(NBD) É O QUE FICA DO ENCONTRO DOS BRINCs...
Por Alacir Arruda
Não se espere da nova instituição confronto com ordem capitalista. Mas é
alentador que cresça contestação ao poder dos EUA e aliados
Ao criar o Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS (NBD) com
ele vem à tona uma série de
questionamentos: qual o papel do NBD (e dos BRICS) na atual ordem mundial?
Seria este um arranjo contra-hegemônico ou “mais do mesmo”?
Fazendo um rápido exercício pouco especulativo, mas
com certo embasamento histórico-econômico, é possível dizer que o NBD não
apresenta nada de novo. Em outras palavras, o arranjo é mais do mesmo. Não há
indicativos, principalmente se levarmos em conta as declarações oficiais – cujo
objetivo era o de acalmar o mercado e a comunidade internacional – de que o NBD
tenha qualquer aspecto contra-hegemônico, ou busque a substituição das
instituições de Bretton Woods – o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco
Mundial.
Ao contrário do que parece – ou melhor, ao
contrário do que se espera –, a ascensão dos países emergentes desde a década
de 1970 tem intrínseca relação com o atual sistema internacional. Em outras
palavras, os países BRICS (especialmente a China) não alcançaram a atual
posição a partir de políticas anti-sistêmicas, mas, sobretudo, aderindo à ordem
mundial vigente (com fortes traços liberais, cuja liderança está por conta dos
Estados Unidos desde 1945). Surfando na crista das boas ondas internacionais,
os países BRICS, quase sempre, se juntaram ao “concerto das nações”, ilustrado
nas instituições multilaterais que trabalham, além de outras funções, para a
manutenção do status quo.
Nesse sentido, a criação do NBD não afastará os
países BRICS – em particular, China e Rússia, membros permanentes do Conselho
de Segurança da ONU – da vanguarda da ordem mundial. Ao contrário disso, Brasil
e Índia buscam há algum tempo participar deste clube através das tentativas de
reformulação das principais instituições internacionais como o próprio Conselho
de Segurança, no intuito de distribuir o poder político entre as nações em
consonância com o atual poder econômico.
Pari passu a criação do NBD,
o BRICS trava um forte embate no FMI. Desde 2010, o grupo das vinte maiores
economias, G20, aprovou a reforma da instituição financeira. Ou seja, os países
emergentes aumentaram a sua participação no capital do Fundo e ganharam maior
peso e voz nas decisões multilaterais. No entanto, o Congresso dos Estados
Unidos vem barrando sistematicamente qualquer tentativa de reforma do FMI.
Por isso, não é possível ignorar o atual momento.
Desde meados do século passado, mais precisamente desde a conferência de
Bandung, não há uma coalizão de países em desenvolvimento capaz de causar, no
mínimo, preocupação aos países centrais. Ainda que as vozes pessimistas esperem
exaustivamente sempre mais, é preciso olhar o arranjo de forma mais pragmática.
Essencialmente, é preciso não esperar da coalizão o que ela nunca se propôs a
ser, isto é, um agrupamento transformador da ordem mundial.
Pragmaticamente, o NBD pode ser uma alternativa
viável às distorções da economia internacional ou, sendo mais otimista, uma
alternativa ao monopólio da decisão político-econômica que, quase um século
depois, ainda está sob a égide das instituições de Bretton Woods e, conseqüentemente,
dos EUA.
Por fim, é preciso ter o mínimo de autocrítica
quando estamos a propor algo “novo”. Atualmente, as críticas direcionadas ao
BRICS não apresentam algo realmente novo, algo desprovido de valores/teorias
ocidentais. O que se nota é, ao contrário, a manutenção de teorias
eurocêntricas travestidas de integração cultural, uma repetição de experiências
fracassadas. É prudente esperar a maturação do NBD para, assim, com certo
distanciamento histórico, analisarmos se as escolhas foram corretas e os
resultados positivos.
Professor, o sr. acredita que esse novo banco fará frente ao FMI BID, ou é apenas um provocação dos BRINCs a essa economia lastreada pelos Estados Unidos desde a II Guerra ??. Luiz Carlos
ResponderExcluirOlá Luiz Carlos, bom, a criação desse novo banco de fomento às economias emergentes vem de encontro com algumas decisões tomadas no ultimo encontro do G 20, onde os países membros desse bloco solicitaram mudanças estruturais no FMI que mantem a mesma politica desde 1950..É evidente que os BRINCs não vendo uma ação por parte daqueles que gerenciam o Fundo Monetário Internacional, resolveram criar seu próprio banco, isso e uma sinal de alerta às grandes potencias como EUA, Alemanha, Inglaterra e França de que o eixo estrutural da economia mundial esta saindo do Binômio Europa-Estados unidos..Um abraço
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