VINGANÇA OU LEI DO RETORNO?
Por Alacir Arruda.
Eu fui ensinado desde novinho pela minha mãe, visto que perdi meu pai ainda muito garoto, sobre a lei de Talião – “olho por olho, dente, por dente”, como um exemplo a não ser seguido. Buscar vingança é visto em nossa sociedade como uma atitude de pessoas inferiores, mesquinhas. “Dê a outra face”, “supere”, “o mundo dá voltas”, “a lei do retorno é implacável”, “a lei dos homens pode falhar, mas a lei de Deus nunca falha”… São tantos exemplos contados por meio de parábolas e fábulas, para que nunca nos esqueçamos que a vingança, assim como o crime, nunca compensa.
Porém, se na vida não podemos nos servir somente da justiça quando nos encontramos em situações de abusos de autoridade, ilações e ou violência, a ficção pode nos ajudar a lidar com alguns conflitos ou mesmo, por meio da representação e da projeção, satisfazer o nosso desejo por vingança, mas no fundo carregamos aquele sentimento de que um dia quem lhe fez mal irá pagar.
Não comento a minha vida privada aqui no Blog, até porque não e essa a função dessa ferramenta, todavia quando você tem sua imagem desfigurada pela mídia e sua honra manchada por acusações infundadas com um único objetivo, lhe calar a mando de poderosos que não suportam a verdade, é obvio que tenho que reagir. Sobretudo quando todos aqueles "poderosos", insisto, todos aqueles "poderosos" que um dia lhe apontaram o dedo, lhe acusaram, e jogaram seu nome na lama e acabaram com sua carreira, alguns hoje estão presos, ou com tornozeleiras eletrônicas, prisão domiciliar e ou com a Policia na porta de sua casa as 06:00 da manha, exatamente como mandaram fazer comigo no passado. Mas ainda falta alguns, porém, reconheço que e só uma questão de tempo. E não é porque eu desejo, é porque são maldosos e seria uma injustiça muito grande eles se manterem impune. Confesso que não me sinto bem vendo eles sendo presos, porem,minha dor maior é ver o nosso governo entregue nas mãos de pessoas dessa estirpe, mas é a Lei do Retorno.
Recomeçar foi difícil, construir uma nova vida após se sentir o pior dos mortais reafirmo: não foi FÁCIL. As pessoas te olharem na rua, lhe apontarem o dedo - influenciados por uma mídia infame, e pensarem: "será que é verdade o que falam dele"? Amigos, quer dizer, "amigos", que lhe abandonaram simplesmente por acreditar na mídia, sem nunca sequer ter me dado o direito do contraditório. Costumo sempre dizer que, dos mais de 200 "amigos" que frequentavam minha casa em churrascos bancados por mim, sobraram tão poucos que com os dedos de uma mão eu conto. Hoje são poucos realmente, porém fieis. Essa é a nossa mídia, ela tem a capacidade de destruir carreiras, histórias, legados em segundos e mesmo quando não conseguem provar nada contra você, ela é incapaz de se desculpar ou minimizar o estrago feito em sua vida.
Ministrei Filosofia e Sociologia por 23 anos em várias universidades Brasil afora, e um tema eu adorava aprofundar com meus ex alunos, a Escola de Frankfurt. Essa Escola Filosófica alemã questionava: Qual é a influência de meios de comunicação de massa, como a TV,( hoje também a internet e as mídias sociais) sobre uma sociedade? Como as pessoas são mobilizadas a acompanharem um noticiário como se estivessem assistindo a uma telenovela, como ocorreu anos atrás no caso da morte da menina Isabella? Os primeiros filósofos dessa escola detectarem a dissolução das fronteiras entre informação, consumo, entretenimento e política, ocasionada pela mídia, bem como seus efeitos nocivos na formação crítica de uma sociedade, foram os pensadores da Escola de Frankfurt.
Em um texto clássico escrito em 1947, “Dialética do Iluminismo”, Adorno e Horkheimer, filosofos fundadores dessa escola de pensamento, definiram indústria cultural como um sistema político e econômico que tem por finalidade produzir bens de cultura – filmes, livros, música popular, programas de TV etc. – como mercadorias e como estratégia de controle social.
A ideia é a seguinte: os meios de comunicação de massa, como TV, rádio, jornais e portais da Internet, são propriedades de algumas empresas, que possuem interesse em obter lucros e manter o sistema econômico vigente que as permitem continuarem lucrando. Portanto, vendem-se filmes e seriados norte-americanos, músicas (funk, pagode, sertaneja etc) e novelas não como bens artísticos ou culturais, mas como produtos de consumo que, neste aspecto, em nada se diferenciariam de sapatos ou sabão em pó. Com isso, ao invés de contribuírem para formar cidadãos críticos, manteriam as pessoas “alienadas” da realidade.
Como afirmam no texto: “Filmes e rádio não têm mais necessidade de serem empacotados como arte. A verdade, cujo nome real é negócio, serve-lhes de ideologia. Esta deverá legitimar os refugos que de propósito produzem. Filme e rádio se autodefinem como indústrias, e as cifras publicadas dos rendimentos de seus diretores-gerais tiram qualquer dúvida sobre a necessidade social de seus produtos.”
