segunda-feira, 20 de outubro de 2014

identidade brasileira

A Identidade Brasileira e Suas Contradições

Por Alacir Arruda

A identidade do povo  brasileiro passa por um importante teste no século XXI. Ou permanecemos “Vira Latas”, como dizia Nelson Rodrigues, ou emancipamos e assim possamos ser referencia alguma coisa que não seja: “samba, mulher e futebol”. O Brasil é nosso lar, memória e consciência de um lugar com o qual se tem uma ligação especial. Então existem aspectos da sociedade como comida, festas, mulher, casa etc., que refletem o Brasil tanto quanto as leis, a política e a economia. Sendo que aqueles mostram o Brasil do povo e das suas coisas, como as leis da amizade e do parentesco, da malandragem e do carnaval, tudo combinado através da relação que define um estilo, um modo de ser exclusivamente brasileiro.

Vale salientar que embora existam padrões de comportamento universais, cada grupo humano age para responder de uma forma, isso leva a identidade de cada grupo, que é construída a partir de afirmativas e negativas diante de certas questões.

Através da forma como as pessoas se posicionam em relação as leis, família, política, religião, moralidade, se faz um inventário da identidades sociais e se descobre o estilo e o jeito de cada sociedade.

Porém, o que faz um indivíduo se realizar concretamente como brasileiro é a sua disponibilidade de ser como um brasileiro é, assim é a sociedade que dá a fórmula para traçar o perfil do povo.

Para o Antropólogo Roberto da Matta (1984), o que torna típica e singular a sociedade brasileira é sua capacidade relacional que gera uma lógica que na política aparece na negociação e conciliação, na economia é a combinação de uma economia estatizada com vigorosa iniciativa privada etc.

Ainda segundo DaMatta (1984), o brasileiro vive o dilema entre ser o indivíduo que segue as leis (seja de que tipo forem) e a pessoa que se vale das suas relações sociais para conseguir seus objetivos, isto é ilustrado pelo famoso “jeitinho” brasileiro e pelo não menos famoso “sabe com que está falando?” que seriam modos tipicamente brasileiros de enfrentar o paradoxo de ser indivíduo e pessoa, tentando mediar a lei, a situação em que ela será aplicada e as pessoas implicadas nela, de forma que só a lei seja desmoralizada.

Como um brasileiro reage diante de uma fila grande? De um proibido estacionar quando está com pressa?

E o interessante é a contradição de as pessoas ficarem admiradas porque em outros países as leis são respeitadas, existe ordem, disciplina, civilização e educação, sem se dar conta de que tudo isso é resultado de se adequar a prática social ao mundo constitucional e jurídico.

Se as leis existem por que não são cumpridas? Ao que parece, justamente esta desobediência leva a falta de confiança no mundo jurídico, sendo outro fator contribuinte para o descumprimento aqui e o cumprimento nos outros países é que a lei é feita para a sociedade funcionar neles e não para explorar ou submeter o cidadão como aqui.

Além disso, em outros países não se compactua com privilégio, ou seja, a lei ser aplicada de forma diferente de acordo com o nível da pessoa.

A legislação brasileira é uma regulamentação do não pode, que submete o cidadão e entre o não pode e o pode se escolhe a junção dos dois que produz os jeitinhos.

O jeito indica um modo simpático, desesperado ou humano de relacionar o impessoal com o pessoal, em geral é pacífico, sendo que não se deve usá-lo com argumento autoritário porque aí se transforma no “sabe com quem está falando?” Que traz à tona a hierarquização da desigualdade.

Tanto o “jeitinho” como o “sabe...” são dois pólos da mesma situação, sendo que um é harmonioso e o outro conflituoso e ambos representam a dificuldade que o brasileiro tem de lidar com a lei e a realidade social cotidiana.

Um comentário:

  1. Alacir talvez isso justifique a nossa cara de pau...neh. Dayana

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