NIETZSCHE E A FILOSOFIA DA RESIGNAÇÃO: O ANTICRISTO.
Por Alacir Arruda
Quando ministrava filosofia nas várias universidades que trabalhei, um dos momentos mais tensos do semestre era quando chegava a hora de ensinar Nietzsche , seja pela falta de conhecimento dos alunos sobre esse autor, seja pela ignorância de alguns ( vários deixavam a sala de aula) , Nietzsche sempre causava. E para você, que vai ler esse texto, eu deixo uma alerta: "Nietzsche não é para qualquer um", sobretudo se você é desses que acreditam na metafisica do corpo, existência de outros mundos etc, como pregam determinadas religiões. Para esse pensador alemão tudo isso, em verdade, faz parte de uma grande sistemática opressora criada pelas religiões que ele denomina: "moral dos fracos", ou de rebanho. Para Nietzsche isso acabou por contaminar o homem ocidental retirando dele sua essência.
Nietzsche faz uma análise do Cristianismo e compreende a fé como uma maldição do homem , a religião particularmente, o cristianismo, não ajuda ao desenvolvimento humano. Portanto, para Nietzsche Deus é o grande mal ao processo civilizatório, pois mecanizado no cristianismo leva a destruição da humanidade, favorecendo ao comportamento de fraquezas.
A maldição da fé se efetiva subjugando o homem, a uma situação de inferioridade cultural, leva ao homem assimilar suas derrotas como virtudes transformando em uma realidade benéfica imaginária. Com efeito, irreal do ponto de vista praxiológica, acreditar em Deus é optar pelo atraso, a destruição do processo civilizatório.O homo sapiens precisa libertar de Deus para poder atingir sua maior idade, a fé nega o que há de melhor na vida a liberdade, o prazer como fonte da felicidade.
Isso tudo Nietzsche deixou registrado em uma das suas maiores obras:"O Anticristo" (em alemão: Der Antichrist), escrito em 1888 e publicado em 1895 e considerado pela critica internacional como uma obra prima. No entanto, ao ler o título do livro muita gente pensa, que Nietzsche deseja destruir Jesus Cristo. No entanto, não é o seu objetivo, pelo contrário, o cristianismo nunca assumiu o que realmente Cristo pregava.
Entretanto o cristianismo assumiu uma concepção helênica mitológica da fé, um platonismo mistificado, a negação desse mundo, é muito mais uma concepção filosófica de Platão que do Cristo crucificado. Para Nietzsche é necessário destruir o helenismo platônico, a filosofia da resignação, não tem sentido abandonar esse mundo, como realidade material fútil como pensara Platão, em razão do verdadeiro mundo, que para o cristão seria o paraíso.
Segundo Nietzsche não existe outro mundo, a não ser o mundo do planeta terra, imaginar outro mundo é simplesmente uma loucura da cultura grega pagã. Motivo pelo qual o cristianismo é a representação da tragédia humana. Nietzsche refere a outras religiões, como sendo superiores ao cristianismo, no entanto, sabemos que tal análise não é verdadeira. O filósofo está essencialmente preocupado em ironizar o cristianismo como algo incomparavelmente ruim, uma tragédia, que prejudica o desenvolvimento da humanidade.
Para Nietzsche, o cristianismo não ajuda desenvolver a sociedade. Ele não deseja destruir o cristianismo por ser ateu, ao atacar a natureza do cristianismo a sua preocupação é destruir algo cuja essência, visa tão somente prejudicar a humanidade. Nietzsche entende o cristianismo como uma doença psicológica, identificada em sua análise o conceito do bem e do mal e reflete tais conceitos no cristianismo, como a perversão da humanidade. Deus no cristianismo não tem função útil ao mundo ocidental.
Nietzsche alerta que é necessário o ocidente tomar consciência, não deixe a tragédia dominar a sociedade, pois a fé trava qualquer desenvolvimento político e econômico, e, sobretudo, impossibilita ao homem de atingir a própria superioridade.
