ENEM 2017: MAIS UM ANO DE FRUSTRAÇÕES..
Por Alacir Arruda
Vou te responder porque você vai se f...no ENEM 2017. Não! Não fique com raiva de mim, até porque você é o menos culpado, nem ache meu vocabulário "chulo", é que não encontrei melhor definição para isso. Vou fundamentar tudo que afirmo a partir da análise de grandes teóricos.
Todos os anos ao menos 6 milhões de jovens brasileiros lutam "desesperantemente" por uma boa nota no ENEM e menos de 0.50% conseguem notas acima de 800 pontos e apenas 00,2% acima de 900 ( Dados do INEP) . Alguns pagam cursinhos preparatórios caríssimos, aulas particulares etc.. para atingir tal feito. Mas por que 99% se frustram? Você nunca se questionou sobre o porquê se dedicou tando, perdeu noites de sono, terminou namoro, não transou, deixou a balada, enfim, parou de viver em função desse exame e quando chegar janeiro de 2018 você, mais uma vez, verá que não deu? Não! Eu não tenho bola de cristal para afirmar isso, nem sou vidente, sou apenas inteligente o suficiente para entender o que ocorre. Ademais, uma coisa eu posso dizer que entendo: ENEM. Desde a sua criação em 1998 com 63 questões e apenas como ferramenta de avaliação do ensino médio, até a sua transformação em ferramenta politica pelo PT em 2009 eu me dedico a ele. Logo, falo com conhecimento de causa, inclusive estive em Brasilia varias vezes auxiliando o INEP na sua estruturação. Fora os mais de 16 anos em cursinhos de SP como Anglo, Objetivo, COC Etapa. Então, "baixe a bola" e me escute!
Bom, então vamos la: comecemos pelo nosso modelo educacional que está totalmente divorciado do que o ENEM exige, ou seja, você estuda A e o ENEM cobra Z. Quantos de vocês, ao se depararem com as questões propostas pelo ENEM, não se questionou: "eu nunca vi isso na vida", ou " estudei uma coisa e caiu outra", ou ainda " eu sabia a resposta, mas marquei errado". Enfim, as desculpas são as mais variadas. Na verdade ocorreu isso mesmo, você estudou aquilo que o ENEM não cobra, ou estudou o que o ENEM cobra de forma errada, culpa do nosso modelo que remonta ao século XIX, onde o aluno assiste aulas hibridas como por exemplo: segunda feira quadro de aulas: português, química, filosofia, matemática, Historia, Física.
Agora raciocine comigo as 7:00 entra o professor de português ensinando gramática, em seguida vem o de química ensinando cálculo de massa logo entra o de filosofia falando da ética na Grécia Clássica, (intervalo). Após vem o de matemática ensinado equação do 2 grau, seguido de Historia que fala da Contra Reforma 1517 e o dia termina com o maluco de física ensinando mecânica. Ufa! Acabou a segunda feira, vou para casa almoçar. A pergunta que te faço é simples: "qual a relação entre esses conteúdos ministrados ? O que houve de inter-relação entre eles? Você se lembra do que lhe ensinaram, no final do dia? Deixa que respondo: " Não! Você não se lembra de porra nenhuma às 18:00 da segunda feira, e não houve qualquer trabalho interdisciplinar entre os conteúdos ministrados, logo, não há qualquer relação entre eles; em suma: você não aprendeu picas! Na verdade você começou a segunda sem saber nada, terminou sabendo menos ainda. Esse é o dia-a-dia de uma sala de aula no Brasil.
Continuando. Outro grave problema que temos é com relação aos nossos professores, mais de 85% deles ainda dão aula como se isso ajudasse. Na verdade temos um aluno do século XXI e um professor do seculo XVIII. Plagiando o grande mestre Pedro Demo (sociólogo da UNB) que diz: " dentre as várias atribuições do professor moderno, a mais inútil é a aula", mas eles insistem em entupir a cabeça de nossos alunos com conteúdos inúteis grande parte deles servindo a interesses ideológicos, seja do estado seja do próprio professor. Professor não deve copiar aulas, precisa criá-las. O professor de hoje copia uma aula de determinado livro, passa para o aluno que por sua vez copia e volta na prova como cópia; na verdade, vivemos uma sistema de cópias. Cada professor deve produzir seu próprio material, e não me venha com desculpas de tempo, pois quando ingressou na carreira você já sabia da dinâmica cruel que é a educação brasileira. Voltando ao ENEM, esse comportamento do professorado apenas reforça os altos índices de frustrações verificados ano a ano.
