BRASIL: A POLÍTICA E A CRISE DE VALORES
Por Alacir Arruda
Por muitas vezes me perguntei: “O Brasil tem solução”? Então fui estudar sociologia, ciência política e antropologia para tentar encontrar nessas ciências uma resposta razoável a esse questionamento que me acompanha desde a minha adolescência. Confesso que ainda não a encontrei! Mas, por quê? Talvez isso se deva ao fato de realmente não termos solução, ou a solução ainda estar a caminho ou ainda que não haja uma forma conceitual de avaliar isso. Bom, teorias à parte as minhas preocupações residem na incapacidade dos nossos governantes enxergarem o óbvio; “o nosso povo carece de conhecimento”. É sofrível, para ser educado, o nível de alunos que hoje chegam as universidades brasileiras; aqui faço uma ressalva: os alunos de federais ainda conseguem estabelecer com a ciência uma relação de proximidade, mas o senso comum impera nas privadas.
Outra coisa não menos óbvia, é que não há, por parte dos governantes, qualquer interesses em mudar esse quadro pois isso seria um tiro no próprio pé. O Estado tem um papel central nesse processo, uma vez que controla a educação e essa, por si só, será sempre reprodutora: A Escola sempre reproduz algo. O seu problema maior não reside nessa necessidade da reprodução cultural, mas sim naquilo que há por se reproduzir. A escola transmite as ideologias dominantes; é, assim, „reprodutora‟ do disciplinamento capitalista. É antiga essa constatação da importância da educação para a manutenção de uma estrutura social. Numa carta de 11 de junho de 1868, enviada a Kugelmann, Marx afirmou que “se uma formação social não reproduz as suas condições de produção ao mesmo tempo que produz, não conseguirá sobreviver um ano que seja” – (cf. Luckesi, 1994, p. 51).
Diante disso, como discutir ou entender o binômio ética e política no Brasil? Até que ponto a política é compatível com a ética? A política pode ser eficiente se incorporar a ética? Não seria puro moralismo exigir que a política considere os valores éticos?
Quando se trata da relação entre ética e política não há respostas fáceis. Há mesmo quem considere que esta é uma falsa questão, em outras palavras, que ética e política são como a água e o vinho: não se misturam. Quem pensa assim, adota uma postura que nega qualquer vínculo da política com a moral: os fins justificam os meios.
O ‘realismo político’, ou seja, a busca de resultados a qualquer preço, subtrai os atos políticos à qualquer avaliação moral, entendendo esta como restrita à vida privada, dissociando o indivíduo do coletivo.
Esta concepção sobre a relação ética e política desconsidera que a moral também é um fator social e como tal não pode se restringir ao santuário da consciência dos indivíduos. Em outras palavras, embora a moral se manifeste pelo comportamento do indivíduo, ela expressa uma exigência da sociedade (um exemplo disso é a adoção dos diversos "códigos de ética"). Ou seja, não leva em conta que a política nega ou afirma certa moral e que, em última instância, a política também é avaliada pelo comportamento e entendimento moral das pessoas. Aliás, se a política almeja legitimidade não pode, entre outros fatores, dispensar o consenso dos cidadãos — o que pressupõe o apelo à moral.
Há também os que, ingenuamente ou não, adotam critérios moralizantes para julgar os atos políticos. Por conseguinte, condicionam a política à pureza abstrata reservada ao ‘sagrado’ espaço da consciência individual. Estes imaginam poder realizar a política apenas pelos meios puros.
O moralismo abstrato concentra a atenção na esfera da vida privada, do indivíduo. Portanto, aprisiona a política à moral intimista e subjetiva deste. Ao centrar a atenção na esfera individual, o moralista julga o governante tão-somente por suas virtudes e vícios, enfatizando suas esperanças na transformação moral dos indivíduos.
Ao agir assim reduz um problema de teor social e coletivo a um problema individual. No limite, chega à conclusão de que as questões sociais podem ser solucionadas se convencermos os indivíduos isoladamente a contribuírem, por exemplo, dividindo sua riqueza como os desafortunados.
O resultado é catastrófico: o moralista angustia-se porque a política não se enquadra nos seus valores morais individuais e termina por renunciar à própria ação política. Dessa forma, contribui objetivamente para que prevaleça outra política.
De um lado o ‘realismo político’; de outro, o moralismo absoluto. Nem tanto mar, nem tanto terra. A política e a moral, embora expressem esferas de ação e de comportamento humano específicas e distintas, são igualmente importantes para a ação humana no sentido da transformação social.
Política e moral são formas de comportamento que não se identificam (a primeira enfatiza o coletivo; a segunda o indivíduo). Nem a política pode absorver a moral, nem esta pode ser reduzida à política. Embora sejam esferas diferentes, há a necessidade de uma relação mútua que não anule as características particulares de cada uma. Portanto, nem a renúncia à política em nome da moral; nem a exclusão absoluta da política.
Mas, ainda fica a pergunta inicial: é possível a ética na política? Para uma resposta mais abrangente é preciso analisar as diferenças entre ética e moral (conceitos que usamos de forma indistinta).
QUEM SABE RENATO RUSSO NOS AJUDE A REFLETIR
Professor amei o sr. ter colocado Legião. Amo Legião. Dayane
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