E prossegue questionando qual a finalidade da religião, expor eternamente a humanidade ao atraso, seu permanente fracasso, com a fé não se constrói uma civilização. Motivo pelo qual chama o cristianismo como doença social e psicológica. Em defesa do homem é necessário, exterminar com a fé. Ele deixa claro, fala com objetividade a crença em Deus é tão somente produto de Loucura. Deus não existe, acreditar em sua existência, não é apenas alienação, entretanto, o mais absoluto delírio.
Portanto, Nietzsche declara, o cristianismo é uma mentira inventada, não existe Deus, muito menos paraíso ou inferno, a única coisa que existe é a vida real no mundo, prejudicada nas relações sociais e políticas. Com efeito, declara Nietzsche, a mentira é a grande maldição, não poderia ter existido algo pior para humanidade que a invenção do cristianismo.
Desse modo, Nietzsche grita em bom grado, precisa ser extirpado a maldição, libertar a interioridade da humanidade, eliminar o instinto da vingança no plano ideológico, a perda da vida real como compensação ideológica de outro mundo, substanciado no delírio. A crença em Deus, a eterna mancha da humanidade, contra si mesma, então Nietzsche deixa claro, necessário negar o cristianismo e superar o paganismo platônico.
O grande problema da humanidade, o cristianismo intrometeu em tudo, transformando o homem em fraco, medíocre, incapaz de transformar a si mesmo, e, desse modo, à sociedade política. Recusa o atendimento aos instintos saudáveis, para viver a vida doente como compensação, a fé levou ao homem a ser corrompido pelo entendimento incorreto das coisas. O cristão é cego, vive a vida como realidade transviada.
Culturalmente inferior, uma vida sem valoração, sem procedimento ético, padrões comportamentais transviados, a espécie sapiens não tem futuro com o cristianismo, na história civilizatória. No entanto, o Nietzsche que ataca o cristianismo, preserva Cristo, sendo que a religião utilizou apenas sua nominalidade e não a sua exegese praxiológica.
Nietzsche achava Jesus Cristo um espírito livre e avançado, que superou a pequenez da humanidade. Com efeito, o cristianismo fundado em seu nome, usou sua nominalidade, ainda equivocadamente, pois seu nome real, nunca fora Jesus Cristo, no entanto Joshua de Abar. A partir desse empoderamento, usando o nome de cristo, a religião conseguiu seu objetivo, alienar milhares de pessoas mundo afora com promessas insanas .
O objetivo desse texto não é enfraquecer sua fé ou colocar sua crença em check, mas sim, ampliar seu horizonte frente a um dos maiores pensadores que já surgiu. A Obra de Nietzsche é imensa, não circunscrita apenas a esse livro, portanto, procure estudá-lo antes de formar um juízo de valor. Concordar ou discordar com Nietzsche são prerrogativas pessoais, o que não podemos é sermos indiferentes a ele. Nietzsche é o autor em filosofia que mais vende no mundo e influenciou a psicologia, a história, a física quântica, a antropologia a medicina e até a matemática. Tem admiradores e seguidores do kilate de: Albert Einstein, Sigmund Freud, Sartre, Foucault, Hannan Arendt entre outros grandes da história. Até o Papa Paulo VI certa vez disse que Nietzsche era seu autor predileto.
PS: Vou deixar um link abaixo para que aqueles que se interessarem possam baixar o livro "O Anticristo" em PDF. Faça isso antes de criticar..
http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/ph000245.pdf
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Oh Alacir, lembro-me como se fosse agora você nos ensinando Nietzsche.;Você me fez apaixonar por esse autor e ler seus textos dele é para mim uma honra. Fabiana (UBM - RJ)
ResponderExcluirMesmo não concordando com todas as ideias de Nietzsche, o considero o maior dos últimos 200 anos. Suas ideias são atuais e influenciaram varias áreas do conhecimento. Costumo sempre dizer que Nietzsche é necessário. Sou um admirador desse filosofo provocador. Belo artigo.
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