Por último falemos especificamente do ENEM. Sempre disse, e volto a reafirmar, que o ENEM é um exame perfeito (.....) Para ser aplicado na Finlândia, Suécia, Dinamarca, Canadá etc..ou seja, países de primeiro mundo onde o nível intelectual e cultural dos discentes permite tal cobrança . A sua complexidade e estruturação está anos luz de nossas capacidades cognitivas, e ai não me refiro apenas aos aluno, mas a toda estrutura educacional brasileira do MEC a mais sucateada escola. Faço uma pergunta básica: quantos dos nossos alunos frequentam regularmente: teatro, museus ou assistem filmes com conteúdos?" Quantos de nossos professores possuem mestrado, doutorado ou falam mais de um idioma? Quantos membros da educação possuem experiencia internacional? O ENEM quer um aluno que faça tudo isso, portanto, deixo com os senhores as respostas.
Ora, vivemos em um país onde mais de 75% dos nossos jovens são analfabetos funcionais, terminam o ensino médio sem compreender um texto que lê, 13% são analfabetos absolutos, a pouco tempo fiz uma palestra sobre o ENEM para mais de 200 alunos de um 3 ano quando perguntei onde ficava o Haiti, mais de 90% deles não tiveram dúvidas:"AFRICA". 60% deles não acreditam que o homem foi a lua e Bolívia e URSS fazem fronteira e são vizinhas do Brasil. É evidente que seria maldade de minha parte inferir que essa é a media brasileira, mas não deixa de ser um referencial assustador.
Diante do acima exposto, justifico o inicio do texto partindo da premissa de que mais um ano você sairá do ultimo dia de provas do ENEM com aquela sensação de frustração e uma certeza: "eu poderia ter feito melhor". Você fez! Fez o possível. "Alacir qual a saída então?" NÃO HÁ! E por que deveria haver?
LEIAM A OBRA>: Educação, um tesouro a descobrir - Considerada a bíblia da educação moderna- Organizado por Jacques Delors e Edgar Morin e entenderão o porquê penso assim.
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Por isso te admiro professor,você vai no ponto nevral do problema sem meias palavras. Concordo em gênero,numero e grau. Como vc faz falta em sala de aula, como! Que honra ter sido sua aluna!
ResponderExcluirConcordo em alguns pontos e discordo de outros, tbm penso que o ENEM esta muito acima de nossas capacidades e que temos professores viciados no modelo bancário, mas há tbm aqueles que fazem a diferença em sala de aula, que são atualizados e comprometidos,mesmo ciente que são poucos,mas estão ai. Acho que você foi feliz ao definir o modelo de aulas hibridas como o grande câncer que destrói qualquer possibilidade de um aprendizado mais completo. Parabéns pelo texto,sou professora e virei sua fã- Talita- Campinas SP
ResponderExcluirNão tem como ser mais claro que isso e o pior, é a sensação de que o motivo de ter dado errado ( não ter conseguido o curso almejado ou estar em outro porque a nota deu) é , unicamente, seu; ou seja, por falta da própria dedicação, esforço e disciplina. Nunca ouvi professores e diretores de cursinhos terem um pingo de humildade e assumirem sua parcela de culpa!
ResponderExcluirA despeito de algumas palavras agressivas, simplesmente amei o que escreveu. Sou coordenadora de uma escola aqui em Campo Grande-MS e penso exatamente assim, mas não consigo convencer os mais de 70 professores que tenho. Quanto você cobra para nos dar uma palestra? Favor de um retorno nesse e-mail e fechamos: fabiana-schuarz@gmail.com. Estou vasculhando seu blog,lendo tudo que posso,aguardo um retorno. Saudações
ResponderExcluirParabéns pela iniciativa. Ter uma coordenadora que pensa em mudanças são para poucos. E mais viavel ser mais um. Como vemos coordenadores que só sabem ser reprodutor do sistema, e dador de recados.
ExcluirEm pensar que os poucos que querem estudar não tem apoio do poder público. Conciliar trabalho e pesquisa e desumano cansativo . Mas em nome dos que passam por mim, vou a luta nessa conquista.
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