Para Adorno, os receptores das mensagens dos meios de comunicação seriam vítimas dessa indústria. Eles teriam o gosto padronizado e seriam induzidos a consumir produtos de baixa qualidade. Por essa razão, indústria cultural substitui o termo cultura de massa, pois não se trata de uma cultura popular representada em novelas da Rede Globo, por exemplo, mas de uma ideologia imposta às pessoas.
Dominação política
E como a indústria cultural torna-se mecanismo de dominação política? Adorno e Horkheimer vislumbraram os meios de comunicação de massa como uma perversão dos ideais iluministas do século 18. Para o iluminismo, o progresso da razão e da tecnologia iria libertar o homem das crenças mitológicas e superstições, resultando numa sociedade mais livre e democrática.
Mas os pensadores da Escola de Frankfurt, que eram judeus, se viram alvos da campanha nazista com a chegada de Hitler ao poder nos anos 30, na Alemanha. Com apoio de uma máquina de propaganda que pela primeira vez usou em larga escala os meios de comunicação como instrumentos ideológicos, o nazismo era uma prova de como a racionalidade técnica, que no Iluminismo serviria para libertar o homem, estava escravizando o indivíduo na sociedade moderna.
Nas mãos de um poder econômico e político, a tecnologia e a ciência seriam empregadas para impedir que as pessoas tomassem consciência de suas condições de desigualdade. Um trabalhador que em seu horário de lazer deveria ler bons livros, ir ao teatro ou a concertos musicais, tornando-se uma pessoa mais culta, questionadora e engajada politicamente, chega em casa e senta-se à frente da TV para esquecer seus problemas, absorvendo a mesmos valores que predominam em sua rotina de trabalho. É desta forma que a indústria cultural exerceria controle sobre a massa. Como resultado, ao invés de cidadãos conscientes, teríamos apenas consumidores passivos.
O que aconteceu comigo é a apenas parte de uma sistemática estruturada pelos meios de comunicação do Brasil e que se repete, onde a luta por audiência, o afã pelo furo jornalistico e a fome pelo poder não respeita nada. É a logica do "tudo pode". Para aqueles que me abandonaram eu só lamento, e sinto dizer: vocês estavam errados. Os verdadeiros "bandidos" hoje encontram-se encarcerados, usando tornozeleiras e ou em prisões domiciliares. Encerro esse desabafo com uma reflexão do ex Ministro da Fazenda dos governos Militares, o economista matogrossense Roberto Campos, que certa vez expôs a seguinte pérola: " a julgar pelo interesse e entendimento que o brasileiro tem sobre mídia e noticias, a burrice no Brasil tem um futuro brilhante".
Sinta-se a vontade
para discordar.
Olha Alacir, eu sempre desconfiei que havia interesses de poderosos por de trás do que lhe fizeram, e essa semana vimos a confirmação. Mas você não deve deixar levar por essas mesquinhez, pelo que o conheço, estás acima disso, é um dos maiores e melhores professores que já vi em ação, além de um ser humano ímpar em bondade e companheirismo, eu sou prova disso e sei que morrerá assim. Sudadões de suas aulas
ResponderExcluirOi Alacir. Continuo sendo leitora do blog , embora ainda não fiz comentários em alguns textos. A vida está corrida, estudando, trabalhando sendo "mãe e pai" não é fácil. Então quando você faz tal desabafo, o que acho justo, pois é humano, percebo o quanto a hipocrisia ainda impera no interior das pessoas. Quando você diz no abandono dos amigos , pior ainda, pois até quem não te conhece pessoalmente percebe o quão grande intelectual que você é. Através das leituras, dos textos das entrevistas . Na convivência então deveria ter mais consideração. Também acredito na lei do retorno. Blog cada vez melhor.um Abraço
ResponderExcluirFoda-se professor o que pensam de você, eu fui sua aluna no CIN e simplesmente acho você o máximo o melhor que ja tive na vida e os recalcados e que se f.... Afinal você me mostrou um mundo que aqueles professores 'certinhos" jamais me mostrariam. Como eu sinto sua falta. Maria Luiza
ResponderExcluirCom a devida vênia, peço licença para falar dessa figura , afinal era assim que chamávamos o Professor Doutor Alacir em nossas aulas do curso de Direito aqui em SP. Hoje sou promotora, acuso e faço de tudo para que pessoas que desviam suas condutas sejam punidas de acordo com a Lei. Porem,entretanto,todavia, existe uma prerrogativa, não apenas no Ministério Publico,mas na justiça de forma geral,que é o Bom Senso. Essa prerrogativa prescreve o seguinte: "todo mundo e inocente ate prova em contrario". Só essa assertiva já absolve o meu querido professor, porem, vivemos em um pais, como ele mesmo disse no artigo acima,em que as pessoas são "cooptadas" por um sistema canalha em que predomina as suposições. Fico feliz de ver o perseguidores do meu professor na cadeia, mesmo ciente de que não conheço as acusações as quais esses indivíduos respondem. Uma coisa eu sei: Professor Alacir que Saudades das suas aulas críticas e das violadas após elas, lembra? Estamos com saudades, em novembro faremos uma festa da turma aqui no Clube Pinheiros-SP espero que possa estar presente,pois sera uma honra para "nosotros". Sucesso-Bianca
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