “o Brasil só explorou 4,5% das
áreas prováveis” (a Petrobrás explorou todas as 29 províncias e constatou que
só 4,5% tinham possibilidades); ou: “quando a Lei 9478/97 foi promulgada, a
atividade do petróleo só representava 3% do PIB. Agora ela representa mais de
10%”. Claro, o petróleo custava US$ 10 por barril, agora custa mais de US$ 100
por barril. E os derivados subiram na mesma proporção.
4) Mas a última da ANP é de estarrecer: entre os projetos de Lei que o
GT criado pelo presidente Lula enviou ao Congresso, foi aprovado o da
capitalização da Petrobrás através de uma cessão onerosa, que consistiu no
seguinte: a União cedeu um conjunto de blocos onde se esperava encontrar 5
bilhões de barris de reserva. A Petrobras pagou essa reserva com títulos do
Governo e este, com esses títulos comprou ações da Petrobrás.
Quando a Petrobrás perfurou o primeiro bloco, Franco, achou reserva de 6 a 9
bilhões de barris; perfurou Libra e achou reserva de cerca de 15 bilhões de
barris. Pela nova lei, L 12351/10, a ANP pode contratar com a Petrobrás, sem
licitação, as áreas consideradas estratégicas. Mas o que fez a ANP? Retirou
Libra da cessão onerosa e quer leiloar o campo. Qual o critério para leiloar um
campo já descoberto – o maior do Brasil e um dos maiores do mundo? Perguntamos
à atual diretora da ANP e ela não soube responder. Mas fala entusiasmada que no
próximo no leilão esse bloco será “o grande atrativo”. A nosso ver isto é um contrassenso
e só há duas possibilidades aceitáveis: i) A ANP cede o bloco para a Petrobrás
no regime de partilha e de acordo com a nova Lei; ii) a ANP contrata a
Petrobrás para explorar e produzir o bloco no regime de prestação de serviços.
Leiloar, jamais!
7 ARGUMENTOS
INCONTESTÁVEIS CONTRA OS LEILÕES:
1) Se já foram descobertos no pré-sal cerca de 50 bilhões de barris de
reservas, que somados aos 14,2 bi já existentes, assegura uma autossuficiência
superior a 50 anos e dá para a Petrobrás e suas associadas abastecerem o País e
ainda exportar uma boa parte da produção, para que mais leilões? Para que
correr e acabar com o pré-sal precocemente?
2) A Petrobrás é a empresa que mais entende da tecnologia de produção em
águas profundas; a Petrobrás já perfurou mais de 20 poços do pré-sal com a
empresa perfuradora Transocean sem qualquer problema. A mesma Transocean ao
perfurar para a British Petroleum no Golfo do México e para a Chevron, no campo
de Frade, causou dois acidentes sérios. Por que essa diferença? Porque as duas
empresas estrangeiras mandaram a Transocean transgredir regras de segurança por
economia, o que causou os acidentes. A Petrobrás como empresa estatal jamais
faz esse tipo de transgressão. Ela tem o controle da sociedade. As transnacionais
não têm controle de ninguém e até controlam governos;
3) A Petrobrás é a única empresa que compra materiais e equipamentos no
País e propicia o desenvolvimento tecnológico gerando empregos de qualidade,
pois contrata os técnicos brasileiros para seus serviços. As estrangeiras não
fazem isto;
4) A região onde se localiza o pré-sal esteve por 13 anos com empresas
estrangeiras durante os contratos de risco. Elas não o pesquisaram nem
investiram na área. Ou seja, não fosse a Petrobrás o pré-sal não teria sido
descoberto. Elas não correm riscos;
5) Os três gargalos tecnológicos do pré-sal são: a) a perfuração; b) a
completação submarina e c) os dutos flexíveis que ligam o fundo do mar ao navio
de processo. Essas três atividades são contratadas com empresas especializadas
que fornecem os materiais e prestam o serviço. Assim a petroleira, contratante,
é uma intermediária desses serviços. A Petrobrás é a melhor intermediária por
conhecimento e também por ser uma estatal que, além de mais confiável e
competente, defende os interesses estratégicos do País.
6) A ameaça aos royalties – conforme a Aepet já publicou em seus
boletins, no mundo, onde existe perfuração em águas profundas as transnacionais
do cartel conseguiram que fossem abolidos os royalties sob o argumento de que
“o risco é alto e o retorno baixo”. E elas, que conseguiram que o Congresso
Nacional quebrasse o monopólio da União, irão certamente pressionar pelo fim
dos royalties. É mais uma razão forte pelo fim dos leilões.
7) O País não precisa de novas descobertas, em curto e médio prazos,
conforme dito no item 1. O que o país precisa é de ampliar o parque de refino,
pois exportar petróleo bruto é ruim para o Brasil e para a Petrobrás. Para o
Brasil porque ele perde mais de 30% de impostos pela Lei Kandir, que isenta a
exportação dos impostos: ICMS, PIS/COFINS e CIDE; para a Petrobrás porque ela
deixa de ganhar mais de 50% com as venda de derivados, ao invés de petróleo
bruto.
8) O campo de Libra foi perfurado pela Petrobrás e apresentou reservas
estimadas em 15 bilhões de barris – o maior campo brasileiro e um dos maiores
do mundo. A ANP, como sempre, contra os interesses nacionais, retirou-o da
cessão onerosa e quer licitá-lo. Não tem sentido. Ela tem que seguir o artigo
12º da Lei 12351/10:
“Art. 12. O CNPE proporá ao
Presidente da República os casos em que, visando à preservação do interesse
nacional e ao atendimento dos demais objetivos da política energética, a
Petrobras será contratada diretamente pela União para a exploração e produção de
petróleo, de gás natural e de outros hidrocarbonetos fluidos sob o regime de
partilha de produção.
(Alguns dados
retirados do Sindipetro)